terça-feira, 5 de julho de 2011

Rescaldo Eleitoral

O rescaldo das eleições vai-se fazendo com suavidade e sem sobressaltos. A bolsa de Bangkok registou ontem a sua maior subida de há vários anos, 4.9%, mostrando bem a confiança que os investidores depositam de que o país possa entrar num período de maior pacificação.

Para além de alguns, poucos, que não gostam de democracia e que continuam a "chorar" a perda do partido Democrata a grande maioria está de volta ao trabalho porque quem tem agora que suar são aqueles a quem o povo determinou dar um mandado para dirigir o país. O povo cumpriu o seu dever, votar, escolheu e agora tem de seguir o desenvolvimento dentro dos princípios de civilidade que se conhecem através das práticas democráticas. No próximo acto eleitoral de novo julgará aqueles que governam e aqueles que fazem oposição.

A presumível PM tem estado reunida com os parceiros da coligação e já ficou assente a distribuição dos lugares embora ainda não haja referência a nomes para os vários ministérios.

Fui informado há bem pouco, por um elemento do seu gabinete, que o que esteve até agora em cima da mesa foi a discussão das políticas base da coligação, a plataforma de entendimento e o número de lugares que caberia a cada um dos parceiros no governo a formar.

A partir de amanhã então serão discutidos os nomes que cada partido pretende indicar para formar o governo.

A comunicação social, como é natural e compreensível, não para de lançar nomes para o ar. O que se sabe é aquilo que relatei e a informação também de que não haverá nenhum elemento da liderança dos camisas vermelhas na composição do novo governo. Aliás ontem a líder da UDD, parece que o mundo na Tailândia passou para as mãos das mulheres visto a Dr. Thida ser quem lidera o movimento, anunciou que a organização estava satisfeita com os resultados das eleições de Domingo mas que não iria baixar as mãos pois a luta deles é pela justiça e continuarão a exigir saber quem são os verdadeiros responsáveis pelas mortes de Abril/Maio de 2010 e querem que os "prisioneiros políticos" sejam libertados.

Entretanto a Comissão Nacional de Eleições continua o seu trabalho de apuramento e deverá anunciar ainda hoje a totalidade dos votos registados e a sua distribuição ainda que tais resultados não sejam oficiais ainda.

Os partidos concorrentes têm 7 dias para apresentar reclamações que a própria ECT julgará (um dos pontos fracos do sistema eleitoral tailandês é o facto de as decisões da ECT não serem passíveis de apelo para o Tribunal Administrativo). Tanto quanto é sabido até agora há a possibilidade de serem "mostrados" 5 cartões vermelhos que irão desqualificar os candidatos impedindo que voltem a concorrer (se o cartão for amarelo o candidato perde o lugar mas pode voltar a candidatar-se) e fala-se muito na possibilidade de dissolução do partido Bhum Jai Thai de Nevin Chidchob. Na ECT, já no passado dia 24 de Junho, estava registada uma infracção grave na província de Buriram envolvendo um executivo do partido

Enfraquecer este partido e ao mesmo tempo cimentar a coligação no poder irá por certo ser uma das tarefas do Pheu Thai. Thaksin e os seus apoiantes não esquecem Nevin, apelidado de traidor (era o braço direito do ex PM). O BJT já sofreu uma forte derrota tendo ficado a menos de metade daquilo que o próprio Nevin tinha predicto mas estou convicto que o Pheu Thai tudo irá fazer para seduzir deputados, que anteriormente estavam consigo e depois se passaram para o lado de Nevin, a regressar e desse modo dar a estocada final num partido já enfraquecido.

Se assim for isso irá colocar um problema ao PT pois terá de alocar alguns lugares, nesta dança das cadeiras, para aqueles que quiserem "regressar a casa".

Até ao final da semana teremos a versão final do governo e o cenário estará clarificado.

Entretanto o partido Democrata está em período de reflexão e mesmo falar com os seus executivos é difícil neste momento. Abhisit demitiu-se de líder do partido mas já começa a ouvir-se vozes favoráveis ao seu regresso nomeadamente a do homem mais influente no partido o ex PM Chuan Leekpai. Pessoalmente não me parece a melhor solução. Em política há sempre momentos em que se está no pódio e outros momentos em que se deve deixar esse lugar para outros. Nada é definitivo em política mas é necessários saber ganhar e perder e quando se perde saber esperar pois os ciclos políticos vão e vêm.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Abhisit Vejjajiva

Abhisit Vejjajiva, o líder do partido Democrata acaba de anunciar a sua demissão da liderança depois do revés sofrido ontem nas eleições gerais.

Abre-se agora um novo círculo para o mais antigo partido do país que apesar dos seus 65 anos de idade e tido por ser o partido da elite tem sempre grandes dificuldades em ganhar eleições no país pois nunca consegue atrair os eleitores do norte e nordeste do país onde se concentra a grande maioria da população.

A última vez que os Democratas ganharam eleições foi em 1992, contra o General Chamlong, actual líder dos amarelos do PAD, e mesmo assim foi uma vitória escassa e envolta em inúmeras controvérsias.

Está assim aberto o caminho para uma renovação do partido e aquele que sempre tem sido apontado como sucessor é o actual Ministro das Finanças Korn Chatikawanij antigo colega de Abhisit no Reino Unido e CEO da J.P.Morgan (Thailand) antes de se dedicar á política. Korn é visto por muitos com a mesma imagem de Abhisit pelo que se vier a suceder-lhe não será de crer que o partido mude de rumo.

