sexta-feira, 17 de abril de 2009

Últimas sobre Sondhi


Segundo um boletim médico que foi emitido há pouco Sondhi está livre de perigo e a bala que estava alojada no crânio com risco de criar uma hemorragia interna foi removida e o paciente está a recuperar.

De igual modo o seu motorista está igualmente considerado livre de perigo.

Até ao momento não se conhece quem perpetrou o ataque embora todos os olhos estejam apontados para o "outro lado da barricada", os vermelhos.

Amigos de Sondhi, que já o tinham avisado da possibilidade de ser alvo de ataques, dizem que ele é um homem com muitos inimigos e lembram as suas recentes violentas acusações quer á Polícia quer aos Militares pela forma, segundo ele, complacente, como permitiam que os "vermelhos" actuassem.

Sondhi, um magnate da comunicação social, tornado militante e líder da causa "amarela", há muito que vem fazendo inimigos, inclusive no seu meio, pela forma sempre desabrida como fala e acusa todos e tudo que não estão de acordo com a sua maneira dever o Mundo. De igual modo no meio empresarial e financeiro criou vários inimigos quer através da sua luta pela sobrevivência do seu "império" de comunicação social, fortemente endividado, quer pela inveja que criava nos seus adversários.

Neste momento como em situações destas é necessário seguir com atenção as próximas horas para ver a reacção de Sondhi, quer á cirurgia quer aos tratamentos, mas para já a boa notícia é que os médicos consideram estar o líder "amarelo" fora de perigo, embora nada adiantem sobre a extensão dos seus ferimentos.


Ultímos Acontecimentos


Ontem à tarde ABhisit recebeu o corpo diplomático para um debriefing sobre a situação e os passos que o Governo tenciona seguir de seguida.

Usando pela primeira vez um carro à prova de bala o PM chegou a Government House para falar para diplomatas de cerca de 70 países acreditados na capital.

Após cerca de 15 minutos onde o PM fez a descrição de como via a situação, falou do projecto de reconciliação nacional em que o Governo se compromete.

Irá ser realizado um debate no Parlamento na próxima semana, Quarta e Quinta, e espera que a oposição dê o seu acordo para um processo de revisão do sistema político incluindo a revisão da própria Constituição e um processo de amnistia para todos aqueles acusados de "acções ilegais de carácter político", as palavras utilizadas, embora reconhecesse a dificuldade de traçar a diferença. Nesta abordagem do problema. e respondendo a questões que lhe foram postas o PM não fechou as portas a novas eleições embora tenha dado prioridade à reforma do sistema político. Recorde-se que a oposição à revisão constitucional foi uma das grandes lutas do PAD e a que esteve na origem dos acontecimentos sangrentos do dia 7 de Outubro de 2008.

Depois da exposição do PM seguiu-se um período de perguntas e respostas. As questões focaram-se na existência ou não de outras vítimas para além daquelas que estão oficialmente anunciadas. Um diplomata inquiriu se os corpos que foram encontrados a boiar no Chao Praya eram de vítimas ou não. A estas questões o PM respondeu dizendo que tinha ordenado inquérito claro que pudesses responder a essas questões. Igualmente, e na sequência de uma outra pergunta sobre os processos contra os lideres do PAD e a diferença de tratamento existente, pois enquanto três lideres da UDD estão presos os do PAD nunca sofreram tal punição, o PM respondeu dizendo que tinha solicitado ao comando da Polícia para que apressasse as acções legais contra eles. Há que referir que os lideres do PAD já foram notificados formalmente e o processo está (ou pelo menos deveria estar pelo sistema processual) para acusação pelo Ministério Público e não pela Polícia.

Ficou claro que Abhisit, o ganhador da "batalha" do fim de semana aos olhos dos tailandeses, está ainda navegando em águas muito tumultuosas e mostra-se pouco seguro e pouco convicto. Essa foi a impressão generalizada dos presentes.

