sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pausa


Hoje irei iniciar férias, e como sempre vou até Portugal.

Sair, viajar, passear é sempre bom mas a sensação de voltar é uma das melhores que os caminheiros e viajantes têm.

Portugal não é um país dado a grandes mudanças e por isso a maioria das vezes que regresso pouco ou nada vejo de novo. A paisagem não muda, o tempo das grandes obras estruturais já terminou, parece que se adormeceu esperando outra vez por alguém que surja da bruma de Alcácer Quibir. Mas desta vez é diferente, desta vez há a Ema.

Lisboa, o Estoril dos últimos quase 40 anos está diferente. Vou ver, olhar, que é mais do que ver, sentir, e gozar esses novos momentos.

Será um mês calmo, com sabor, com amor, com leituras e como estamos em Portugal com uma sempre, boa mesa. Esses pecados são inevitáveis para quem como eu não consegue resistir aos tratos das cozinheiras portuguesas.

Deseja-se sempre um pouco de moderação para que a balança não reclama. No final lá se farão as contas.

Por agora um longo mas apetecido vôo e aí estamos.

As minhas desculpas pela pausa que se vai seguir mas mesmo sem ser "Visto de Bangkok" continuarei, talvez a partir de Segunda-feira os meus retratos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Doces amargos


Três advogados do ex Primeiro Ministro Thaksin Shinawatra foram ontem condenados a 6 meses de prisão efectiva, sem direito a recurso, e a uma multa, essa de pouca monta por tentativa de corrupção de oficiais do Supremo. Para além disso sofrerão um processo pela Ordem dos Advogados que os impedirá de exercer pelo prazo de 5 anos e o Supremo Tribunal de Justiça enviou para o Ministério Público o caso para averiguação sobre a possível prática de acto criminoso.

A história é simples. No dia 10 de Junho este grupo de advogados dirigiu-se ao Supremo Tribunal de Justiça e um deles, primo por casamento de Khunying Potjaman, mulher de Thaksin, pediu para ser chamado um funcionário a quem entregou uma caixa de doces para ser distribuída pelos funcionários como um gesto de agradecimento "visto eles estarem a trabalhar arduamente no caso em questão sobre o ex PM". Acontece que o funcionário que recebeu a caixa a abriu e constatou que continha dois milhões de bath o equivalente a 40.000 €.

O advogado reclamou que o seu motorista tinha trocado a caixa por outra que continha o dinheiro destinado a principio de pagamento do uma propriedade que a sua mulher ia comprar.

Tal facto não convenceu os agentes que ainda arguiram por que é que o advogado em questão tinha feito a entrega em privado e não à vista de toda a gente. Como se diz quem não deve não teme.

Feito o auto do ocorrido na presença dos advogados e tiradas fotografias do "corpo de delito", foi o caso enviado para julgamento que ontem mesmo decidiu a da forma drástica que referi.

Este é por certo um forte abalo na credibilidade da defesa de Thaksin Shinawatra e poderá ter repercussões fortes na sua popularidade.

Em breve será ouvido num dos principais casos, a compra de uns terrenos pertencentes a uma agência do Estado pela sua mulher e agora a sua equipa de advogados está fortemente empobrecida e com um estigma que por certo não vai ter nenhuma simpatia por parte dos juízes do caso.



quarta-feira, 25 de junho de 2008

O Templo da disputa - debate no Parlamento


A noticia do dia continua a ser a disputa no Parlamento sobre a situação de Khao Prha Viharn e a conduta do Governo de Samak na questão.

Já assisti a muitos episódios em política mas nunca assisti a um debate onde o "desgraçado" levasse tanta tareia e tivesse tão pouca habilidade para se esquivar dos golpes.

O PM, que pelo seu aspecto parece um touro capaz de levar tudo pela frente e que por outro lado tem uma linguagem agressiva e por vezes violenta, parece um cordeirinho incapaz de se defender daquilo que vem sendo atacado. Por outro lado aparece cada vez mais como um homem só e isolado.

De mentiroso a deficiente mental tudo já lhe chamaram no debate de hoje para além de o acusarem de ser inepto para Governar, de estar a destruir a Monarquia, o que é grave aqui, de não ser capaz de liderar o Governo nem o Partido da maioria, enfim um conjunto de piropos dignos de um Parlamento que se preze da liberdade da palavra (e da bojardice também).

A questão do templo é aquela que mais salta para a ribalta pois, como ontem escrevi, ateia o fogo do nacionalismo, e é fácil manobrar a imprensa e as emoções neste contexto.

Continua a ser dito que a decisão de 1962 do Tribunal Internacional de Justiça , que atribuiu o Templo ao Cambodja, nunca foi aceite pela Tailândia, mas ninguém parece interessado em dar alguma relevância de que a decisão não é passível de recurso e só no caso de haver algum facto superveniente de relevância tal que possa por si só alterar o sentido da decisão, e isto até passados 10 anos da decisão, é que o Tribunal poderá reapreciar o caso.

