sábado, 22 de maio de 2010

Mai Pen Rai


Já tantas vezes me referi a esta expressão tailandesa da sua doçura e dos seus efeitos nefastos.

Correm agora na internet fofografias, como as acima, dos líderes da UDD "detidos" em condições de grande conforto contrastando com o que deverá ser uma cadeia. Obviamente que nunca se sabe se as fotografias são verdadeiras ou não. O primeiro jornal a publicar estas imagens foi o Manager on line, do líder do PAD Sondhi, e o seu intuito é desacreditar a UDD, contudo, a serem verdadeiras, desacreditam o país interiro pois desacreditam uma das suas instituições.

Alguns acusam os "combatentes contra o double standard" de terem a prática que condenam mas há também que acusar as autoridades de procederem dessa forma permissiva.

Muitas vezes na Tailândia desde que hava um bom Som Tum, umas cervejas e um bom wiskhy, normalmente traficado através da fronteira pelas próprias autoridades, está tudo bem e tudo se reune à mesma mesa para beber uns copos e comer.

Assim se passa quase sempre. Hoje, ontem, há inúmeros anos e ninguém acaba por ser acusado e responsabilizado por nada.

Reconciliação


Num tom pouco habitual Abhisit, o PM educado em Oxford, dirigiu-se ontem ao país falando e apelando à reconciliação e à reconstrução da nação tailandesa.

Normalmente Abhisit fala num tom académico e é muitas vezes acusado de falar de uma forma que o povo simples não compreende o que ele diz. Esse é uma das tradicionais acusações de que é alvo e que ilustram a distância entre o PM e o povo especialmente o da província que também povoa grande parte de Bangkok.

Ontem foi diferente. Abhisit falou com emoção, com o coração e de uma forma que penso a maioria dos tailandeses conseguiu entender.

Falou fundamentalmente da necessiade de restabelecer a unidade da nação tailandesa.

"Caros concidadãos (a famosa frase pii nong prachachong) vivemos todos na mesma casa, casa essa que foi danificada. É altura de nos ajudar-mos mútuamente". Referiu também que mais importante do que reconstruir o que foi destruido, o que será feita com mais ou menos esforço, é sarar as feridas abertas no seio da sociedade.

Abhisit prometeu um inquérito independente a todos os acontecimentos dos últimos dois meses que deixaram mais de 80 pessoas sem vida e milhares feridos. Esse vai ser um ponto crucial para que as suas palavras possam ganhar credibilidade.

Como muitas vezes já aqui referi a independência das investigações termina sempre no momento em que se descobre qualquer evidência que alguém com poder (ou dinheiro que é quase a mesma coisa) possa estar envolvido. Mesmo em casos sem índole política relembre-se o incêndio no Santika que na noite de fim de ano de 2008 que tirou a vida a tantas pessoas e cuja investigação nada encontra. De índole política e mais recente, Abril de 2009, a tentativa de assassinato de Sondhi L., o líder do PAD. Uma semana depois a polícia dizia já ter provas e que os acusados seriam presos muito em breve. Já toda a gente esqueceu.

Se Abhisit tiver a força e a capacidade de enfrentar todos esses poderes e apresentar uma equipa independente que faça o total levantamento, em tempo útil, de todas as provas que existem (e são muitas) mostrando a irregular actuação de ambas as partes e daí chamar à responsabilidade quem esteve mal, tenha ele ou ela o nome que tiver, Abhisit mostrará que o país pode contar com ele e por certo pode assegurar o seu futuro político que agora está profundamente manchado.

A tarefa é imensa, conhecendo-se como funcionam as influências e os tabus neste país, mas é necessária e o momento é o ideal para isso.

O país pode lavar a cara com as suas próprias lágrimas.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Recolher Obrigatório


Acima pode ver-se o mapa que mostra as províncias onde está instaldo o Recolher Obrigatório entre as 9 da noite e as 5 da manhã até Domingo 23 de Maio.

Só uma nota para ilustrar aquilo que muitas vezes digo sobre a permissividade, o Mai Pen Rai na socieadeda tailandesa.

Há pouco falava com um amigo meu que vive no Nordeste do país, numa província onde o recolher obrigatório está instaurado, e dizia-lhe que também ele não podia sair à noite. Pergunta-me espantado porquê. Lá expliquei o curfew (a língua tailandesa não tem palavra para definir a situação e por isso usa a palavra inglesa) ao que le me disse que isso não tinha importância e que se podia sair sem problemas! Semelhante situação se passou com outro amigo meu com quem também falei hoje e que se encontra noutra província ao Sul de Bangkok.