Para contradizer as suas palavras de harmonia, reconciliação e amnistia e Polícia realizou buscas em Bangkok, Chiang Mai e Lampang em estações de TV e Rádio, encerrando as suas emissões e mandou para o Ministério do Informação e Comunicação o nome de 67 sítios de internet que deveriam ser removidos ou bloqueados. Pelo que pude constatar alguns já o foram.

Entretanto esta manhã, e para piorar a já frágil situação política, o líder do PAD Sondhi Limthongkul foi alvejado quando se dirigia para o seu grupo editorial e está, segundo o primeiro relatório médico em situação crítica. Neste momento está a ser operado para que lhe seja removida uma bala alojada no crânio. A acção foi altamente profissionalizada e os assaltantes, que se transportavam numa pick-up, sem matrícula, atiraram para os pneus para imobilizar o veículo de Sondhi e depois saindo da viatura, alvejaram a seu bel-prazer o carro imobilizado, utilizando espingardas AK47 que se sabe têm vindo a ser introduzidas na Tailândia provenientes do Cambodja desde 2006.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um Novo Dia


Após alguns dias de violência que deixaram dois mortos (as forças vermelhas reclamam mais), 50 pessoas hospitalizadas e outras cerca de 50 com escoriações menores os manifestantes, apoiantes do ex PM Thaksin, decidiram dispersar a abrir caminho para que a calma voltasse a Bangkok.

Dois lideres do movimento entregaram-se às autoridades (um diferença a salientar face aos amarelos), e solicitaram apoio para que as forças militares abrissem cordões e fornecessem os meios para que os manifestantes pudessem regressar de onde vieram.

Como referi no artigo anterior é tempo agora de iniciar o processo de reconciliação nacional. Saúda-se o facto de por parte do Governo não se ter cantado vitória. A única declaração veio do MNE mas esta foi dirigida á comunidade estrangeira explicando que nunca os seus elementos estiveram em causa e garantindo que o governo tudo continuará a fazer para tratar a crise política de forma a defender a segurança de todos.

É importante aproveitar o momento para solidificar a trégua e tentar avançar calma mas seguramente para uma solução que permita o país entrar numa via de respeito pela ordem e pela lei.

Compete agora ao Governo e a Abhisit essa tarefa que será difícil requerendo enorme capacidade de liderança e de paciência.

Não conheço os detalhes daquilo que se terá passado nos bastidores para que a paz tivesse regressado, mas as negociações, que por certo aconteceram, são sempre mais produtivas quando são feitas na calma dos encontros privados do que nas disputas de rua.

Abhisit, que sai vitorioso desta crise, mais o será se continuar a mostrar a calma e determinação que mostrou nos últimos dias. O país necessita de liderança mas de uma liderança que não escolha cores, uma liderança que recolha no seu colo todos os tailandeses amantes da paz e do seu país.

Espera-se que Thaksin, um homem com uma tremenda dificuldade em ouvir, tenha também aprendido alguma coisa e pelo menos por agora se cale e seja, pela sua ausência, também um elemento capaz de colaborar nesses desígnio de unidade que no fim é o desejo de todos os tailandeses.

Espera-se que por fim que a clique mais conservadora, receosa de perder o poder, entenda que o poder é de todo o povo, de todos os tailandeses, vermelhos, amarelos, azuis, ou outros, de todos os que querem trabalhar para o benefício comum.

O poder é e terá de ser daqueles que querem respeitar a lei e a ordem, estejam eles vestidos de verde, ou de outra cor, com os sem galões, com ou sem títulos. Sem o respeito pela lei, pela ordem será difícil criar algo de positivo e a Tailândia disso tanto necessita.

Está chegada a hora da união e Abhisit pode levar essa bandeira. Não a derrubem!

Será que Abhisit vai Ganhar?


Sei que essa é a grande vontade de muitos dos tailandeses mas será que Abhisit vai ter a coragem de conseguir ganhar?

