sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Ano do Tigre

Na caminhada para o dia 26 de Fevereiro, o dia do julgamento sobre os bens da familia Shinawatra, os boatos e contra boatos vão crescendo mas os militares parecem levar a sério as ameaças de que os “vermelhos” farão marchar sobre a capital mais de 1 milhão de apoiantes do ex PM, e começaram já, activamente, a prepararem-se para essa possível mega manifestação.

Existem movimentos de militares em grande número das províncias do país fundamentalmente naquelas que são mais afectas a Thaksin. Por outro lado têm acontecido várias prisões, sem razão aparente, de activistas anti-regime nulgumas universadades da província sendo mesmo alguns professores acusados do crime de lese-majesté, a arma mais utilizada pelos sectores mais conservadores do poder.

Abhisit está só já que quem tomou neste momento a condução das mais variadas operações foram os militares. Estes mantêm-se leais ao General Anupong embora existam algumas vozes contrárias vindas de sectores que pretendem o diálogo e não a confrontação.

Anupong também não será um apoiante de qualquer intervenção, já que conhece bem que o povo não acolherá tal facto tão bem como aconteceu em 2006, mas existem por vezes pressões que mesmo ele, o homem que controla as armas, não pode resistir.

Thaksin, sabe bem que, embora a sua defesa pareça sólida, não tem hipótese de ganhar. Terá enviado largas somas de dinheiro para financiar as movimentações que poderão ser a sua última opção. Neste particular os opositores do fugitivo ex PM acusam-no de financiar os seus apoiantes mas nunca se lembram de falar do financiamento, parte dele com o dinheiro dos contribuintes, que é dado aos seus opositores.

A capacidade de conseguir ser independente neste diálogo é nula, logo prejudicial.

Os dias que se vão seguir poderão dar algumas indicações sobre o evoluir da situação mas a intransigência das partes não é propícia a soluções de paz.

Entretanto vai começar o ano do Tigre. Para esta situação espera-se que seja um tigre sem dentes.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Hun Sen vs Abhisit

Como já muitas vezes referi as relações entre o Camboja e a Tailândia ao longo dos séculos nunca foram boas embora a história e a cultura dos dois povos se misture em muitos aspectos.

Desde a crise de meados 2008 quando o Camboja decidiu requerer à UNESCO a classificação do templo de Preah Vihearn como património da humanidade, facto que levou à queda do Ministro dos Negócios Estrangeiros tailandês, que a tensão se agravou.

Houve algumas trocas de tiros na fronteira, aliás o que acontece ocasionalmente quando há intrusões territoriais, facto quase que natural numa fronteira mal demarcada, acabarm por morrer duas dezenas de militares de cada lado, o templo acabou por ser fechado ao turismo, houve confrontações entre os residentes do local e manifestantes do PAD, que tomaram esta disputa como um caso de soberania nacional ameaçada, etc.

Existem mais de 800 quilómetros de fronteira irregularmente demarcados e para tentar resolver essa disputa existe uma comissão conjunta que nunca conseguiu passar do primeiro ponto da agenda que é a denominação dos locais, que embora pareça ser igual se escreve diferentemente em thai e em khmer.

De qualquer forma as disputas occoridas desde 2008 sempre foram mais provocadas por desígnios políticos internos do que por reais questões àcerca do problema. Como referi no início, esta situação existe, pode dizer-se há 13 séculos, e as populações e os países sempre assim viveram. As relações pessoais trans-fronteiriças são as da melhor vizinhança existindo famílias que se constituem com membros de um e de outro lado já que na realidade eles não são tailandeses ou cambojanos mas locais que falam a mesma língua, comem a mesma comida, sofrem as mesmas alegrias e tristezas e veneram os mesmos credos.

O assunto estava em banho maria já que havia outros mais importantes para que as forças em disputa na Tailândia se preocupassem com as relações na fronteira.

Contudo recentemente o Rei do Camboja decidiu, a pedido do seu Primeiro Ministro Hun Sen, nomear Thaksin Shinawatra como conselheiro económico do país e tudo voltou a aquecer. Desde esse momento as reacções foram crescendo de tom: houve chamada de Embaixadores com a consequente diminuição do estatudo das representações diplomáticas, acusações de um lado e de outro, etc. Do lado cambojano Hun Sen não esquece que o Ministro Kasit o acusou de ladrão da terra tailandesa quando militava no PAD e no auge da campanha nacionalista levada a cabo pelos “amarelos”. Do lado tailandês não se esquece a nomeação de Thaksin e o acolhimento que a este é dado cada vez que pôe os pés no país vizinho.

