sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A XIV Cimeira da ASEAN


A duas vezes adiada cimeira da ASEAN, a primeira da Presidência tailandesa, a segunda será no final do ano, começou hoje na estância de Cha-am mesmo junto a Hua Hin e por vezes diz-se que a cimeira é em Hua Hin.

Esteve para ser realizada ainda no tempo do Governo de Somchai Wongsawat, mas os acontecimentos que levaram à queda do seu Governo impediram a sua realização.

Também o local foi primeiro Bangkok, depois Chiang Mai e acabou na costa oeste do Golfo da Tailândia. Ainda tenho em cima da minha secretária um bloco de apontamentos cuja capa é o logo que foi criado para a cimeira, significando a união e o trabalho em conjunto, mas em baixo diz 14th ASEAN Summitt Bangkok 2008.

Mas o importante é que está em andamento e foi precedida pela reunião dos Ministros das Finanças na semana passada em Phuket, onde foi confirmado o reavivar da Chiang Mai Initiative, um instrumento muito importante no contexto actual para que os países asiáticos, em conjunto, enfrentem a crise económica. Hoje mesmo houve duas notícias pouco animadoras mas hoje em dias quem as tem. Primeiro os números sobre a economia Japonesa onde a produção industrial desceu em Janeiro 10%, a maior queda de sempre, e o admitir pelo Banco central de que a economia tailandesa este ano afinal é capaz de ter um crescimento negativo. A ligação entre a economia japonesa e a tailandesa é grande e qualquer má notícia no leste da Ásia tem forte resposta aqui. Mas voltando à Chiang Mai Initiative que estava, até pelos crescimentos galopantes das economias asiáticas, de alguma forma adormecida, o seu "acordar" e revigorar com a criação de um fundo significativo para estimular as economias mais necessitadas, dá à ASEAN um papel focal na condução dos assuntos na Ásia, que há muito vem tentando.

Por outro lado a multi polarização dos sistemas económicos e a criação de vários pólos só vem beneficiar a economia global e fortalecer a sua interligação.

Depois dos Ministros das Finanças, ontem reuniram-se os Ministros dos Negócios Estrangeiros e hoje os trabalhos começaram pela assinatura de alguns dos pactos e tratados que estavam na agenda nomeadamente o acordo de comércio livre com a Austrália e a Nova Zelândia. A Índia que estava também na agenda solicitou que fosse adiada a assinatura visto não estar neste momento, por questões de política interna nas condições de o assinar. Refira-se que quer os EEUU quer a UE estão atrasados neste particular e ainda anteontem referia o Embaixador Americano junto do Secretariado da ASEAN, Scott Marciel, que o seu país estava muito longe de poder avançar com negociações com a ASEAN visto haver muitos obstáculos nos países membros de quase impossível solução a curto prazo. A UE tem uma posição um pouco mais flexível e aponta para a a negociação de acordos bilaterais com alguns estados membros da ASEAN, sem perder de vista o objectivo final de um acordo regional.

Após isto começaram as discussões políticas com um tema logo á cabeça que é a questão dos Rohingya. Tem sido uma dor de cabeça, não só pelos ataques feitos sobre as questões relacionadas com a violação dos Direitos Humanos, mas com o constante fluxo que tenta chegar quer á Tailândia, quer à Malásia e Indonésia. As perspectivas não parecem ser muito positivas, embora o simples facto do assunto estar a ser discutido é só por si uma vitória da sociedade civil sobre os agentes políticos.

Dizia que não parece estar a começar bem pois existe um tácito acordo em repatriar os Rohingya, quer por parte da Malásia, como dizia esta manhâ o seu PM Abdhulla Badawi, quer por parte de outros países. Burma/Myamar declarou-se disposto a receber os migrantes se se provar que são originários do país. É uma típica declaração do Governo de Napidaw pois na maíoria dos casos não dá aos seus habitantes quaisquer documentos de identificação para depois se recusar a recebe-los. Por outro lado caso os receba, sabendo-se que existem milhares de prisioneiros de consciência no país teme-se sempre por estes repatriamentos sem que se possa ter confiança naquilo que irá acontecer a estas pessoas. Por outro lado o motivo da sua partida do país continua a existir, ou seja a falta de esperança num futuro, a falta de condições mínimas de vida digna.