Abhsit é diferente de todos os políticos que até agora estiveram no poder na Tailândia. Basta olhar um pouco atrás e compará-lo com Samak, o velho touro desbocado, pouco educado e sempre habituado a jogos de poder onde passou toda a vida. A Somchai o cunhado de Thaksin, envergonhado, quase pedindo desculpa por estar ali, que não é capaz de articular uma palavra de Inglês e por certo terá dificuldades em comandar a sua própria vida. a Surayud, o General que estava de pantufas no Conselho Privado do Rei e teve que fazer o frete de aguentar o fardo de governar (?) durante um ano enquanto lhe preparavam uma Constituição que de tão mal feita não produziu os seus desígnios de enfraquecer os partidos políticos especialmente o(s) ligado(s) a Thaksin. Deste nem vale a pena falar mas mesmo assim pode dizer-se, experto que nem um rato, fugidio que nem um jibóia, e tão fiel aos seus como Judas. Todos educados nas escolas da política local nos jogos de interesses e na transacção de dinheiros de um e para outro lado.

Abhisit, o inglês, nascido e educado em terras de Sua Majestade Isabel II, para além de ser novo tem uma base de sustentação cultural diferente. O caminho político também o fez nas fileiras dos Partidos em Bangkok mas não se lhe conhecem participação em negociatas. Talvez porque era um "garoto" foi a isso poupado e ainda bem. Os PhuYai tratavam dos "assuntos importantes" e assim Abhisit pode ir crescendo dentro da política olhando de fora para ela.

A sua grande fraqueza era, e de algum modo ainda é, a necessidade de, como Nong, ou seja mais jovem ter de obedecer aos Phu Yai o que lhe tira capacidade de autonomamente decidir. Para além de Mark, Abhisit tem outra alcunha que nada abona em seu favor: dek sen, ou seja o miudo que tem um padrinho, ou seja aquele que só lá chega porque o apoiam e diz-se que quem assina por ele, a outra tradução possível de dek sen, é o grande padrinho Prem.

Abhisit pode contudo sair desta crise mais forte e mais capaz de mostrar àqueles que o colocaram no poder de que tem reais qualidades para ser aquele que a Tailândia necessita para mudar o país de uma forma evolutiva mas pacífica.

Para além de ter de ganhar esta batalha contra as forças de Thaksin, que ele inteligentemente trata como pessoas, concidadãos, que têm opiniões diferentes das dele, e essa é neste momento a questão primeira, terá de o fazer sem ferir as susceptibilidades e os sentimentos dos tailandeses. Tem de ser firme mas não violento e para isso tem uma enorme tarefa, controlar as forças armadas e a polícia.

Sabe-se como estas duas corporações são difíceis de manobrar e Abhisit já provou desse fel quando fez declarações que no segundo seguinte eram destruídas ou contraditas por uma ou outra dessas forças. É sabido e conhecido as dificuldades existentes dentros destas forças onde existem facções cujos inimigos são os colegas e que por vezes tudo fazem para que esses fiquem mal colocados.

É o exercício de um poder de equilíbrio bastante difícil mas, acredito que realizável.

Por outro lado tem de reabilitar o país no fórum internacional. A Tailândia está "pelas ruas da amargura", como dizemos, e os acontecimentos do último fim-de-semana só fizeram piorar tal situação. Não se iludam aqueles, como muitos arautos perto do poder, que pensam que a Tailândia pode virar as costas ao Mundo. O país é por demais dependente das suas relações internacionais para poder sobreviver como nação isolado.

Tem de levar a cabo a política que definiu para o problema do Sul do país mas isso implica mais uma vez enfrentar os militares e todos os poderes por eles instalados na região. Sem isso e sem haver um verdadeiro respeito pelos direitos humanos no país e em especial no Sul da Tailândia nada feito. O problema dos Rohihgya é um problema importante mas de muito menor monta do que aqueles que Abhisit enfrenta no que respeita o controlo exercido pelo ISOC no Sul à conta da Lei Marcial, do Estado de Emergência e de leis especiais que permitem todo o tipo de abusos.

