sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Dia do Rei Chulalongkorn




Hoje comemora-se a data que marca o falecimento do Rei Rama V, Chulalongkorn o Grande, que reinou no virar do século XIX para o século XX e marcou profundamente o desenvolvimento do país, modernizando-o e cimentando a independência do país numa altura em quer o Reino Unido quer a França dominavam na região e tinham pretensões de estender os seus territórios ao Reino do Sião.

Já o ano passado me referi a este dia mas hoje faço-o não por causa de Rama V mas do seu actual sucessor Rama IX que hoje deu uma grande alegria ao seu povo aparecendo no rés-do-chão do hospital onde está internado há nais de 1 mês para colocar uma grinalda de homenagem à sua falecida mãe e ao seu antecessor Rama V.

O Monarca, mostrou sinais de recuperação e a sua aparência foi o sol do dia no país.

A 15ª Cimeira da ASEAN

Inicia-se hoje em Cha-Am e Hua Hin, na costa Oeste do Golfo da Tailândia, a 15ª Cimeira da ASEAN.

Esta é a segunda cimeira que a Tailândia tem de organizar visto esta Presidência ter sido especial e ter demorado 18 meses.

Em final de 2006 os chefes de Estado e de Governo dos 10 países da associação assinaram a sua Constituição e a entrada em vigor em 15 de Dezembro do ano passado, no meio da Presidência tailandesa, fez alterar o ciclo das lideranças.

Como já é sabido as cimeiras, quer as da ASEAN quer as dos seus fóruns ASEAN+3 e ASEAN+6, têm sido bastante agitadas e desta vez o Governo tailandês decidiu quase que construir uma fortaleza à volta do local dos encontros de tal modo que parece estar o país em verdadeira guerra.

As cidades vizinhas onde se vai realizar estas cimeiras estão totalmente cercadas por militares equipados de todo o tipo de material bélico, constantemente patrulhado por caças da Força Aérea e a zona marítima em fronte foi declarada zona proibida á navegação e está patrulhada por um largo número de fragatas e vedetas de intervenção rápida.

No total foram mobilizados 36.000 militares com os enormes custos de salários, horas extras, alimentação, combustível, etc, que lhe estão associados.

Hoje um dos jornais trazia um breve resumo dos custos suportados pelo Gabinete do PM nesta operação.

9 Milhões de Euros a gastarem na recepção aos visitantes
6 Milhões em segurança pessoal incluindo a compra de 20 Range Rover blindados ao preço de 200.000 Euros cada.
625 Mil Euros para montar uma operação mediática que sirva a cimeira.

Todo este aparato de segurança, e todos estes custos, acontece com medo que se repitam os acontecimentos de Abril em Pattaya quando os líderes presentes na cimeira tiveram de ser evacuados à pressa devido à ineficácia (ou cooperação com os manifestantes como muitos dizem) das forças de segurança enviadas para o local que permitiu o avanço dos camisas vermelhas e doutros até inclusívé dentro do hotel onde estavam os Chefes de Governo.

Esta cimeira fica desde já marcada pela ausência à cerimónia de abertura de quatro dos dez líderes. Camboja, Filipinas, Indonésia e a Malásia não estarão representadas na cerimónia inaugural, hoje pelas 9.45 horas locais, pelos seus Chefes de Governo que só chegaram ao local mais no final do dia.

No fundo a Cimeira vai produzir nada. O início da ASEAN Inter-Governamental Commission for Human Rights (AICHR) é o único produto da conturbada Presidência tailandesa mas mesmo assim é uma comissão que deixa muito a desejar visto os seus Termos de Referência limitarem a sua acção a um papel de mero consultor e ser sabido que alguns dos membros escolhidos para esta Comissão representarem, não os interesses da sociedade civil mas os dos governos no poder.

Resta acrescentar que quer os "vermelhos" quer os "amarelos" já anunciaram não ter nenhuma intenção de perturbar a Cimeira. Abisit e o seu Governo já estão tão enfraquecidos que serão sempre vistos como líderes de transição e não como aqueles com quem se pode tomar decisões sobre assuntos bi ou muiti laterais.


A Tailândia estará desejosa de ver chegar o dia 31 de Dezembro altura em que passa a pasta para o Vietname que será o próximo presidente durante o ano de 2010.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Chavalit Yongchaiyuth

O Partido do fugitivo Primeiro-Ministro Thaksin, o Phue Thai, está na ofensiva.

Há cerca de duas semanas conseguiram que o antigo Primeiro-Ministro e antigo Comandante Supremo, General Chavalit Yongchaiyuth, aderisse ao partido e desde esse momento o vento tem soprado a favor.

Chavalit é um velho político, 77 anos, com bastante experiência e respeitado por muitos apesar de minimizado pelo partido no poder que dizem estar o General com Alzheimer.

Tanto no Norte como no Sul do país o General é altamente respeitado e tratado pela expressão Pho Yai (e a sua correspondente em malay-pattani), mostrando o respeito que por ele é nutrido. Foi nomeado Comandante Supremo das Forças Armadas tailandesas pelo General Prem, o Presidente do Conselho Privado do Rei, quando era Primeiro-Ministro. É uma voz ouvida junto dos vários poderes existentes no país.