Viva a Democracia

As eleições para o Parlamento decorreram ontem num clima de grande responsabilidade cívica por todo o país.

Os incidentes que são conhecidos são de pequena monta e mesmo os famosos cartões vermelhos ou amarelos que poderão vir a ser mostrado aos candidatos pela Comissão Nacional de Eleições são desta vez, de acordo com o porta-voz desta, menos do que no passado.

A Democracia saiu reforçada do acto eleitoral e agora o país tem de olhar para o futuro e pensar como pode um novo governo, que estará em funcionamento no início de Agosto, responder aos grandes desafios que se colocam pela frente.

A maioria do povo, 52,4% votou no partido Pheu Thai liderado por Yingluck Shinawatra que assim será a primeira mulher a assumir o mais alto posto no executivo tailandês. O partido Democrata do PM em exercício Abhisit Vejjajiva obteve 32% dos votos. O resto foi divido por vários partidos mais pequenos com o realce para o Bhum Jai Thai party e o Chart Thai Pattanna que conseguiram 34 e 19 lugares respectivamente.

O governo para os próximos quatro anos (é este sempre a expectativa nos sistemas democráticos) será liderado por um partido que por si só obteve a confiança da maioria do povo tailandês o que tem um importante significado.

Contudo, para reforçar a maioria já alcançada (262 lugares num parlamento de 500 lugares) e até por causa do sistema constitucional onde os Ministros que são em simultâneo Deputados não podem votar em assuntos que lhes dizem respeito o que enfraquece uma maioria, o próximo governo será uma coligação que pelo menos irá contar com os 19 deputados do CTP e os 7 deputados do Phalang Chong. Outros partidos ou facções poderão associar-se.

As negociações para a formação do executivo já começaram e irão ser o tema dos próximos dias.

Quer Yingluck quer Abhisit mostraram dignidade quer na vitória quer na derrota o que augura sinais positivos para o país.

Outro aspecto positivo ontem foi o facto do fugitivo ex PM Thaksin, o homem que ria fantasmas em muitos (e com algum fundamento para tal) ter falado para a TV tailandesa TPBS de uma forma bastante calma e mostrando entender que o "timing" para o seu regresso ao país ainda está longe de ter chegado. Thaksin afirmou que o principal neste momento é satisfazer as necessidads das pessoas no campo económico e avançar no processo de reconciliação dizendo mesmo que a comissão nomeada por Abhisit, com o DR Kanit na Nakhon à cabeça, deveria ser mantida "pois as coisas bem feitas devem continuar e ser apoiadas". Como muitos no país quero acreditar que as suas palavras são genuínas. O tempo o dirá mas contudo Thaksin pareceu, tal qual me havia dito um dos seus próximos durante a campanha, mais maduro e consciente de que se o país não estiver pacificado e no caminho da democracia ele não pode regressar.

Um aspecto altamente negativo foi o facto de todas, repito todas as sondagens feitas á boca das urnas terem errado estrondosamente. Há quatro institutos, respeitáveis entidades, que fazem sondagens há bastante tempo e são sempre esses os pontos de referência para preparar projecções. Claro que os partidos fazem as suas próprias, bem como os militares, mas essas não são públicas. São eles a NIDA (Instituto de Estudos da Administração), a Universidade de Bangkok, Universidade Suan Dusit Rajabhat e a Universidade Assumption (católica). Pois ontem todas erraram de forma nunca vista chegando a ABAC (Assumption) a um erro de 17,7% enquanto as outras se situaram entre 12 e 15%. O normal será margens de erros de até 3% mas por algumas razões que ainda não estão apuradas ontem não foi assim.

No total no país observou-se uma afluência de 76%, dois pontos acima daquilo que se tinha verificado em 2007.É um número muito bom (até tendo em conta os erros que aconteceram nos cadernos eleitorais – o general Chamlong do PAD, põe exemplo, não pode votar pois o seu nome não constava). Isto mostrou o empenho de todos os candidatos no acto e o interesse com que as populações seguiram a campanha e mostraram querer participar nas decisões para o país. Um ponto ainda sem explicação foi o de Udon Thaini, uma província bastante politizada e considerado o principal bastião do Pheu Thai, onde a votação foi estranhamente bastante baixa pois somente 52,1% dos eleitores compareceram.

Pode contudo concluir-se o seguinte: O povo tailandês empenhou-se no acto eleitoral e fez a sua escolha claramente (o partido associado ao ex PM Thaksin ganha pela 4 vez consecutiva e os Democratas perdem pela 6 vez consecutiva). O país tem condições para que seja formado um governo sólido que responda a esse voto maioritário do povo (a coligação que se avizinha terá a legitimidade de cerca de 60% dos votos dos tailandeses). O processo foi no seu essencial claro, transparente e decorreu sem sobressaltos.

Agora resta apoiar o país. Resta respeitar os que venceram e solicitar aos que perderam que sejam uma oposição forte, construtiva e capaz de pensar no país e nos tailandeses.

Como dizia o Professor Thitinan Pongsuthirak há dias "peço a todos, mesmo todos, que deixem o país entrar definitivamente no século XXI e seguir o processo democrático".

Sempre acreditei na DEMOCRACIA e quero continuar assim. Espero também que todos a apoiem deixando para trás os interesses paroquiais.

O povo foi claro no seu voto. Agora compete aos políticos serem também claros e transparentes.