Outra questão pontual a resolver é a crise económica, constantemente agravada com a deterioração da situação política e militar. O desemprego não para de aumentar e quando não há pão na mesa a razão perde-se muitas vezes.

Para final a reforma não só da famigerada Constituição mas essencialmente de todos os órgãos que servem para defender os cidadãos e para regular o funcionamento dos órgãos do estado. Os actuais detentores desses órgão exercem o poder que lhes está atribuído de uma forma politizada, pior partidarizada, ou seja não o fazem tendo em conta os interesses dos cidadãos e do país mas em função de interesses próprios de alguns. O poder Judicial, um dos vectores mais importantes de um estado sério e cumpridor de regras. sejam elas ocidentais ou asiáticas, está não ao serviço desse cumprimento de leis e regras mas ao serviço de ideários políticos e assim perde toda a clarividência se é que alguma queria ter.

Para finalizar Abhisit tem de levar ao banco dos réus os lideres do PAD e responsabilizá los por todos os danos causados ao país e pelo abusivo desrespeito da lei e mesmo do monarca reinante.

Dirão; tarefa tamanha para o jovem Primeiro-Ministro!. É verdade que é e não creio que a possa realizar de animo leve, ainda por cima porque tem também de se precaver dos seus "amigos" e de muitos que polulam à sua volta. Mas uma coisa estou certo. Olhando para o panorama dos homens públicos actualmente existentes na Tailândia, Abhisit Vejjajiva é aquele que, no meu entender, reunirá mais condições para encontrar uma plataforma capaz de conduzir o país a evoluir de forma serena e cordata.

E este é o momento que terá de aproveitar para sair daqui vencedor mas sem esmagar os adversários. Sair de cabeça erguida e capaz de poder dizer, a todos tratei com dignidade, mas fui eu que consegui guiar este barco para bom porto.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Situação Vista de Fora



Estou ainda em Lisboa e tenho portanto a oportunidade de ver, e ler aquilo que a imprensa internacional vai falando acerca dos confrontos em Bangkok.

Tenho em simultâneo informações provenientes de amigos e colegas em Bangkok e é interessante ver a diferença dos ângulos pelos quais se abordam os acontecimentos.

De Bangkok um amigo dizia-me estar a gozar o feriado, hoje, amanhã e depois são feriados devido ao Songkran, aproveitando para nadar na piscina de sua casa. Outro, lamentando-se sobre tudo o que estava a acontecer disse ir passear com o sobrinho de dois anos para um Centro Comercial. Outro mostrava-se indignado com os distúrbios na rua mas ia dormir tranquilo e um outro ainda nada me dizia e quando eu lhe perguntei só me disse que era muito mau e que as pessoas não pensavam no país.

Nada de drama. Alguma tristeza, alguma insatisfação, talvez cansaço de amarelos e vermelhos mas só isso.

Visto daqui temos o Times a acusar o governo da Abhisit, um seu natural, de estar a esconder ao país as mortes que já terão ocorrido. A AFP bate na mesma tecla e anuncia a cavalgada dos militares em direcção ao Government House na tentativa de desalojar os manifestantes.

A SIC mostra numa reportagem imagens de Bangkok onde se v~em os confrontos de rua a polícia e os militares a a lançarem granadas de gás lacrimogéneo e dois militares a dispararem as suas metralhadores em direcção, sem a mínima dúvida, dos manifestantes. Fortemente armados os militares, onde estavam eles quando o Governador de Samut Prakan solicitou o apoio para libertar o aeroporto em Dezembro, avançam disparando para o ar mas como disse alguns directamente sobre as pessoas.

Vê-se igualmente nessa reportagem duas pessoas, indefesas, uma delas, manietada a ser pontapeada na cara por um militar e outra, uma mulher, a ser arrastada pelos cabelos rua fora por um elemento trajado á civil, mas saído de trás das barreiras de militares.