É para muitos considerado o Presidente do Partido (no país visto o de facto ser Thaksin) ao que ele responde que está no partido somente para ajudar e poder resolver a divisão no país. Sempre a palavra-chave para granjear apoio.

Desde a sua adesão já muitos comentários foram emitidos por personalidades do campo oposto incluindo Abhisit e, fundamentalmente, Prem, o homem que nunca fala.

Isso só mostra a atenção que a sua reaparição na cena política merece.

O General Prem acabou mesmo por escorregar na casca de banana e afirmou ter enviado um emissário para dizer a Chavalit que deveria pensar muito bem antes de aderir ao Phue Thai pois isso “poderia ser visto como um acto de traição ao país”. Estas infelizes palavras, confirmadas de viva voz pelo General, que como referi, raramente fala e afirma nunca se meter em política, já lhe valeram duas acusações de difamação e outros crimes, mas fundamentalmente foram um trunfo para Chavalit.

No rescaldo dessas palavras 50 militares, recentemente reformados, portanto com 60 anos, resolveram aderir ao Phue Thai, numa clara resposta a Prem, afirmando que o faziam para defender a unidade no país e o respeito pela Monarquia.

Hoje foi um Deputado dos democratas que decidiu abandonar o partido para se juntar à oposição.

Contudo Chavalit está numa missão de soberania e de liderança. Aproveitando a extrema fragilidade de Abhisit, cada vez mais visto como o ”guarda da quinta” daqueles que o “contrataram” para essa função, o General resolveu iniciar a sua cruzada de Reconciliação.

Ontem foi ao Camboja tendo sido recebido efusivamente pelo seu “grande amigo” Hun Sen e aproveitaram para que este fizesse afirmações de dois sentidos. Sobre Thaksin umas e favoráveis a um entendimento pacifico e negociado com a Tailândia sobre as disputas fronteiriças, outras.

Quanto a Thaksin disse para ele vir para o Camboja onde será "recebido de braços abertos" e que ele próprio irá construir uma casa, por certo com o dinheiro dos contribuintes, para o fugitivo ex PM. A sua mulher disse que cada vez que fala de Thaksin lhe vêm as lágrimas aos olhos pois não entende o “que os tailandeses fizeram a quem de eles tão bem tratou”. A conversa desta manhã em Bangkok era estas notícias transmitidas pela televisão, pelas rádios e por todos os jornais como a grande “caixa”. Chavalit conseguiu também obter as afirmações positivas sobre a relação entre os dois países e sai assim vitorioso deste encontro. É importante notar que a partir de amanhã os líderes dos países da ASEAN se vão reunir em Cha-Am/Hun Hin, zona trasnformada numa fortaleza inexpugnavel sob a escolta de 36.000 militares e fortes contingentes de equipamento bélico da marinha e aviação, e Hun Sen chega lá fortalecido e irá falar com Abhisit numa posição de força mostrando que não é com ele que os problemas dos dois países se resolvem.

Continuando esta política externa Chavalit irá para a semana reunir-se com o PM malaio e com o General Than Shwei, o líder da junta birmane, também tentando obter declarações importantes no que respeita aos problemas nas duas fronteiras, Sul e Oeste.

Mas Chavalit não se fica por aqui. Já agendou para a semana uma visita ao Sul do país para discutir localmente as questões do conflito que se arrasta à 5 anos e todos os dias vitima pessoas. Terá ainda um encontro com o General Chamlong, nem mais nem menos do que o co-líder do PAD, falando-se que posteriormente se irá encontrar com Sondhi L. o outro co-líder e agora Presidente do partido político que o PAD fundou.

Chavalit aproveita a falta de liderança que Abhisit demonstra para mostrar ao país, através de actos que fazem as manchetes de todos os meios de comunicação social, quem é capaz de enfrentar e resolver os grandes problemas do país.

O General já afirmou que o seu objectivo é o de conseguir a harmonia dos tailandeses e depois pensar nas questões estritamente políticas como a respeitante à alteração da Constituição que tem sido o grande cavalo de batalha de Abhisit nos últimos dias. Essa batalha tem eventualmente o objectivo de fazer esquecer a profunda confusão que arranjou na Polícia. Esta corporação está profundamente enfraquecida e a perder respeitabilidade pelo facto de não haver novos comandos nomeados desde o dia 1 de Outubro. Os que estão são interinos e os que deveriam estar ainda não foram nomeados e acontecem agora, todos os dias, casos em que os subordinados não respondem às ordens, visto não reconhecerem a liderança que as dá.

O Velho Leão como muitos lhe chamam veio avivar a luta política no país, fazê-lo com estilo e com a experiência que um PM deverá ter e vê-se que sabe muito bem todos os movimentos que estão em curso no país. Espera-se agora a resposta do partido no poder mas para já a única coisa de que os democratas foram capazes foi ter Shutep avisado que se Thaksin entrasse no Camboja seria activado o processo de extradição, o que não é novidade pois isso já foi dito umas centenas de vezes. Não é em si um facto político e para que a Tailândia consiga a extradição é necessário que o Camboja active de igaul modo esse mecanismo o que a avaliar pelas palavras de Hun Sen nunca será feito.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Reconciliação

Uma palavra que anda sempre na boca de todos os Partidos e de todos os políticos é Reconciliação. O objectivo de todos é a reconciliação nacional, assim o dizem.

