sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Laranjada

Mudam-se os tempos mudam-se os hábitos.

Em 2008 Kasit Piromya, o actual Ministro dos Estrangeiros, era uma assídua presença nos palcos do PAD e tido como o campeão da luta que os amarelos mantêm contra o Camboja por causa daquilo que consideram ser a invasão e anexação de território da Tailândia pelos cambojanos.

Ontem na manifestação do PAD o "grande amigo" passou a ser um dos principais alvos a abater e foi objecto de todos os insultos e impropérios saídos das gargantas da turba amarela que se manifesta pedindo a invasão do Camboja e a demissão de Abhisit e de Kasit

Para completar o ramalhete da loucura colorida que se apoderou da nova manifestação amarela (que continua a ser reduzida em número de presenças) um dos líderes dos Patriotas, Chaiwat Sinsuwong, encorajou esta manhã os vermelhos a juntarem-se à manifestação para "unidos lutarem contra o fim da governação dos democratas".

As voltas da política tailandesa são sempre uma caixa de surpresas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Experiência Socialista

Hoje chegou-me à caixa de correio esta mensagem que me pareceu importante partilhar devido à sua permanente actualidade. Nada me move contra o socialismo ou a seu favor, mas tudo me move contra o comodismo e a exploração de outros em proveito próprio.

Uma experiência socialista........ em 1931.

Um professor de economia da universidade Texas Tech disse que raramente chumbava um aluno, mas tinha, uma vez, chumbado uma turma inteira.

Esta turma em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e "justo".

O professor então disse, "Ok, vamos fazer uma experiência socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas dos exames."Todas as notas seriam concedidas com base na média da turma e, portanto seriam "justas". Isto quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém chumbaria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia 20 valores...

Logo que a média dos primeiros exames foi calculada, todos receberam 12 valores.Quem estudou com dedicação ficou indignado, pois achou que merecia mais, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado!

Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que também eles se deviam aproveitar da media das notas. Portanto, agindo contra os seus princípios, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. O resultado, a segunda média dos testes foi 10. Ninguém gostou.

Depois do terceiro teste, a média geral foi um 5. As notas nunca mais voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, procura de culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma.

No fim de contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar os outros. Portanto, todos os alunos chumbaram... Para sua total surpresa.

O professor explicou que a experiência socialista tinha falhado porque ela era baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes.

Preguiça e mágoas foi o seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", disse, o professor, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não lutaram por elas, então o fracasso é inevitável."

O pensamento abaixo foi escrito em 1931 por Adrian Rogers

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de leis que punem os ricos pela sua prosperidade. Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa tem de trabalhar recebendo menos. O governo só pode dar a alguém aquilo que tira de outro alguém.Quando metade da população descobre de que não precisa de trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Casamentos de Conveniência

Ontem referi a estranha coligação que se estabeleceu entre os amarelos e os vermelhos "juntos" por causa de um inimigo comum, Abhisit

Ambos os campos acabam de mais uma vez concordar afirmando que a história dos "bombistas" presos antes do começo da manifestação do PAD foi uma armadilha montada pelo governo para, no entender do PAD, afastar as pessoas doa manifestação, e no entender da UDD devido a divisões dentro da própria polícia.

Hoje o The Nation analisa na primeira página esse caso mostrando as incongruências e os erros e fazendo crer que na realidade algo se passou no seio da polícia e nos bastidores de toda essa encenação.

Contudo o mais importante é o facto de a manifestação do PAD estar aparentemente para durar e só terminar, de acordo com os seus líderes, ou com a total aceitação dos seus pedidos (que se sabe impossível) ou com a demissão do governo de Abhisit.

O número de manifestantes aumentou ontem à noite e chega neste momento aos 5.000 segundo a maioria das fontes embora os jornais, à semelhança com os casos da UDD, tentem não relatar muito sobre o movimento

Sondhi L, o mais mediático líder do PAD veio dizer que Abhisit ainda continua a enganar muita gente com a "sua cara bonita" mas já não engana o PAD que sabe ele ser igual aos anteriores primeiros ministros que o movimento ajudou a derrubar referindo Thaksin, Samak e Somchai.