Estas imagens mostram uma Bangkok anárquica, com manifestantes a atacarem as forças militares sem medo e estes avançando de forma compacta mas também sem um claro comando.

Desde o ano passado é sabido que as forças militares e militarizadas têm um comando dividido não só naquilo que são os objectivos mas também na forma de actuar. É sabido que por exemplo na Polícia há comandos que se degladiam e lutam entre si dando azo a que algumas acções acabem no fiasco que têm sido.

De Bangkok chegam umas vozes de desacordo, de tristeza mas a população, a grande maioria que sempre se pôs de fora quer contra amarelos quer vermelhos, essa leva a sua vida de forma pacífica tentando prosseguir em frente e encarar o amanhã de forma positiva.


Entretanto um novo elemento apareceu nesta guerra de cores. O já muito falado Nevin, criou os "azuis". Não se sabiam muito bem quem eram e porque se lançaram na defesa do aeroporto de forma a serem os guardiões dessa porta do país. Na realidade são uma força arregimentada e bem paga para lutar, agora contra os vermelhos, para evitar que algo aconteça no aeroporto e nos negócios de Vichai o todo poderoso dono do King Power, o operador do freeshop, e o maior financiador do Partido Bhumjai Thai.

Jornalismo e a Crise


O Miguel Castelo Branco no seu estilo sem lobi, sem seita e sem religião escreve que nunca se fiou nos noticiários para partir para a sua crónica da noite passada no "acampamento vermelho" e pelo que se pode ver na foto abaixo da prestigiada AFP e por vezes os media dão-lhe razão.


Aconselho a ler o descrito pelo Miguel e acrescentaria que o caos parece ter invadido certas partes da cidade de Bangkok enquanto noutras se celebra o Songkran , o Ano Novo tailandês, o festival da água. Ainda há pouco um amigo meu me dizia que estava a desfrutar o feriado na sua piscina, bem no centro da Bangkok.

Os rumores são muitos, a contrainformação ataca e as notícias nas televisões tailandesas são censuradas.


Já há dias referi que quando Thaksin começou o ataque ao Conselho Privado do Rei passou uma porta fechando-a atrás e ficou sem possibilidade de retroceder.


Para ele neste momento o único caminho é seguir em frente e lançar os seus apoiantes numa luta que nem muitos entendem. O objectivo de destituir Abhisit não é de si um objectivo muito aglutinador visto inclusive o PM ter legitimidade proveniente da Assembleia para estar no lugar.


É sabido que foi lá colocado na sequência dos fortes disturbios causados pelo PAD e pela conjugação da força do dinheiro que fez mudar Deputados e das armas que Anupong "apontou" à cabeça de alguns dos lideres que antes estavam do lado de Thaksin, mas o certo é que alguns resistiram a esse dinheiro e a essas ameaças mostrando a "liberdade", palavra tão mal tratada neste reino, de escolher.


O facto é que Thaksin se lançou numa clara luta pelo poder, numa "revolução" como ele disse, com contornos de luta contra a monarquia tal como ela é entendida por Prem o primeiro alvo da ira de Thaksin.


Nos mentideros sempre tem sido esta a pedra de toque de todas as más previsões sobre o futuro do país e sempre se disserta acerca de quando é que essa luta se inicia. Thaksin quis que ele tivesse lugar antes do tempo e decidiu avançar de peito aberto, o dos seus "soldados" que não o seu, para ela.


A ameaça de que entraria no país para liderar os seus apoiantes ganha forma. Já no passado, em Dezembro, pensei que isso iria acontecer mas neste momento estou mais convicto dessa possibilidade.


Não se têm ouvido nenhuma voz capaz de iniciar algum processo de trégua, alguma forma de compromisso, tão asiático, e por isso a luta avança. É certo que as "milícias vermelhas" estão cansadas com menos recursos do que os militares mas é igualmente certo de que por vezes nestes momentos se "faz das tripas coração" e se luta sem tréguas.