O Lamber das Feridas

Bangkok vai tentando limpar a cidade das profundas marcas que ficaram e vão ser visíveis ainda durante muito tempo.

Apesar da capacidade que este povo tem de olhar para a frente e recomeçar a vida, disso mesmo é um bom exemplo a forma rápida como se reformou após o tsunami de 2004, os estragos provocados pela loucura do dia 19 são tão profundos que será como dantes.

Como vulgarmente se diz há que enterrar os mortos, que foram muito mais do que inicialmente se falava, e tratar dos feridos, que somos todos nós para além dos edifícios de uma cidade esventrada.

Como já referi essa tarefa vai ser feita com a tradicional perseverança, capacidade de luta e sofrimento do povo tailandês, mas o pior vão ser as feridas na alma.

Há também que responsabilizar os culpados. É um facto que Abhisit e Suthep, Veera, Jatuporn, e todos os outros, não estiveram na primeira linha a comandar os desvarios no terreno mas são responsáveis morais de toda a loucura do dia 19 e anteriores.

Todos, sem excepção deverão ser chamandos a prestar contas pelas vidas e pelos bens que se perderam.

A culpa não é só dos actores no terreno é daqueles que são supostos tomar as redeas e conduzir esses actores.

Quando Jatuporn implorou aos vermelhos que abandonassem Rajaprasong e eles vaiando o líder começaram a incendiar o Central World, ele é culpado, não específicamente desse acto mas de não ter sabido cumprir o seu dever de liderança ou seja de comando. Mostrou ser um comandante fraco e esses a história não quer.

Quando Abhisit diz que as tropas actuam totalmente dentro do limite das regras do direito internacional e depois atiram a matar sem pré-aviso sobre inocentes, como há muitos exemplos, ele falhou na sua função de liderança e tal como os outros líderes fracos e sem competência tem de ser responsabilizado.

Se assim se cumprisse, se todos, sem excepção, fossem chamados à justiça para pagar a sua parte da pesada factura, o país iniciaria uma forma de reconciliação posssível.

Temo contudo que continuaremos a ter mais do mesmo. Os culpados são sempre os mesmos e os inocentes também.

Qual filme de cowboys os bons são sempre os que estão em cima dos cavalos e os maus os índios descalços que andam a pé.

O país tem de entender que a reconciliação passa por se conseguir uma sociedade que englobe todos, uma sociedade que não deixe à porta muitos olhando para os faustos de poucos. Há que saber, sem ser para proveito próprio como Thaksin fez, dar a mão às gentes da província, fazer com que eles não só contribuam para o enriquecimento do país mas que recebam em troca, na devida proporção, o que lhes é devido.

Para além disso há que reformar o sistema de educação no país. Há que desenvolver a capacidade das pessos poderem pensar por si, de debaterem ideias, de uma forma equilibrada e responsável, e que possam ser, outra vez todos, agentes de formação de comportamentos cívicos capazes de elevar, no conjunto, as enormes potencialidades de um povo já de si tão generoso.

Educar essa consciência cívica passa também por incutir em todos o que é o respeito da lei. Roubar, no sentido lato da palavra é uma prática corrente. Desde o vendedor de rua que usa a electricidade pública para iluminar o seu carro de venda, até ao grande patrão que emprega milhares de ilegais birmaneses para engordar a sua carteira, há dezenas de exemplos que devem terminar e deixar de fazer parte do dia a dia neste país.

Os tailandeses têm de encontrar o "Modo Tailandês" de encaixar esses conceitos de respeito mútuo e igualdade na sua cultura para encontrarem a tão necessária reconciliação nacional sem a qual teremos mais 19 de Maio como de igual forma aconteceu há 18 anos nesse mesmo trágico dia.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

M.R. Sukhumbhand Paribatra

É este o nome do Governador de Bangkok.

Mom Rajawongse abreviado M.R. define que o seu pai foi um príncipe da casa real tailandesa.

Sukhumbhand é igualmente Sub Secretário-Geral do partido Democrata e foi há pouco mais de 10 anos Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Era apontado como o mais provável candidato à chefia das relações exteriores mas Abhisit acabou, cedendo a pressões, por escolher o Embaixador Kasit Piromya para o lugar. Desde essa altura as relações do actual governador com o PM nunca foram muito próximas.

Sucedeu no lugar a Apirak Khosayodhin através de eleições antecipadas devido ao facto do anterior governador se ter demitido depois de ter sido incriminado num caso de corrupção que no fim nunca chegou aos tribunais como acontecena maíoria dos casos. Apirak é agora conselheiro privado de Abhisit.

