sábado, 30 de maio de 2009

Visita ao Nordeste


Encontro-me há dois dias em Khon Kaen, a segunda maior cidade do Nordeste da Tailândia e a terceira no país.

Verdadeiro centro político e económico da bacia do Mekong, ainda que bastante distante do rio, é aqui que a Great Mekong Sub-Region tem a sua base de sustentação e trabalho no que respeita a Tailândia. Igualmente é a mais importante cidade do Economic Corridor West-East, a rede de comunicação projectada e criada com a ajuda do Asian Development Bank que pretende vir a ser o grande corredor para transportes de mercadorias entre a Baía de Bngala e o Mar da China, no Vietname.

Khon Kaen tem por outro lado uma das mais importantes Universidades do país com cerca de 40.000 alunos e 10.000 funcionários nos quais se incluiu uma grande quantidade de professores de línguas estrangeiras. Aqui chegam alunos de todos os países da região, com especial relevo para Birmânia, China, Cambodja e Vietname, que coexistem com alunos de muitas outras nacionalidades tão distantes como Gâmbia e Brasil. Interessante foi o encontro com a Presidente da associação dos estudantes nada mais nada menos que uma brasileira, ou não seja esse povo tão extrovertido em grande contraste com a tradicional timidez dos tailandeses.

Contrariamente ao que se possa entender Khon Kaen é amarela. Amarelo do Rei que não do PAD. A imagem de Sua Majestade está por todo o lado e o amarelo é profundamente usado pelas pessoas e não só às Segundas. Comparado com Bangkok, onde as cores de alguma forma desapareceram, devido ao receio que as pessoas têm de se ver associadas a movimentos políticos que não lhes interessam, o amarelo é a cor dominante.

Por outro lado a cor no coração e no sentimento das pessoas é o vermelho. Também não o vermelho da UDD mas a vermelho do seu mentor, Thaksin.

Contactei pessoas tão dispares como: o Governador, recentemente nomeado para substituir um "vermelho", um dos 111 membros excluídos da política, do TRT de Thaksin, que foi Deputado durante 26 anos e embora impedido de o ser agora continua a trabalhar na sombra, uma militante, com responsabilidades no PAD, o Director do Centro para o Desenvolvimento Social e Económico do Issan, assim é chamado o nordeste, um "Phuiyban", espécie de Presidente da Junta de Freguesia de um concelho limítrofe de Khon Kaen, o Reitor da Universidade e o Director do Centro de Estudos Internacionais, vários professores e alunos e um militante da esquerda, refugiado nas montanhas durante os anos 70 na época da caça aos comunistas.

Todos mostram uma consciência democrática muito mais evoluída do que aquilo que os "iluminados de Bangkok" pensam. Todos têm algum "desprezo" quer por vermelhos quer por amarelos e na essência a luta deles é pela sua terra, pelos valores mais próximos daquilo que é uma vida em comunidade e no fim pela pão para comer no dia a dia.

Amam, uns, e reconhecem-no, outros, o que Thaksin aqui fez, a forma como soube devolver às populações os votos que lhe deram através dos programas de desenvolvimento regional e constatam que a sua figura estará sempre na primeira linha de pensamento dos votantes. O Director da agência para o desenvolvimento, um claro apoiante do PM Abhisit, para além de dele dependente, dizia que Thaksin mostrou ao povo o que eles podiam conseguir com o voto e essa é um legado que retêm.

Também segundo esse senhor um dos grandes trabalhos a fazer tem a ver com o desenvolvimento dos recursos humanos e naturais da região. É necessário desenvolver o sistema educativo e a qualidade dos media, nomeadamente a da televisão, de modo a que as comunidades rurais, a grande maioria da população, tenha acesso a uma informação construtiva e não só baseada nas novelas que sempre passam nos horários nobres. Outra das grandes preocupações é o irrigamento das terras. Como já algumas vezes referi, em muitos pontos da Tailândia no mesmo ano existe seca e cheias não se conseguindo tirar todo o proveito e benefício que a água pode dar para um país onde a agricultura é predominante e um importante elemento contributivo para a economia da país. Mas dizia que nem 1% da verba que necessita tem e por isso se limita a elaborar um plano quinquenal sem ter no fim grande capacidade de o implementar.

Outro aspecto importante dos meus encontros foi o constatar que desde os tempos de Thaksin o Governo tem "desprezado" Khon Kaen com tão poucas vezes que aqui se v~e um seu membro, mas ao mesmo tempo as pessoas não dão grande importância a isso visto estarem mais concentrados na sua região. Não existe uma negação do ser tailandês, bem pelo contrário, não existe uma noção de desinteresse pelo país, mas existe uma forte noção de ser Issan de pertencer a este pedaço de terra, o maior no país, onde as gentes labutam a terra no dia a dia ou "oferecem" os seus filhos para o trabalho que tem de ser feito nas industrias e nos serviços no Sul e que os urbanos não querem fazer.

O "nacionalismo" Issan é uma realidade sem que isso traga qualquer carga de separatismo ou semelhante, e a imagem sempre presente de Rama IX, o Rei deles, isso bem mostra.

