sábado, 17 de abril de 2010

A Fuga e os Vexames

A história da fuga de Arissaman, o líder da UDD que a polícia queria apanhar na madrugada de ontem a par de outros, acabou por ser uma caricatura daquilo que são algumas das acções das forças de segurança como se pode ver no relato que fazem os jornais. O The Nation titula "um fiasco embaraçoso para o governo" e o Bangkok Post, a todo o largo da primeira página, escreve que "Suthep perdeu o comando da área de segurança".

Na realidade a actuação dos polícias foi totalmemnte amadora acabando Arissaman por fugir do hotel descendo por cordas de um dos quartos tudo isto na presença de jornalistas nacionais e estrangeiros e de grande número dos seus apoiantes.

Para ainda acabar pior o vexame para a polícia dois oficiais superiores, Coroneis, acabaram detidos pelos vermelhos e transportados, conjuntamente com os alvos que eles queriam capturar, para o palco de Rajaprasong onde foram mostrados á multidão como troféus de vitória.

Esta foi a gota que fez transbordar o copo de Abhisit no que respeita a confiança que depositiva em Suthep, o Vice Primeiro-ministro encarregado das questões de segurança e levou à nomeação do General Anupong como responsável pela coordenação de toda as acções ao abrigo do Estado de Emergência. Na realidade já no Domingo passado Abhisit, tinha chamando os comandos da polícia e militares para, na presença de Suthep, lhes ter dito que tinham prestado um mau serviço ao país.

Abhisit deu tudo o que lhe pediram no que respeita a material. As forças pareciam estar equipadas para controlar multidões e manifestações mas a prática tem demonstrado o contrário. Não é só a questão dos "melancias", ou seja os militares com "coração vermelho" que no fim aderem á causa contra a qual os obrigam a lutar, é muito mais do que isso é a impreparação estratégica e organizativa dos comandos.

Começou com a retirada desordenada em Pathun Thani na altura da ocupação da ThaiCom pelos vermelhos, depois no dia 10 quando, e há muitos vídeos que o mostram, bateram em retirada desordenadamente deixando para trás material e equipamento e acabou com a falhada tentativa das capturas no SC Park Hotel.

A lista do material que foi abandonado ou apreendido pelos vermelhos para além dos veículos que outro dia mencionei, 9 no total, é a seguinte: 9 M16, 25 Tavor, 6 canhões anti-aéreos (!), 116 escudos, 105 bastões e 80 fatos de combate. No que respeita a munições estão dadas como perdidas 580 balas de borracha, 600 carregadores para os anti-aéreos e 186 carregadores de M16.

Abhisit é acusado por muitos de mole e de vergar mas com apoios assim quem se pode queixar é ele.

Contudo quem pense que tudo é linear e que a história acaba aqui está muito enganado. A confusão reinante é tão significativa que uma ordem do Primeiro Ministro, que inclusive era o cabeçalho do Bangkok Post de hoje acaba por ser recriada por quem não a quer acatar..

Depois de, como acima refiro, Abhisit ter anunciado de viva voz na televisão que o General Anupong passava a comandar o CRES, hoje o porta-voz do exército, que recebe ordens do general, vem dizer que é ainda Suthep quem está à cabeça do CRES e que o General Anupong somente obteve da parte do PM a autoridade para intervir .... caso se mostrasse necessário.

Anupong conhece melhor os caminhos que pisa e como ontem referi não quer assumir nenhum papel de primeira linha até porque o seu grande objectivo é chegar a 30 de Setembro imaculado para passar à reforma sem problemas. Depois Prayuth, o seu número dois e mais do que provável sucessor, que resolva.

Abhisit dá uma ordem e menos de 24 horas depois o todo poderoso Anupong reinterpreta essa mesma ordem para que se adapte ao seu querer.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Na Mão de Anupong

Os desenvolvimentos das últimas horas estão faer a aumentar a tensão em Bangkok.

