
Bangkok vai tentando limpar a cidade das profundas marcas que ficaram e vão ser visíveis ainda durante muito tempo.
Apesar da capacidade que este povo tem de olhar para a frente e recomeçar a vida, disso mesmo é um bom exemplo a forma rápida como se reformou após o tsunami de 2004, os estragos provocados pela loucura do dia 19 são tão profundos que será como dantes.
Como vulgarmente se diz há que enterrar os mortos, que foram muito mais do que inicialmente se falava, e tratar dos feridos, que somos todos nós para além dos edifícios de uma cidade esventrada.
Como já referi essa tarefa vai ser feita com a tradicional perseverança, capacidade de luta e sofrimento do povo tailandês, mas o pior vão ser as feridas na alma.
Há também que responsabilizar os culpados. É um facto que Abhisit e Suthep, Veera, Jatuporn, e todos os outros, não estiveram na primeira linha a comandar os desvarios no terreno mas são responsáveis morais de toda a loucura do dia 19 e anteriores.
Todos, sem excepção deverão ser chamandos a prestar contas pelas vidas e pelos bens que se perderam.
A culpa não é só dos actores no terreno é daqueles que são supostos tomar as redeas e conduzir esses actores.
Quando Jatuporn implorou aos vermelhos que abandonassem Rajaprasong e eles vaiando o líder começaram a incendiar o Central World, ele é culpado, não específicamente desse acto mas de não ter sabido cumprir o seu dever de liderança ou seja de comando. Mostrou ser um comandante fraco e esses a história não quer.
Quando Abhisit diz que as tropas actuam totalmente dentro do limite das regras do direito internacional e depois atiram a matar sem pré-aviso sobre inocentes, como há muitos exemplos, ele falhou na sua função de liderança e tal como os outros líderes fracos e sem competência tem de ser responsabilizado.
Se assim se cumprisse, se todos, sem excepção, fossem chamados à justiça para pagar a sua parte da pesada factura, o país iniciaria uma forma de reconciliação posssível.
Temo contudo que continuaremos a ter mais do mesmo. Os culpados são sempre os mesmos e os inocentes também.
Qual filme de cowboys os bons são sempre os que estão em cima dos cavalos e os maus os índios descalços que andam a pé.
O país tem de entender que a reconciliação passa por se conseguir uma sociedade que englobe todos, uma sociedade que não deixe à porta muitos olhando para os faustos de poucos. Há que saber, sem ser para proveito próprio como Thaksin fez, dar a mão às gentes da província, fazer com que eles não só contribuam para o enriquecimento do país mas que recebam em troca, na devida proporção, o que lhes é devido.
Para além disso há que reformar o sistema de educação no país. Há que desenvolver a capacidade das pessos poderem pensar por si, de debaterem ideias, de uma forma equilibrada e responsável, e que possam ser, outra vez todos, agentes de formação de comportamentos cívicos capazes de elevar, no conjunto, as enormes potencialidades de um povo já de si tão generoso.
Educar essa consciência cívica passa também por incutir em todos o que é o respeito da lei. Roubar, no sentido lato da palavra é uma prática corrente. Desde o vendedor de rua que usa a electricidade pública para iluminar o seu carro de venda, até ao grande patrão que emprega milhares de ilegais birmaneses para engordar a sua carteira, há dezenas de exemplos que devem terminar e deixar de fazer parte do dia a dia neste país.
Os tailandeses têm de encontrar o "Modo Tailandês" de encaixar esses conceitos de respeito mútuo e igualdade na sua cultura para encontrarem a tão necessária reconciliação nacional sem a qual teremos mais 19 de Maio como de igual forma aconteceu há 18 anos nesse mesmo trágico dia.