Sukhumbhand durante a presente crise, e com toda a propriedade já que a "sua" cidade estava em causa, tentou mediar o conflito e chegou a ter várias sessões de discussão com Nathawuth Saikua. Nessa altura foi travado por Abhisit e disse que por certo o PM teria boas razões para o obrigar a terminar o trabalho ao mesmo tempo que afirmava ter conseguido algums avanços nas negociações pois, segundo ele, tinham falado das questões que eram possíveis realizar a curto prazo e que facilitariam a vida aos bangkokianos.

Hoje Sukhumbhand mostrou como os habitantes da grande metrópole podem contar com ele.

Sem se intimidar pelo facto de ainda haver alguns incidentes (incêndios provocados e tiros), como em Ding Daeng, Bang Sue e Lumpini, o governador visitou os locais onde ontem houve incêndios e com a sua equipa fez uma primeira vistoria e por certo anotou aquilo que seria necessário para se avançar com a rápida recuperação da cidade.

Uma vendedora de rua na zona de Rajaprasong dizia, segundo citava hoje um jornal: "recuperar a cidade talvez seja rápido, mas o mútuo entendimento entre os tailandeses irá demorar muito"

Cinzas


A Tailândia chora as cinzas de Bangkok e de muitas outras cidades país fora.

O impensável aconteceu.

Lutar por causas é justo, é legítimo é mesmo nobre. O que aconteceu ontem, depois da rendição dos líderes da UDD à policia, é a pura barbárie.

Manifestantes, criminosos e toda a escória dos gangs que povoam certas partes da cidade, juntaram-se como uma turba odiosa e passearam a destruição pela cidade dos anjos.

Bangkok perdeu o seu sorriso. Não porque lhe impuseram o recolher obrigatório mas porque os actos dessas hordas vindas das cavernas da civilização lho retiraram da face.

Hoje, um amigo meu que perdeu lojas no Central World, dizia: “Choro pelo meu país, não pelo que perdi pois irei reconstruir ainda melhor e com maior determinação”.

De entre os 35 edifícios postos a arder em Bangkok, alguns ainda ardem e dos outros sai o fumo e a água do choro das suas entranhas. Para além desses há um número elevado de agencias bancárias destruídas de onde foi roubado tudo o que foi possível. A razia selvagem dos criminosos à solta em Bangkok estendeu-se mesmo durante a noite apesar do recolher obrigatório. Uma joalharia foi totalmente destruída durante a noite, e o seu conteúdo roubado, com o recolher obrigatório a favorecer todos esses criminosos ousados e dispostos a afrontar as eventuais forças de segurança que pudessem encontrar pela frente.

Para além de Bangkok fogos foram ateados em muitas cidades na província desde o Norte, Nordeste e Sul do país, e várias sedes de governos regionais foram destruídas pela selvajaria da turba vermelha.

Abaixo imagens da sede do governo provincial de Ubon Ratchathani, na zona sul do Nordeste do país.

O recolher obrigatório vai manter-se em vigor pelo menos até Domingo mas passa a ser entre as 9 da noite e as 5 da manhã.

Hoje todos os bancos estão fechados e um número incomensurável de escritórios e lojas também para alem dos serviços públicos que terão “férias” até amanhã. Para alem disso há muito poucos transportes públicos.

A comunidade internacional, Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e Austrália, entre outros, já condenou a violência e os incidentes ocorridos ontem e apelam, a ambas as partes, que se abstenham do uso de qualquer tipo de violência. Neste momento a UDD não existe como organização, e todos aqueles que ainda podem andar a causar distúrbios andam à solta e portanto são ainda mais perigosos.

Há uma questão cultural que se torna fundamental mudar na Tailândia. A permanente permissividade perante a infracção. O Mai Pen Rai (não tem importância) e o Gren Jai (misto de reverência com vergonha e timidez).

Os tailandeses têm uma forma de olhar para o cumprimento da lei de uma forma muito alargada. A maioria das pessoas não entendem que devem respeitar a lei e não entende o dever de respeitabilidade cívica. Como outra dia referi uma pessoa dizia-me que “não infringia a lei”, apesar de ter uma actividade ilegal, porque pagava à policia 3.000 bath por mês. Este tipo de atitude é comum. Só alguns exemplos simples daquilo a que me refiro.

Andar de cara completamente tapada por “balaclavas“ é a forma normal usada por todos os trabalhadores na construção civil e motoristas das moto-táxis. Ontem via-se na Televisão o ataque de que foi alvo o edifício do Canal 3 da Televisão, posteriormente posto a arder. A acção era levada a cabo por não mais do que uma meia dúzia de energúmenos captados nas câmaras de vigilância mas será impossível fazer a sua identificação visto ou terem a cara tapada e/ou usarem capacetes. No vídeo essa meia dúzia de selvagens fez o que quis enquanto se via próximo um policia “olhando para o lado”.