À pouco diziam-me de Bangkok que se tinha amigos, turistas, por lá lhes deveria dizer para saírem. Não conjugo dessa opinião pois os incidentes não estão disseminados por toda a cidade nem existe um clima de guerra aberta. Existem confrontações é certo mas circunscritas aos locais onde as duas formas em campo se encontram. São aquilo que se pode chamar, para meu contragosto por detestar adjectivos, "arruaceiros" que andam de um lado par o outro da cidade provocando distúrbios que são por vezes enfrentados pela polícia ou militares. Por isso quem não quer ser herói que não vista a capa. Eu próprio amanhã demandarei a cidade pois as férias estão perto de terminar.


A situação é imprevisível e porventura incontrolável mas está em todos e cada um de nós a capacidade de actuar para a não tornar ainda pior.


Os tailandeses já tiveram crises destas no passado. Diziam-me à pouco que era pior do que a de 1992 mas até agora têm sabido manter a capacidade de não "atirar às cegas" razão pela qual não á mortos apenas feridos ligeiros. São assim os tailandeses mas aqueles que puxam os cordéis de um e de outro lado por vezes respeitam pouco a vida dos seus "soldados" e esse pode ser um problema.

Imagens Recentes

O carro do Secretário-Geral



A desorganização das forças policiais

Carros de combate em Bangkok



À porta da Cimeira



Violência no Hotel em Pattaya




Evolução da Situação


Charnvit Kasetsiri, antigo reitor da Universidade de Thammasat disse "The situation has gotten completely out of hand. Violence and bloodshed is very much possible" e recomenda ao Primeiro Ministro que se demita e convoque eleições como uma das propostas para obviar a esse banho de sangue que prevê. É uma mensagem clara e séria embora não a subscreva a 100% visto entender que os tailandeses, por natureza pacíficos, tudo tentarão para obviar a esse banho de sangue.

Abhisit apareceu ao início da madrugada na televisão rodeado de vários Ministros, incluindo Suthep e dos lideres militares e da polícia tentado contradizer os rumores de divisões no seio da coligação no poder.

Entretanto em Bangkok os eixos centrais e intersecções estão ora controladas por militares ou por "vermelhos" quer utilizando táxis quer autocarros que desviaram para esse efeito. Não existem até este momento confrontações entre estas duas forças mas o certo é que ambos os campos se preparam para isso tendo mesmo Thaksin, em mais uma comunicação ao país, dito que se os militares atacarem entrará no país pare ele próprio dirigir a "revolução", foi essa a palavra usada contra as forças "anti democráticas".

Como já tinha repetido há dias Thaksin e as suas forças vermelhas deram um passo em frente de tal modo decidido que não existe possibilidade de retorno. Agora o caminho é como diria El Comandante, Vitória ou Morte.
O clan Shinawatra

Os tailandeses por tradição acabam por conciliar e pode ser que consiga aparecer uma mente iluminada que consiga encontrar uma solução par esta crise que é de extrema gravidade e se consiga fazer com que os principais actores saiam de cena, regressem aos camarins e se reformem dando lugar a gentes "de bem" (deteste estes palavrões mas eles são elucidativos) que possam desviar este povo de um caminho cuja maioria não quer. Recorde-se que desde o tempo dos 2amarelos" todas as sondagens davam cerca de 70% a favor daqueles que não queriam nem uns nem outros mas as maiorias silenciosas são assim por natureza e não se manifestam.

Quer Abhisit quer o seu Secretário-Geral sofreram ligeiros ferimentos na fuga do Ministério do Interior mais uma vez sem que as forças da "ordem" nada fizessem como sempre acontece. esta inacção é confrangedora e põem sérias duvidas sobre a capacidade de se fazer impor a lei e ordem.

O próprio PAD, embora actualmente dividido, saiu a terreiro criticando o Governo e pedindo ao PM que demitisse Suthep pelo facto de ele se ter mostrado incapaz de assegurar a ordem durante a cimeira de Pattaya. Começam a escassear os apoios á coligação. Mesmo os militares como é de todos conhecido não estão todos no mesmo barco e existem fortes divisões no seu seio.