Não é este o melhor começo para uma cimeira donde tanto se espera e espera-se pois os próprios lideres da ASEAN ao ratificarem a Charter criaram no Mundo grandes expectativas quanto ao desenvolvimento da Associação, à criação da Comunidade Económica em 2015, à constituição daquilo que se chama por agora Human Rights Body e ao fortalecimento do Secretariado, um tipo de Comissão Europeia mas bastante reduzido em recursos.

Os trabalhos prosseguem até ao dia 1 e qualquer que sejam as conclusões o motor da ASEAN está em marcha, ao fim de 41 anos mas está, e nada o fará parar e neste momento da crise económica é importante saber aproveitar as oportunidades que se abrem e elas estão aí mesmo à mão deste agrupamento regional.

Entretanto não houve nenhum incidente e a UDD desmobilizou a sua manifestação em Government House com a promessa de que voltarão dentro de um mês. Por outro lado foram indiciados 21 membros do PAD para comparecerem na Polícia no dia 10 de Março para lhes ser lida a(s) acusação(ões) de que são alvo. O MNE Kasit, não se encontra nesse grupo de 21 como se especulava.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Explodiu uma Bomba


A Rainha no funeral de Nong Bo


A bomba que explodiu não fez nenhuma cratera mas deixou grandes estragos na reputação de muitos.

A Polícia acaba de divulgar o relatório da autópsia ao corpo da "mártir do PAD", Angkana que morreu aquando do ataque da Polícia sobre os manifestantes do PAD do dia 7 de Outubro e cujo funeral teve a presença da Rainha. Angkana ou Nong Bo como é mais conhecida terá morrido supostamente por causa dos disparos de gaz lacrimogéneo feitos pela Polícia.

Estes incidentes foram a grande "conquista" do PAD para a vitimização da sua campanha e a partir desse momento a Polícia ficou manietada devido à forte condenação pública que sofreu pelo sucedido e também pelo facto do comando supremo das forças armadas ter enviado um emissário ao comando da Polícia para que estes se abstessem de toda e qualquer acto violento. Recorde-se que nesse dia para além de Angkana ter morrido ficaram feridos com mais ou menos gravidade cerca de 400 pessoas.

O Pol Lt Coronel Sompop Putsri - do Laboratório da Polícia Cientifica encarregada da análise do caso, acaba de divulgar que no corpo de Angkana e nas braçadeira do PAD que tinha consigo, foram encontrados vestígios da deflagração de uma bomba C4 em nada relacionados com o gaz lacrimogénio. Se pesquisarem na net "C4 bomba" podem obter rapidamente a receita para a construir.

Angkana morreu assim, segundo aquele perito forense, devido à deflagração de uma bomba, e não devido aos efeitos produzidos pelo lançamento das bombas de gaz lacrimobénio. Recorde-se que ainda recentemente quando se procedia à limpeza do terreno da Government House deflagrou uma bomba que ali tinha sido deixada pelos membros do PAD.

Sempre foi conhecido que para além das armas, que todos vimos serem empunhadas por guardas do PAD, havia outro tipo de explosivos no acampamento. Um dos maiores incidentes que a acção do PAD provocou foi a explosão de um carro de um dos seus guardas, filmada em directo por uma câmara de vigilância e colocada na net, que ia carregado de explosivos para dentro do acampamento.
Está lançada a discussão sobre o tema pois haverá por certo agências que irão tentar contradizer a versão da Polícia.

Política à Tailandesa


Hoje quando cheguei ao escritório tinha um email esta com esta fantástica frase de Sondhi Limthongkul um dos principais lideres do PAD, grand seigneur da comunicação social, agora transformado em Guru de magia negra.

