quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Saúde do Rei

Muçulmanos tailandeses rezam pelo seu Rei


Ao fim de 12 dias de internamento começam agora a ficar mais claro o que se passa com a saúde de S M o Rei Rama IX.

Inicialmente foi internado devido a “alguma febre, fraqueza e falta de apetite” de acordo com o primeiro boletim médico que foi emitido. Depois de vários tratamentos e de algumas melhoras e recaídas, sempre de acordo com os boletins vindos a público, sabe-se agora através dos últimos boletins que o Monarca tem uma infecção pulmonar e gripe.

Desde há anos que o Monarca sofre de alguma deficiência pulmonar, sempre bem visível quando fala, e agora tal terá agravado devido a qualquer vírus que aí se alojou e provoca a infecção que em termos mais corriqueiros poderá ser comparável a uma pneumonia.

Compreende-se a necessidade de manter o Monarca no hospital e acamando visto um tratamento deste tipo ser. Normalmente longo, e a sua idade, 83 anos a completar dentro de dois meses, aconselhar a total cura antes de outras “aventuras”.

A população continua a seguir atentamente todos os pormenores que são tornados públicos.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Todas as Estradas Conduzen a Buriram



Pyanart, do The Nation, fez ontem as notas soltas na secção política do jornal e titula assim: Do All Roads really lead to Nevin?

Na realidade o momento político na Tailândia por mais voltas que dê acaba sempre à volta de Nevin Chidchob, o nunca presente mas nunca ausente, político de Buriram prestes a fazer 51 anos a 4 de Outubro.

Em Dezembro do ano passado foi a sua experiência como político, ganha ao serviço de Thaksin, que lhe permitiu organizar as forças necessárias para levar Abhisit ao poder. Junto com Shutep, o Secretário-Geral dos Democratas e homem da “velha política”, e com o auxílio dos militares encabeçado pelo mais sénior Prawit Wonsawan, o actual Ministro da Defesa, prepararam o movimento necessário para que os partidos que no Parlamento apoiavam a coligação dos thaksinistas mudassem de campo e se posicionassem atrás do jovem líder democrata.

Conquistado este primeiro passo era necessário avançar na preparação da estratégia que o poderá levar ao poder. Nevin sabe que está sem direitos políticos até Maio de 2012 mas isso não é um problema visto ter ainda a necessidade de se munir de todos os elementos que lhe permitam ser o próximo Thaksin. Mais do que ser o Primeiro Ministro ele quer suceder ao seu antigo patrão.

Formou o partido Bhum Jai Thai (orgulho de ser Thai), colocou na sua liderança o actual Ministro do Interior, Chawarat Charnwirakul, um velho homem de negócios de etnia chinesa, parceiro e apoiante de Thaksin em muitos projectos no início deste século, fundador do companhia de construções Sino-Thai, sempre bem favorecida nos contractos com o governo, e homem que pela sua avançada idade, 73 anos, não terá nenhum objectivo de reter o poder não sendo portanto uma ameaça para o homem de Buriram.

Depois de montar a estrutura era necessário obter os fundos. A Sino-Thai era um dos fornecedores, tal como o grupo King-Power, cuja principal actividade são os “Duty-Free shops”, mas era necessário manter um constante fluir de fundos para pagar os deputados pertencentes ao Partido (anterior facção Nevin), e aliciar mais para se juntarem ás hostes para engrossar o contigente visto o objectivo do Partido ser para já o de conseguir chegar aos 100 Deputados. Ao atingirem tal numera têm quase que garantida a necessidade do maior partido os consultar ou com eles formar uma coligação se quiser sobreviver no poder. Como já uma vez referi Chawarat disse isso mesmo a um grupo de diplomatas, acrescentando que nesse momento, o atingir do número desejado, “tirariam o tapete” ao governo de modo a convocar eleições.

Assim para acrescentar aos fundos das empresas que acreditam no seu potencial, Nevin colocou os seus homens em lugares no Governo de onde pudessem vir importantes fundos. Ministro dos Transportes e Ministro do Comércio. Para o Ministério do Interior ficaria a tarefa de nomear para as províncias governadores próximos do partido que pudessem ao mesmo tempo controlar os fundos atribuídos para o desenvolvimento e ser um elemento crucial em eleições. Entretanto o Ministro da Defesa pouco a pouco foi-se tornando cada vez mais próximo de Nevin e tem vindo sempre a alinhar de mesmo lado da barricada quando há que enfrentar Abhisit em qualquer guerra na qual por norma Suthep tenta esquivar-se ou abster-se.

Havia assim bastantes áreas a trabalhar para obter fundos suficientes para conduzir o partido. Havia contudo uma questão que estava pendente sempre sobre a cabeça de Nevin. A possível condenação no caso de corrupção ligado à compra de milhões de rebentos de árvores de borracha em que ele era o principal acusado. Era necessário retirar essa ameaça da frente. Primeiro adiou-se o julgamento por duas vezes e quando estava tudo assegurado este acabou em nada, absolvição, não sem que a investigação se atirasse contra o Acusador público por falta de correcta preparação na condução do julgamento. Essas discussões ocorrem na praça pública mas serão factos pouco relevantes e rapidamente sairão de cena e o que permanece é a absolvição de Nevin.