Desde o sangrento dia 10 de Abril que o governo vem arquitectando uma teoria de que no meio dos manifestantes havia terroristas e que foram estes os responsáveis pelas mortes que ocorreram ou pelo menos pelo escalar dos incidentes pois há três dias o Coronel Sansern admitiu que as tropas utilisaram armas de fogo e dispararam sobre os manifestantes para se defenderem desses terroristas.

Hoje o governo avançou no seu plano e fez cercar um hotel na capital para apanhar os terroristas e alguns líderes da UDD, mas isso foi dito de tal forma que ficou na ideia de que os terroristas eram aqueles. O facto é que a operação acabou em fracasso mas com o caricato de um dos líderes da UDD ter saído do hotel por uma corda, alertado antes pela polícia. A questão dos melancias, verdes por fora mas vermelhos por dentro, é um dos problemas complicado com que o governo se debate, e hoje foi claro. Havia já no hotel agentes á paisana preparados para a acção de captura quando a polícia fez um tal aparato a chegar, para que se percebesse bem que isso estava a acontecer, que Arissaman, saíu do hotel pelos meios que pode e safou-se.

Contudo a questão dos "terroristas" não passa de um plano que agora salta mais à vista.

Porque é que o governo nunca apelidou de terroristas aqueles que já mataram mais de 4.000 pessoas no Sul do país? Porque é que agora, e depois dos fracassos que têm sido as operações de caça aos vermelhos, se prentende falar em terrorismo?

No passado Domingo o governo chamou toda a comunidade internacional. Estiveram cerca de 80 países presentes e assistiram ao anúncio dos bons intentos do governo em encontrar os culpados pelos acontecimentos da noite anterior.

A nomeação de uma comissão independente, a afiração do PM de não culpabilização de ninguém enquanto nada se soubesse foram elementos que se recolheram no rescaldo do dia 10. Passados 5 dias, e sem que essa comissão tivesse começado sequer a funcionar, o governo deciduiu atribuir a investigação ao DSI - Department of Special Investigation, da polícia subvertendo a sua própria decisão. A tal comissão independente, que a comunidade internacional aplaudiu não funcionou mas o governo não se esqueceu de, ele mesmo, sem conclusões nenhumas, afirmar de que havia terroristas no seio da UDD.

Criou-se assim um clima de medo e um clima também da necessidade de o estado actuar para a salvaguarda dos cidadãos que poderiam ser atacados pelos tais terroristas.

Entretanto hoje fez-se a tal operação falhada e o PM acaba de ir à televisão, ele que não falava á 4 dias por motivos de segurança (!), segundo afirmou Panittan, para atribuir ao General Anupong a responsabilidade de comandar o Centro de Operações para a Resolução do Estado de Emergência (CRES - o sucessor do CAPO). Anupong ficou com a batata quente na mão, bem com o seu desagrado e convocou para Segunda-feira á 1 da tarde uma reunião com todos, repito, todos os militares do cargo de Major General para cima.

Abhisit, ou mais apropriadamente os seu círculo próximo, cria medos para avançar com acções mas esquece-se que elas são executadas ou pela polícia ou pelos militares que apesar das baixas e humilhações sofridas até ao momento, continuam a ter uma disciplina e uma forma de actuar próprias.

Os próximos dias prometem.


Sinais dos Tempos

Realizou-se na Praça do Monumento à Victória uma manifestação das "gentes sem cor", daqueles que querem ver o país avançar sem a divisão vermelha-amarela que tem caracterizado o país nos últimos anos.

Têm contudo uma slogan que está por detrás de uma das cores, a Não Dissolução do Parlamento, um facto que hoje em dia só é contestado pelos amarelos do PAD.

Os parceiros da coligação dos Democratas, o Puea Thai e o General Anupong, as principais forças politicas e militares do país recomendam a dissolução do Parlamento como forma de resolver a crise.

A posição do partido Democrata de Abhisit é contudo para mim a mais sensata mas tem tido o problema de não ter eco e o próprio PM "estar incapacitado" de a levar por diante. Abhisit quer reformar o sistema político e depois avançar para eleições. Tem toda a razão em não apaludir a simples dissolução pois avançar apara eleições com o actual sistema legal e no clima de instabilidade que se vive não conduzirá a nenhum efeito positivo e a própia campanha pode ser geradora de violência.

