quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Lisboa


Não posso deixar de chamar a vossa atenção para as imagens de Lisboa do fotógrafo António José Ribeiro hoje publicadas no Blog Lisboa SOS.


Aqui fica um cheirinho de uma que muito gosto.

1 de Novembro

No Dia 1 de Novembro o UDD/DAAD vai organizar uma grande concentração, felizmente longe do local onde acampa o PAD onde está prevista a participação de mais de 100.000pessoas.

Será num dos grandes estádios da capital e é esperada a "entrada em cena", em directo de Londres, de Thaksin.

Este evento não traz na da de bom e os efeitos dos preparativos para aquilo que pode ser uma contra ofensiva contra o PAD já se fizeram sentir esta noite com a explosão de alguns engenhos junto de lugares ocupados pelo PAD que causaram, embora as informações ainda sejam um pouco contraditórias, dois mortos e uma dezena de feridos.

Sabe-se que houve troca de tiros junto de Makkawan Bridge bem como que explodiram algumas granadas no local que terão causado os danos quer pessoais quer materiais. De igual modo junto da casa do Presidente do Supremo deflagrou uma bomba que causou alguns estragos. Um homem foi encontrado baleado também junto do PAD mas apesar de estar identificado não se sabe bem se tem alguma relação com os eventos ou não. Um outro socumbiu mais tarde aos ferimentos.


Entretanto o General Kattiya Sawadiphol, especialista em balística e próximo de Thaksin veio dizer nada ter a ver com o acontecido mas que se o PAD persistisse em manter-se na Government House muito provavelmente mais guardas do PAD viriam a ser abatidos. Acrescentou que no futuro o PAD poderá ser atacado com misseis RPG e granadas M79 mostrando um grande conhecimento sobre os acontecimentos.

Parece estar em vias de ser encontrado o álibi para que o General Anupong possa avançar para o tanto falado e desmentido golpe de estado.

A maioria da população está contra um golpe mas também está contra a presente situação. Os militares de algum modo também estão contra essa arma que possuem visto saberem bem o quanto perderam e o quanto o país perdeu com o falhado golpe de 2006. Se avançarem, vão ter de abolir a Constituição que eles mesmo criaram, vão ter de enfrentar um momento de grande crise internacional com as já faladas repercussões no país e acima de tudo vão ter de explicar muito bem à população qual a causa pela qual se batem.

Contudo há forças muito fortes que só conhecem esta estratégia do golpe de estado como via de solução das questões políticas no país.

É também interessante ver que inclusive o PPP poderá sair reforçado se vier a haver um golpe visto se criar um motivo e uma nova causa que una as partes actualmente ainda um pouco divididas.

O dia 1 de Novembro é aquele onde as atenções agora se concentram e ontem comentava-se abundantemente num encontro onde havia muitos diplomatas que o golpe sairia á rua no próprio sábado.

Resta esperar mas uma questão parece clara. Qualquer situação não é de fácil solução e quem vai ganhando com isto é o Governo e os seus apoiantes e quem por certo sem nenhuma discussão saia a perder é a Tailândia.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

No News


Costuma-se dizer " no news is good news" mas tal não parece ser o caso aqui em Bangkok.

Nos últimos dias a situação política tem estado "calma" sem aparentes incidentes, mesmo monótona para alguns, mas muitas coisas estão a acontecer nos bastidores. Ontem o PM Somchai e o General Anupong visitaram o Sul do país numa jornada sem incidentes e no meio de sorrisos, dizem uns, amarelos.

Como sempre umas boas e outras más.

De repente parece ter havido uma onda em alerta sobre aquilo que podem ser os crimes de lese majesté. O ISOC, Internal Security Operations Command, um orgão do estado que funciona como um poder dentro do poder, requereu que o General Anupong liderasse uma campanha para observar o total respeito pela monarquia. De imediato saiu a terreno avisando de que os militares não tolerariam que a monarquia fosse envolvida nas discussões políticas actuais. O Ministro da Informação e tecnologia também disse ir disponibilizar uma verba até 10 milhões de Euros para implementar um firewall capaz de melhor escrutinar os sítios de internet adversários da monarquia.

Hoje um jornal comentava que este alerta em que eram postos os militares, combinado com a manifestação prevista para Sábado a realizar pelos apoiantes do PPP, com a eventual participação de Thaksin via vídeo, eram os preparativos necessários para levar a cabo o golpe de estado, falhado na intervenção televisiva de há dias.

