sexta-feira, 4 de março de 2011

Moção de Censura


O Pheu Thai (PT), o principal partido no Parlamento, embora na oposição visto o segundo maior partido, os Democratas terem feito uma aliança de governo com outros partidos menores, apresentou uma moção de censura contra o governo do PM Abhisit que irá ser discutida entre 15 e 18 deste mês com a votação agendada para o dia 19.

Os pontos focais da moção serão o uso da violência contra os manifestantes vermelhos no ano passado e a ineficácia de qualquer investigação sobre os incidentes, a execução do programa do governo com incidência em vários casos tidos de corrupção e a ineficácia da política externa do governo que será ilustrada com base no isolamento internacional do país, os confrontos com o vizinho Camboja e a incapacidade para obter o apoio da Malásia para minorar a crescente insurreição no Sul do país.

No que respeita o primeiro caso, o partido promotor da moção, pretenderá mostrar, usando evidências quer em fotografias quer em vídeos, que os incêndios que destruíram a parte principal da zona de Ratchaprasong, incluindo o Central World, são da responsabilidade de forças "acima quer da polícia quer do exército", segundo se lê na proposta.

No que respeita aos casos de corrupção a maioria dos casos que virá á liça estão concentrados nas pastas geridas por membros do partido Bhum Jai Thai, de Nevin Chidchob, o homem que vindo do nada clama agora à viva voz "sou mais rico que Thaksin", mas Abhisit não escapará a esta parte do debate pois um dos casos, o perdão de uma multa de mais de mil milhões em impostos á multinacional americana Philip Morris, envolve o seu círculo próximo.

Outro dos casos que por certo será discutido e que constitui um dos tópicos quentes da actualidade é o subsídio que Abhisit insiste em manter de forma a manter o preço do diesel abaixo dos 30 baht por litro, e que está a custar ao país uns impressionantes 272 milhões de baht por dia (cerca de 6,5 milhões de euros) e que o próprio Ministro das Finanças já declarou ser insustentável. Outro assunto que tocará por perto o PM é o da falta de óleo de palma, essencial em todos os lares, e as dúvidas que estão associadas à compra de milhões de litros autorizados pelo governo que acabaram por não chegar ás prateleiras dos supermercados e não se sabe onde para o dinheiro dispendido.

Contudo e embora o debate prometa ser interessante de seguir não é esperado nada mais do que um ensaio para futuras batalhas eleitorais já que o governo tem por certo assegurado que a coligação se manterá junta na hora de votar e, embora tendo maior número de deputados, o PT não tem o número suficiente para derrubar o governo.

O debate servirá por outro lado para testar a capacidade de Mingkwan Sansuan, ex Ministro da Economia do governo Samak, de poder vir a ser apresentado ao eleitorado como potencial PM se o PT vencer as próximas eleições.

O PT , partido representante do thaksinismo, vive sempre num processo de falta de liderança visto o líder real, Thaksin Shinawatra, não estar presente e para ele é de evitar uma figura forte que de alguma forma possa colocar a sua imagem em perigo e constitua uma "alternativa" ao seu poder. Esta dicotomia – dependência ou independência de Thaksin – tem sido a principal causa das fragilidades do partido. Se por um alado necessita da imagem do ex PM para atrair um largo número de "fiéis" por outro lado não consegue criar uma autonomia e uma forma de apresentar soluções políticas que se distanciem daquele que por certo não é parte da solução dos problemas políticos do país mas sim parte desses mesmos problemas.

Mingkwan será mais um dos "fiéis" a imolar e não parece credível que consiga reunir á sua volta consensos nem parece ter os dotes de liderança necessários para levar o partido à vitória nas próximas eleições. Os partidos thaksinistas têm vencido todas as eleições desde 2001 mas a sua crescente fraqueza, pela ausência de liderança acima explicada, está a pôr em sério risco a vitória no próximo acto eleitoral sabendo-se também como Abhisit e os seus colegas de coligação têm utilizados todos os meios ao seu dispor (nomeadamente o orçamento e o total controlo das administrações regionais e locais) para assegurar a vitória.

Este acto de pré campanha será por certo importante de seguir e poderá mostrar alguma luz sobre direcções futuras.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Verdade

Já passaram 10 meses e ainda continuam as investigações sobre os acontecimentos de Abril/Maio de 2010 nos quais morreram 92 pessoas.

Dois casos envolvendo estrangeiros têm merecido viva e enérgica manifestação de desagrado pelas missões dos respectivos países. As mortes do operador de câmara da Reuters, o japonês Hiroyuki Muramoto no dia 10 de Abril e do jornalista italiano Fábio Polenghi já em Maio continuam envolvidas em mistério da mesma forma que acontece com todos os outros, de nacionalidade tailandesa que pereceram nesses confrontos violentos entre o exército e os manifestantes vermelhos da UDD.

Ontem, Domingo o Departamento de Investigação Especial da Polícia (DSI), veio anunciar que a morte do repórter japonês se deveu a um tiro de AK-47 reafirmando mais que naquele fatídico dia 10 de Abril de 2010 o exército tailandês não utilizou esse tipo de armamento levando a crer que o tiro que o vitimou não partiu de nenhum soldado. Nada mais disse o DSI.

O assunto contudo está a gerar grande polémica que, irá por certo rapidamente desaparecer dos jornais, visto na semana passada o DSI ter anunciado que a bala que vitimou o repórter tinha sido disparada por uma M-16. Após quase onze meses de estudos forenses consegue saber-se o tipo de bala utilizado e em dois dias muda-se esse conhecimento adquirido naquele período. Para isso o DSI recorreu a um oficial do exército reformado que olhando para as fotografias do corpo do repórter concluiu, por certo sem dúvidas, que a bala tinha era proveniente de uma kalashinikov, a famosa AK-47 que por acaso o exército nesse dia tinha deixado nos quartéis.

A isso, segundo o Bangkok Post, não terá sido alheia a visita feita pelo número dois do exército ao DSI que segundo aquele jornal (edição de Domingo) ali se deslocou para reclamar contra as conclusões do DSI.

Contactei a Embaixada do Japão e fui informado da perplexidade em que se encontram visto terem visto, como eu também vi mostrado pela Comissão encarregue de encontrar a verdade sobre os acontecimentos de 2010, um vídeo que mostrava que a bala que atingiu Hiro (assim é o "nickname" do repórter) veio do local onde estavam, a disparar as tropas do regimento numero dois de infantaria. Como se pode ver em muitas fotografias existentes o repórter japonês atingido era sempre visto do lado dos manifestantes vermelhos e no momento que foi atingido, vê-se tal facto claramente no vídeo mostrado pela comissão governamental, estava bem no meio desse lado do confronto.

Se então a bala fatal foi de uma AK-47 e não de uma M-16 e aquelas não pertenciam ao exército (nesse dia) quem estaria no meio dos soldados a disparar ao ponto de matar Hiro? Os tais "homens de preto"? Quem são eles? Se não pertenciam ás hostes do exército como é que estavam com ele confundidos?

Muitas perguntas para tão poucas respostas e ainda falta o caso do Fábio sendo que a Embaixada da Itália e os familiares do jornalista já há muito perderam a paciência e tal como os japoneses iniciaram investigações próprias.