Outro dos líderes do movimento veio dizer que desta vez era mais sério pois Abhisit estava a vender a pátria aos "invasores" cambojanos e o movimento estava ali a lutar para que o país não perdesse a soberania sobre o seu território.

Os temas nacionalistas sempre foram do agrado do PAD pois sabe bem o movimento que desse modo consegue atrair massas e atiçar chamas que se sentem menos atraídas por temas mais do foro político como direitos democráticos ou sociais.

O General Chamlong, outro dos líderes do PAD, veio afirmar que por agora as pessoas se concentraram na ponte de Makawan (mesmo em frente ao edifício das Nações Unidas e onde em 2008 iniciaram a campanha que durou 192 dias) e não tencionam avançar para a Governement House mas tal poderá acontecer se essa for a vontade do povo ali em manifestação. O velho General disse de igual modo que dispersariam tão logo o PM Abhisit acedesse aos seus pedidos, facto que se sabe, como já referi, impossível. Aceder aos pedidos seria o mesmo que declarar guerra ao Camboja pois não me parece haver outra forma de fazer mover as pessoas que actualmente ocupam os disputados 4,6 km2 em redor do templo de Phrae Viharn.

Abhisit, sem resposta, autorizou entretanto, um pouco à trouxe-mouxe, um exercício militar junto da fronteira, talvez numa tentativa de mostrar a força tailandesa aos cambojanos mas este estão numa posição confortável e contam, nesta disputa, com o apoio da comunidade e da lei internacionais.

Uma pergunta fica agora no ar mas não consigo encontrar a adequada resposta: qual a porta de saída para esta nova crise em crescimento?

Sabe-se que Abhisit não pode ceder. O PAD parece determinado a continuar (instalaram um verdadeiro acampamento com tudo o que necessitam – casas de banho, tendas para dormir, cozinhas, etc). A possibilidade de fazer aplicar a lei parece difícil (o PAD neste aspecto é actualmente mais radical que a UDD). Qual a saída?

Vai o PAD vergar por falta de fundos? Note-se que aquando da campanha contra Thaksin e seus aliados em 2008, o PAD via diariamente milhões de baht serem postos á sua disposição para os gastos necessários. Ao "establishment" interessava-lhe essa luta. Era a luta deles pelos seus privilégios e pelo seu medo de perder o poder. Desse modo o conhecido continuado financiamento e apoio de muitas e altas figuras do país entre as quais o próprio Abhisit.

Agora isso não parece viável. Ao "establishment" não interessa derrubar o governo de Abhisit, ou seja ninguém gosta de dar tiros nos pés a não ser por engano.

Duas saídas parecem possíveis. A dissolução do parlamento e convocação de eleições mas tal não é viável antes de meados-final de Fevereiro visto ser necessário terminar o processo da revisão da Constituição cuja ultima votação está agora agendada para o dia 10 de Fevereiro depois de ontem ter sido aprovada a proposta dos Democratas. Depois da terceira votação e posterior publicação na gazeta real, ainda falta a aprovação, pelo governo, de um decreto regulamentar para que o novo texto entre em vigor. Tal nunca estará pronto antes de finais de Fevereiro já contando com um excesso de optimismo.

Até lá, e sendo que a dissolução do parlamento não é uma das reivindicações do PAD, vai manter-se a manifestação como aconteceu em 2008 com todos os custos que o país conhece?

A outra saída é a já tantas vezes levada á prática nos 79 anos de monarquia constitucional no país, ou seja um golpe de estado que tente recolocar o país na "ordem". Contudo esta via é sabido, pela experiência de 2006, que nada acrescenta e só faz o país parar mais no tempo com todas as consequências nacionais e internacionais que lhe estão associadas. Por outro lado um golpe de estado, por muito pacífico que seja, tem, neste momento, uma forte possibilidade de desencadear movimentos de tipo revolucionários no interior do país visto ser sabido que tal seria aproveitado pelos sectores mais radicais dos vermelhos para tentar apoderarem-se do poder.