Dizia Sondhi que a UDD é desonesta porque está nas ruas só para defender os interesses de um grupo da sociedade. Se com isto Sondhi pretendia dizer que o PAD defendia os interesses do país, num todo, sera caso para dizer que amigos como estes que deixam a economia do país de rastos não obrigado. É melhor ter inimigos. Por outro lado não estão todos, sejam eles de qual cor sejam, sempre a defender os interesses de um grupo?

Entretanto os camisas vermelhas continuam a cercar a Government House embora quer o PM quer todos os outros Ministros , funcionários e mesmo os Ministros da Defesa da ASEAN que lá tiveram uma reunião, puderam entrar e sair sem problemas. Obviamente ouviram uns assobios e apupos mas não houve nenhum acto violento. O PM manifestou-se mesmo agradado com o civismo de todas as partes. UDD e forças da ordem encarregadas de asseguram o funcionamento das instituições.

No email que recebi esta manhã dizia no cabeçalho: Por isso é que eu adoro a Política na Tailândia

Acrescentarei, eu também.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

História Insólita

Faz dias apareceu dependurada de uma das pontes sobre o Chao Praya uma cabeça de um homem envolta numa corda e com um saco à volta da cabeça.

Muito se elaborou sobre o assunto. Crime hediondo. obra de profissionais, como é possível, mas havia muito a investigar para tentar chegar a uma conclusão.

O caso acabou por ser rápidamente esclarecido visto ter sido encontrado no dia seguinte a boiar no rio o torso pertencente a essa cabeça e todas as análises feitas terem mostrado que não houve cortes no pescoço mas simplesmente a facto do corpo se ter separado da cabeça no momento em que a corda atinge o ponto de paragen na queda. Contráriamente ao bungy-jump a corda não tem elasticidade.

Para ajudar a teoria do suícidio foram encontradas escritas na ponte frases, escritas por um estrangeiro, um pouco desconexas mas indicativas de um estado de perturbaçao de quem as escreveu .

O indivíduo em questão era estrangeiro, presumivelmente italiano ou russo, segundo as primeiras versões, e os jornais acabaram publicando, a pedido da polícia, a foto de um cidadão italiano, fotos essas fornecidas pelos serviços de vídeo vigilância do aeroporto onde se vê distintamente a pessoa em questão, como sendo a vítima.

Hoje a polícia concluiu o caso, com a certeza de que a cabeça pertencia aquele corpo, de que não havia nenhuns sinais de violência e terminando com depoiamentos de pessoas no local onde o cidadão esteve hospedado até desaparecer só que para desconforto de todos não é o cidadão que os jornais andaram a publicitar publicando fotografias por todo o lado, inclusive algumas de anteriores estadias neste país desse senhor.

Como é possível que os investigadores da polícia sejam tão pouco cautelosos ao ponto de vir expôr em público um cidadão que nada tem a ver com o sucedido?

Manifestação da UDD



A UDD, vulgo camisas vermelhas, continua a sua manifestação em frente a Government House, embora de forma totalmente pacífica tendo mesmo o PM e outros ministros podido entrar no complexo e continuar o seu trabalho em tranquilidade.

Tinha sido sugerido a Abhisit que utilizasse outro local para o seu dia a dia mas este, correctamente e não seguindo o erro de Samak, decidiu que deveria comparecer no local onde estão os seus serviços e avançar sem temor o que aconteceu.

Ceder como fez Samak, abandonando a Government House ao PAD só permitiu que se fortalecessem, organizassem mais e "tomassem o freio nos dentes" com os resultados que todos conhecemos.

Abihsit está a jogar um jogo perigoso mas está a fazê-lo de forma eficaz.

