quinta-feira, 22 de abril de 2010

Quinta-feira 22

O dia acordou estranhamente calmo. Mesmo em Saladaeng viam-se menos tropas do que nos dias anteriores.

Contudo a noite já não foi assim tão pacífica. A cofrontação entre os vermelhos na sua barricada à entrada de Rajadamri e os amarelos, pois é disso que se trata os que se disfarçam sem cor, em frente ao hotel Dusit Thai, mesmo do outro lado da rua foi mais acirrada do que no dia anterior.

Atiraram-se pedras, garrafas e outros objectos de um lado para o outro e do lado amarelo cometeram-se abusos sobre pessoas que passavam e eram identificadas como vermelhas. Há fotos e vídeos de todos estes incidentes.

A questão contudo é que isto foi feito até escalar para um ponto mesmo quente por volta das 11.30 da noite, na frente da polícia que inclusive removeu veículos para que os amarelos pudessem actuar mais à vontade.
Como disse só quando alguns dos amarelos mais timoratos decidiram ir tirar cofronto directo e quando um estrangeiro que passava usando uma braçadeira vermelha e foi atacado pelos amarelos é que então a polícia decidiu estabelecer um cordão de separação e salvar esse estrangeiro, que se devia abster, de ser linchado.

Existem estacionadas na zona entre 7 a 10.000 polícias e soldados, é pressuposto o dever deles ser o de proteger os cidadãos. Porque não o fazem? Porque ontem estiveram até um certo momento ao serviço de um dos confrontantes?

Supalak Ganjanakhundee, um jornalista do The Nation, escrevia ontem sobe o paralelo da situação que se vive e o que aconteceu em 1976 quando centenas de estudantes de Thammasat foram violentamente espancados até à morte por grupos rivais com a total cobertura das autoridades de então.

É sabido e conhecido de todos que Anupong "recebeu ordens", os mais poderosos Generais por vezes também têm de obedecer, para avançar e que ele não o quer fazer. Sabe as consequências, sabe os custos e não está na sua maneira de actuar. Assim o fez em 2008 e assim tem continuado a tentar ser. Independente e não querendo mostrar-se favorável a nenhum lado.

Já lhe prepararam todo o plano, já lhe deram todos os militares, já lhe deram as instruções mas não lhe deram nenhuma razão a não ser a de que "aquela gente não são tailandeses" e portanto ninguém vai chorar a sua morte. Também lhe disseram que não se preocupasse com a comunidade internacional. "Fecha-se o país durante 3 anos" pois não necessitamos de ninguém. Qual Coreia do Norte, qual Birmânia, há quem, com poder suficiente para dar ordens, pense assim no país.

Como não deram a Anupong a razão para avançar contra os vermelhos sem cobertura a criação de um conflito "multi colorido" poderá ser a salvação da cara do General que assim pode intervir para afastar as partes depois de estas já terem alguns corpos e sangue nas mãos.

Supalak dizia também que o povo tailandês só consegue aprender quando há sangue e mortos.

Assim é de esperar entre hoje e amanhã um escalar das acções dos amarelos, não em locais que não estejam em frente aos vermelhos, e portanto onde a fricção não exista, mas exactamente de forma a fazer subir a tensão e a possível intervenção "salvadora".

Já depois de acabar de escrever o que acima fica recebi a informação de que Anupong ordenou que algumas tropas recuassem, para descansar, enquanto ele próprio se mostra com extremo stress e doente.

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