Vizinhos e irmãos a Tailândia e o Laos nem sempre têm vivido juntos como talvez muitos dos seus gostariam. A população do Laos e, especialmente, a do nordeste tailandês têm enormes semelhanças e a própria língua falada nessa zona é práticamente a mesma. Quando se vai ao Laos pode falar-se tailandês e usar o bath como meio de pagamento.
Como já referi a história destes dois países mistura-se muitas vezes no passado mas embora sejam parceiros na ASEAN, ACMECS, GMS o facto é que a história mais recente fez com que estes dois irmãos s afastassem e vivessem vidas separadas sem grande ligação entre os dois separados por esse grande rio que é o Kong, ou Mekong.
Depois da ascensão do Laos à ASEAN e das crescentes necessidades da Tailândia de ter acesso a fontes de energia as relações entre os dois países conheceram um significativo impulso.
O Laos é um produtor de energia eléctrica de origem hídrica, importante no contexto da região, e quer a Tailândia quer a China têm contribuído com importantes fundos para a construção de barragens capazes de produzir a energia de que os seus desenvolvimentos vai requerendo
A Tailândia decidiu, durante a governação de Thaksin, em 2001, alterar o seu estatuto, no conceito de ajuda ao desenvolvimento, de país receptor de ajuda para país doador.
No contexto da ajuda sul-sul (conceito emanado da Convenção de Paris que não corresponde exactamente á divisão hemisférica), a Tailândia tem vindo a ser um importante parceiro, quer em acções bilaterais quer em acções tri ou multilaterais, para o desenvolvimento da região nomeadamente com os três países fronteiriços, Laos, Cambodja e Burma/Myanmar.
O Laos, sendo aquele mais próximo em termos culturais e onde as populações mais se aproximam, isto sem que no Museu Nacional em Vientiane ponha em realce os "roubos praticados pelos tailandeses", é o que mais tem beneficiado do apoio tailandês para a construção de infraestruturas.
Depois de terem sido construídas três pontes, encurtando caminhos em três distintos pontos da fronteira, ontem foi a vez de ter sido inaugurada a primeira ligação ferroviária entre os dois países, um troço de 3,5 km onde o comboio passa na "Friendship Bridge", no mesmo tabuleiro onde passam os carros e portanto há que interromper o trânsito por algum tempo para a passagem do comboio.
Desde ontem passa a haver duas ligações diárias entre as duas margens e pode comprar-se agora um bilhete de comboio em Bangkok para ir atá Thanaleng a estação do outro lado da fronteira. Um projecto para estender este troço até Vientiane, mais 9 km, está já em preparação.
A viagem ainda terá de ser feita em duas etapas visto haver a necessidade de mudar de comboio em Noing Khai, antes da atravessar a ponte e vice versa quando se vem do Laos.
Para além disso existem ainda as formalidades fronteiriças que não são simples no Laos. Só muito recentemente os tailandeses foram isentos de visto para entrarem no Laos, coisa que não acontece aos outros estrangeiros, todos eles obrigados a obter visto ou no local de partida ou na fronteira e mesmo diplomatas não conseguem obter visto com entrada múltipla.
Antes de existirem as pontes as ligações entre os dois países eram feitas por barco mas também não havia bem essa noção de passaporte visto os habitantes de um e outro lado do Kong, o cruzarem para as suas compras ou irem vender produtos, de forma mais ou menos informal. Ainda existem algumas fronteiras, como pude constatar em Chong Mek onde as pessoa passam de um para o outro lado unicamente exibindo um passe sem necessidade de outras formalidades. Como é óbvio refiro-me aos tailandeses locais.
Ontem a inauguração da travessia ferroviária foi presidida por SAR a Princesa Maha Chakrit Sirindhorn, na companhia do PM Abhisit e de outras individualidades de ambos os países.
Como diria Amstrong, um pequeno passo, 3,5 km, mas um grande salto nas fortes relações que existem entre os dois irmãos.