Este fim de semana Hun Sem decidiu ir visitar na região fronteiriça os templo de Preah Vihearn e Ta Muan Thom, um outro templo situado noutra zona em disputa mas “de facto” em território tailandês (província de Surin).

A tensão avolumou-se, as tropas estiveram em alerta, embora os militares continuem a tentar manter-se afastados desta polémica que é essencialmente desencadada por necessidades das politicas domésticas, mas tudo parecia ir acabar calmo. Contudo as deslocações não foram exactamente de acordo com a agenda de Hun Sem e ele decidiu falar dizendo aquilo que era impensável. O sempre conciliador Suthep disse que Hun Sem estaria furioso por não ter conseguido fazer as visitas como queria e foi essa a razão.

Foram as seguintes as afirmações que fez:

“Você (Abhisit) é um ladrão que roubou o poder. Se não acredita no que digo então convoque eleições e verá o resultado”. “ Se vier dizer que o exército tailandês não invadiu o Camboja em 15 de Julho de 2008 só espero que todas os demónios e males (que ttenha um acidente de carro, que o avião em que ele e a família viagem caía, que parta o pescoço, etc) caiam sobre si”. “Os tailandeses não só invadiram o meu país como distoceram a história chamando nomes errados a Preah Vihearn”. “Eu quero dizer ao povo tailandês que nunca antes o país esteve tão dividido a não ser desde que Abhisit é PM. As relações com os países estrangeiros são péssimas”. “Você utilizou os “amarelos” para fazer um golpe de estado e conseguir o poder”. “ Se eu uso ou não fardamenta militar (Hun Sen apresentou-se com a sua mulher ambos vestindo camuflados) não é um assunto que lhe diga respeito”

Abhisit com alguma elegância, hoje, respondeu que não tinha medo das maldições lançadas por Hun Sem e que o que o preocupava era verificar se não havia violações do território tailandês. Mesmo assim à cautela lá recebeu um amuleto que um monge de Roi Et lhe foi levar ao gabinete.

Segurança



Há dias alguém, as suspeitas caem sobre um motociclista ainda não identificado, alguém passou em frente à residência de Abhisit e atirou para a entrada do edifício alguns sacos de plástico com excrementos e um com peixe podre.

A residência, como é normal, está rodeada de polícias e militares que fazem a vigilância mas ao que agora se sabe estavam a dormitar e acabaram por ir passar uma semana na cadeia para “curar o sono”.

Após o sucedido que foi transmitido na comunicação social como um atentado, foi reforçada a segurança e destacados 50 militares armados para proteger o Primeiro Ministro.

Na passada Sexta-feira um jornal foi entrevistar os militares e os relatos são significativos. Referia um dos sargentos que faziam turnos de 12 horas (!!) e que não podiam sair do local para ir comprar comida mas que as criadas do prédio lhes levavam comida embora esta não fosse muito boa. Dizia ainda que era duro mas que tinham que aceitar. Turnos de 12 horas só podem dar como resultado que ao fim de algumas horas a qualidade de concentração e de atenção desce a níveis muito baixos e portanto a maioria do tempo o PM e família acabam por estar pouco protegidos.

Deverá ter sido por isso que o pai de Abhisit veio dizer para os jornais que paga do seu bolso mensalmente 300.000 bath, cerca de 6.200 euros, para, segundo ele, garantir a segurança do filho e da sua família.

O mais interessante é que os tailandeses não vêm nesta afirmação a passagem de um certificado de total irresponsabilidade ao país e ás suas forças de segurança. O que comentam é o facto de o coitado do pai ter de pagar tanto dinheiro.

Quer o assunto dos turnos e da não alimentação dos militares envolvidos na protecção ao PM, quer a necessidade de complementar a segurança (?), são vistos, pelos tailandeses, com olhos completamente diferentes daqueles que nós europeus nos habituamos. Contudo parece-me que neste caso não se trata daquilo que muitas vezes acontece que é o facto de não compreender-mos esta(s) sociedade(s).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Besta encurralada, Besta assanhada


Nos últimos tempos o tema dominante é a grande dúvida Shakespeariana há golpe ou não há golpe.