A não condenação clara do PAD por parte do Governo e de Abhisit em particular. foi uma dos maiores erros que o PM fez pois desde esse momento nunca se conseguiu libertar dessa grilheta que sempre o tem importunado. Para além disso o facto de ter um Ministro, Kasit, e vários assessores provenientes do PAD nunca lhe permitiu poder actuar de forma clara contra as forças de Thaksin que se vêm legitimadas pela inacção do sistema judicial e do Governo face aos actos levados a cabo pelo PAD.

A falta de controlo da situação par parte do governo e das "forças da ordem" está a estender uma passadeira para o golpe de estado militar que nem os próprios, penso, desejam visto se isso acontecer vão ter de lidar com os graves problemas financeiros que o país atravessa para além do crescente isolamento da Tailândia no seio da comunidade internacional.

domingo, 12 de abril de 2009

Estado de Emergência


Aparentemente sem necessidade Abhisit Vejjajiva declarou o Estado de Emergência em Bangkok, Nonthaburi e alguns distritos nas províncias de Samut Prakhan, Pathum Thani, Nakhon Pathom and Ayutthaya.

A razão invocada foi a necessidade de devolver a ordem ao país.

Imediatamente após a declaração do Estado de Emergência os "camisas vermelhas" a a Polícia envolveram-se em escaramuças dentro do Ministério do Interior em mais uma demonstração da incapacidade das forças da ordem para serem exactamente isso, forças capazes de impor a ordem.

Segundo me comentaram a declaração do Estado de Emergência foi uma imposição dos militares ávidos de instrumentos que lhes permitam controlar, ainda mais a situação sem terem de recorrer ao golpe de estado que lhes corre nas veias, qual sangue que os alimenta.

Suthep Thaugsuban, o Vice Primeiro Ministro, ficou encarregado de impor a observância do Estado de Emergência, ele que é no Governo o responsável pelas questões de segurança e o elo principal na relação com o General Anupong.

Hoje começa na Tailãndia o Songkran, o festival da água e estou intrigado como é que as forças da "ordem" vão lidar com os bandos de jovens que irão correr toda a cidade festejando o evento. Como se sabe durante o Estado de Emergência é proibido ajuntamentos, tal qual aqui em Portugal no tempo "da outra senhora". Será que mais uma vez uma medida do Governo será só para anunciar na Televisão mostrando alguma autoridade mas na prática ninguém a acatará?

Está a tornar-se por demais evidente que o cumprimento da lei passa ao lado do funcionamento do dia a dia do país e isso vê-se pela forma simples e eficaz como quer os vermelhos quer os amarelos no ano passado, atravessavam barreiras da polícia e de militares, violavam todas as leis em vigor perante o sorriso daqueles que as deveriam fazer cumprir.

Abhisit cada vez mais mostra ser uma figura perdida no mar de contradições que é esta coligação no poder que na realidade não tem poder nenhum visto eles estar sediado noutras paragens.

Quando é que alguém será capaz de entender que só no momento em que todos e nesta palavra cabem mesmo todos, acatem a lei, cumpram os deveres constitucionais e respeitam a autoridade, não a das armas mas a do poder emanado das regras de convivência democrática e cumpridora dos preceitos de respeito pelo ser humano?

A partir desse momento talvez seja possível começar a pensar o país e a reconstruir a credibilidade que já se perdeu no contexto das nações, o que é extremamente penalizador para um país tão dependente do exterior como é a Tailândia.

A Cimeira da Pattaya


Como hoje disse Abhisit Vejjakiva, o Primeiro Ministro da Tailândia, todos perderam neste fim de semana.

O cancelamento das cimeiras da ASEAN+3 e EAS é uma tremenda derrota política para o país.

