sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Comício dos Democratas

Ontem aconteceu o comício dos Democratas e felizmente acabou por tudo correr da melhor maneira.

Pode dizer-se que só houve dois incidentes, se assim se poder apelidar os factos. Uma dúzia de "camisas vermelhas" vestidos como fantasmas apareceram no templo Pathumwanaram, onde no dia 19 de Maio de 2010, morreram, em condições que ainda por esclarecer, como aliás com todos os outros casos, enfermeiros voluntários da Cruz Vermelha que estavam a ajudar mulheres e crianças das hostes vermelhas que para ali tinham sido levadas. A polícia eficazmente manteve "os fantasmas" calmos e afastados do local onde estavam concentrados os líderes Democratas. O outro foi o facto do Vice PM Suthep ter, numa parte da sua intervenção, atirado para o ar uma afirmação que deixou, mesmo os presentes de boca aberta e estupefactos. Afirmou que quem estava na origem do assassinato, ele chamou-lhe morte, do general vermelho Saeh Daeng era o líder vermelho e actual candidato a Deputado pelo partido da oposição Jatuporn Prompan. Se não fosse triste daria vontade de rir.

Mas o ponto importante é que a manifestação decorreu sem incidentes e ganhou a Democracia.

Quanto aos números dos presentes houve contudo elementos interessantes. Hoje o jornal Bangkok Post afirmava que tinham estado presentes 30.000 apoiantes dos Democratas.

Vejamos a informação que obtive: do próprio Director da Campanha Democrata, o ex ministro Korbsab, 6.000; de um jornalista inglês presente no local 5.000; de uma agência que monitoriza este tipo de acontecimentos 5 a 7.500 e de colegas meus, apoiantes dos Democratas, que lá foram e aí estiveram até ao final "não mais do que 5.000".

Quer estes últimos quer a agência LBG afirmaram que o tráfico na zona era melhor do que em qualquer dia normal, porque muitos evitaram o local e porque os apoiantes dos Democratas se estenderem somente pelo passeio frontal ao Central World não "pisando" a rua que lhe fica em frente, Rajaprasong.

Por todas estas informações que obtive, e nas quais acredito, não compreendo como um jornal que deve ter como principal objectivo informar, consegue descobrir o número de 30.000 manifestantes sem ter a noção de que vai cair no ridículo. Bastava seguir, como fiz, o "live stream" do local ou os Twits contínuos que de ali se faziam, inclusive de Abhisit, Apirak e Korbsab, para se ver que o numero de presentes deverá ter andado por volta dos 5.000 ou pouco mais conforme os outros relatam.

Jornalismo de má qualidade informativa.

Entretanto os líderes do Pheu Thai e do Chart Thai Pattana afirmaram que afinal o comício dos Democratas não trouxe nada de novo como prometia Abhisit e não foi mais do que a repetição das mesmas mensagens.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

23 de Junho

O dia 23 de Junho, hoje, é um dia que vai ficar marcado na história da Tailândia e por duas razões.

Acaba de ser publicado no blog New Mandala a primeira parte de um longo ensaio sobre a Tailândia baseado nos telegramas americanos, relativos ao país, que foram dados a conhecer através do que é conhecido como Wikileaks, e que por razões que poderão entender fizeram com que o seu autor, Andrew MaGregor Marshall, o numero dois da Reuters em Bangkok tivesse de pedir a demissão abandonado o país onde por certo não poderá voltar a entrar. O jornal inglês The Independent traz hoje um texto de Marshall onde ele explica as razões para tal.

A segunda razão é o facto de o Partido Democrata realizar hoje um comício que está a levantar muitas dúvidas a muitas pessoas. Será o ponto alto da campanha em Bangkok e vai ser realizado no local onde há um ano tanto aconteceu como a morte de dezenas de pessoas e o incendiar de muitos edifícios daquela zona. Estou a falar de Rajaprasong.
Nesse comício os pesos pesados dos Democratas irão falar e Suthep disse ir revelar a "verdade" sobre o que aconteceu em Maio de 2010. Recorde-se que o PM Abhisit em Outubro de 2010 constituiu uma comissão para apurar a verdade sobre o que ali se passou e esta comissão apesar de já ter produzido três relatórios para Abhisit, diz não ter conseguido terminar o seu trabalho devido à falta de colaboração de alguns dos sectores envolvidos nos incidentes.

Pelos vistos Suthep deveria ter transmitido à Comissão, nomeada pelo governo do qual é o número 2, aquilo que conhece e desse modo contribuiria eficazmente para a descoberta de toda a verdade facto essencial ao restaurar de confiança na dividida sociedade tailandesa.