O movimento que juntou ontem 1.000 pessoas, de acordo com fontes da polícia, e 400 de acordo com o The Nation, é um movimento que nasceu através do Facebook e que conta com 100.000 aderentes embora o seu líder, um médico de nome Tul Sitthisomwong, diga que são actualmente 300.000. Eu diria que são muitos mais pois em questões politicas a "maíoria silenciosa " é sempre a maior. Note-se que em quase todas as eleições que acontecem pelo Mundo o Partido que acaba por governar um qualquer país raramente tem mais de 50% dos votos.

Os tempos são outros e hoje constituem-se movimentos cívicos através de redes sociais cibernéticas.

Os media e a internet são hoje em dia dois dos meios mais importantes em qualquer transformação social. Não desconhecendo este facto o governo lá vai tentando calar os poucos meios de comunicação social que não controla, e fechando sítios de internet, como ontem foi fechado um dos mais importantes sítios que tem lutando contra os prísioneiros de consciência na região. Pena que o governo não saiba, também ele usar os novos meios e comunicação sem destruir aqueles de que não gosta. Aliás o núcleo mais próximo de Abhisit, e em menor escala este também, são adeptos quer do Twitter quer do Facebook, com relevo para Panittan.

Nos media o pior é quando eles se intitulam de "independentes" e depois difundem notícias distorcidas e enganadoras. De entre esses pior ainda são aqueles, como o The Nation, que vai mudando o sentido editorial de acordo com o vento e de uma posição "500%" amarela parecem agora uma "papaia", o adjectivo para usar os que vacilam entre os amarelos e os vermelhos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Desenvolvimentos do Dia

O furação de violência de Sábado à noite acaba de produzir mais dois mortos.

Um soldado e um civil acabaram por não conseguir vencer a batalha da vida nos cuidados intensivos de um hospital

Entretanto noutra violência, que já várias vezes referi, nos dois primeiros dias do período de férias do Ano Novo Tailandês morreram nas estradas 114 pessoas, um número impressionante.

Voltando à dimensão política. A UDD decidiu abandonar o acampamento em Phan Fa, na zona velha da cidade, para concentrarem as suas forças na intersecção da Rajaprasong, o coração da zona comercial da cidade. O período de férias faz diminuir o número de manifestantes e é essa a razão pela qual não conseguem manter vivas duas concentrações em paralelo.

Abhisit está cada vez mais pressionado para disolver o Parlamento. Os seus parceiros de coligação vieram dizer que continuam a apoiar o governo mas na condição de ser aprsentado um claro road map para a dissolução do Parlamento. Já não se fala em se mas em quando.

Entretanto renovam-se os rumores de que o General Prayuth, o número dois do exército e homem da linha dura, está a preparar tudo para um golpe, até ao fim-de-semana, visto assim as suas acções estarem protegidas pela Lei de Emergência. Na realidade no passado Domingo, na reunião com os Embaixadores acreditados em Bangkok, o Coronel Sansern, quando perguntado sobre os próximos passos, foi claro a dizer que o exército espera que o período do Songkran, que ontem começou, faça diminuir os manifestantes e que possibilite uma mais eficaz acção das forças de segurança.

Não é necessário ser muito inteligente para entender o significado das suas palavras.

Songkran versus Songkram

A língua tailandesa é uma língua tonal e por vezes para o ouvido de um europeu as palavras são quase iguais.

Neste caso Songkran (สงกรานต์) e Songkram ( สงคราม) têm dois significados bastante diferentes. Este não é exactamente o melhor exemplo da multiplicidade tonal mas vem muito a propósito da Tailândia de hoje.

Ontem comemorou-se a passagem do Novo Ano Tailandês festejado como o Festival da Água ou Songkran. É hábito as pessoas atirarem água aos outros, muitas vezes demasiada, andam caravanas pelas ruas do país com carros de caixa aberta onde miúdos e graúdos se divertem a "metralhar" todos com jactos de água.

Ainda no Sábado esses mesmos actos eram bem diferentes não com a intençao de molhar os outros mas de matar e infelizmente tivemos esse sangrento dia tal qual uma guerra ou Songkram.