Uma das actuais preocupações, pelo menos para a maioria, que não para o Governador que minimizou este aspecto, é o facto de poder haver um retorno de cerca de 200.000 mil pessoas que perderam ou estarão em vias de perder os seus empregos nas fábricas de Chon Buri ou Rayong, ou nos hotéis, restaurantes e bares no Sul devido á crise económica nacional e internacional. Enquanto três pessoas me falavam daquele número o governador referia que o desemprego, devido à crise, afectava 800 pessoas. Não me esqueci de nenhum zero. Foi esse o número exacto que disse e afirmou que o governo da província está a proporcionar treino para requalificar essas pessoas.

No aspecto político vir aqui é confirmar a realidade daquilo que é o sistema partidário na Tailândia. Clubes de interesses e de negócios dominados por uma família que normalmente é a família mais rica na província e que consegue através da compra de tudo e todos colocar os seus homens nos lugares de influência. Em duas palavras é assim que funciona. Thaksin, se bem que seja um dos expoentes deste tipo de fazer política, alterou significativamente a equação quando mostrou aos habitantes das zonas rurais que caso votem num determinado projecto, o dele, conseguem obter o retorno em benefícios pare eles e para a comunidade em que vivem. Foi uma prática de aprendizagem de democracia directa que ultrapassou o velho sistema do cacique familiar para passar a ser o Partido ou ele mesmo o controleiro não de uma Província mas de toda uma região.

As próximas eleições intercalares em meados de Junho em Sakhon Nakhorn, onde consta que Nevin está a apostar forte para sair do seu "ghetto" de Buriran, vão ser um teste para entender se ele consegue ser o novo Thaksin, como penso que quer, ou se o velho ainda vai continuar a mandar. Dizia-me o Phuyaban, aquele que realmente iluminava a cara ao falar de Thaksin: ele hoje em dia não dá dinheiro ás pessoas. Já não precisa pois todos o têm no coração.

Esta é Khom Kaen a cidade amarela, capital do Issan do Norte como Ubon é a capital do Sul e Korat a do Centro.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Vela que Ilumina


O PAD decidiu, depois de dois dias de discussões, em constituir um partido político e preparar-se para as futuras eleições. O partido poderá ser chamado, Tien Haeng Dharma, a Vela que Ilumina o Caminho, numa tradução livre, um nome diferente como os seus promotores pretendem que seja a sua política. O nome final será escolhido pelos aderentes entre o já referido e Partido PAD ou Partido da Nova Política.

O partido será subsidiado pela contribuição de 100 bath por mês de cada um dos seus militantes e/ou simpatizantes, contrariamente ao que é normal. Os partidos vão buscar dinheiro aos grandes grupos económicos para o redistribuir pelos seus membros que conseguem ser eleitos Deputados. Noutros casos compra-se o lugar que se pretende como o Secretário de Estado da Agricultura, que ontem se demitiu, por pressões do seu partido, o Bhum Jai Thai Party de Nevin, que disse, com a maior simplicidade, ter pago 100 milhões de bath, € 2,2 milhões, para obter a posição.

O Tien Haeng Dharma, o nome que recolhe segundo relatos o amaior número de adeptos, irá continuar a falar da “Nova Política” que o PAD pretende que seja limpa e capaz de responder perante os eleitores. Esta questão dos eleitores é um dos pontos sensíveis da “Nova Política” pois o PAD sempre se mostrou avesso a aceitar o voto das camadas rurais, a maioria no país, alegando que a sua falta de preparação política e de informação levava a que estivessem fortemente abertos a “vender” o seu voto a quem oferecesse mais dinheiro.

Na realidade esse é um facto na política tailandesa onde a eleição de deputados nas constituições, há também eleições em lista partidária nacional, é feita, não tendo em conta o Partido mas a pessoa que mais garante segurança, ofertas ou outros benefícios para o eleitor. Contudo verificou-se nas últimas eleições, bastantes disputadas e onde muito dinheiro andou de mão em mão, que muitos eleitores se deixaram seduzir pelo dinheiro mas fizeram-no de uma forma mais inteligente, tendo aceitado ofertas de diversos partidos, e no final votavam em consciência. Há um estudo feito pela Universidade Católica (Assunção) que mostra esta realidade a emergir.

O PAD apesar de falar da falta de instrução e informação dos eleitores nunca propôs nenhum programa de educação cívica que permitisse contrariar essa desigualdade, na palavra deles, e unicamente advogou que os votos deveriam ser expressos somente nas listas partidárias e também através de um sistema corporativo em que os diversos sectores profissionais elegessem os seus representantes para um Parlamento misto de eleitos e representantes.

Suriyasai Kantasila o Secretário-geral do PAD e provável secretário do Partido anunciou que o facto do movimento se ter constituído em partido não lhes retira a capacidade para continuarem os seus protestos de rua sempre e quando o entenderem necessário para lutar pelos seus ideais.

