sábado, 19 de setembro de 2009

19 de Setembro

Hoje faz três anos que os tanques saíram à rua em Bangkok para derrubar um governo proveniente de uma eleição popular.

Thaksin Shinawatra, o chefe do governo da altura, tinha sido o primeiro Primeiro Ministro na história do país a ter sido reeleito não uma mas duas vezes.

O mal foi que ao conseguir a sua primeira maioria absoluta resolveu utilizar os mesmos métodos que os seus colegas na região instaurando uma democracia dirigida e aproveitando-se disso.

Thaksin, que acabou condena por uma questão de lana caprina - conflito de interesses, foi essa a decisão do Tribunal que o atirou para o exílio voluntário - teve durante a sua governação muitos pontos altos, tal que são actualmente copiados pelo governo de Abhisit, mas teve muitos momentos baixos e pelos quais deveria, de facto, ser condenado como o permitir (ou mesmo ajudar) a explosão das acções violentas no Sul do país e a muito tenebrosa guerra á droga que acabou por fazer mais de 3.000 mortos à margem da justiça.

Durante mais de dois anos os governos de Thaksin involveram-se numa luta activa contra o tráfico de drogas mas essa luta, que deu bons resultados, foi feita á custa de muitas execuções extra judiciais. Actualmente o Governo de Abhisit vê-se confrontado com um enorme aumento do consumo e tráfico de drogas e inclusive, contrariando a moratória solicitada pelas Nações Unidas, foram, há menos de um mês, executados dois traficantes condenados á morte por questões relacionadas com o tráfico de estupefacientes.

dia 19 de Setembro de 2006, e após uns longos dois meses turbulentos com várias mudanças e interferências nos comandos militares o General Sondhi Boonyaraglin, ou Sondhi B. por oposição ao líder do PAD Sondhi L., fez sair para para as ruas de Bangkok os tanques que rápidamente tomaram conta da situação. Thaksin encontrava-se em Nova Iorque na Assembleia Geral das Nações Unidas, para onde parte amanhã Abhisit, e, embora à ultima da hora tentasse demitir o General, já ninguém lhe obedeceu e o Rei numa audiência extraordinária pelas 12.30 da manhã já do dia 20, deu "a sua benção" ao golpe e solicitou aos comandos militares que trabalhassem para, e em benefício do país.

Estava assim iniciado um período assaz complexo da vida tailandesa. Após um ano e dois meses de um governo dirigido por militares, sob a atenta vigilância do Conselho de militares revoltosos, realizaram-se eleições mas voltou a ser, apesar de uma Constituição que o pretendia evitar e de várias decisões dos Tribunais nem sempre claras, um partido ligado (ou dirigido) por Thaksin que veio a ganhar as eleições. O ano de 2008 foi um ano de permanente turbulência ou não tivesse sido o golpe de há três anos feito para derrotar Thaksin. O PAD entrou em acção que culminou na ocupação dos aeroportos com um prejuízo para o país calculado pelo Banco Central em 186 mil milhões de bath, quase 4 mil milhões de Euros, mas acabou por ser, de novo, a intervenção dos Tribunais, sempre tão permeáveis a interesses partidários, a acabar com o thaksinismo e a levar Abhisit ao poder.

Hoje os "vermelhos", a guarda avançada do thaksinismo mas simultaneamente, um movimento que alberga, neste momento, todos os que se opõe ao governo da coligação liderada (?) pelo partido Democrata, levou a cabo uma manifestação em Bangkok pela Democracia e contra o golpe.