Molhar os outros é feito no sentido de os lavar do mal e os purificar.

Que seja bem entendido por todos o significado do Songkran pois não queremos Songkram no país.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Há ou Não uma Terceira Parte?

Esta tem sido uma das questões que mais se discute abertamente no momento. A existência, conforme evidências parecem mostrar, de que uma terceira parte esteve envolvida nos confrontos de Sábado.

Hoje em dia em qualquer conflito existem sempre milhares de fotografos anónimos que acabam por captar aquilo que muitas vezes não se vê aos olhos das câmaras oficiais. Por isso quer a CNN quer a BBC tanto apelam ao "upload" de vídeos e fotografias de pessoas que simplesmente se encontravm no local do acontecimento.

Foi assim por exemplo que nos anteriores eventos sangrentos na Tailândia se pode ter uma melhor percepção do que aconteceu.

A 7 de de Outubro de 2008 viu-se a polícia a atirar as granadas de gás lacrimogéneo directamente para cima dos manifestantes do PAD, sem inclusíve a mínima proctecção para eles próprios, o que terá sido a causa da morta de Angkana. De 12 de Abril de 2009 há imagens de vídeo que mostrava Nevin a comandar os seus homens, já dentro do hotel invadido pelos vermelhos, e é hoje também um dado adquirido que essa terceira "ajuda" não deu bom resultado.

Também em relação ao Sábado existem muitas fotografias e vídeos a circular, um deles o último do reporter japonês que morreu, que mostram a situação caótica que se viveu. Nalguns aparecem aquilo que se pode chamar de milícias, vestidas de preto e bem equipadas em material, que terão estado na origem da maíoria dos incidentes.

Como é costume cada parte já atira a paternidade dessas milícias para a outra mas, e sabemos pelo passado e por outras experiências, que as coisas podem não ser tão lineares como se apresentam.

É um facto, que parece ser indesmentível, que estiveram em acção. Resta saber para quê? A soldo de quem? Quem é que visavam?

Dizer que eram tropas de Thaksin vindas do Camboja, é simples. Dizer que eram rangers de Prayuth equipados com equipamentos não pertencentes ao exército, é também simples. Dizer que era uma tropa de Seh Daeng, também.

Era importante que se investigasse com independência, o que quer dizer que se por acaso fossem elementos de dentro do exército (melancias ou não) que não se abafasse, e que não se começasse a atirar pedras até porque algumas podem partir os próprios tehados já que eles são todos de vidro.

Os Vermelhos




O Sport Lisboa e Benfica entre os Vermelhos de Bangkok

O Ministro Kasit

O Ministro Kasit perdeu por completo o pouco que lhe restava de compostura.

Numa conferência na Universidade John Hopkins em Washington, D.C., portanto num país que não o seu, acusou a comunidade internacional de não cooperação com a Tailândia e de permitir " actividades terroristas" contra o seu país.

Comparando Thaksin com, Hitler, Estaline, Mussolini e a Al-Quaeda, acusou países como a Rússia, a Alemanha e os Emiratos Árabes Unidos de darem guarida ao ex Primeiro Ministro.

Kasit diz que Thaksin é um terrorista que é deixado à solta por estes, e outros, países e até a Interpol se recusa a colaborar com a Tailândia.

Kasit deveria olhar para dentro e tentar perceber porque é que o sistema judicial tailandês nunca consguiu condenar Thaksin a nenhum crime grave que fizesse com que a comunidade internacional participasse numa caça a ele. Como já referi centenas de vezes Thaksin ainda só foi condenado por conflito de interesses e nem sequer a condenação do passado 26 de Fevereiro transitou em julgado. Só há uma condenação a de Agosto de 2008 e essa é por, repete-se, conflito de interesses. Mesmo que fosse por corrupção, como Kasit sempre lhe chama, nenhum país iria expulsar ou deportar Thaksin por tal. Haveria bastantes casos, como as mortes extrajudiciais, que quase poderiam levar Thaksin à barra do Tribunal de Haia (ICC), mas para isso era necessário que a Tailândia o acusasse, o que nem sequer começou e sabe-se muito bem porquê.