Entretanto o PAD solicitou autorização para armar os seus guardas isto depois de, há boa maneira de milícias populares terem detido um grupo de manifestantes do UDD, e os mantenham em custódia dentro da Government House, sem que orgãos a quem compete fazer cumprir a lei tenham alguma intervenção.

Noutro acontecimento paralelo, finalmente ao fim de três adiamentos, os três deputados do Partido Democrata que eram acusados de fraude eleitoral, foram julgados e um deles, o que é executivo do Partido e portanto se fosse condenado poderia levar à dissolução do Partido, foi absolvido e os outros dois levaram uma advertência, aqui chamada, à boa maneira futebolística um cartão amarelo.

Está assim afastada a hipótese de também o Partido Democrata vir a ser dissolvido. Isso agora só está em curso para os partidos no poder.

Entretanto do outro lado da moeda o Governo decidiu ontem alargar até 10 de Agosto de 2011 o prazo até ao qual os depósitos em bancos tailandeses são garantidos a 100% numa medida para introduzir mais confiança no sistema bancário. A crise mundial não tem tido um impacto directo na Tailândia mas tem, de uma forma indirecta e também através da falta de confiança mundial nos sistemas financeiros, feito com que a bolsa perdesse desde o inicio do ano mais de 50% do seu valor, fundamentalmente pela saída de investidores estrangeiros a necessitar de liquidez, e feito com que o investimento directo tivesse caído para níveis que por certo implicarão uma quebra do ritmo de crescimento da economia a médio prazo. De igual modo o consumo privado retraiu e o Governo, que tenta lançar grandes projectos infraestruturais para animar a economia, está paralisado nesse particular. Ontem mesmo era para ser anunciado o vencedor do concurso para uma nova linha de metro mas o Ministério Público requereu o seu adiamento.

Uma boa notícia foi a realização ontem em Nakhon Ratchasima (Korat), a terceira maior cidade do país, de uma manifestação conjunta de camisas amarelas e encarnadas.

As camisas amarelas, símbolo de respeito pelo Rei, foram "apropriadas" pelo PAD como a cor do seu desafio e o UDD decidiu utilizar o encarnado como a cor que se lhes opunha, ao PAD, não ao Rei.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Santa Cruz - Bangkok



Na Tailândia, onde 86% da população é Budista, existem cerca de 3% de católicos e os portugueses, tendo sido os primeiros ocidentais a aportar ao reino do Sião em 1511, tiveram grande influencia nisso deixando as suas marcas com a construção de três igrejas na região de Bangkok para alem das existentes na antiga capital Ayuthaya.

Cinco anos após a chegada dos portugueses à antiga capital do Sião foi assinado um tratado pelo qual seriam fornecidas armas aos siameses, para os ajudar na sua luta contra os birmaneses, e em 1567 foram estabelecidas as primeiras igrejas em Ayuthaya ao mesmo tempo que chegavam padres além de frades e freiras missionários.

Após a queda de Ayuthaya às mãos dos birmaneses, em 1767, o General Taksin, reagrupou as suas forças em Chantanaburi e contando com o apoio dos portugueses, que lhe forneciam canhões e mosquetes, recomeçou a sua campanha de reconquista e expulsão dos atacantes.

Como agradecimento pelo apoio Taksin o Grande ofereceu uma parcela de terra aos portugueses para ai construírem uma igreja. A área era, e ainda é, conhecida como Kudi Jeen (a actual igreja era chamada de Wat Kudi Jeen). A igreja, construída completamente em madeira em 1770 veio a degradar-se, com o andar dos anos e as humidades do rio, e em 1835 o Cardeal Pallegoix procedeu à sua reconstrução denominando-a definitivamente como Igreja de Santa Cruz.


A actual estrutura foi reconstruída em 1913, por arquitectos italianos, já no reinado do Rei Rama VI, e é assim que existe até aos nossos dias.

O "bairro" de Kudi Jeen está situado nas margens do Chao Praya, em Tomburi, não muito distante do Wat Galyani e do Wat Arun. É aí no seu centro e mesmo em frente ao cais de santa cruz que se situa a Igreja, um dos símbolos da presença Portuguesa na capital.

