sexta-feira, 25 de março de 2011

Encerramento do Aeroporto

O Tribunal Civil acaba de pronunciar uma sentença condenando 13 líderes do PAD a pagar à AOT, a empresa que gere os aeroportos tailandeses, a quantia de 552 milhões de baht, qualquer coisa como um pouco mais de 12 milhões de euros, pela ocupação e consequente encerramento dos dois aeroportos da capital durante uma semana em Dezembro de 2008.

Será que vai ser pago é uma questão que fica no ar?

Note-se a disparidade deste número com o então calculado pelo Banco da Tailândia, o banco central, que foi de 61 mil milhões de euros de prejuízo. De igual modo bastantes companhias aéreas estrangeiras que viram as suas operações afectadas solicitaram à AOT indemnizações de largas centenas de milhões de Euros. Tal indemnizações não chegaram a ser pagas porque foram feitos acordos extrajudiciais com os queixosos. Não me parece que as companhias tivessem baixado os seus pedidos das largas centenas de milhões para se encaixarem naqueles "modestos" 12 milhões.

Um caso a seguir.

Declarações em tempo Eleitoral


Em tempos de pré campanha eleitoral muitas vezes dizem-se coisas que fazem pouco sentido e algumas provocam mais ondas de choque do que o tremor de terra ontem sentido no Norte da Tailândia cujo epicentro se situou na Birmânia não muito longe da fronteira com Chiang Rai. Desse tremor não são conhecidas as consequências no país vizinho, sempre tão fechado ao Mundo, e aqui provocou a morte de uma mulher que foi atingida pela parede da sua casa que ruiu, na província de Chiang Rai,

Foi esse o caso das palavras proferidas pelo Vice-primeiro-ministro Suthep Thaugsuban ontem e relatadas em toda a imprensa nacional e internacional.

Os jornalistas perguntavam a Suthep sobre a possibilidade de haver observadores estrangeiros nas próximas eleições parlamentares em princípio agendadas para a última semana de Junho ou primeira de Julho ao que o governante respondeu não.

Suthep numa declaração muito clara, afirmou que " Eu não respeito os estrangeiros (usou a palavra farang sinónimo de ocidentais) e acho que não temos que nos vergar a eles" para continuar dizendo não entender como é que os camisas vermelhas queriam "abrir mão da soberania tailandesa" ao requererem que observadores estrangeiros estivessem presentes durante as eleições.

Suthep estava a fazer uma intervenção política clara, tentando apelar a elementos nacionalistas mas foi pouco cuidado na forma como se expressou o que espantou tudo e todos.

Recorde-se que a Tailândia se dispensasse os "farangs" e outros estrangeiros como os japoneses, veria a sua indústria basicamente desaparecer visto ela ter por base, em mais de 80%, o investimento estrangeiro.

No que respeita a observação das eleições continua a ser confundido tal facto como uma ingerência interna nos assuntos tailandeses tal como o foi durante as eleições de 2007. Recordo que nessa altura quando o então Embaixador de Portugal, exercendo a presidência da União Europeia, foi propor ao governo uma missão de observação, tal facto originou fortes e errados comentários na comunicação social alguns mesmo de carácter profundamente xenófobo. As missões de observação eleitoral da UE acontecem em muitos países no Mundo, incluindo os Estados Unidos, e são sempre bem recebidas pois são usadas para fortalecer o processo e nunca para nele se imiscuir.

Suthep para terminar a sua cruzada anti-estrangeiro acabou a dizer que concordava com os chefes militares tailandeses no que respeita a recusarem-se a participar na reunião da Comissão de Demarcação da Fronteira (com o Camboja) agendada para Jacarta dentro de duas semanas visto no seu entender a reunião não necessitar de nenhuma mediação e deve ser somente bilateral. Suthep parece ter-se esquecido que essa reunião tinha sido previamente acordada (a 22 de Fevereiro) pelo seu colega de gabinete, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, e por certo a posição da Tailândia nessa reunião foi discutida e concertada em conselho de ministros onde Suthep é o número dois como sempre acontece nestes casos.

As campanhas eleitorais por vezes fazem com que os pensamentos e as palavras dos políticos sejam mais rápidos do que o que a cabeça deverá ditar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Demissão de Sócrates

Numa mais que anunciada e muitos dirão atrasada decisão o PM português entregou a sua "resignação" ao PR ontem ao final do dia depois de ter perdido no Parlamento o voto que lhe daria mais uns tempos em São Bento.

O Parlamento acabou por dizer Não ao PEC IV. O PSD desta vez, contrariamente ao que tinha feito antes (abstenção), votou contra o que foi o suficiente para que mais uma medida de austeridade levasse a que ao fim de seis anos o PM apresentasse a sua demissão do cargo.

