quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quem quer a Guerra?

Afinal que é o interessado na presente contenda entre a Tailândia e o Camboja?

O Ministro da Defesa tailandês, o General na reserva Pravit Wongsuwn, anunciou que já acordou encontrar-se com o seu congénere Cambojano para "negociar uma paz duradoura".

O número três do governo de Abhisit e encarregado dos assuntos económicos, Vice-primeiro-ministro Doutor Trairong Suwankiri, encontra-se hoje em Phnom Penh para participar na abertura de uma exposição comercial tailandesa e encontrou-se com o primeiro-ministro Hun Sen.

Entretanto os dois MNE vão trocando acusações sobre quem iniciou as escaramuças ontem pela manhã e enchem as páginas dos jornais que também continuam a "contar espingardas" de um e de outro lado da fronteira.

Os que fazem a guerra querem a paz e aqueles que deveriam promover a paz, através de um instrumento tão valioso como a diplomacia, querem a guerra, parece ser esta a conclusão simples da actuação dos agentes no terreno.

Parte da comunicação social também não ajuda muito. Por um lado o Matichon, o jornal de língua tailandesa de maior tiragem, trazia um longo artigo relatando as duas vezes que, no passado recente, a Tailândia se envolveu em confrontos com vizinhos, 1940-41 com a Indochina francesa e 1987-88 com o Laos, afirmando que o país não tirou nenhum proveito dessas ocasiões e isso deveria servir de lição para o presente. Continua apelando a que os dois países ultrapassem "estes pequenos problemas" e olhem para os interesses comuns dos povos e dos países.

No pólo oposto Sutichai Yoon, do Krungthep Turakij e do The Nation, sempre radical, comentando uma declaração de Hun Sen que afirmava querer promover a paz e o bem estar entre os dois países, dizia que "este antigo Khmer Vermelho (Hun Sen) nunca é fiel à sua palavra e deveria deixar de se portar como uma criança atirando pedras para se divertir com o vizinho.

Não é normal ler nos jornais cambojanos ataques pessoais a Abhisit ou qualquer membro do governo, incluindo o MNE Kasit, ao contrário do que se passa deste lado da fronteira, embora os cambojanos sejam igualmente nacionalistas e determinados (outro dia um deslocado do lado cambojano dizia não se importar de perder território para a China mas lutaria até à morte contra a Tailândia e o Vietname se houvesse alguma tentação destes dois países em invadir o Camboja).


Um dos problemas existente nesta contenda é a pressão exercida diariamente sobre o governo de Abhisit não só pelos amarelos que se manifestam há já três semanas bloqueando uma larga zona no sector antigo, real e governamental de Bangkok, onde por exemplo se situa o quartel general do exército, mas também pela máquina bastante forte de meios de comunicação social (jornais e televisão) que têm ao seu dispor e que, ao contrário dos pertencentes aos vermelhos, nunca foram fechados nem tiveram o sinal foi cortado. Ontem a Polícia fez um raid ao local e apreendeu várias armas que se encontravam no acampamento amarelo mas "não conseguiu" identificar o(s) proprietário(s).

Outro problema e que é repetidamente chamado á liça é o facto de quer Kasit quer mesmo Abhisit, o primeiro enquanto militante do PAD-amarelo e o segundo enquanto líder da oposição, terem sido extremamente violentos em ataques pessoais contra o PM cambojano Hun Sen. Como usamos dizer, cá se fazem cá se pagam!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Vencedor


A agendada reunião do Conselho de Segurança, reunido para discutir o conflito que envolve a Tailândia e o Camboja, aconteceu na noite de Segunda-feira em Nova York mas pouco produziu.

Como num jogo de futebol todos ganharam.

A Tailândia porque conseguiu que o CS não se envolvesse demasiado a ponto de enviar uma força de "peacekeepers"que ocupassem a área em disputa e afastassem os dois exércitos, como era solicitada pelo Camboja.

O Camboja ganhou porque conseguiu, finalmente, que o CS discutisse o assunto e também porque a recomendação saída da reunião aponta para uma mediação de terceiros, a presidência da ASEAN, aliás perto de uma possível interpretação do artigo 23 da Constituição da Associação.

A Indonésia, envolvida enquanto Presidente em exercício da ASEAN, também ganhou porque vê aumentar a sua já reconhecida capacidade para liderar na região. O MNE Marty Natalengwa aparece neste momento como uma pedra fundamental e quando convocou para o próximo dia 22 uma reunião extraordinária dos seus colegas da ASEAN, com o objectivo de discutir o conflito entre os dois membros, marcou definitivamente o ritmo ao qual os factos deverão acontecer e posicionou a associação num patamar superior ao que sempre nos habituou.