De qualquer modo é previsto que a UDD não "levante ferro" sem uma vitória qualquer e correm rumores de que Thaksin, terá dito a Veera, um dos lideres para intensificar a campanha e eventualmente torná-la violenta. Todos os movimentos deste tipo necessitam de mártires, necessitam de vítimas de modo a aumentar a simpatia á sua volta. Neste particular o PAD foi bastante eficaz e ainda hoje o The Nation, comentava que durante os acontecimentos de 7 de Outubro, o ponto alto da martirização do PAD, e referindo que o PM não queria que se repetisse, tinham morrido 10 pessoa se ficado feridas mais de 700. Isto está escrito hoje, quando é sabido que morreu uma pessoa e os feridos foram cerca de 400.

Abhisit tem neste momento um objectivo que é levar a bom fim a cimeira da ASEAN que começa amanhã com a conferência dos MNEs e é oficialmente inaugurada na Sexta com todos os Chefes de Estado, ou Governo dos dez. Esse é o grande objectivo necessário para mostrar aos parceiros e ao Mundo que a Tailândia está bem firme e no centro das decisões no Sudoeste Asiático e é um país com o qual se pode contar.

isto mesmo será porventura aproveitado pela UDD para reforçar a sua luta de modo que no inicio da semana que vem consiga contar alguma vitória como seja a famosa lista dos 21 membros do PAD com mandados de captura vir finalmente a ser divulgada e aí ver o nome do Ministro Kasit qual cordeiro pronto a ser imolado "para servir o país".

Ainda à nove dias almocei à direita de Kasit durante a reunião com os representantes da União Europeia, e pude constatar não só durante as conversações que houve mas também através de algumas palavras que trocamos os dois o seu desconforto sempre que se falava nos "amarelos".

Enquanto Abhisit se desdobra na preparação e recepção aos seus colegas da ASEAN, outros membros do Governo mais habituados com a "política real" e com a experiência que muitos ganharam nos tempos de Thaksin, atacam a base eleitoral deste aumentando o salário dos 300.000 kamnan lideres das aldeias, aquilo que se poderia chamar os Presidentes das Juntas de Freguesia, em nada mais nada menos do que 100%. Em tempo de crise e de apertos orçamentais não está mal. Irá custar cerca de 10 mil milhões de bath adicionais mas assegurará por certo um numero significativo de votos pois os candidatos a deputados não deixarão de lembrar esta benesse no momento de votar. Perghuntar-se -á porquê agora visto o governo continuar a insistir que irá até ao fim da legislatura.

Será que o tão apregoado acordo entre Democratas e Puea Thai vai acontecer? Será que vai mesmo avançar-se com a tão reclamada dissolução do Parlamento e convocação de eleições?

Para o dia 11 de Março está prevista uma moção de censura ao governo e este poderá cair. A instabilidade da coligação é grande e as transacções nos bastidores entre pontos a assegurar de um lado e de outro tem sido uma constante da vida política desde que o parlamento retomou trabalhos em 21 de Janeiro.

A próxima semana vai começar a dar alguns sinais do que se poderá passar mas a imprevisibilidade é sempre grande.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A Crise Económica e Política.



O National Economic and Social Development Board (NESDB) apresentou hoje as piores expectativas para a economia tailandesa na sequência de ter anunciado que o ultimo trimestre de 2008 viu o PIB cair 4,3%.

Ao contrário do Ministro das Finanças e do Banco Central que prevêem para este ano um crescimento positivo da economia em cerca de 2% o NESDB prevê como o melhor cenário um crescimento de 0%.

O NESDB é a agência governamental encarregada do elaborar e seguir o plano

Entretanto a dívida pública estará perto de atingir os 45% do PIB e em risco de chegar aos 50%, uma meta psicológica considerada perigosa.

O cenário de recessão está a preocupar seriamente a sociedade tailandesa e o desemprego não para de aumentar.

Entretanto todo o pacote de medidas anunciadas pelo governo em Janeiro tendentes a injectar dinheiro no sistema está ainda por acontecer, e não se espera que tal venha a ser realidade antes de pelo menos meados de Março.

Nessa altura poderá analisar-se o impacto que terá sobre o consumo e se, como espera o Ministério das Finanças, esse dinheiro é reintroduzido na economia real fazendo crescer o consumo doméstico.