Cabe agora ao PR consultar os partidos com assento parlamentar e todas as forças que entender por bem, e decidir. Poderá decidir por solicitar ao partido mais votado, o do demissionário PM Sócrates, para apresentar outro governo, pode solicitar a outro partido que se "aventure" a constituir governo ou pode, sendo esta a mais provável decisão, depois de consultar o Conselho de Estado convocar novas eleições legislativas que se realizarão num prazo de até 55 dias após a sua convocação.

O plano de austeridade ontem apresentado era o PEC IV, ou seja tinha três irmãos anteriores, três planos que se mostraram incapazes de resolver o que quer que seja e só mantiveram a nau a flutuar num mar muito revolto.

As medidas têm sido pouco criativas e assentam sempre em duas vertentes. O corte de custos públicos e o aumento da receita fiscal. Qualquer das medidas tem o seu limite e caricaturava-se há dias em todos os jornais mostrando que o PEC IV era a forma de os contribuintes irem entregar a última coisa que lhes restava ou seja a roupa que vestiam.

A capacidade dos portugueses encontrarem mais fundos nos bolsos está esgotada e pedir mais aos mesmos nada adianta a não ser manter essa nau desgovernada a flutuar por mais um tempo, cada vez mais escasso.

Em Julho do ano passado este mesmo governo que ontem "se rendeu" tinha apresentado um plano de austeridade anunciado quer pelo PM quer pelo Ministro das Finanças como a correcção necessária para os desajustes da economia portuguesa.

Esse acto mostrou a total incompetência do executivo Ou por um lado não sabia qual era a realidade financeira do país, o que é grave pois está na sua mão conhecer as contas do estado, ou por outro lado estava a mentir ao povo português levando-o a entender que aprovando aquele plano se entraria num novo capítulo de ajustes orçamentais e estruturais da economia.

Enganado Portugal lá teve de aceitar um segundo e um terceiro plano sempre com as mesmas medidas cada vez mais rigorosas mas sempre socorrendo-se dos bolsos rotos e esvaziados dos contribuintes.

A economia mundial já tinha passado pelo seu pior momento do último choque quando Sócrates apresentou ao país o seu PEC I salvador da crise que afectava o país o que lhe oferece menos desculpas.

Portugal vive sobre a espada de uma intervenção do FMI como se isso fosse uma desgraça que levaria o país para o fundo de uma escuridão de onde não sairia.

Na nossa casa não se deseja haver outros a impor regras mas quando não somos capazes, e há que lembrar que os portugueses reelegeram o actual demissionário PM recentemente, devemos aceitar isso de cara limpa e olhando para a frente e há no Mundo exemplos de sobra de países que ainda há pouco estavam nessa situação e que agora brilham (Indonésia e Argentina são dois exemplos). O facto de estarmos na zona Euro retira-nos alguma margem de manobra mas o mesmo se passou com a Grécia e a Irlanda e o facto de terem sido ajudados não lhes retirou capacidade de futuro.

O que nos tirará essa capacidade será a nossa inabilidade, se assim continuarmos, para construir o país.

Falta-nos uma noção de país, de pátria e uma capacidade de projectar vitórias. Não somos capazes de dar as mãos em seguir em frente. Só causas fúteis como a Selecção de futebol é que nos consegue aglutinar e mesmo assim teve de ser um brasileiro, Scolarai, a dar esse empurrão.

Há uma anedota que corre na net que mostra isso bem. Pergunta um português a outro. "Como é possível que um povo como o nosso descendente dos grandes conquistadores do Mundo chegue tão baixo?" E o outro responde: "Estás enganado nós somos descendentes daqueles que ficaram não dos que partiram à conquista do Mundo".

A apresentação de demissão de Sócrates, que muito provavelmente será aceite pelo PR, coloca contudo mais incertezas do que certezas.

Qual vai ser a solução possível? Quem é o líder que neste momento é capaz de galvanizar os portugueses para o futuro? Quem terá a coragem de apresentar ideias inovadoras que consigam colocar o país a olhar para a frente e não para os pés? Vem esse líder que de partido? E se as eleições continuarem a mostrar a enorme insuficiência de mentes capazes de fazer aquilo que atrás descrevo?

Confesso que tenho grande dificuldade em vislumbrar neste momento quem, será capaz de semelhante tarefa e tenho um terrível medo quando de alguma forma considero Sócrates como um dos melhores políticos actualmente em Portugal, pelo menos visíveis à superfície.

Sou voluntarista por natureza e tento pensar que há no espectro partidário português pessoas capazes da tarefa que se lhes vai pedir, mas acabo por ser pouco convicto neste meu sonho que quero que seja uma realidade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Indiferença

Desde os tempos de Thaksin Shinawatra que os Primeiros-Ministros se habituaram a ter um programa televisivo semanal onde falam aos tailandeses tentando explicar as suas políticas e atrair atenção do país e porque não dizê-lo dos eleitores já que esses programas, qualquer que tenha sido o protagonista, são sempre usados para promoção política pessoal.