Como já referi muitos sectores, inclusive do lado Democrata e da coligação que forma o Governo, já anunciaram a sua discordância temendo que o local do comício seja visto com o uma provocação e possa desencadear actos de violência que inclusive poderão levar à paragem do processo eleitoral em curso.

O partido da oposição e os "camisas vermelhos" já avisaram todos os seus apoiantes para se manterem afastados do local e não caírem em nenhuma armadilha que porventura possa estar a ser preparada por terceiras partes sempre tão interessadas em criar situações das quais se possam aproveitar.

Contudo familiares das vítimas de Maio de 2010 anunciaram que não tolerarão que Suthep venha acusar os que ali morreram de actos dos quais não são responsáveis, no entender desses familiares, que continuam a esperar que justiça seja feita.

Os ingredientes para agitadores se aproveitarem da situação estão criados e a polícia montou um forte dispositivo de segurança (sabendo-se quão eficaz isso tem sido no passado duvida-se que resulte se necessário) e o comandante do exército ordenou que os seus homens estivessem preparados subindo o nível do alerta de segurança. Foram inclusive movimentadas tropas para a capital.

Este comício tem a capacidade de ser um grande acto de Democracia, se todas as partes souberem o que é o respeito por esta forma de estar na sociedade, e assim saírem vitoriosos, quer os Democratas quer os seus opositores, ou pode acabar sendo o oposto e agravar ainda mais a divisão existente na sociedade.

Esperamos que prevaleça a primeira e que amanhã os Democratas se orgulhem do seu comício, do facto de terem transmitido a sua mensagem, sem abusar de outros, e que o Pheu Thai esteja de mente tranquila e satisfeito por ter, através do seu afastamento, contribuído para mais um passo no processo democrático e na reconciliação no país.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Planking na Campanha

Planking é a nova moda pelo país e chegou agora á política como forma de atrair os eleitores.

Depois de já gastas todas as promessas (algumas verdadeiramente loucas) a campanha, que está a entoar na sua fase final ganha algum colorido com a planking mania que vem enchendo páginas de jornais, revistas e a social-media.

O primeiro nestas coisas foi, como sempre, Chuwit, o candidato fora do sistema, que diz somente querer ser uma voz na oposição contra a corrupção, seja quem for o governo. Colocou no seu Facebook uma fotografia planking numa praia.

Planking é como que um jogo, com alguns perigos visto já terem morrido algumas pessoas na sua execução descuidada, com origem na Inglaterra mas que tomou a sua actual denominação e iniciou a febre na Austrália a fazer fé no Wikipedia.

Com uma campanha eleitoral um pouco morta já que todas as sondagens são claras sobre quem irá vencer o planking aparece como um raio de cor (mais uma) para a política.

Talvez o mais interessante neste momento na campanha é ver-se os partidos de dimensão mediana, partidos tidos por ser os essenciais para a formação de um governo, a perderem terreno e a serem de alguma forma esmagados pela luta que se trava entre o Pheu Thai e os Democrats nos círculos onde ainda pensam ser capaz fazer mudar as intenções de voto.

O país está a mover-se no sentido de um sistema bi-partidário que no fundo corresponde neste momento da vida do processo democrático tailandês na escolha entre um lado ou o outro. Não estão em disputa esta ou aquela política partidária mas a escolha entre o modelo de estado que é defendido pelo Pheu Thai thaksinista ou pelo Democrats situacionista.
É esta a grande batalha e Abhisit, reconhecendo ontem numa entrevista o atraso atribuído ao seu partido, vai jogar muito forte amanhã realinhando um comício no exacto local onde em Maio de 2010 se desenrolaram os mais sangrentos incidentes em Bangkok. Muita gente tem vindo a lume criticando esta decisão do partido como um acto que pode constituir uma provocação e desencadear violência e de entre os que levantam a sua voz estão algumas das mais proeminentes figuras da política tailandesa e parceiros de Abhisit na actual coligação governamental. Será uma cartada muito forte com graves riscos de poder ser um tiro nos pés mas também poderá vir a desencadear actos pela outra parte que façam levantar o moral das tropas de Abhisit. A seguir muito atentamente e com precaução.

Do lado do Pheu Thai a sua candidata a PM, Yingluck fez ontem 44 anos e continua forte quer nas sondagens quer na forma como vai fazendo campanha criando a noção de ser alguém capaz, ao contrário do seu principal adversário, muito próximo do "povo da rua" facto que está a fazer que pela primeira vez Bangkok deva votar por uma larga maioria "vermelho".