quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Arissaman em Siem Reap

Há tempos falei sobre o caso de dois tailandeses que foram presos no Camboja e deportados de volta para a Tailândia num operação relâmpago que deixou muitas dúvidas.

Acontece que há diariamente relatos de que alguns dos líderes da UDD que fugiram do país na sequência dos acontecimentos do 19 de Maio se encontram naquele país e um dos mais famosos, Arissaman, o famoso cantor tornado militante político, actua mesmo no bar de um dos mais conhecidos hotéis de Siem Reap.

Ora por que é que o Camboja foi tão lesto em expulsar aqueles cidadãos, supostamente implicados no atentado contra a sede do partido Bhum Jai Thai, e porque é que "não sabe" que aqueles outros, indiciados por terrorismo e procurados pela justiça tailandesa, se encontram onde toda a gente os pode ver?

Aliás com a expulsão do Camboja do casal e com todo os actos mediáticos e alarido que a comunicação social tailandesa fez sobre o assunto este terminou e desapareceu das manchetes e o casal está em liberdade. Tratou-se tão somente de um acto de propaganda com simbolismo e sem nenhumas implicações judiciais como acontece quase sempre.

O caso de Arissaman é diferente. Ele é uma figura importante do ponto de vista político e um apoiante de causa "thaksinista". O City Angkor Hotel (mais conhecido por Nokor Kok Thlok) é propriedade de Siang Nam, um dos empresários mais próximos de Hun Sen, o PM Cambojano e amigo de Thaksin. Siang Nam é tão poderoso ao ponto de ter total autonomia na cidade mesmo em desafio, se necessário, do seu Governador, Sou Phirin.

O hotel é sempre o pouso de Hun Sen, família e amigos que para ali se deslocam de helicóptero, e está sempre muito bem guardado pelas forças de segurança do país.

Arissaman nunca será "visto" por essas pessoas já que nunca irão entregar ao "inimigo" um amigo e do outro lado da fronteira, a Tailândia, não ousa criar mais um problema com o regime de Hun Sem para além daqueles que já estão sobre a mesa do PM Abhisit.

Assim os visitantes do hotel podem deliciar-se com a música do "grande" cantor de canções do Nordeste tailandês.

Orçamento

O governo enfrenta nos próximos dias uma votação de extrema importância que é a respeitante ao Orçamento para o ano fiscal 2010/2011.

O ano fiscal tailandês começa a 1 de Outubro cada ano e o próximo Orçamento será aquele que irá vigorar no período mais crucial para a estabilização do país e a preparação, ou mesmo realização, do próximo acto eleitoral. O Orçamento contém medidas que serão extremamente importantes do ponto de vista eleitoral. O aumento dos funcionários públicos em 5% a partir de 1 de Abril próximo (bem acima da inflação esperada) e o aumento do salário mínimo para 250 bath dia (um pouco mais de 6 euros) tanbém extremamente elevadao (um pouco acima de 25%) na intenção de ganhar o coração dos eleitores através do seu bolso.

À partida, e depois da cisão que houve na coligação com a saída do Puea Pandin, a tarefa é difícil.

A coligação no poder actualmente conta com os seguintes deputados – 173 Democratas, 32 Bhum Jai Thai, 25 Chart Thai Pattana, 9 Ruamjai Thai, 5 Kij Sang Kom e 3 Mathubhum o que perfaz um total de 247.

O total de Deputados presentemente em funções é de 475 o que faz que uma maioria é obtida com os votos de 238 Deputados.

Como já referi os membros do Governo que são deputados (actualmente 34) não votam o Orçamento o que faz com que a coligação no poder não disponha do número suficiente de votos para fazer passar a lei.

A chave da questão está nos 31 Deputados do Peua Pandin. Sabendo-se que uma parte deles está neste momento alinhado com o Bhum Jai Thai de Nevin Chidchob é de crer que esses votem em consonância com o governo e permitam assim a passagem da lei. É contudo impreciso o número de Deputados que estará alinhado de um e do outro lado.

Tudo se vai jogar até ao último voto e o Governo sabe bem disso ao ponto de ter contemplado na lei orçamental uma verba de até 50 milhões de bath (cerca de 1,250 milhões de Euros) por Deputado para utilizarem em projectos no respectivo círculo eleitoral, como que uma "cenoura" capaz de ajudar a ganhar o voto.

A oposição que conta com os 189 Deputado do Pheu Thai e 8 do Pracharaj tenta também aproximar-se dos indecisos do Peua Pandin de forma a derrotar a proposta e ver o governo cair já que sem orçamento não há condições para governar e os "ratos sem o queijo" serão os primeiros a abandonar o navio que é a coligação.

Os restantes dias da semana serão intensos nos bastidores do parlamento tentando ambos os campos negociar (comprar?) os votos necessários a obter o resultado que cada facção quer.

È contudo de esperar que o Governo consiga fazer aprovar o orçamento o que lhe dará fôlego para arrancar apara um novo ano e preparar as eleições da forma que melhor lhes assegure a vitória desejada pelos seus líderes e apoiantes.