Abhisit não fugiu a essa regra e desde sempre tem um programa ao Domingo de manhã nas televisões estatais. Dantes intitulava-se "Trust in Thailand under PM Abhisit weekly show" e agora chama-se "Inside the cabinet show". O programa tem como propósito mostrar ao país as políticas do governo e a forma como o são implementadas.

Hoje veio a público uma sondagem feita pelo Instituto Nacional de Estatística entre 1 e 17 de Dezembro de 2010 que mostra a indiferença do público para com o programa e a forma como tal tem crescido.

Antes 6.2% dos inquiridos viam o programa com regularidade contra somente 3,4% durante o período que correu o inquérito; Viam ocasionalmente 54,6% contra 33,1% e nunca viam 39,2% contra os actuais (Dezembro) 63,5%. A diferença é bastante significativa e mostra um desinteresse pelo programa perto do dobro do anteriormente registado.

Também aqui na Tailândia, como em muitos outros países no Mundo, começa a haver um sentido de desinteresse pelas questões da política que se torna preocupante. As pessoas a cada dia sentem mais as preocupações e as dificuldades com o aumento do custo de vida e é isso que os interessa.

Ainda anteontem, ao mesmo tempo que o PM Abhisit dizia na sua alocução no FCCT que a economia estava a brilhar e a crescer, o antigo Ministro das Finanças do governo do General Surayuth (governo constituído na sequência do golpe de estado de 2006), M.R. Pridyanon Devakhula, afirmava exactamente o contrário. O ex Ministro alertava o país para os graves riscos que está a correr, no seu entender, com o excessivo endividamento e com as políticas intervencionistas do governo. Um dos exemplos disso é o caso do gasóleo pois por cada litro consumido o governo gasta 1/5 do preço total. O mesmo tipo de política de manutenção artificial de preços baixos passa-se com um significante número de outros produtos o que está a constituir um peso muito significativo para o orçamento sem que disso a população mostre perceber resultados. De igual forma o aumento das despesas militares em 161% desde 2006 até ao presente orçamento são outra questão a fazer subir a preocupação.

O alheamento dos cidadãos da política do seu país nunca foi um bom sintoma e acaba quase sempre por ser aproveitado por minorias que se tornam os arautos do descontentamento enquanto as maiorias se mantêm silenciosas. A Tailândia tem visto isto bem nos últimos anos com os movimentos de rua venham eles de que lado vier. Um exemplo disso muito recente é o facto do PAD-Amarelo estar a ocupar uma parte importante da cidade velha desde o dia 25 de Janeiro, não sendo mais do que umas escassas centenas, e já ninguém se preocupa com o facto.

A indiferença é um mau sinal para a Democracia

terça-feira, 22 de março de 2011

Autoridade

O Chefe do Estado-maior do Exército e o Ministro da Defesa anunciaram hoje que se recusavam a participar na reunião bilateral com o Camboja relativa às questões fronteiriças que terá lugar no início de Abril em Jacarta.

Na sequência dos conflitos fronteiriços de há cerca de um mês entre os dois países e da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 22 de Fevereiro os Ministros dos Negócios Estrangeiros da ASEAN reuniram-se em Jacarta, sob os auspícios da Indonésia, actual Presidente da ASEAN, onde decidiram que a Indonésia enviaria uma missão de observadores para a fronteira entre os dois países e organizaria as reuniões da Comissão de Demarcação da Fronteira, reunião essa que foi então aprazada para o início de Abril como refiro acima.

Na sequência daquela reunião de Jacarta foram enviados a cada país os termos da missão de observadores e a convocação para a reunião.

No que respeita aos observadores o Camboja anuiu de imediato com a proposta Indonésia mas o MNE da Tailândia enviou o documento para análise das estruturas militares de onde ainda não saiu decisão, embora o General Prayuth já tenha feitio saber que não está de acordo com a presença dos observadores e mesmo recusou uma proposta cambojana para a constituição de patrulhas conjuntas (tailandeses e cambojanos) acompanhadas dos observadores indonésios.

O General afirma que as forças armadas dos dois países têm muito boas relações e portanto todas as questões deverão ser tratadas entre eles "sem nenhum intervenção externa".

Compreende-se o que o General diz mas o que está em questão é a credibilidade do país no contexto internacional. O país através do seu qualificado representante acordou uma matéria num fórum internacional que vem mais tarde a ser colocada em causa pela estrutura militar.

Difícil de entender isto um dia após o PM Abhisit ter afirmado na sua anual presença no Clube dos Correspondentes Estrangeiros, que presenciei, e respondendo a uma pergunta de uma jornalista australiana sob a capacidade do seu governo implementar o programa que se propõem quando segundo ela há forças que parecem interessadas no seu bloqueio, que o seu governo é o único legítimo representante dos interesses da nação tailandesa.