Se observar-mos o que se passa no Sul do país e, se comparar-mos com semelhantes situações nas Filipinas e na Indonésia, vemos que os actos terroristas acontecem há mais de 7 anos, sempre com a Lei Marcial em vigor, e não há nenhum progresso positivo bem pelo contrario

Nos outros dois países a Lei acabou por prevalecer e os actos terroristas estão sob controlo ou terminados enquanto na Tailândia diariamente morrem quer civis quer militares ou policias em atentados ou incidentes permanentes.

Nos últimos dias passei através de muitos controlos de policia e de militares e em vários deles bastava passar ao lado (exactamente ao lado) sem ser sequer observado. Uma situação muito caricata observei em Saraburi onde havia na estrada (nacional 2) uma barreira feita por militares, que tinham criado duas faixas para os carros abrandarem e passarem pelo meio deles, mas do lado esquerdo tinham deixado um grande espaço livre (na própria estrada) e a maioria dos veículos passavam por ali sem se ver o menor esforço para corrigir este “buraco”. Situação semelhante experimentei em Chon Buri mesmo á entrada da auto-estrada em direcção a Bang Na onde bastava tomar o caminho na faixa lateral e entrar naquela via cerca de 50 metros à frente sem passar por nenhuma barreira.

O mesmo tipo de permissividade se passou em duas situações recentes. Aquando da ocupação do aeroporto pelo PAD e aquando da ocupação de Rajaprasong pela UDD. Em ambos os casos o movimento foi conhecido no dia anterior mas ninguém ousou criar uma barreira para que isso não acontecesse. Mai Pen Rai sempre presente na boca dos tailandeses, é uma expressão fatal em situações quando temos criminosos à solta. Também não há lugar para Gren Jai perante pessoas fora-da-lei.

Ontem num grupo discutia o que aconteceu e uma pergunta normal nestas situações é, quem ganhou com isto? Muito se falou mas só conseguimos ver que todos, sem excepção, saíram derrotados mas o grande perdedor foi o povo tailandês e o país.

Os políticos e os movimentos vêm e vão mas o pais esse é eterno.

PS: A fotografia abaixo, tirada esta manhã por um dos proprietários de uma loja no complexo do Central World confirma que a maíoria dos estragos foram provocados na zona onde se situa o ZEN e contígua.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bangkok a Arder

Depois de um promissor começo do dia quando as forças do governo conseguiram sem grandes percas de vida (5 mortos e uma dezenas de feridos) tomar conta da situação da zona de Lumpini e obrigar, com o seu a avanço, a que os líderes da UDD que têm alguma dignidade (isto porque houve alguns que "se rasparam" abandonando os manifestantes) a entregarem-se à polícia o situação ficou totalmente fora do controlo do governo.

Após os líderes terem anunciado aos manifestantes a rendição começaram a ouvir-se as vozes de desacordo e começaram ao mesmo tempo os desacatos.

Não só os manifestantes que estavam em Rajaprasong entraram numa espiral de violência incêndiando tudo o que iam encontrando à sua volta como movimentos começaram a verificar-se em muitas outras zonas da cidade. Pude verificar como os moto-taxis e outros estavam a chamar os seus pares para irem lutar para não sei donde e por ventura eles também não saberiam para quê.

Há neste momento para além da zona de Rajaprasong-Siam conflitos violentos em Rama IV (desde Sam Yarn até Pra Khanong - uma muito vasta área), partes de Sukhunvit, Naratiwas, Din Daeng, etc. O Canal 3 da Televisão foi destruido pelo fogo e deixou de operar.

Para além disso em muitas cidades da província vários edifícios governamentais foram postos a arder. Chiang Mai, Udon, Khon Kaen, Kalasin, Mukhadahan, Ubon, pelo menos são lugares de onde tenho relatos de incidentes graves.

O governo perdeu o controlo total da situação e é de esperar um Golpe de Estado a qualquer momento.

ZEN part of Central World burning

O recolher obrigatório foi estabelecido das 20 horas às 6 da manhã e a partir das 18 horas o governo não prestará mais informações.

A questão do golpe não é tão linear, embora normal visto o governo ter perdido o controlo da situação, já que não haver união suficiente nas forças armadas. O mais provável será o afastamento do general Anupong, sempre defensor de uma linha moderada, e o surgir de Prayuth o homem duro do exército. Por outro lado há que obter as devidas confirmações para avançar.