Para além da Igreja de Santa Cruz existem, por perto, escolas com a mesma denominação e vendem-se numa loja nas pequenas vielas do emaranhado que é Kudi Jeen, uns bolos semelhantes aos nossos queque a que chamam "bolos dos estrangeiros".

No adro da Igreja existem imagens de Nossa Senhora, São José e Santo António para além de um crucifixo de razoáveis dimensões. e um conjunto de uma dezena de sepulturas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Breve nota

A situação politica está calma naquilo que parece ser um momento em que cada uma e todas as partes tentarem desenhar a sua próxima estratégia.

O PAD levantou ancora de Makawan Bridge deixando a Radjamnoen avenida para os militares limparem de modo a começarem os preparativos para os dois eventos próximos. A cremação da Princesa Galyiani e o aniversário do Rei. Ontem mesmo realizaram-se ensaios na Royal Plaza preparativos das festas de 5 de Dezembro, aniversário do Rei.

O General Anupong, depois do falhado Golpe televisivo, está sem causa para intervir. Este fim de semana falava-se muito no acontecer outro golpe, à semelhança com o de Setembro de 2006, visto o Primeiro Ministro ter estado em Pequim a participar na cimeira da ASEM. Contudo para haver um golpe tem de haver uma razão e neste momento não parece haver nada. Passaram os acontecimentos sangrentos de 7 de Outubro, foi tentado forçar o PM a demitir-se através da televisão. Nada resultou. Agora há que esperar. O relatório sobre a quem atribuir as culpas dos incidentes de 7 de Outubro deve estar para sair e no caso de condenar o PM ele próprio disse que assumia as consequências do facto se se mostrar a sua culpabilidade. Já tive a oportunidade de ver o vídeo sobre o que aconteceu e, para uma visão independente e de fora como a minha, não posso deixar de culpabilizar a Polícia e sobretudo o seu comando pela forma totalmente amadora como tentaram dispersar os manifestantes.

Vê-se os Policia a atirar granadas de gás lacrimogenio sem a mínima noção daquilo que estavam a fazer. Basta ver que os agentes avançaram disparando as cápsulas, sem nexo, sem estarem eles próprios protegidos. Por outro lado é sabido que foram utilizadas granadas de muito baixa qualidade e com a data de validade expirada. Uma coisa é clara: a total falta de preparação da Polícia para enfrentar este tipo de situações que depois dá os resultados que se sabe. Três mortos e mais de quatrocentos feridos.

Mas um golpe militar parece neste momento estar foram do horizonte a curto prazo por falta de causa para tal.

Do outro lado da barricada, os apoiantes do ex PM Thaksin, vão realizar um comício no dia 1 de Novembro, para o qual são esperadas cerca de 80.000 pessoas e onde o fugitivo ex PM deverá falar de Londres. Estava previsto que uma das estações de televisão o transmitisse mas o bom senso imperou e isso não acontecerá. Fica reservado para os seus apoiantes. Contudo Thaksin deveria entender que a sua carreira política acabou, com a sentença do dia 21, e só se conseguir encontrar um motivo para forçar uma reapreciação do processo, e se tal lhe for positivo, é que poderá readquiri os seus direitos. Caso contrário é como se diz em inglês numa frase que sempre achei muito apropriada: curtains.

Aquele que neste momento está a ganhar algo é o PM Somchai visto o tempo correr sempre a seu favor. Quanto menos barulho houver mais fácil é a sua vida. Tenta forçar o arranque da Assembleia Constituinte mas o processo não se apresenta fácil visto ter a oposição dos Democratas e de um numero considerável de Senadores. Como já referi, ainda que emendar a Constituição seja útil e necessário, os opositores pensam sempre que tal intenção está relacionada com uma eventual amnistia para Thaksin.

O país continua com este grave problema de todo e cada um ser visto a favor ou contra Thaksin. Os tailandeses, na maioria, não conseguem entender a existência de vias alternativas. Quando se comenta uma actuação está-se sempre, no entender corrente, a favor ou contra o "fantasma". O pior é que esse "fantasma" insiste em se materializar por vezes.

Ontem um grupo de académicos veio apelar uma vez mais a todos para que não provoquem violência e se remetam aos seus cantos evitando a confrontação.

O facto é que as confrontações verbais ou por vezes mesmo físicas são aquilo que mais excita as multidões e faz viver estes movimentos com muito sabor anarquista.