Os próximos dias poderão mostrar o rumo mas não parece fácil a tarefa de Abhisit em manter a unidade nas forças que lhe estão mais próximos.

Se for como diz Sondhi L, "já fizemos cair três por isso podemos voltar a fazê-lo" não se vislumbra nada de claro para o futuro do país.

Casamentos de conveniência são sempre perigosos, seja o do caso de Abhisit com o PAD seja o actual do PAD com a UDD. Um dos nubentes pode sempre sentir-se traído mais tarde.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amarelos ajudam Vermelhos

Quem ousaria dizer que os "amarelos" poderiam ser os principais aliados dos "vermelhos".

Em 2008 o PAD-amarelo manifestou-se durante 192 dias consecutivos, destruiu a totalidade dos jardins e zonas adjacentes da Government House e várias parte no interior de vários edifícios no complexo terminando a sua campanha com a ocupação dos dois aeroportos da capital. Nessa altura atingiu o seu objectivo de fazer cair o governo pró-Thaksin de Somchai Wongsawat, embora este tenha acabado por ceder devido a uma decisão judicial que dissolveu o partido que o sustentava.

Hoje o PAD iniciou uma nova manifestação com o objectivo de depor o governo que ajudou a colocar no poder e no qual têm assento alguns dos apoiantes daquela campanha de 2008, como o Ministro dos Negócios Estrangeiros Kasit Piromya. Segundo a polícia estarão no local cerca de 2.000 manifestantes.

O General Chamlong, um dos mais proeminentes líderes do movimento já anunciou que não abandonarão o local enquanto o governo não ceder, ou seja se demitir ou aceder aos pedidos do agrupamento. Contudo uma das suas facções, os ditos Patriotas (?) dizem que mesmo que o governo aceite as suas reivindicações o objectivo é a queda de Abhisit.

O PAD reclama os seguintes três pontos:

- Anulação do Memorando de Entendimento de 2000 que regula as questões fronteiriças com o Camboja

- Saída da Tailândia do Conselho da UNESCO que rege o Património da Humanidade

- Expulsar todos os civis e militares cambojanos que actualmente se encontram a viver ou estacionados nos 4,6 km quadrados em redor do templo de Phrae Viharn e que é terreno disputado por ambos os países.

Abhisit já disse NÃO a todos os pontos referindo que no primeiro ponto a existência do memorando é uma garantia de que não é através da força armada que a questão se resolve. Sem ele não resta outra alternativa do que o recurso á força armada para dirimir a disputa. O segundo viria a ter consequências graves nos muitos locais classificados na própria Tailândia e o terceiro é uma declaração de guerra que não se deseja.

Espera-se agora ver o desenvolvimento da manifestação sabendo-se que há pouca possibilidade de ela ganhar a dimensão da anterior campanha.

Entretanto a UDD-vermelha tem continuado a manifestar-se com grande civismo e ordeiramente ganhando desta maneira a simpatia de muitos que vêem com agrado a conduta do movimento agora liderado por uma mulher a esposa do Dr. Weng, Thida Thawornseth que se encontra como outros líderes ainda em detenção preventiva (!). Do lado vermelho temos hoje também uma pequena manifestação de um dos seus sub grupos mas pelo seu passado será mais uma vez um ajuntamento pacífico e não muito numeroso.

Entretanto, ainda sem se saber bem quem comandou ou a sua verdadeira veracidade, esta noite a polícia deteve 4 indivíduos que supostamente tinham sido contratados (sem ser dito pró quem) para colocar bombas artesanais na manifestação do PAD de modo a causar pânico já que a sua potência era extremamente reduzida.

Abhisit mais uma vez caminhando sobre um fio quase invisível e sem rede.