Nenhum jornal dá algum relevo a isso mas todos dão relevo ao facto de quer os Democratas quer os lideres do PAD chamarem mentiroso ao PM.

Alemanha vs Turquia

Hoje joga-se a meia final onde Portugal deveria estar, mas não está. E não está porque os Alemães foram melhores do que nós. Simplesmente por isso.

escrevi bastante sobre a nossa derrota mas é bom que assimilemos que perdemos porque a outra equipa foi simplesmente mais eficaz, mais acutilante, mais produtiva do que a nossa.

Normalmente perdemos "porque o arbitro é um malandro e estava comprado pelos outros ou era ceguinho e mal intencionado de todo".

Na realidade em 99% dos casos perde-se porque pura e simplesmente outros ganham. La Palisse era mestre nestas afirmações mas aquilo que é verdade faz todo o sentido.

Temos quase sempre a tendência, e na generalidade dos temas, para atribuir a outros as culpas dos nossos fracassos. Não é só no desporto que isso se passa. Essa tendência tem, por certo, a ver com a nossa dificuldade em aceitar sermos um país pequeno e com uma reduzida importância no panorama internacional, isto após termos, nos longínquos séculos XV e XVI dominado o Mundo.

Quando existe um pequeno êxito de Portugal ou de um português exaltamos de alegria e tentamos sempre fazer o Mundo ver como somos fantásticos, mas depois somos por demais pequenos nas coisas do nosso dia a dia.

A consciência do conhecimento pessoal, e neste caso colectivo, é um dos cimentos dos grandes homens, dos grandes países, das grandes causas. Saber aquilo que somos e sabemos e talvez mais importante aquilo que não somos e não sabemos, cria valor na nossa vida só pode conduzir ao engrandecimento das nossas acções.

A humildade para a todos atendermos, a todos vermos como iguais e para o facto de que somos imperfeitos só nos fortalece e enobrece ao contrário do que muitos pensam.

A nossa vida é uma aprendizagem permanente e esses ensinamentos vêem de todos e de todos os lados seja ele o Rei ou o pedinte. Dizia um famoso Professor de Michigan "it is not important to be qualified. It is important to stay qualified" C K Prahalad.

Esta noção da necessidade de estarmos em permanente alerta e atentos aos outros e às outras coisas fará de nós, por certo, seres melhores e mais contributivos para o engrandecimento de Portugal como país e de nós como portugueses.

Vem isto tudo a propósito do Euro e também do facto que quando se está longe sente-se o país de forma diferente daquela que quando estamos no dia a dia emersos na realidade. Apetece nos ser "mais" portugueses mas, como vemos de fora, sabemos o quanto temos de lutar para mostrar que esse nosso país é digno de existir no Mundo.

Logo à noite o jogo não nos interessa muito mas quanto a mim já agora que ganhem os Alemães. Não posso "gostar" deles, porque nos ganharam, mas assim como assim ainda são contribuintes para a melhoria de vida dos portugueses através dos fundos comunitários. São para além disso são nosso parceiros/irmãos nesta imensa comunidade e os Turcos ainda estão à porta e por muitos anos.

Contudo seria engraçado se os Turcos fossem campeões Europeus pois aconteceria que durante o campeonato a única equipa que os tinha vencido tinha sido precisamente Portugal.

Que joguem bem é aquilo que se pede. O resto é uma bola de couro e 26 protagonistas mais alguns espontâneos que podem aparecer durante a partida.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Khao Phra Viharn


Quando há cerca de duas semanas visitei o templo de Khao Phra Viharn nao pensava quanto ele viria a ser hoje em dia um dos pontos fundamentais da luta politica na Tailândia.

O Governo tailandês assinou recentemente, conjuntamente com o Governo do Cambodja, o pedido para que o templo fosse incluído na lista do Património da Humanidade e tal facto é visto como uma cedência, inadmissível, do território e da soberania. Para além disso invoca-se que o Governo Tailandês agiu ilegalmente visto que deveria ter passado tal acto pelo Parlamento já que só este ter competência para Assinar Tratados Internacionais. Contudo outros advogam, e penso que com razão, que tal não seria necessário visto nao haver alterações para o país decorrentes de tal facto.

O território do Templo está "atribuído", desde 1962, pelo Tribunal Internacional de Justiça, e tal aceite pela Tailândia, como pertencente ao Cambodja. A questão está em cerca de menos de 5 km2 adjacentes ao Templo que continuam a ser disputados pelos dois países. Na resolução de 1962 este especto não foi considerado e no acordo agora assinado de igual modo nada é mencionado. Afirmam os apoiantes da "causa nacionalista" que a assinatura irá enfraquecer a capacidade do Governo deste pais em futuras negociações sobre os ditos terrenos.