Esta cimeira era um desdobramento da cimeira realizada em Cha-Am/Hua Hin no final de Fevereiro e devido ao facto de essa cimeira não ter sido possível no momento que inicialmente estava marcada ou seja 15 de Dezembro de 2008. A China, a dias de preparar a Assembleia do Povo obrigou a desdobrar as cimeiras e que fossem agendadas para uma data posterior. Inicialmente marcadas para Phuket, o Japão opôs-se devido às preocupações de segurança. Os japoneses temiam que, à semelhança do que tinha acontecido em Dezembro, o aeroporto da ilha no Sul fosse bloqueado e tornado inoperacional e os seus Ministros e restante delegação ficassem prisioneiros em Phuket. Desse modo a diplomacia tailandesa mudou a cimeira para Pattaya, alegando que os hotéis estavam cheios, visto aí ser possível, assim se pensava, controlar melhor os movimentos dos opositores do Governo da coligação liderada pelos Democratas.

No contexto actual as cimeiras da ASEAN+3 (China. Coreia do Sul e Japão) e EAS. aqueles mais a Austrália, Índia e Nova Zelândia, eram de grande importância no ideário da ASEAN de se tornar a força dominante na região Ásia/Pacífico.

A necessidade de cancelar as cimeiras como disse é uma enorme derrota para a liderança da ASEAN e para a Tailândia como país no contexto internacional, para além de ser mais uma machadada na credibilidade que o país tinha nas relações entre nações, e tem vindo a perder desde os acontecimentos de 2008.

Os noticiários em Portugal hoje abriam com as notícias do que se passava em Pattaya e a reacção da pessoas era invariavelmente de descrença no país. É isso que estes acontecimentos reflectem nas pessoas para além das perdas políticas e diplomáticas no contexto das relações entre estados.

Acresce a isso que a já débil relação com o maior investidor no país, o Japão, vai continuar a degradar-se com o necessário efeito na economia tailandesa. Conhecendo como conheço os diplomatas japoneses sediados em Bangkok e as regras e instruções que têm, tenho a certeza de que a esta hora estarão a transmitir para Tóquio relatórios pouco favoráveis ao país.

Mas como é que tudo isto aconteceu quando este Governo é fortemente apoiado pelos militares e forças da polícia. Como acontece quando o local onde os trabalhos deveriam decorrer era um conjunto de hotéis de protecção muito fácil e por outro lado era sabido que o MNE tailandês, em conjunto com o Ministério do Interior, tinha o assunto bem preparado.

Mais uma vez se viram as deficiências de comando das forças militarizadas que já se tinham manifestado em 2008, embora nessa altura houvesse uma vontade clara de não obedecer ás decisões do Governo. Apesar da declaração do Estado de Emergência as forças da "ordem" mostram uma terrível ineficácia e inaptidão para lidar com movimentos contestatários sejam eles de que teor forem.

Acresce a isso tudo a falta de voz de comando político e a fraqueza do próprio PM que acaba por ser mais vitima do que culpado.

Para finalizar existem muitos ditados em Português e ensinamentos do budismo para explicar isto mesmo. Nós dizemos, "não faças aos outros aquilo que não queres que façam a ti", "quem semeia ventos colhe tempestades" e os budistas dizem que "se recebe sempre aquilo que se pratica, faz".

O Governo e as forças que o apoiam não conseguem (não querem) fazer justiça no caso das graves violações da ordem causadas pelo PAD durante os 193 dias em que se passearam por Bangkok e destruíram, para além da confiança dos investidores e turistas, a Government House e variados outros locais da cidade e Aeroportos.

Abhisit se quer trazer calma ao país não pode deixar de punir quem viola a lei. Por muito que as forças mais reaccionárias que o apoiam queiram tudo apagar se isso não fizer nunca mais terá sossego e nem a propalada captura/assassinato de Thaksin, fazendo-o sair de cena trará a calma que o país necessita.

É tempo de aprender que a lei tem de ser igual para todos e que ninguém, mesmo ninguém está acima dela.