quinta-feira, 29 de setembro de 2011

As Cheias

Todos os anos na Tailândia passa-se sempre o mesmo problema.

Uma parte do ano há uma forte seca e na outra cheias. Desde que estou aqui no país nunca vi um programa sério para atacar este problema.

Em 2005 o então PM Thaksin Shinawatra lançou, com grande pompa, um conjunto de projectos, apelando ao investimento da comunidade internacional, chamados os "Mega Projects", entre os quais estava incluído um largo plano sobre a gestão dos recursos hídricos no país mas as dificuldades que pouco mais tarde começou a ter na sua governação e os interesses dos variados lobbies não permitiram que esses projectos fossem para a frente.

O governo de Samak Sundaravej, o primeiro eleito após o golpe de estado de 2006, anunciou também um grande plano de irrigação do nordeste e gestão das águas nessa região mas, de igual modo, esse plano não se concretizou e nada foi feito.

Os governos que se seguiram nada fizeram e, como o presente, o que mostram é só planos para apoiar as vítimas, planos que são sempre excelentes ocasiões para tirar umas fotografias que ajudam a angariar simpatias e votos.

Abhisit enfrentou em 2010 um ano de fortes cheias, passeou-se por todo o lado de barco e de helicóptero mas também nada mais fez do que distribuir umas ajudas pelos necessitados. Note-se que muitas vezes essas mesmas ajudas são distribuídas através dos Deputados ou candidatos locais, o que levanta sempre grandes dúvidas sobre a honestidade desses actos e fica sempre um sentimento de que a maioria dos dinheiros atribuídos acaba não nos bolsos dos que necessitam mas nos daqueles que dizem ajudar.

Mais uma vez se repete a cena e este ano não só as cheias chegaram um pouco mais cedo como são das maiores de há muitos anos persistindo desde os finais de Julho.

Até ao momento já morreram mais de 170 pessoas em acidentes vários e pode dizer-se que o centro do país, as confluências dos rios Nan e Yom, está submerso.

Desde a província de Nan até à de Ayuthaya há lagos milhares de quilómetros quadrados debaixo de água com as consequentes perdas humanas, como referi, e materiais presentes e futuras pois sendo a Tailândia um país com uma muito forte componente agrícola as colheitas estão perdidas ou fortemente reduzidas. Esta questão traz consigo outros problemas sociais e um estudo recente atribuiu o aumento do tráfico e consumo de drogas ao facto de muitas populações afectadas pelas cheias e que se vêm sem meios recorrem ao "dinheiro fácil" dessa actividade para sobreviver.



Até há dias o Norte do país, províncias de Chiang Rai e Chaiang Mai, tinha de alguma forma sido poupado, mas ontem o rio Ping saltou das margens e o centro de Chiang Mai rapidamente foi inundado tendo algumas áreas visto a água subir 80 cm. Para quem conhece a cidade basta notar que o "Night Bazaar", que fica umas boas centenas de metros afastado do Ping, chegou a ter água com mais de 50 cm de altura.



Bangkok ainda está "com água pelos lábios". O normal é no final de Outubro ver o Chao Praya subir para níveis acima do limite mas este ano estamos a ver que tal não só está a chegar mais cedo como é bem capaz de atingir proporções maiores do que em anos recentes. Ontem na zona ribeirinha em frente ao Templo da Madrugada (Wat Arun) já não se passeava sem ter de descalçar os sapatos e conviver com uns bons 10-15 cm de água.

O Bangkok Post hoje em título fala das piores cheias de sempre.

Até quando os políticos no país vão continuar somente a fazer de enfermeiros das vítimas e nenhum ousa fazer um claro diagnóstico da doença e aplicar as necessárias medidas preventivas?

A sorte, deles, é que o povo tailandês tem uma capacidade de resistência impar e convive com a água e com este tipo de problemas há muito.

Vira o Disco e toca o mesmo




Ontem uma estação de rádio cortou abruptamente o programa quando o apresentador estava a falar do facto do Ministério Público ter decidido não apelar contra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça de absolver a ex mulher de Thaksin no caso de evasão fiscal em que tinha sido condenada faz 3 anos.

Potjaman na altura tinha sido condenada a três anos de prisão visto ter sido considerada culpada na falta de pagamento de impostos num dos casos contra ela.

Apelou soube esperar pela mudança da maré e acabou recompensada.

Como muitas vezes se diz em Portugal só as moscas mudam.