O governo uma vez mais reagiu mal ao instaurar o Regime de Excepção que o Internal Security Act permite não só hoje mas desde Sexta-feira e até Terça-feira. Só um muito errado entendimento da situação política do momento poderia fazer pensar que a manifestação não seria pacífica. Tratou-se mais de um acto de vitimização do Governo e de polítiquice interna do que uma real questão de segurança. De igual forma o governo errou em não implementar semelhante excepção na província de Si Sa Ket para evitar a manifestação anunciada como potencialmente violenta quando o PAD disse que iria marchar sobre o templo da Khao Phrae Vhearn para expulsar os ocupantes (cambojanos) da terra "tailandesa".As imagens, da comunicação social tailandesa, que ilustram este texto são claras. A manifestação do PAD tinha sido anunciada como potencialmente violenta, envolvendo um conflito trans fronteiriço, e acabou com os 5.000 manifestantes, transportandos de Buriram para o local, (estranha aliança de Nevin com o PAD) a atacarem os residentes locais e as próprias forças de segurança que ai estavam estacionadas o que provocou 17 feridos. Pelo sentir do Governo essa manifestação não era um problema de segurança. A tradicional duplicidade de entendimentos. Aquilo que é "vermelho" é mau e o que é "amarelo" é bom!


Em Bangkok cerca de 30.000 pessoas, a fazer fé na comunicação social, manifestaram-se, disseram as suas palavras-de-ordem, ouviram o "boss", que disse falar de um país próximo e dispersaram, como estava previsto, sem o menor incidente apesar de ainda durante a tarde o Vice Primeiro-Ministro ter vindo dizer que havia "hooligans" (o termo utilizado) infiltrados e que a polícia poderia utilizar balas de borracha se houvesse incidentes.

Que fique uma coisa a lembrança de que golpes militares nunca são soluções. O país está hoje mais dividido do que estava há três anos atrás e perdeu em todos os índices internacionais, inclusive no da corrupção, só que essa agora não está focalizada só numa pessoas mas em muitas.

Já que nada se ganhou ao menos que se ganhe essa noção da inutilidade da intervenção dos militares e a noção de que o debate livre de ideias é a única forma de fazer avançar um país. Da mesma forma que Thaksin não pode, não deve, ser parte do futuro do país, devido ao facto de ser um factor de desunião e não de união, os militares e as ideias retrógradas e contrárias à vontade do povo livre e capaz de decidir, também não podem existir como actores principais do futuro.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ainda o Chefe da Polícia


Uma nota mais sobre a novela das 8 – A Escolha do Chefe da Polícia.

Abhisit tem insistido sempre no "seu homem" General Pateep enquanto os outros membros que têm votado contra apostam no General Chumpol.

Actualmente ambos são Comandantes Adjuntos o que à partida os qualifica mas é necessário ver porque é que, essencialmente a corporação e aqueles que lhe estão mais perto, escolhe Chumpol.

Pateep é um homem do aparelho administrativo da Polícia familiarizado com as questões relacionadas com finanças e organização e afastado das aéreas de investigação e combate ao crime. Tem pouca experiência de funções de comando visível, ou seja na “frente de batalha”, e tem sido ao longo da sua longa carreira um homem de bastidores e um burocrata. É conhecida a sua ligação ao líder do PAD Sondhi L. fundamentalmente através da sua forte proximidade com o seu subordinado Chaliya Siri-amphankul parceiro regular daquele. Pateep não é reconhecido como um líder pelos seus colegas da área de investigação e isso tem sido repetidamente trazido a lume dentro da corporação.

Chumpol começou a sua carreira na luta contra o crime e na investigação e ganhou prestígio nesse sector e assim subiu na carreira. É visto como um líder e como um oficial capaz de cortar cerce nas investigações que estão a seu cargo. Tem um handicap. É da mesma classe de cadetes que Thaksin, recorde-se que o fugitivo ex PM é Polícia, embora também da mesma classe que o General Anupong, o que quer dizer que nem todos os membros da classe 10 são "thaksinistas".

Em resumo. De dentro da corporação Chumpol é o mais apreciado e só o empenho político de Abhisit faz de Pateep o único candidato que vai a votos mas que sai sempre derrotado.