Caminho livre. Primeiro passo pressionar o PM sobre dois casos. Nomeação do comandante da polícia fazendo Abhisit perder por duas vezes na escolha do seu candidato e oposição ao processo de reforma do sistema político proposto pelo PM.

A pressão começou a dar os seus frutos e as vitórias têm vindo a crescer nos últimos dias. Aprovação de um orçamento extraordinário para a defesa, aprovação da nomeação do Secretário-Geral do Ministério da Economia contra a vontade de Abhisit (já referi os dois casos) mas o mais importante veio ontem com a aprovação do plano para o “leasing” operacional de 4,000 autocarros para Bangkok, no valor de 66 mil milhões de bath (ao início era de 100 mil milhões mas mesmo o valor actual é considerado excessivo). Abhisit disse que seguiu as recomendações do National Economic and Social Development Board (NESDB), só não referiu os 4 pontos altamente negativos que o próprio relatório apresenta e que irão implicar um acréscimo de 24,8 mil milhões de bath no orçamento de estado para fazer frente ao plano de reformas antecipadas para 7.009 empregados e para suportar as já pesadas percas do BMTA, o operador dos autocarros. Este projecto pertence ao Ministério dos Transportes.

Em contrapartida Abhisit pode nomear, Prateep, o seu candidato, como Comandante interino da Polícia e obteve a provação do Bhum jai Thai party para que o processo da reforma do sistema político passe por um referendo
O que permitirá à coligação no poder manter-se por mais quase que um ano.

Nevin, vai continuar a puxar a corda sempre que quiser, visto já saber as fragilidades e o isolamento de Abhisit, mas também fica contacte com a possibilidade de encher os cofres do Partido e de queimar tempo até ao momento em que estiver livre. Convém lembrar que a, por vezes falada amnistia para os “delitos” políticos não serve a Nevin visto que seria por demasiado escandaloso aplicar tal lei somente a ele e se isso avançasse ele teria a forte concorrência de outros políticos, num total de 220, que actualmente estão sem direitos.

Eleições


Por norma não escrevo muito sobre Portugal até porque a ideia inicial do blog era a de relatar o dia a dia em Bangkok mas não quero deixar de fazer um pequeno apontamento sobre as eleições de Domingo passado.

Mais uma vez todos ganharam. Todo, menos o PS, ganharam, matematicamente pois tiveram mais votos do que nas eleições anteriores, o PS, contudo, ganhou porque não foi derrotado (tal qual diria o Mr De La Palisse) ou seja continua a ser o primeiro partido. Até o PCTP/MRPP passou a fasquia necessária para passar a receber subvenção estatal.

Conclusão, já que todos ganharam perdeu o país pois nesta coisa de eleições tem de haver sempre alguém que perca.

Mais uma vez o país viu adiar a tão necessária reconstrução da sua infra-estrutura ética, moral e social.

Continuamos a viver num clima onde a Justiça é adiada. Onde os bastidores são mais importantes do que os palcos e onde quem não ousa lutar pelo país é recompensado.

Adia-se a vida da Nação mas não se adia a arrogância de muitos nem a sua vontade insaciável de poder.

Caminhamos sem saber para onde e poucas serão as instâncias no país capazes de merecer sequer uma positiva nas notas que o povo lhes deveria dar.

Contudo continuamos a votar sem sentido, sem capacidade de dizer Basta, sem capacidade de entender o que está mal, sem vontade de mudar.

Será que os Portugueses já atiraram a toalha ao chão?

Estar longe faz-me sentir a falta da família e dos amigos mas tenho que confessar não me falta Portugal e isso é dramático, é triste.

Apesar de não ser perfeito o sol aqui brilha, a vida olha para a frente e percebe-se que o futuro existe.

Daqui a uns dias, 8 de Outubro, vou ver a Mariza, aqui em Bangkok e relembrar Portugal.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Justiça?

O antigo Presidente do Parlamento, Yongyuth Tiyapairat, um político da ala thaksinista e que estava banido por 5 anos da actividade política foi ontem condenado a mais 5 anos de afastamento, a dois meses de pena de prisão, suspensa, e ainda a 4,000 bath (cerca de 85 Euros) de multa por ter omitido bens na sua declaração de rendimentos.

Yongyuth foi em tempos proprietário de uma empresa do sector alimentar. A empresa está inactiva desde o seu início, há 18 anos (dezoito não há engano), o que mostra e, de acordo com o acordão do Tribunal, que nunca operou. Logo após a constituição da empresa Yongyuth vendeu a posição a um seu cunhado por 850.000 bath em dinheiro e um empréstimo de 1,6 milhões de bath.

Agora o Tribunal, o mesmo que vem dizer que a empresa nunca operou, sentencia que a transaação não é válida pois a empresa, como não operava, não poderia produzir os rendimentos necessários para que o seu cunhado pagasse a dívida de 1,6 milhões como se o facto da empresa operar ou não fosse uma decisão do accionista anterior.