O que é claro é que Abhisit acabou por deitar por terra o pouco capital que tinha, se tinha algum, ao ter uma visão tão pouco clara da situação.

Desde há muito que deveria ter sabido criar pontes com os elementos da UDD passíveis de acordar em soluções pacíficas. isso inclusive serviria para isolar ainda mais os radicais que no fundo foram os que hoje fugiram de Rajaprasong e continuam à solta causando todos os distúrbios que estamos a viver. Deixou passar o momento na ânsia de chamar terroristas a todos e que o que queriam era derrubar a monarquia e acabou refém da sua própria teimosia pois viu-se no final sem interlocutores e sem soluções. A pressão dos movimentos mais radicais também contribuiu para o temor de Abhisit de vir a perder, para o PAD-PNP, o eleitorado de Bangkok aquando de possíveis eleições.

O governo perdeu e quando isso acontece o poder está na rua e Bangkok arde.

2 da Tarde

Sete líderes da UDD renderam-se à polícia mas préviamente anunciaram o fim da manifestação e solicitaram aos apoiantes que abandonassem o local.

Agora passa-se à fase de desmobilização fase que pode ser complicada pelo facto de existirem muitos apoiantes que poderão continuar a provocar disturbios.

Em Khon Kaen e em Udon o edificio sede do govermo provincial foi tomado pelos apoiantes da UDD que atearam fogo segundo informações que recebi dos locais.

1 da Tarde

As forças do governo conquistaram o Parque Lumpini e estão a "limpar" as zonas envolventes de Rajaprasong.

Até ao momento registaram-se 5 mortos um dos quais um jornalista italiano. O numero de feridos é ainda desconhecido mas há quem fale em mais de 50.

A maior guerra agora é a dos rumores que correm sobre tudo e sobre nada.

Parece confirmar-se que alguns dos líderes da UDD abandonaram Rajaprsong entre os quais Arissaman (deve ter começado a treinar-se quando fugiu do SC hotel há umas semanas). Assim se vê a solidariedade e a coragem de algumas pessoas.

A operação parece estar neste momento numa pausa para eventualmente ser feito o ponto da situação e preparar uma segunda vaga.

Entretanto há noticias de manifestações noutras partes do país o que não é de estranhar. Em Khon Kaen a sede do governo provincial foi tomada de assalto pelos manifestantes.

Thittinan Pongsuthirak, professor de Chulalogknorn, dizia a pouco na CNN que a Tailândia pode ver a irrupção de movimentos armados quer no Norte quer no Nordeste do país muito em breve.

Assalto Final

Está em curso o assalto final às posições da UDD.

Tanques e outro equipamento pesado militar avançou sobre o acampamento no Parque Lumpini na intersecção da Rama IV com Silom e está a destruir as barricadas vermelhas.

Entretanto manifestantes atearam fogos em vários locais de forma a dificultar as operações dos militares. Helicopeteros sobrevoam a cidade

Toda a zona em redor de Lumpini parec estar sob controlo dos militares.

O governo tinha anunciado ao início do dia que recusava qualquer negociação e que ia avançar para desalojar os manifestantes de Rajaprasong. Temem-se grande perda de vidas se os manifestantes não se renderem.

Natthawut Saikua, um dos líderes da UDD avisou os manifstantes para se preparaem para o ataque das tropas. Entretanto há, segundo alguns jornalistas no local que contactei, intensas trocas de tiros.

As imagens na televisão mostram por outro lado uma situação um pouco caricata com pessoas a tentarem deslocar-se para os empregos, pessoas que por certo estavam sem saber da operação, carros a tentar passar, ao mesmo tempo que os tanques se movimentam e os canhões de água tentam apagar os fogos que ardem. Centenas de jornalistas no local mas a situação parece calma agora pois não há sinais de manifestantes embora imagens de Rajaprasong mostre a concentração em estado normal sem nenhuns sinais de alerta.

Há já a confirmação de vítimas, incluindo mortais, mas ainda nada de números oficiais. Há imagens de pessoas a serem conduzidas a vários hospitais na zona.

Os soldados vão consolidando posições na area mas há notícias de problemas em Ding Daeng onde um edifício governamental foi posto a arder e de novo em Pathum Thani onde se encontra a ThaiCom.

Chocante

A fotografia, também em vídeo na CNN iReporter, que chocou todos e mostra bem a loucura a que os grupos completamente selvagens e fora do controlo da UDD chegaram.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Pergunta Inocente

Hoje, vindas de uma parte e da outra já contei mais de 10 acusações por isto e por aquilo e pedidos de intervenção para isto e para aquilo.