Uma coisa é querer condenar e irradicar Thaksin, outra coisa é fazê-lo na prática e foi aqui que, até agora e já lá vão quase três anos, o estado falhou.

Kasit em vez de ter montado uma máquina no MNE para "andar atrás de Thaksin" deveria ter usado toda a sua energia para fazer com que essas acusações, e eventualmente outras, chegassem a tribunal e fossem levadas a efeito. Assim tinha cumprido o seu dever e procurado seguir os princípios da lei. Se Kasit entende que Thaksin é o demónio por detrás do que aconteceu, o que até pode ser verdade, o que deveria era reunir todas as evidências para o levar perante a justiça.

Já no passado Domingo Panittan acusou a comunidacde estrangeira e agora vem um Ministro fazê-lo também, ainda mais aquele que deveria conhecer bem as regras da diplomacia (já que as da justiça e do direito não conhece), fazendo a Tailândia ainda perder mais no contexto das nações.

Para terminar Kasit esqueceu-se que estava a utilizar solo estrangeiro para acusar países amigos dos Estados Unidos de cooperação com o terrorismo, nas suas palavras.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Uma Bomba Política

Acaba de acontecer uma bomba política na Tailândia.

À semelhança do que aconteceu no dia 2 de Dezembro de 2008 com o People Power Party, antecessor do Puea Thai e que levou à queda do governo de Somchai Wongsawat e á formação do presente governo, a Comissão Nacional de Eleições acaba de recomendar, numa decisão por maíoria, 4 contra 1, a dissolução do Partido Democrata.

Já variadas vezes me referi ao processo que está relacionado com o financiamento indevido do Partido. Um partdo político não pode receber donativos superiores a 10 milhões de bath e no caso em apreciação p Partido Democrata ecebeu da TPI Polene 258 milhões. Durante quase dois anos a CNE adiou a decisão sobe o caso mas agora, devido à pressão da UDD e por certo de "alguma ordem superior", tomou a decisão por uma maíoria de 4 contra 1.

Agora o processo vai para o Acusador Público que o remeterá ao Tribunal Constitucional, se com ele concordar, que então decidirá a dissolução, ou não, mas como é perceptível que foi uma decisão política ela não será alterada. Caso o AP não concordar será constituida uma comissão mista AP e CNE para decidir sobre o caso e enviar ou não para o TC.

Para além da dissolução do Partido os seus executivos, Abhisit e outros quadros importantes verão os seus direitos político caçados por um prazo de 5 anos.

Com os já 220 políticos sem direitos do lado "vermelho" e agora os que deverão seguir o mesmo caminho do outro lado qualquer dia não há candidatos.

Agora os Deputados do Partido que se mantiverem com direitos políticos terão 90 dias para se mudarem para um novo partido mas deverá ser um do espectro existente já que para se criar um partido com capacidades eleitorais esse tem de ser constituído 90 dias antes da dissolução do partido em causa.

No caso anterior demorou 17 dias entre a decisão da CNE e a votação de Abhisit como o novo PM. Contudo o prazo poderá ser de 3 meses embora os procedimentos processuais não sejam muito claros.

O mais normal no caso de vir a ser confirmada pelo Tribunal Constitucional a dissolução, será a criação de um Governo baseado no Puea Thai, o partido com mais deputados e os parceiros de sempre, ou seja os partidos do "vira casacas" pois eles já anteriormente estivera com o PPP.

Uma outra possibilidade será Abhisit, enquanto PM, dissolver o Parlamento, ou se o processo demorar proceder ainda a uma revisão muito rápida da Constituição, um desejo de muitos, e então dissolver o Parlamento.

Mais confusão a acrescentar à já existente sem que seja uma solução. Podem sair das ruas vermelhos e entram amarelos. O PAD já anunciou a convocação de uma manifestação para o próximo dia 18.

Não é nada disto que o país necessita.

E Agora?