Muitos perguntam-se porque Abhisit não avança com outros candidatos tirando da luta esta dualidade que só o prejudica. Para esses a razão é o PAD estar por detrás de Pateep e o facto de, até para mais atrapalhar Abhisit, nenhum outro membro da Comissão apresentar outro candidato.

O mais caricato é que se até ao dia 30 de Setembro não for encontrado o novo Comandante quem, de acordo com a lei vai ser nomeado é o General Priewpan Damapong, o primeiro na hierarquia, e por acaso cunhado de Thaksin Shinawatra.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nobreza

Nobreza é a atitude da Princesa Bajrakitiyabha da Tailândia, aqui na fotografia como um simples participante, quando, há três dias em Geneva, representava o seu país fazendo um discurso na sessão inaugural da 12ª Reunião do Comité dos Diritos Humanos das Nações Unidas.

Quem é nobre de formação, de espírito e de coração não necessita de o mostrar nem de se pôr em bicos de pés para que os outros fiquem mais abaixo. Quem é nobre por natureza é simples.

As Fraquezas de Abhisit

Uma vez mais a liderança do Primeiro Ministro Abhisit Vejjajiva foi posta em causa quando teve de adiar a escolha do novo Comandante da Polícia, segundo ele por não haver unanimidade na decisão.

Todas as pessoas se questionam por que é que Abhisit se meteu nesta guerra na qual tem vindo a sofrer continuadas derrotas abalando seriamente a sua credibilidade.

Dizia-me ontem uma jornalista tailandesa que a partir do momento em que o PM afirmou, publicamente, que ele próprio se encarregaria de “fazer andar” a investigação sobre a tentativa de assassinato de Sondhi L., ficou refém não só da sua palavra mas pior, das pressões do PAD que continua a meter medo a todos.

Na realidade o movimento amarelo continua a existir como um fantasma na cena política tailandesa e não existe ninguém com capacidade de chamar os seus líderes à responsabilidade sobre os gravíssimos danos que causaram ao país. A simples ideia de que possam voltar para a rua, com toda a impunidade que gozam, e levem a cabo manifestações semelhantes, causa dores de cabeça na maioria dos governantes. São conhecidos os apoios de que gozam nas mais altas instâncias e sabe-se que se decidirem avançar para novas manifestações o governo terá (?) de utilizar os mesmos métodos que utiliza actualmente contra os “encarnados” e isso é certo causará grandes distúrbios e eventualmente confrontações violentas. Neste momento o PAD concentra as suas atenções, de novo, sobre o caso de Pharae Vihaern e anuncia ir fazer uma marcha este Sábado na zona do templo onde, segundo dizem, quer tropas inimigas quer populações ocupam território tailandês. O governo de Abhisit e o governo Cambojano já lançaram os seus avisos, o primeiro para que se abstivessem de qualquer manifestação e o segundo de que serão repelidos a tiro de canhão caso ousem entrar em território considerado do Camboja. Os comandos militares estão sobremaneira preocupados com as possíveis consequências da acção quer a nível nacional quer internacional. Note-se contudo que neste caso, e uma vez mais utilizando dois pesos e duas medidas, não foi a zona declarada ao abrigo do Internal Security Act como acontece com Bangkok neste fim de semana.

Mas voltando ao caso da eleição do Comando da Polícia, Abhisit, que tinha utilizando os métodos daqueles que ele condena para afastar todos os obstáculos no caminho da escolha do seu protegido, General Prateep, viu à última hora que afinal iria sofrer mais uma derrota e, segundo as informações que vieram cá para fora ainda maior do que da primeira vez. Desta vez seriam 6 contra e somente 3 a favor sendo que inclusive o Comandante interino que Abhisit colocou no lugar de Pathcharawat disse que iria votar contra.

Mais uma vez o PM mostrou os seus maus fígados, cortando breve a reunião e abandonando furioso, segundo as testemunhas oculares, o local refugiando-se até ao fim do dia no seu gabinete com o, seu conselheiro favorito do momento, o deputado Sirichock alcunhado de “wallpaper”.