Só uma pergunta.

Pensa o Governo, pensa a UDD que é acusando-se mútuamente, quer na polícia quer em tribunal, a forma de resolver a situação?

Estou Cansado

O dia está mais calmo mas é tudo tão imprevisto tão irracional que daqui a um segundo pode estoirar.

Há neste momento variadas personalidades que pretendem mediar o conflito. O presidente do Senado, o líder de facto do Chart Thai Pattana, parceiro na coligação no poder, e a ASEAN.

O presidente da Indonésia, de visita a Singapura, comparou a ASEAN à União Europeia e ao facto desta ter saído em ajuda da Grécia a braços com uma profunda crise. Comparando as situações disse que a ASEAN deveria de igual modo fazer algo para mediar o conflito na Tailândia que, no seu entender, se vem tornando num conflito de segurança para a região. Vários outros países da associação pediram ao actual presidente, Vietname, a convocação de uma cimeira urgente para debater a crise.

Também Ban Ki-moon de novo apelou às partes que cessem a violência e entrem em diálogo. É a segunda vez no curto espaço de uma semana que o Secretário-geral das Nações Unidas apela ás partes mas já vi escrito num comentário que por detrás deste pedido está Thaksin. É necessário ser muito curto de vista para, apesar de Thaksin ter solicitado a intervenção da UN, pensar que o SG está a fazer um favor ao fugitivo ex PM. Ban Ki-moon, é eleito pela e representa a comunidade internacional e no dia em que vergasse a um pedido de um indivíduo teria perdido toda a sua legitimidade. Se por acaso o governo do país também pensa que ele falou pela boca de um terceiro, o que tem que fazer é solicitar a convocação de uma sessão extraordinária da AG das Nações Unidas para pedir esclarecimentos sobre a actuação do SG.

Abhisit não respondeu a nenhuma das mensagens que mediação que ecoam. Panittan disse há cerca de 3 horas que o PM responderia mais tarde. A UDD disse estar disposta a aceitar a mediação do presidente do Senado.

Como disse no início estas declarções são agora. Daqui a dez segundos poderão dizer o oposto quer uma quer outra parte.

Ontem uma mulher que está em Rajaprasong, quando uma reporter de uma televisão tailandesa lhe perguntava se ela conhecia os avisos que o governo ontem fez e se iria sair da zona, respondeu simplesmente: "dizem isso todos os dias".

É um facto que todos os dias há ameaças de que "é agora", "é daqui a umas horas" mas no fim nada acontece. Cria-se tensão, nasceu rumores, medos e depois nada.

Entretanto a zona de Bon Kai está pronta para ser o cenário de "Bangkok Dangerous" o filme que tornou Nicholas Cage famoso nesta cidade e o mesmo se passa em Rajaprarop onde ainda há muito fumo quer dos pneus que os vermelhos queimam quer de um prédio que foi posto a arder. Faz pena olhar para a zona de Rama IV entre Suan Lum e Klong Toey (Bon Kai). Nem um furação teria sido tão devastador.

Recebi relatos de amigos residentes na zona de haver alguns assaltos a lojas e ATMs em Langsuan. Já ontem um dos líderes da UDD advertiu que isso não deveria acontecer o que por si é um sinal que teria já acontecido.

É claro que há uma total quebra da linha de comunicação (até pelo corte do sinal telefónico) entre a liderança da UDD que está em Rajaprasong e aqueles que andam a combater nas zonas avançadas de Bon Kai-Rama IV e Rajaprarop-Din Daeng, e o governo ainda não entendeu isso. Há claramente neste momento uma movimento a lutar pela sua sobrevivência em Rajaprasong e um número indefinido de agitadores a actuarem de forma violenta e por conta própria ou por conta de outros interesses (organizações) nos lugares que referi. Continuar a não separar os dois e a tratá-los da mesma forma não serve de todo uma estratégia de limpeza de Bangkok.

Entretanto o Rei deu o seu alto patrocínio às cerimónias fúnebres do General Katthya Sawasdipol, que se estenderão por três dias, oferecendo a água benta para os rituais e uma urna especial com as marcas da casa real.

Ontem pelas 23.30, uma hora em que os tailandeses normalmente já dormem, recebi uma chamada de uma amiga minha, mulher de um General da Polícia tailandesa. Não lhe perguntei pelo marido porque não quis mencionar o seu nome. A chamada deixou-me ainda mais "cansado" sobre toda a situação. Pedia-me ela, em total pânico depois de ter sido ameaçada pelos soldados na zona da sua residência, se nós (referia-se à comunidade diplomática por certo) podíamos fazer alguma coisa acrescentando "eles vão matar-nos a todos".