Shondi imthongkul será o líder do Tien Haeng Dharma e os jornais de imediato recordam um discurso dele em 2006 quando disse que podiam dar-lhe uma bofetada se ele entrasse na vida política activa. Com a nova moda de atirar sapatos perguntava o jornal em questão quem seria o primeiro a atirar um sapato a Sondhi.

Uma coisa o novo partido tem de diferente, para melhor, em relação à maioria dos outros. Têm um claro objectivo e um programa e não é só um clube de interesses monetários e de distribuição de lugares. Que sejam bem-vindos à luta democrático-partidária que este país bem necessita de debate constructivo para aprofundar os ideais de cada grupo de forma organizada, nos devidos lugares que a Democracia reservou, que não na rua. .

Outro aspecto a realçar nesta aparição, a melhor palavra para associar à vela, é o facto de ser mais uma nota a demonstrar que todos se preparam para as muito possíveis eleições a realizar num prazo curto. O Puea Thai procura um novo líder e está agendada para o dia 31 a sua reunião magna. O Bhum Jai está em marcha acelarada para conseguir o objectivo de ser o partido charneira do sistema político no país (só falta mesmo a amnistia para Nevin ser o candidato a PM), sem o qual nenhum outro partido pode assumir o poder. Os outros partidos mais pequenos estão de igual modo em movimento. Os Democratas pelo seu lado vão assistindo ao fortalecimento de organizações políticas que lhe vão retirar posições, visto concorrerem no mesmo espaço eleitoral, mas com tanto trabalho a fazer para assegurar que o governo e o país subsistam não conseguem dar atenção aos problemas partidários e estão claramente numa curva descendente.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

ASEAN


A Junta Militar da Birmânia acaba de emitir um comunicado rejeitando violentamente a declaração da Presidência da ASEAN, a Tailândia, que no passado dia 18 apelou à libertação da Aung San Suu Kyi e dos outros prisioneiros políticos.

A Junta acusa a Tailândia de emitir uma declaração que não está de acordo com os princípios da associação e viola a soberania de um dos países membros.

A declaração é um facto inédito de luta política entre dois membros da ASEAN. Recorde-se que um dos principiou da associação é a de não intromissão nos assuntos internos dos estados, bem diferente da União Europeia. Contudo o assunto da detenção de Aung San Suu Kyi só com uma visão muito restrita poderá ser considerado um assunto unicamente respeitante ao estado birmanês visto ser uma clara violação das próprias leis do país para além da violação de leis internacionais algumas delas a que o próprio estado está obrigado.

Na recente cimeira da ARF em que estive presente o Delegado da Birmânia agradeceu, como já referi, aos países vizinhos, omitindo propositadamente a Tailândia, China, Índia e Laos, a compreensão para com o processo Democrático em curso (já há quase 20 anos, acrescentaria) solicitando ao mesmo tempo que se tornassem nos arautos desse entendimento perante o Mundo. A China não condenou a prisão de lutadora pela liberdade mas referiu que o processo democrático deveria envolver todas as partes envolvidas nas questões no país, numa clara alusão à exclusão a que a oposição ao regime ditatorial está obrigada.

Teremos agora de esperar pela resposta da Tailândia e ver como se seguirá o diálogo daqui para a frente no espaço ASEAN.

A Irmã da Rainha


Quando Sondhi L deu a conferência de imprensa depois de ter saído do hospital na sequência do atentado de que foi alvo, atacou fortemente Thamphunying Viriya Chavakul que disse estar por detrás da tentativa de o calar para sempre.

A senhora em questão era ou é uma dama de companhia da Rainha e isso fez logo grandes ondas ao ponto de o palácio ter vindo a explicar que uma lady-in-waiting é nomeada por decreto real e não havia nenhum que nomeasse Viriya. O certo é que a senhora é Presidente de várias instituições que têm o alto patrocínio de Sua Majestade a Rainha e a ligação de ambas é evidente em muitos outros aspectos da vida social.

Desde essa altura o Grupo ASTV, proprietário dos meios de comunicação social, televisão e jornais, pertencentes a Sondhi, têm lançado permanentes ataques contra a figura de Viriya.

Recentemente um conjunto de pessoas organizou um almoço de solidariedade com Viriya e logo o Manager, jornal do grupo, atacou todos os presentes e organizdores do almoço denunciando a sua qualidade de apoiantes de quem tinha estado por detrás da organização do atentado ao seu líder.

Acontece que na fotografia que é dada à estampa nos jornais sobre o almoço aparece na primeira fila, e no lugar de mais relevo, Thanpuying Mom Rajawongse Busba Kitiyakara Sathanapong, nada mais nada menos do que a irmã mais nova da Rainha.

Veremos se a famosa lei de Lèse Majesté será chamada a terreiro neste caso ou se ela só se aplica contra os vermelhos como tem sido o caso.

Entretanto o PAD, que este fim de semana decidiu avançar para a criação de um partido político com Sondhi à cabeça, vai entendendo que os seus inimigos estão também dentro daqueles que os utilizaram como tropa de choque contra o thaksinismo.