Este fim de semana em Pattaya estavam a passar o fim de semana os militares americanos que tinham estado envolvidos no exercícios militares que todos os anos acontecem com o as tropas tailandesas - o Cobra Gold. Pattaya estava repleta de milhares de "marines" e outras forças auxiliares mas mesmo assim a indústria hoteleira registava uma quebra superior a 15% comparando com igual período do ano passado.

Não parece estar a ser fácil encontrar soluções para esta crise até porque ela é fundamentalmente induzida do exterior pois os países importadores de produtos tailandeses estão em recessão e os turistas não procuram, estas paragens por falta de dinheiro nos bolsos e porque os recente acontecimentos políticos no país também o tornaram menos apetecível.
Isto tudo está a acontecer quando está já em marcha uma nova ofensiva contra o país desta vez de cor vermelha.

Neste momento os vermelhos já cercaram Government House embora haja um forte contigente de militares e de polícia de choque (21 companhias e 3.000 polícias ) embora ao que os primeiros relatos narram parece serem menos do que o esperado. Sabemos contudo pela experiência com o PAD, se os deixam crescer, estes movimentos aproveitam!

O governo continuam ameaçado e hoje em dia a própria comunicação social que tanto o apoiou no ínicio está pedindo acções e não palavras. Acções contra os lideres e principais apoiantes do PAD para que sejam responsabilizados pelo que fizeram, e acções também no ataque à crise económica pois de todas as medidas anunciadas com grande pompa nenhuma até este momento tomou corpo.

No sector dos direitos humanos a crise dos Roinghya está longe de ter acabado e o governo tailandês continua sobre grande pressão internacional sobre o caso. A entrevista que Abhisit Vejjajiva deu a Dan Rivers da CNN, é hoje em dia utilizada como um exemplo daquilo que deverá ser feito contra aquilo que não é feito. Esta tem sido mais uma áera onde o governo continua a pecar por falar muito e agir pouco ou nada e assim se vai desgastando. Alguém disse, mais vale uma acção do que dez palavras e isso está a ser muito reclamado hoje em dia no país.

Entretanto os mandados de captura contra os 21 membros do PAD, onde se sussurra que está incluído o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que hoje mesmo nos jornais vem dizer que se demite se for considerado culpado (um sinal confirmando os rumores), não avança, alegadamente porque quem o deveria trazer á luz está ausente no estrangeiro em missão governamental! Em bom portugês chama-se a isto uma desculpa esfarrapada.

Este ataque contra o MNE vem a três dias do ínicio da XIV Cimeira da ASEAN, e enfraquece significativamnente a sua posição nesse forum.

Entretanto correm muitos rumores de que Thaksin estará para regressar ao país e entregar-se à justiça, ao mesmo tempo de que os Democratas viriam a formar um governo com o Puea Thai

Parece tudo um pouco surreal, mas são estes os rumores que correm com intensidade.

Desde a formação deste governo sempre tive a sensação, e já o referi uma vez, de que existem negociações nos bastidores entre Suthep, Nevin e Thaksin para encontrar uma formula em que todos possam conviver em paz e no fim continuar as políticas deste último que são aquelas que a generalidade do povo mais aprecia e os políticos também, visto poderem actuar mais livremente.

A seguir nos próximos dias.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ban Santi Suk


Na sequência da crise económica de 1997 no Sudoeste Asiático, esta pequena comunidade do Nordeste tailandês, Ban Santi Suk, por sugestão de dois farangs, nome porque são tratados os ocidentais aqui, um canadiano e um holandês, decidiram introduzir uma moeda local, aliás como tem acontecido um pouco por todo o Mundo quando há crises económicas.

O bia, assim se chamava o dinheiro era o meio de pagamento geralmente utilizado pela povoação e o Abott Phra Supajarawat era o "banqueiro" sendo o "banco" uma pequena dependência no templo que dirigia.