Cansado e triste.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Segunda-Feira 17

Hoje deveriam ter começado as aulas e deveria ter começado a semana de trabalho mas não. O Bangkok Post titula "Bangkok Burning".

A cidade está feita refém dos combates que ocorrem em varias zonas do seu centro mas um centro agora alargado que vai de Narathiwas até Dind Daeng.

Na zona de Rajaprasong nada se passa. Está calma e despovoada. Os incidentes acontecem todos naquilo que se poderá chamar guardas avançadas do acampamento principal. Contudo os militares defrontam-se com confrontações vindas quer pela frente quer pelos lados ou traseira.

Zonas como Suan Plu, Nang Linchee-Bon Kai e Chong Nonsi são também palco de combates esporádicos e de vandalismo de bens públicos e privados. Também fora de Bangkok começa a haver conflitos com alguma violência como em Chon Buri e em Udon Thani.

Tudo isto fez aumentar em mais 9 o número de mortos de Domingo, 34 nos últimos dias, e centenas de feridos. Acaba de ser igualmente anunciado que Seh Daeng faleceu.

Ontem por volta da meia-noite o hotel Dusit Thani, na esquina de Silom com Rama IV e oposto a uma das frentes vermelhas foi atingido por duas fortes explosões provocadas por engenhos explosivos supostamente lançadas do acampamento de Lumpini. Seguiu-se forte tiroteio durante mais de meia hora. Curiosamente o Matichon, jornal de língua tailandesa, refere na sua edição desta manhã, que o que aconteceu foi provocado por uma confrontação, não intencional, entre forças do exército e da força aérea. Infelizmente tudo é possível.

Todos os, já muito poucos, hóspedes do hotel foram realojados noutra unidade. Nesse mesmo hotel na fim da passada semana foi atingido por uma bala disparada com ajuda de um sinal de laser, um hóspede que estava numa festa no hotel e que se chegou à janela para observar o que se passava. Alguém o terá confundido com um sniper e atirou a matar.

Entretanto a "boa notícia" se é que podem haver boas notícias é a informação que circula de que Veera, que como se sabe abandonou o acampamento de Rajaprasong em discordância com outros líderes, estará a ter negociações secretas com o governo. Espera-se que seja verdade.

Todos os sinais que mostrem as partes em disputa a falar são sinais positivos e são sempe uma fonte de esperança que se possam salvar vidas e acabar com a presente situação.

Quando Veera saiu de imediato começaram a circular rumores acerca dele, facto que sempre acontece em Bangkok. Primeiro que estava em Londres onde vive um irmão dele, depois que as empresas de Rajaprasong lhe tinham dado 20 milhões de bath (penso ser muito pouco) para ele convencer os outros a "largar o barco" e que como não conseguiu meteu o dinheiro ao bolso e, outra vez, foi para Londres.

A Tailândia não é parca em rumores de todo o tipo e tudo isso serve para aumentar a confusão mas faz parte da guerra de informação e desinformação conduzida por ambas as partes.

domingo, 16 de maio de 2010

Coligação no Poder

O Thai Rath, jornal de língua tailandesa, traz na sua edição de hoje um artigo bastante interessante comentando sobre a reunião que os parceiros do partido Democrata na coligação no poder realizaram no sentido de, desta vez sem a presença dos Democratas, discutirem a situação.

O Thai Rath é um jornal de grande tiragem tido por próximo do palácio especialmente do Príncipe herdeiro Vajiralongkorn.

A discussão andou à volta da presente situação, do PM e do seu futuro politico facto que afecta a todos. Vários comentaram que a situação ultrapassou o ponto de qualquer negociação e que o PM Abhisit já não tinha legitimidade para governar o país (โดยบางส่วนเห็นว่านายกฯได้หมดความชอบธรรมที่จะบริหารประเทศต่อไป) e que o número tão elevado de mortes (mais de 60 até este momento) mostravam a sua inhabilidade para resolver a situação.

Os partidos decidiram nomear Chanchai, o actual Ministro da Industria e líder do Puea Pandin, como coordenador de uma posição conjunta de todos os parceiros a apresentar ao partido Democrata.

O tom geral da reunião era de que a resignação do PM era a saída e única forma de Abhisit manter a face perante a sociedade e por certo eles ficarem bem vistos, também.

Interessante notar que os parceiros da coligação se têm mantido extremamente silenciosos desde o inicio da minifestação da UDD com excepção de muito esporádicas declarações de um ou outro líder. Mesmo as declarações de apoio a Abhisit nunca foram feitas pelos partidos coligados mas pelo porta-voz do governo.