Abhisit quando apresentou o programa de governo, um dos principais pontos que estabeleceu como objectivo da sua governação foi o de reconciliar os tailandeses divididos e desavindos entre os campos, amarelo e vermelho.

Na realidade desde meados de 2005 que se vem notando uma profunda e crescente divisão entre as gentes da província e as elites urbanas.

O problema não se põe tanto em estritos termos de classes sociais, como seria na Europa, mas na diferença entre aqueles que lutam por 100 bath por dia e aqueles que gastam mais do que isso cada vez que vão a um Starbucks beber um café.

Aqui há meses realizei uma missão ao nordeste do país onde tive a oportunidade de contactar com todos os espectros da sociedade e é clara a diferença existente entre aqueles que lutam pelo arroz do dia e os outros. Houve algumas perguntas que fiz a todos de modo a testar o conhecimento que teriam de certos temas como Direitos Humanos e o conflito no Sul da Tailândia. Dos “eruditos” obtive respostas mais ao menos decalcadas de um qualquer jornal, por vezes ainda com a cor do redactor agarrada às palavras do meu interlocutor. Dos “incultos” (usando a linguagem do PAD) ouvi indiferença, desconhecimento pois ou seus pensamentos estavam quase sempre centrados em coisas locais e que lhes são próximas.

A Tailândia está profundamente divida entre estes dois grupos e obter a reconciliação dos seus interesses é uma tarefa de grande monta.

O atitude das “gentes de Bangkok” profundamente distanciadas das populações em nada ajuda. Recorde-se que o último Primeiro-Ministro a visitar o Nordeste foi Thaksin Shinawatra (só agora Abhisit foi a Buriram – escoltado pelos guardas de Nevin - e a Ubon, Yasothon e Amnat Charoen, sempre de helicóptero entre cada cidade). recorde-se que depois de Thaksin já houve Surayuth, Samak (já agora correm rumores de que terá morrido) e Somchai antes de Abhisit chegar ao poder.

A atitude da burguesia urbana classicista, discriminativa e racista (os da províncias são escuros e os das cidades brancos) foi sempre aproveitada, e aprofundada pelo PAD quando proclamavam através da sua “Nova Política” que os compatriotas do campo não dispunham de educação suficiente e se deixavam comprar nas eleições e, por isso, não poderia haver um Parlamento 100% eleito. Refira-se que há dois estudos, um conduzido pela Universidade Assumption e outro pela The Asian Society, que mostram que hoje em dia os eleitores recebem dinheiro de todos os partidos, inclusive dos Democratas, e depois votam e plena consciência. Será que se pode exigir a uma pessoa que luta pelos tais 100 bath (2,1 Euros) por dia para comer que rejeite as notas de 100 ou 500 bath que todos os Partidos lhe estendem? Interessante é que nunca se ouviu nenhuma dessas vozes da cidade propor um plano dotando mais fundos para “educar” as pessoas que eles julgam não educados.

O Mundo está cheio de exemplos onde as eleições mostram a grande sabedoria dos eleitores. Quando se julga que um povo vai voltar de esta ou daquela forma por norma acaba por se obter resultados que mostram uma grande capacidade de entendimento daquilo que são as capacidades dos candidatos pelos votantes. Já estou a ver todos a vasculharem nos arquivos de memória os muitos exemplos contrários ao que digo, e por certo terão razão, mas esta é a minha convicção.

A sabedoria do povo feita e cimentada através do seu viver diário e do pragmatismo, porventura recebido do facto de lutar pela vida dia a dia, acaba por ser prevalente na formação das consciências cívicas que nós, citadinos, burgueses, sempre acomodados, consciente ou inconscientemente julgamos deverem merecer algumas lições de nós.

A Reconciliação nacional é o tema de todos os políticos em Bangkok até porque sabem que as palavras soam bem e ganham simpatia e melhor ainda não são atacadas mas as acções ficam sempre para amanhã.

Contudo na província as acções são para hoje e começam a despontar um pouco por todo o lado iniciativas que visam juntar amarelos e vermelhos à mesma mesa para de uma forma correcta dirimirem as suas disputas. fala-se de vermelhos e amarelos visto serem hoje em dia os símbolos dos dois campos que se opôe ainda que por vezes exista um total incoreecção na identificação dos motivos e objectivos detrás dos dois grupos. Ou muito me enganao ou ainda os irei ver juntos em Bangkok.

Desde Korat, a Ubon, a Chiang Mai, para só citar alguns, e agora Phayao surgem essas iniciativas do “povo inculto e deseducado” qual professor dos “ilustres urbanos”. Neste encontro no Norte as camisas mudaram de cor e o vermelho e o amarelo só são visiveis na parede.

Como há quem diga em Portugal: 20 valores.