Dessa forma os habitantes da aldeia, que tinham visto as remessas geralmente enviadas de Bangkok pelos filhos e filhas da terra que para aqui debandaram á procura de trabalho reduzir drasticamente, decidiram, e segundo a teoria real ser independentes do ponto de vista económico e passarem a consumir só os produtos que entre si produziam. Para isso e para assegurar as transacções utilizavam o bia.

O banco de Ban Santi Suk

O banco central chamou o Abott e alguns habitantes a Bangkok, com estes receosos sobre a possibilidade de serem incriminados por falsificação de dinheiro.

Refira-se entretanto que para fazer as notas foi feito um concurso entre as crianças da terra para que apresentassem desenhos para serem utilizados na sua confecção e dai resultou dinheiro bastante colorido e atractivo mostrando os produtos da terra.

Na reunião em Bangkok afinal o grande problema era a denominação, bia visto ser esta uma das palavras que designava dinheiro em dialecto Issan e assim se resolveu o problema redenominado a "moeda" merit.

A emissão de moedas localizadas ou de senhas ou de outro tipo de títulos tem sido uma constante em várias regiões do globo inclusive em países como os Estados Unidos ou o Reino Unido,. São em geral esquemas em que as pessoas, ou agrupamentos de pessoas, se refugiam quando os sistemas económicos em que vivem entram em colapso.

Pattamawadee Suzuki uma Professora da Universidade de Thammassat realizou um elaborado estudo onde concluío das vantagens, em tempo de crise, que estas populações que se agregam no prosseguir de interesses comuns conseguem obter com este tipo de medidas.

Agora com os tempos difíceis que correm estes exemplos voltam a estar em alta e o exemplo de Santi Suk já voltou às páginas dos jornais.

No momento em que a crise económica que atravessamos tem contornos totalmente diferentes de todas as anteriores visto ser induzida por muitos mais elementos, internos e externos, do que no passado é importante estar atento aquilo que se chama "out of the box ideas", atento a ouvir e experimentar ideias diferentes pois os remédios conhecidos só curam doenças conhecidas e esta, a que estamos a viver, tem muito de desconhecida.

Aqui podem observar um vídeo relato sobre a vida em Ban Santi Suk.

Rak Chiang Mai 51

E ainda por cima são poucos

Há vários meses formou-se em Chiang Mai um grupo, afiliado com os vermelhos, e liderado por Phetchawat Wattanapongsirikul, candidato às eleições intercalares de Janeiro pelo Puea Thai em Lamphun.

Este grupo, cujo nome significa os 51 que amam Chaiang Mai, tinha tido uma postura bastante equilibrada enquanto clamavam contra as actividades do PAD a quem eles apelidavam, e com razão, desordeiros não cumpridores da lei e da ordem.

Assim que os Democratas tomaram conta do poder, com o apoio das forças que também apoiavam o PAD, envolveram-se numa senda de actos negativos, verdadeira oposição aos próprios príncipios que advogavam anteriormente.

Não espanta assim que Phetchawat tenha perdido as eleições em Janeiro, num local tradicionalmente dominado pelos "vermelhos" pois uma coisa estes grupos podem estar certos, embora o PAD diga o contrário, o povo não é nem estúpido nem cego e quando vota sabe muito bem votar naqueles que lhes trazem paz e prosperidade.

Desde que negou os príncipios porque se batia, o dito 51 já fez as seguintes "brincadeiras" como se donos de Chiang Mai fossem.

Primeiro romperam dentro de uma reunião de alunos na Universidade de Chiang Mai porque não concordavam com o tema em debate. Depois cada Ministro do actual Governo que vai ou foi a Chiang Mai é recebido à pedrada, com ovos e impropérios. Cercaram a estação de Televisão TPBS e exigiram que o seu Director em directo pedisse desculpas de ter afirmado que os activistas dos "vermelhos" eram pagos para participar nas manifestações. O pai de Terdsak Jiamkitwattana, um dos lideres do PAD foi morto numa confrontação com este grupo no norte de Chiang Mai. Na última semana impediram a realização do Gay Pride de Chiang Mai e obrigaram, à força, os organizadores a desmontarem o palco que para isso tinham preparado. Para terminar a semana em cheio envolveram-se em forte pancadaria com a UDD (reclamando esta serem os "vermelhos" genuínos) donde resultaram alguns feridos, mas quando é entre irmão desculpa-se sempre.