Desde à cerca de três semanas que tem acontecido, um pouco por todo o país, uma constante movimentação de efctivos e equipamento militar de uma unidade para outra naquilo que parece ser uma reorganização da presença de efectivos e material nas várias unidades aquarteladas.

Segundo o porta-voz do Governo, Panitan Wattanayagorn, cerca de 20.000 militares serão colocados em alerta por todo o país; 13.300 no nordeste (área predominantemente thaksiniana), e 6.500 em Bangkok. À volta da capital serão organizados cerca de 200 pontos de controlo de entradas e de movimentos. De acordo com Panitan o número final de efectivos poderá chegar aos 35.000.

A UDD e o Puea Thai já vieram afirmar, e desmentir ao mesmo tempo, afirmações de que estaria em constituição um “exército do povo”, que seria comandado pelo General Khattya e que 1 milhão de pessoas desceriam a Bangkok para cercar o Parlamento e o Governo até que esse caísse. Tudo isto aconteceria por volta ou antes do dia 26 deste mês quando o Supremo decidir no caso relativo aos bens de Thaksin, cerca de 1,5 mil milhões de Euros, que poderão vir a ser confiscados a favor do Estado.

Vários Deputados e outros elementos próximos do Governo afirmam estarem a ser treinados por todo o país membros para tal exército numa operação de recrutamento massivo de pessoas.

Parece tudo um pouco surrealista inclusivé tendo em vista as recentes divergências no seio da UDD e as manifestações que agora realizam, quase que diáriamente, e ás quais somente poucas pessoas acorrem. Na passada Quinta-feira manifestaram-se junto ao clube militar na zona norte de Bangkok e não chegariam a ser 100 pessoas por relatos de pessoas amigas que presenciaram. Também no dia anterior o fizeram no Quartel General do exército e igualemente não chegaria a ser 200 o número dos presentes.

O próprio Governo que anteriormente utilizava sempre o Internal Security Act (ISA), lei que lhe permite impôr medidas excepcionais, se necessário, não tem utilizado actualmente essa medida.

Serão tudo manobras para fazer crer que existe uma fraqueza do “lado vermelho” e fazer relaxar as guarda defensiva? Será que a fraqueza existe na verdade, como as divergências vindas a lume parecem mostrar? Será que essa fraqueza pode levar a actos extremos tipo “última oportunidade”? Estas são muitas das perguntas que andam no ar neste momento.

As únicas certezas são as seguintes: existem movimentações militares (para além dos exercícios conjuntos com os Americanos); no meio militar desdobram-se as manifestações de apoio ao General Anupong (entretanto em oportuna visita aos Estados Unidos); existe grande nervosismo no sector governamental como o demonstram todas as informações daí provenientes entre as quais as do Ministro Kasit aos diplomatas, que em vez de acalmar as capitais as alarma; Suthep, há muito calado, vem afirmar estar o país pronto para garantir a sua segurança; existem as permanentes ameaças do General Khattyia ao qual ninguém consegue pôr cobro (nem ás suas constantes deslocações para visitar Thaksin); o próprio Conselho Privado do Rei saiu agora, através de um dos seus membros, a criticar aquilo que apelidam de “inacção do Governo em defender a monarquia”, etc

Entretanto o General Prem, Presidente do Conselho Privado do Rei, cujas palavras são sempre alvo de enorme atenção e expeculação, afirmou ontem que a Tailândia necessita de um líder carismático e integro (no ano passado tinha afirmado que o país estava em boas mãos com Abhisit) e que o exército continua a jogar um papel crucial no país. "Os militares têm de ter qualidades de liderança melhores do que os outros pois o seu trabalho é em favor do bem estar do povo e da preservação da paz em tempos de guerra".

Costuma-se sempre perguntar. Quem é que beneficía com este clima de aparente instabilidade? Por certo que não é o Governo que deveria estar calmo e confiante. Não são os militares que sabem bem o custo de um intervenção não desejada pelo povo. Só pode ser o “canto” Thaksin, o único ao qual a confusão poderia ser benéfica neste momento.

