sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Seis Meses

Passam hoje 6 meses sobre os dramáticos acontecimentos passados no centro de Bangkok que terminaram com a manifestação da UDD.

Para comemorar esse dia os "camisas vermelhas" voltam à cidade e ao local (Rajaprasong) onde se irão manifestar para reafirmarem os ideais pelos quais muitos deles lutaram durante aquelas 9 semanas.

Manifestam-se também por aquilo que aconteceu após o avanço das tropas nesse dia 19 de Maio.

Desde então encontram-se presos, sem acusação centenas de manifestantes, líderes e simples militantes de uma causa diferente daquela que prossegue o governo. A falta de acusação dessas pessoas tem sido permanentemente lembrada ás autoridades tailandesas inclusive em fóruns internacionais onde o PM Abhisit participa visto constituir uma violação grosseira dos direitos humanos. Abhisit afirmou recentemente após regressar das cimeiras de Hanói que o seu governo estava a trabalhar para "ajudar" os presos a obterem a devida representação jurídica facto que de alguma forma foi de imediato contraditado pelo Ministro da Defesa, e responsável pelo ainda existente CRES (centro para a resolução do estado de emergência!), quando afirmou que dependia do PM a libertação ou não dos detidos. Hoje mesmo Abhisit volta a afirmar que essa libertação tem de ser determinada pelos tribunais, quando é um facto que a larga maioria dos detidos nunca foi presente a nenhum juiz.

Esta questão a forma atrapalhada como está a ser conduzida pelo governo em nada ajuda a um clima de apaziguamento das iras "vermelhas" facto que se desejaria.

Outra questão que está a ser cada vez mais atacada é o relatório do Departamento da Investigação Especiais (DSI). Nesse documento o DSI afirma basicamente só conseguiram determinar a causa da morte em alguns corpos e que todos são provocados pelas forças "vermelhas". Quando posteriormente confrontados com essas afirmações o General Tarit, Comandante do DSI refere que todos os outros caos necessitam de mais investigação. Triste foi ouvir o General afirmar que os corpos encontrados no templo adjacente ao Siam Paragon, que tanta consternação causou a todos, foram baleados com projécteis vindos de uma posição superior em altura e ao mesmo tempo ter confirmado que seis elementos das forças armadas estavam estacionados nas linhas do metropolitano exactamente por cima do templo. Contudo o general disse não ser possível estabelecer nenhuma relação entre esses soldados e os tiros que acabaram por matar quer manifestantes quer duas enfermeiras da Cruz Vermelha que ali estavam a prestar apoio humanitário. Então os tiros são disparados dessa posição, os soldados estavam lá e se não foram eles de que forma estavam eles a proteger as pessoas como seria seu dever? Por outro lado porque é que o General se recusou a responder se as balas que atravessaram os corpos eram provenientes de equipamento utilizado pelas forças de segurança.

Passaram-se seis meses e nada se sabe, não há sinais da tão apregoada, desejada e necessária reconciliação e todos pretendem meter debaixo da alcatifa o pó que foi levantado na altura e os corpos daqueles que pereceram sejam eles vermelhos, amarelos, verdes ou azuis. O que deveria contar era só as três cores do Reino, Vermelho, Azul e Branco essas sim as que vêm unindo o povo ao longo dos anos.

Outro elemento que parece trabalhar também no sentido da desunião é o novo comandante supremo do exército que ontem afirmou que a manifestação anunciada para hoje dos vermelhos é indesejada, mas não o fez aquando há uns 10 dias os amarelos se manifestaram ás portas do parlamento nem em relação à manifestação que o PAD já anunciou para os próximos dias 23 a 25.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Viktor Bout e a Justiça

O alegado traficante de armas Viktor Bout foi ontem extraditado para os Estados Unidos numa operação relâmpago bem diferente da forma como todo o processo tinha sido conduzido até aqui.

Preso em Março de 2008 Viktor Bout viu o seu caso ser apreciado duas vezes pelos tribunais que negaram o apelo de extradição dos EEUU até que num terceiro apelo em finais de Agosto foi condenado a ser extraditado.

Como na altura relatei as autoridades americanas enviaram de imediato um avião para levar Bout mas o caso, sem que se entendesse muito bem porquê, parou alegadamente porque teria havido um novo pedido americano que deveria ser observado antes do tribunal se pronunciar em definitivo. Mistérios da justiça tailandesa sempre difícil de entender.

O facto é que o "meter os pés pelas mãos" das autoridades levou a que houvesse muitas especulações sobre as verdadeiras causas do "flop" da execução da sentença do tribunal.

Desta vez sem alarido nenhum, sem que a comunicação social conseguisse dizer o que quer que seja (ou até porque foi calada) o PM Abhisit decidiu extraditar Bout e no curto espaço de uma hora foi colocado num avião e "despachado" para os EEUU com a clara e bem visível presença de agentes da autoridade americanos a actuar livremente.

A própria mulher do prisioneiro só soube do que estava a acontecer quando chegou á prisão para visitar o marido e tomou conhecimento que este já estava metido num avião pronto a descolar.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros Russo emitiu uma nota que distribuiu à comunidade Diplomática e á imprensa extremamente violenta. Lê-se na nota que o governo de Abhisit e as autoridades judiciais cederam a "uma pressão sem precedentes exercida pelos EEUU " para mais à frente afirmar que isso "é uma clara interferência na administração e na justiça facto que põe em questão a independência do sistema de justiça tailandês". Termina afirmando que "lamenta que as autoridades tailandesas tenham capitulado a pressões externas para levar a cargo a extradição ilegal de Viktor Bout". As autoridades russas afirmam ainda irem continuar a lutar por todos os meios possíveis para que a legalidade e a justiça seja feita neste caso e foi decidido accionar acções penais contra as autoridades tailandesas envolvidas neste caso em virtude da "grossa violação da lei".
Era sabido que não haveria solução simples para este caso mas o facto do executivo de Abhisit se ter exposto totalmente e deixado envolver na teia dos interesses das duas superpotências só mostrou a inexperiência de muitos e a falta de qualidade e independência do sistema de justiça local.

Sobre este diga-se que ontem, e quase ao fim de 6 meses, foi feito o primeiro anúncio sobre as investigações levadas a cabo para determinar quem teria sido o(s) causador(es) das mortes ocorridas durante os incidentes com os "camisas vermelhas" em Abril/Maio último. Esse anúncio não podia deixar de ser mais infeliz. Dos 89 casos em investigação (3 não o estão porque já foram anteriormente identificados os culpados) a comissão só conseguiu concluir sobre 12 e, coincidências, todas as mortes foram "causadas pró acção dos vermelhos". Há cerca de 45 dias ouvi, directamente da boca do Presidente da Comissão, eu e mais quatro pessoas presentes nessa reunião, exactamente o contrário.

Vícios privados transformados em virtudes públicas.