Conclusão: A venda é nula e portanto Yongyuth é o proprietário da empresa e ao violar a lei não declarando correctamente os seus bens particou um acto criminoso (sim, porque de crime se trata de acordo com a lei) e por isso é condenado.

Penso que não há muito a comentar sobre mais uma decisão judicial pouco cuidada. Só uma nota para referir que entretanto, ontem, noutra instância, onde se deveria julgar a doação por uma empresa estatal, através da sua agência de publicidade, de 265 milhões de bath ao partido no poder, o Democrata, o caso foi adiado pela terceira vez consecutiva, como sempre acontece quando se trata de algum caso que envolva o partido no poder.

A Fronteira da Discórdia


Hun Sen, o Primeiro Ministro do Cambodja falando na inauguração do novo edifício do Ministério do Turismo em Phnom Penh, aproveitou o momento para atacar forte sobre a Tailândia a propósito da disputa sobre os 4,6 km2 de terreno adjacentes ao templo de Khao Phrae Viharen.

Nove dias depois dos incidentes provocados pela manifestação do PAD no local Hun Sem aponta as armas contra o seu vizinho e dispara forte. Primeiro afirmou que se alguém se atrever a atravessar a fronteira (na versão do Cambodja os 4,6 km2 não são discutíveis, são deles) será recebido a tiro e continuou dizendo que tinha dado instruções ás tropas para atirar à vista caso isso aconteça. O Cambodja não quer guerra mas tem o direito de abater os inimigos no seu território, palavras bem claras de Hun Sen

Hun Sen afirmou que eventualmente levará o caso das “violações” da fronteira à próxima cimeira da ASEAN (terceira semana de Outubro) e se Abhisit me vier mostrar algum mapa deles rasgo-o na sua cara, concluiu desafiando.

Em mais um momento da grande fraqueza da liderança Tailandesa Hun Sen aproveita para entrar na via do sensacionalismo nacionalista capaz de encher de fervor patriótico os corações do seu povo e assim fazer esquecer outras mazelas.

Do mesmo modo do “lado de cá” o PAD tem usado a questão da fronteira como uma arma nacionalista mesmo sem olhar à história que lhe está por detrás.

As disputas sobre a fronteira Siamesa-tailandesa e o Cambodja estão reguladas por três documentos. O Tratado de 13 de Fevereiro de 1904, o Acordo de 23 de Março de 1907, ambos assinados pelo Rei Rama V com a França, então colonizadora do actual Cambodja e pelo Memorandun de Entendimento de Setembro de 2000 assinado durante o Governo de Chuan Lekpai. Para além destes documentos existe a decisão do International Court of Justice de Junho de 1962 que atribuiu o templo ao Cambodja, mas não se pronuncia sobre os terrenos adjacentes, e o Tratado de Amizade e Cooperação da ASEAN em que os membros signatários renunciam a qualquer forma de agressão entre si.

Através do primeiro instrumento foi obtido o acordo do trabalho iniciado pela comissão mista siamesa-francesa e em 1907 assinou-se a demarcação da fronteira que resultante desse trabalho conjunto. É esse mapa que actualmente o Cambodja reclama como bom e que na verdade nunca foi contestado, nas correctas instâncias pelos siameses-tailandeses. Nesse momento o Anexo 1 do Tratado de 1907 não foi incluído no documento, embora tivesse sido enviado ás duas capitais e é considerado trabalho da comissão mista, mas os siameses nunca reclamaram contra tal facto e o Príncipe Damrong, ao tempo Ministro do Interior recebeu o mapa e distribuiu pelos chefes provinciais.

Outro facto relevante foi a visita feita em 1930 ao templo de Phrae Vihaern pelo mesmo Príncipe Damrong onde foi recebido oficialmente pelo representante do Governador francês. No local encontrava-se hasteada a bandeira francesa. Nunca os siameses reclamaram do facto.

Note-se que o Príncipe Damrong, filho do Rei Rama IV é considerado uma das figuras mais importantes da primeira parte do século XX no Sião-Tailândia pelo seu papel de grande relevo nos sectores da Educação e da Saúde. Foi o primeiro tailandês a ver o seu nome incluído no livro que regista as pessoas mais importantes do Mundo pela UNESCO.

Como dizia um velho habitante outro dia, na altura dos confrontos na fronteira provocados pela manifestação do PAD. Sempre vivemos em paz aqui, uns com os outros, numa comunidade que muitas vezes se confunde através dos casamentos transfronteiriços, e agora vêm os de Bangkok (e eu diria os de Phnom Penh) perturbar a nossa vida e tornando-a mais difícil.

Olhando para a história, e outros melhor o farão já que não sou historiador, entende-se que sempre que um dos reinos era forte o outro vinha prestar vassalagem e vice-versa. E assim se viveram centenas de séculos em harmonia e disputas dentro de regras de respeito que agora as “politiquices” do século XXI querem estragar.