Tal como Somkiat é um Deputado Democrata e lider do PAD Phetchawat era um candidato a Deputado pelo Puea Thai e este tipo de envolvimento dos políticos com organizações que se põem elas mesmo à margem da lei em nada beneficia o país nem a credibilidade dos políticos.

Estes acontecimentos vêm no momento em que a UDD prepara movimentações em massa (veremos! Continuo céptico acerca das capacidades financeiras e organizativas do movimento), para a partir de amanhã avançar para Government House e "atacar" durante a cimeira da ASEAN que se realiza em Cha-am a partir de Sexta dia 27, curiosamente um ano exactamente após o regresso de Thaksin ao país.

Desta vez, sem surpresas, os militares decidiram estar do lado do governo e a zona onde se encontra os ministérios e governo vai ficar sob vigilância militar e não da polícia como sempre aconteceu durante os governos do PPP. Nessa altura os militares sistemáticamente recusaram-se a cumprir as ordens do governo mesmo no caso mais gritante das ocupações violentas e ilegais dos aeroportos..

Existe contudo um problema que se o governo não resolve vira-se contra si próprio.

Enquanto os instâncias judiciarias e policiais não actuarem e prenderem os 21 lideres do PAD que têm neste momento mandados de captura todos os outros agrupamentos se sentem "legitimados" a seguir as pisadas deles. O país sofreu prejuízos incalculaveis com as acções levadas a cabo pelo PAD e continuam completamente impunes todos aqueles que as cometeram, e não é necessário solicitar mais provas de tão evidentes que elas são. Inclusivé a tão falada lèse-majesté. O guarda do PAD que foi fotografado por toda a comunicação social empunhando uma pistola numa mão e o retrato do Rei na outra atirando contra os taxistas em Viphawadi deveria ser incriminado sob essa lei visto ser esta atitude uma verdadeira ofensa ao monarca.

É a segunda vez que existem mandados de captura contra os lideres do PAD mas não são executados por questões técnicas alegam uns e outros.

Quando a justiça não funciona abre a porta para a prática legitimada da sua própria violação.

A Ultima Etapa

A etapa final da viagem pelo norte do país conduziu'nos já ao sul desde Phitsanulok até ao Parque natural de Khao Yai (literalmente montanha grande). Interessante esta palavra montanha pois no norte diz-se Doi, no Nordeste Phu e no resto do país Khao, palavra que nas suas "quinhentas" entoações significa igualmente arroz, notícia, branco, eles, etc (o Miguel Castelo Branco já mestre em tailandês poderá completar e/ou corrigir).

Este parque natural, a Tailândia está repleta de parques deste tipo cada qual mais bonito do que o anterior, estende-se por quatro províncias do país mas com a maior fatia a ficar em Nakhon Ratchasima (Nakhon é uma das palavras que significa cidade tal como Chiang em dialecto Lanna, mas outras como Muang, Buri, são também usadas). Nakhoin Ratcahsima, província cuja capital é a terceira maior cidade do país é igualmente chamada de Korat, ganhando esse apelido do planalto de Korat onde fica situada.

O caminho para sul foi feito pela estrada 11, como já referi a única a merecer nota negativa, pelo facto de ser só de duas faixas, uma raridade no país e do piso deixar muito a desejar todo ele mutilado pelo peso dos camiões.

Se não tivesse passado por esta estrada diria que as estradas na Tailândia têm uma qualidade acima da média daquilo que se encontra em Portugal, mas há sempre uma ovelha negra em todos os rebanhos.

Paragem em Lob Buri a cidade dos macacos visto se verem estas criaturas a passear indiferentes pela cidade. Lop Buri é uma cidade com séculos de história como uma importante praça do império Khmer e mais tarde como segunda capital no tempo do Rei Narai.