Fica assim mais uma pergunta no ar. Tem ainda tanta força ao ponto de conseguir fazer que os seus melhores aliados nesta guerra psicológica sejam o próprio governo e as forças que o apoiam, que vão criando rumores e factos políticos que lhes são adversos?

Entretanto Thaksin reuniu-se este fim de semana com os seus mais radicais "amigos" (foto de cabeçalho).

O pior que se pode fazer a um animal acossado e perseguido é acurralá-lo pois torna-se raivoso e assanhado e portanto perigoso. Parece que é isto mesmo que está a acontecer.

Afirmações de Abhisit


Possiveis eleições são um tema que muito interessa à oposição que persistentemente as reclama proclamando a não legitimidade democrática do presente Governo. Este fim de semana também o PM veio dizer que o seu partido estava pronto para “ir á luta” e que as sondagens, que tinha em seu poder, apontavam para que os Democratas obtivessem 240 lugares num novo Parlamento.

Os Democratas têm actualmente 173 lugares, menos 15 que o partido mais votado, o Puea Thai (aliado de Thaksin), e esse numero é o maior que alguma vez os Democratas conseguiram obter.

As bases de apoio do partido Democrata concentram-se nas zonas urbanas e no Sul do país, sendo que esta área é a que elege menos Deputados. Contudo uma sondagem vinda a público em Dezembro dava mais dois Deputados ao Puea Thai em Bangkok do que aos Democratas. O grosso dos Deputados vêm contudo das áreas mais populosas, nordeste e norte, onde a influência de Thaksin é prodominante e se mantém viva como foi evidenciado nas últimas quatro eleições intercalares.

Numa delas, ocorrida em 11 de Janeiro em Maha Sarakhan, o Puea Thai concorrem contra um só partido, o Bhum Jai Thai, que actuou como uma frente comum da actual coligação no poder, e mesmo assim conseguiu a vitória reelegendo o Deputado do seu partido que tinha sido desqualificado.

A afirmação de Abhisit de que os Democratas conquistariam 240 Deputados, exactamente metade da Câmara Baixa, segundo ele baseado em sólidos estudos, só pode ser entendida como uma forma de fazer campanha antes de tempo pois todos os outros analistas, que não os que Abhisit quer ver, afirmam que o vencedor numa eleição será de novo o Puea Thai, sendo que isso, como agora acontece, não queira dizer que tenha a capacidade para formar governo. A decisão para esse efeito não está ao nível dos resultados das eleições mas a outros niveis como vem sendo demonstrado há tempos.

Aliás uma das grandes fraquezas do Puea Thai é que os seus melhores políticos estão banidos do exercício de actividades políticas, 220 no total, e é visível a falta de “caras capazes” para estarem à frente dos destinos do país.

Abhisit continua numa campanha de sobrevivência diária, fazendo afirmações tendentes a manter viva a chama que vai iluminando o governo e a coligação.

Noutra afirmação feita, infelizmente para ele perante uma plateia de empresários na Sexta à noite, o PM disse que a economia do país, depois de ter caido 7,1% no ano passado começou a mostrar sinais de recuperação no último trimestre do ano, altura em que o desemprego que era de 1 milhão de pessoas foi reduzido em 400 ou 500 mil!!

É de propor o PM para prémio Nobel da Economia visto ter conseguido fazer com que o desemprego fosse reduzido para metade num só trimestre. Uma afirmação que aparece no mesmo momento em que é mostrado que a ocupação dos escritórios desceu 3,34%, e a utilização dos parques industriais na zona de Chon Buri-Rayong, foi fortemente afectada pela crise mundial no sector automóvel, faz pensar onde será que foram colocados esse meio milhão de novos empregados.

Abhisit apesar de ter tudo a seu favor tem uma tendência, ele e o seu núcleo mais próximo, para por por vezes criar factos políticos sem sustentação e fundamentalmente sem necessidade.

As suas afirmações são cada vez mais interpretadas como sendo feitas fora do contexto daquilo que está na realidade a acontecer na política no país e assim é porque o centro do poder não está na Government House.

Um exemplo disso foram as duas últimas convocatórias feitas, nas últimas três semanas, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Kasit, aos diplomatas acreditados em Bangkok, ambas feitas com carácter de urgência para o próprio dia. Em ambas aprentou-se ladeado não pelo seus funcionários do seu ministério mas por generais do exército.