Para mim o único vencedor neste momento é a ASEAN pois cria-se um precedente com a reunião do dia 22. A ASEAN segue, bem ao contrário da União Europeia, o principio de total não interferência nos assuntos internos de um país. É raro ver a ASEAN ou o seu secretariado saírem em ajuda de qualquer assunto interno num estado membro com medo de tal passo poder ser mal interpretado do ponto de vista político. O actual secretário-geral, Dr. Surin Pitsuwan, um ex MNE tailandês de grande prestígio, tem vindo a tentar elevar quer a capacidade de acção quer de intervenção do seu "escritório" mas tudo tem sido feito com pinças de penas devido às sensibilidades entre os estados membros.

Pode afirmar-se que a primeira vitória obtida foi quando foi possível a ASEAN ter um papel determinante na ajuda humanitária após o ciclone Nargis na Birmânia e o actual momento pode considerar-se o segundo passo do fortalecimento da imagem do secretariado tão bem apoiado pelo MNE Marty.

Quem por certo perdeu naquele encontro de Nova Iorque foram a Tailândia e o Camboja pois pouco passavam 5 horas sobre o comunicado final onde era dito ás partes que o primeiro passo era o estabelecimento de um cessar-fogo, para eclodirem de novo escaramuças na fronteira causando vários feridos em ambos os lados.

O facto de o CS não ter emitido mais do que uma recomendação não faz das partes violadoras dos princípios da carta das Nações Unidas mas diz bastante das "boas" intenções dos negociadores e/ou da sua capacidade de transmitir às forças no local os seus desígnios.

Os jornais de ambos os países, com relevo para os tailandeses (já que os cambojanos não necessitaram tanto de propaganda interna), dedicam grande parte dos seus escritos a enaltecer a "vitória" do governo Abhisit e a requerer que os cambojanos regressem à mesa das negociações. Lembre-se que estes sempre disseram Não pois acusam o sistema legal tailandês de ineficiente, e as reuniões de inúteis, já que as minutas das reuniões de 2008 (!) ainda estão por aprovar travando todo e qualquer progresso. De um lado os tailandeses pretendem continuar neste jogo arrastando a questão mas alegando que se está a negociar e portanto nada mais deve ser feito, enquanto os cambojanos recusam visto quererem avançar com o processo do templo junto da UNESCO e dizem não poder esperar pela burocracia tailandesa.

Veremos agora o resultado da reunião dos MNE da ASEAN a 22 de Fevereiro mas o certo é que esta é já por si uma vitória da associação, da sua Presidência e do seu secretariado.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Magia Negra?

No último dia falei da magia negra Khmer e do respeito que tal facto induz aos tailandeses.

Nós também dizemos não acreditar em bruxas mas lá vamos afirmando que "las há, las há". Os tailandeses mesmo os menos devotos a estas causas têm o seu quê de "respeito" pelas premonições e realizam-se vários rituais no sentido de afastar as pragas lançadas do outro lado da fronteira.

Anteontem o Daily News afirmava, em mais uma tirada de nacionalismo e comentando um "incidente" ocorrido com caças F16 que "por engano", segundo o porta-voz da Força Aérea, sobrevoaram a zona de conflito na fronteira, que "era necessário mostrar aos cambojanos a capacidade da nossa aviação, com os F16, de modo a que eles acabassem com as provocações" contra a Tailândia.

Esses aviões estão neste momento a ser utilizados nos exercícios conjuntos que estão a decorrer, Cobra Gold 2011, com as forças americanas (depois de similares exercícios efectuados no Camboja) e ou por força da magia ou por azar, dois desses aviões colidiram esta manhã em pleno voo sobre a província de Chayaphum no centro nordeste do país.

Felizmente que o acidente não causou nem vítimas nos pilotos, que se ejectaram, nem em pessoas no solo, visto ter sido numa zona de floresta não habitada, mas já há quem fale que tudo não é mais do que resultado das pragas lançadas pelos Khmer sobre o povo tailandês.

Foi aberto um inquérito mas o que mais intriga os peritos da Força Aérea é o facto de parecer pouco crível que os dois aviões tivessem colidido no ar, pois caso assim fosse seria quase impossível os pilotos ejectarem-se, ficando então a questão sobre o que terá feito com que dois aviões tivessem caído ao mesmo tempo.