Pela sua posição geográfica é fácil de entender o porquê desta importância da cidade. Está numa encruzilhada entre o norte e o sul entre o oeste e o leste sendo por isso quase que obrigatório ponto de passagem. Talvez por isso mesmo Lop Buri é um dos principais centros militares no país. Aqui está estacionada a maior base de manutenção de aeronaves militares e uma das divisões de infantaria mais fortes e bem equipadas do país. Sempre que há rumores de golpes de estado é importante observar os movimentos em Lop Buri pois por certo de lá virão as principais forças para o executar.



Constantine Phaulkon, o grego que chegou a ser o mais importante conselheiro na corte do Sião, tinha em Lop Buri um importante palácio onde ficava sempre que acompanhava o Rei Narai durante as suas estadias na segunda capital do reino siamês. Phaulkon, ou Falcão era casado com uma luso descendente, Maria Guiomar de Pinha, Thao Thong Klibmaa, a responsável pela introdução no Sião dos doces de ovos de origem portuguesa, ainda hoje apreciados e bem conhecida a sua ligação á cozinha portuguesa. Foi Tong, ou fios de ouro, são os digníssimos herdeiros dos nossos fios de ovos. É este também o nome que dão normalmente à nossa selecção de futebol mostrando bem a relação existente. Consta que Maria Guiomar estava cansada da vida da corte e decidindo dedicar-se a algo novo lembrou-se das receitas de bolos de ovos que teria aprendido com o seu pai de origem portuguesa e assim decidiu começar a sua confecção. Parece a história da Princesa de Bragança, Rainha Catarina de Inglaterra quando introduziu o chá na corte inglesa.

Lop Buri para além dos restos dos palácios do Rei Narai e de Falcão, bastante destruídos pelas constantes lutas em que esta cidade de transito se viu envolvida pouco mais tem de interessante e a presença dos símios não é definitivamente do meu agrado. Bem sei que eles de tão habituados a pessoas nem lhes ligam mas não são o meu tipo de bicho de estimação.


Depois de Lop Buri mais uma centena de quilómetros em direcção a Khao Yai onde ficamos a noite. Pode ficar-se dentro do parque natural ou em cabanas ou acampado em zonas reservadas para o efeito ou então fica-se fora do parque e visita-se depois. Decidimos tentar ficar no parque mas não havia alojamento. Só barraca o que não seduziu e assim decidimos fazer um safari nocturno, regressar ao sopé dos montes e atravessar Khao Yai no dia seguinte no caminho para Bangkok.

Khao Yai fica a cerca de 150 km da capital e com tem duas entradas, uma por Nakhon Ratchasima e outra por Nakhon Nayok, pode entrar'se no ponto mais longe de Bangkok e sair no mais perto o que torna muito fácil a visita.


O safari nocturno é interessante embora não se vejam muitos animais mas mesmo assim , vimos uma boa quantidade de alces, veados e antílopes, vimos porcos espinho, hienas, outros semelhantes e um elefante ( as desculpas pela qualidade da fotografia mas á noite o flash tem pouco alcance). É feito nas traseiras de uma furgoneta com uma guia com uma forte lanterna tentando enxergar os olhos dos animais como dois faróis e depois ilumina-los. Estava bastante frio e é deveras aconselhável usar um agasalho. Não o fiz, tinha só duas T-shirts e tenho pena, pois enregelei.

No dia seguinte então ver o parque em todo o seu esplendor visitar duas quedas de águas qualquer delas mais impressionante chamando-se uma a boca do inferno como a nossa e a razão por certo está devido á dificuldade em lá chegar. É mesmo um inferno. Ainda que muito bem construído o acesso desce-se e consequentemente sobe-se, a não ser que se desista da vida "no inferno", uma boa centena de degraus a pique.

Terminado o passeio com um almoço ainda no parque regresso e Bangkok e uma olhada para o contador de quilómetros para certificar que tinham sido 2.489.6 exactamente. Muitos e bons como se deverá dizer