O absurdo da situação é que, em teoria, tudo é Tailândia, excepto o Templo em si mesmo, e agora clama-se que os vendedores de "souvenir" na entrada do Templo devem sair pois estão a ocupar ilegalmente território tailandês.

O PAD desde que iniciou esta campanha, a 25 de Maio, não tinha nenhuma bandeira com fortes conotações emocionais como há dois anos atrás quando Thaksin vendeu o seu império á holding estatal de Singapura, e por isso foram lestos a pedir a cabeça de tudo e todos por causa desta questão e a levantarem-na bem alta como a nova bandeira da união do grupo.

Têm contado com a preciosa ajuda do Senado (note-se que 50% dos Senadores são não eleitos e foram escolhidos pelos mesmos que fizeram o golpe de 2006) que de uma forma um pouco invulgar atacou o Governo neste questão. Igualmente de altas instâncias vieram palavras sobre a necessidade da sociedade civil saber defender o território nacional inflamando os manifestantes.

Como se sabe nada há melhor do que um pouco de patriotismo para que as multidões se excedam nos seus calores em defesa daquilo que é apresentado como uma violação desse dever sagrado de cada um. A defesa da Pátria.

Um grupo de académicos veio já a lume tentando explicar os perigos que decorrem destes excessos de patriotismo oportunista mas o debate está lançado e as mentes incendiadas por uma questão de "perigoso atentado á soberania". E lembre-se que o Cambodja e a Tailândia são, para alem de vizinhos, países "irmãos" na ASEAN.
Para já o Governo de Phnom Pehn encerrou o Templo no sequência de manifestações que ocorreram, também, na estrada de acesso a este.

A irracionalidade impera e há pouca noção de bom senso quando um dos mais importantes órgãos da soberania fala de forma tão pouco esclarecida como está sendo feito actualmente.



segunda-feira, 23 de junho de 2008

Situação política - Segunda 23



O país parece ter entrado num período de paz podre.

Government House continua cercada mas o PM passou para ir trabalhar e tudo está pacificado embora não esteja á vista nenhuma solução para a presente crise.

O Governo aceitou estender a sessão Parlamentar para debater a Moção de Censura embora seja ponto assente que esta não tem nenhumas hipóteses de vir a ser aprovada visto o governo dispor de maioria suficiente para sair vitorioso. Contudo se a Moção não fosse debatida o Parlamento não poderia ser dissolvido, uma das possibilidades em discussão no momento. O debate será por certo acalorado mas, e apesar de haver algumas vozes discordantes dentro da coligação, especialmente explorando a questão da demarcação de fronteiras com o Cambodja em Khao Phra Vihan, a Moção não irá ser aprovada. É sabido que muitos dos deputados do PPP não gostam do actual PM e que ele é um homem só, mas o facto é que ele está lá, e estou aqui a reproduzir as palavras de um dos mais influentes políticos do PPP, que tal disse em privado.

As outras possibilidades, um governo liderado pelo Partido Democrata com os restantes partidos da actual coligação é praticamente impossível. Isso criaria uma maioria de somente quatro deputados. Tendo em vista que seria uma coligação de 6 partidos e 5 deles terem estado "contra" o Partido Democrata no actual Governo torna essa coligação unicamente um sonho.

Mais um golpe de Estado, parece igualmente improvável visto os militares saberem muito bem os custos que tiveram com o golpe de 2006 que, no final acabou por não ser aprovado pelo povo que votou naqueles que as forças militares queriam derrubar.

Interessante foi ver uma sondagem que hoje apareceu feita pela Assumption University, onde é manifesto o desagrado pela existência da Moção, por ser ainda demasiado cedo, e pelas acções do PAD por igual motivo. Em conclusão, os inquiridos, a maioria de Bangkok, terreno adverso ao Partido no poder, respondem que deve ser dado mais tempo a este Governo para provar a sua qualidade.

Este mesmo Instituto de sondagens tem vindo a conduzir estudos regulares e tem sido visível o descontentamento para com o actual Governo pelo que a sondagem de hoje espanta ainda mais pela clareza de vista perante a situação. Como se costuma dizer os eleitores têm sempre razão e a história por muitas vezes o demonstrou por todo o Mundo.

Contudo continua sem se entender como é que vai ser encontrada uma saída para a presente crise visto não haver solução Constitucional que sirva.

Thaksin foi "á bruxa", ou seja consultar um dos seus videntes preferidos, facto comum a políticos e homens de negócios aqui, e disse que a partir de 2 de Julho tudo serão rosas, mas, entenda-se lá porquê, um outro vidente veio dizer que o dia 2 de Julho é o pior dia do ano.

Logo se verá, pelo menos no dia 3 de Julho.

Ema


Junho 22, 2008, 7.05 horas de uma linda tarde em Lisboa, já madrugada em Bangkok, 3.065 kg 49 cm.

Chama-se Ema.