Para quem se tenha esquecido estes partidos, que agora alinham com os Democratas, faziam coligação com o Pheu Thai, o partido de Thaksin durante todo o ano de 2008, e portanto estão sempre prontos a olhar para onde vêm o dinheiro.

6 da Tarde

A foto acima, de autoria da UDD, mostra bem os estragos produzidos pelo movimento na zona de Rajaprarop mesmo a norte de Rajaprasong onde ontem se intensificaram os combates

O CRES acaba entretanto de anunciar que cancelou o plano para impôr o recolher obrigatório na capital visto "as tropas estarem com o controlo da situação".

A UDD pelo seu lado anunciou estar disposta a falar com o governo, com a UN como mediador, desde que Abhisit retire de imediato as tropas.

Actualização e Correcção

O The Nation dizia hoje que as embaixadas tinham evacuado o seu pessoal. A informação está incorrecta.

Há na realidade 17 missões (entre elas EEUU, Reino Unido, Suiça, Holanda, União Europeia, Vietname, etc) que estão sediadas na zona interdita e agora acrescenta-se a este grupo os seguintes países.

Austria, Austrália, Dinamarca, Alemanha, Japão, Brasil, Singapura, Malásia, Grécia, Bélgica, serviços da França e da Itália isto numa lista não exaustiva pois são os que agora me lembro.

As embaixadas não evacuaram ninguém o que acontece é que várias missões realojaram os seus funcionários visto as suas residências estarem dentro da zona interdita, aliás como a minha.

De igual modo a maioria das Missões estão neste momento sem acesso ás suas instalações, ficarão fechadas amanhã, pelo menos, e o trabalho faz-se de outra forma recorrendo aos planos de emergência de cada uma.

Entretanto o governo anunciou que iria ser impementado o recolher obrigatório, fala-se igualmente de Lei Marcial, e o anúncio das condições era para ser feito ás 2 da tarde. Mais tarde foi adiado para as 2.30 mas são 4.05 e ainda nada se sabe. Contudo foram cortadas todos os acessos na autoestrada radial em Bangkok que estejam perto de Rajaprasong de forma a permitir o transporte de tropas por essa via.

De igual modo foram retiradas para um templo próximo as crianças e mães que se encontravam na zona que agora está ocupada fundamentalmente pelos homens.

Parece estar em andamento o assalto final ao acampamento de Rajaprasong.

Neste momento recebi a notícia, e também ouço os disparos, de que se reacendeu a luta em Bon Kai, a este de Rama IV, e que um jornalista foi atingido por uma bala nas costas mas felizmente o seu colete blindado deu-lhe alguma protecção. Foram chamadas ambulâncias que responderam não poder ir pois não podiam lá chegar já que não era seguro, o que é verdade. Chegou-se a este ponto em que nem os serviços de emergência podem circular pois ninguêm os respeita e são muito capazes, uns e outros, de atirar sobre uma ambulância pois já ninguém confia em ninguém e uma ambulância, ou outro veículo de urgência, pode ser usado por qualquer das partes como "cavalo de Troia" para entrar na zona do "inimigo".


Entretanto devem estar a movimentar-se vários grupos para tentar qualquer solução pois já recebi dois telefonemas semelhantes, um deles de uma membro da família real, prima direita do Rei, que queria o contacto de certos Embaixadores para tentar impedir o que me dizia ser "uma carnificina". Que tenham sucesso pois penso que é isso que todos querem.

Hoje na missa na catedral rezamos por todas as vítimas deste conflito, os que morreram e os que sofrem nos hospitais, e pela paz tão urgente no país.

Domingo 16

A noite passou-se com permanente barulho quer de disparos quer de explosões na zona Sathorn-Withayu-Silom uma das zonas mais problemática da cidade.

Pelas 7 da manhã continuavam tiros esporádicos.

Não há mais relatos sobre fatalidades como querem as autoridades.

A não informação é uma das armas que o governo está actualmente a utilizar avisando os jornalistas de que não devem entrar nas zonas de "Livre Tiro" como foram defenidas algumas das zonas em redor do acampamento vermelho.

Ontem o PM na sua alocução televisiva disse não recuar e que actua para benefício do país. Os militares vão continuar a apertar o cerco a Rajaprasong e a atirar à vista qualquer elemento que entenderem suspeito utilizando os temíveis snipers.

Segundo disse um astrólogo, já uma vez aqui referi a sua importância nas crenças tailandesas, tudo estará terminado amanhã.

Pelas palavras de Abhisit é capaz de ter razão o que esse astrólogo não disse foi quantos corpos vão ficar pelo caminho.