O isolamento de Abhisit, de quem não se conhece hoje em dia ninguém próximo a não ser o seu colega de Oxford, o Ministro das Finanças Korn e o já citado “wallpaper”, só é atenuado com a clara sensação de que os seus inimigos, que são hoje os seus aliados mais próximos, não o querem deitar abaixo mas somente fragilizar para melhor servir os interesses imediatos dos seus grupos.

A actual fragilidade de Abhisit levará a que a sua visita à AG das Nações Unidas, a partir do dia 20, seja marcada pelo isolamento e falta de importantes encontros bilaterais mesmo sendo ele o Presidente em exercício da ASEAN. Ecos disse já se fizeram sentir na imprensa.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

É Assim a Segurança?


Uma vez mais o Governo decidiu impor o Internal Security Act (ISA) na zona de Dusit onde se encontram a maioria dos edifícios que se julga possíveis de serem afectados pela anunciada manifestação da UDD “comemorativa” do terceiro aniversário do golpe de estado que depôs Thaksin Shinawatra.

Contrariamente ao aviso de muitos o gabinete aprovou a aplicação do ISA de 18 a 22 de Setembro. O terceiro aniversário do golpe celebra-se no Sábado 19 e a UDD anunciou que iriam realizar duas manifestações uma na “Royal Plaza”, assim é conhecida a praça em frente ao palácio Ananda Samakhom e em Si Sao Theves, a rua onde mora o General Prem, Presidente do Conselho Privado do Rei, a quem sempre se aponta a autoria moral do golpe.

A aplicação do ISA implica que os militares sejam trazidos para a rua para completar a acção das forças policiais e que sejam suspensos os direitos fundamentais dos cidadãos no que respeita à sua liberdade de movimento, associação e opinião. As forças militares ficam com a capacidade de prender, sem mandado e por simples conveniência, quem entenderem, julgando em causa própria, que é uma ameaça para a segurança. Espera-se que desta vez as forças de segurança actuem com mais clareza já que aquando da instauração do ISA no dia 29 de Agosto, houve um caso em que foram presos três sindicalistas, alegadamente por violarem o ISA, por se manifestarem contra o encerramento da sua empresa, só que essa prisão ocorreu no dia 28 e não no dia 29 ou seja foi invocado o ISA quando não estava em vigor. E do “engano” não houve nenhum pedido de desculpas nem os acusados recorrem por medo de represálias.

Resta agora saber qual vai ser a resposta das forças da UDD. Duas semanas atrás a UDD decidiu cancelar a manifestação planeada mas agora não parece ser esse o caso. Já tinham anunciado que as manifestações desse dia seriam totalmente pacíficas e que o dia seria marcado como uma jornada pela Democracia e contra os golpes de estado militares.

Teme-se agora, e com alguma razão de que, à semelhança do que aconteceu em Abril, terceiras forças, a quem a confusão aproveite, se intrometam no meio dos manifestantes e possam desencadear acções que coloquem a situação em total risco de descontrolo voltando a haver confrontações violentas.

É hoje por demais sabido que ao acontecimentos de Abril, quer em Pattaya quer em Ding Daeng foram provocados por agitadores ao serviço de forças que pretendem levar os militares a intervir a desencadearem um novo golpe de estadão. Infelizmente ainda existe muita gente, o que não é estranho após 18 golpes de estado em cerca de 50 anos, que acredite que um regime militar é o que melhor serve o país. Basta ver um pouco da história política recente do país para entender isso sem grande dificuldade.

Aqueles que lutam pela Democracia, seja no campo da coligação governamental seja no campo da oposição, ainda o tentam fazer por métodos legais e democráticos, como deverá ser, mas acabam ultrapassados por radicalismos ao serviço de interesses pouco claros.