O dia de hoje é dos vermelhos. Passeiam-se por toda a cidade numa caravana de milhares de carros, camiões e motos e levem em cima de 15 pickups, caixões que pretendem mostrar os mortos que tiveram. Fala-se mesmo que em alguns dos caixões não estarão vazios.

O dia começou com intensos rumores de que o General Prayuth, o segundo homem no exército e da linha dura, estava a tentar obter a luz verde para um golpe de estado. Posteriormente o General Anupong veio dizer que os problemas políticos tinham de ser resolvidos por vias políticas tentando desfazer esses rumores "aquartelando os militares".

Na realidade não seria de estranhar a reacção de Prayuth tendo em vista o que aconteceu e a vergonha que muitos no exército estarão a viver. Tenho várias fotografias que mostram o estado em que os vermelhos deixaram o equipamento abandonado pelos militares na zona de Khao San Road. 5 APC, a sigla que denomina os pequenos tanques de guerra, 3 HUMVEE, veículos de transporte e 1 UNIMOG, isto para além de armas, escudos, bastões e outro equipamento ligeiro. Via-se na zona os vermelhos a combaterem usando eles os escudos que pertenciam quer à polícia quer aos militares. A isto há que acrescentar as imagens vistas em todo o mundo na Sexta-feira dos militares a debandarem pelos campos de arroz em Pathum Thani.

A honra do exército está manchada e é quase que seguro que terá sido dito ao governo que para a próxima vez não venha com essas ideias de avançar contra os manifestantes sem disparar logo à cabeça.

Abhisit fez uma breve aparição na Televisão para dizer que os mortos foram causados por elementos terroristas infiltrados junto dos vermelhos segundo as primeiras conclusões do inquérito em curso. O hospital onde se estão a proceder ás autópsias a 9 corpos veio dizer que tinham morrido devido a disparos de grande potencia feitos de longe. Durante o meu curso de Direito fiz tanatologia e nunca vi autópsias serem feitas e conclusões tiradas em três horas, muito menos para um caso tão sensível.

Entretanto o Puea Thai, o partido que se pode chamar o braço político do movimento vermelho, fez um apelo a todas as Missões Diplomáticas em Bangkok para que transmitam ao governo as preocupações com a situação, o que penso a maioria já teria feito ou estará em vias de fazer. Também o Puea Thai requereu a Abhisit a dissolução imediata do parlamento e a sua resignação visto, como afirmam, ele estar a prestar um péssimo serviço ao país deixando este viver na mais completa anarquia.

Na realidade não há neste momento um claro comando e não se consegue ver luz no fundo de nenhum túnel.

Os vermelhos controlam cada vez mais partes da cidade (neste momento em que escrevo estou a ouvir um dos seus altifalantes lançando slogans para o ar), passeiam-se impunemente, cortam as ruas que muito bem entendem, corria também o rumor, não confirmado ainda, embora essa mensagem me foi transmitida de várias fontes, de que tinham ido raptar o Presidente de uma empresa de telecomunicações, a CAT. Vá lá saber-se porquê? Porque lhes apeteceu e fazem o que querem sem que haja alguma força da ordem capaz de os deter.

Do lado militar existem os sentimentos que acima descrevi mas há que ter muita atenção. A possibilidade de um golpe de estado, quase que uma tradição na Tailândia, neste momento não será tão simples como em 2006 em que tudo se passou em poucos corredores oficiais e portanto quase que sem se ver o governo foi substituído por uma Junta militar. Agora o povo está na rua e depois da noite sangrenta de Sábado ainda mais enfurecido. A imposição da Lei Marcial e de recolher obrigatórios não serão eficazes a não ser na ponta da espingarda e já se viu que se assim for haverá sangue pois as pessoas não hesitam em avançar de mãos vazias e pés descalços contra os tanques.

É urgente haver um gesto político vindo de alguém capaz de ser ouvido por todos mas não consigo e ninguém com quem falei consegue descobrir no fumo essa cara.

Lamentável

Ainda me está na memória a forma arrogante, quase de desafio, exibida ontem pelo porta-voz do Governo Dr Panittan.

Panittan é um professor da Universidade de Chulalongkorn, com formação no estrangeiro, e cujo tema de maior interesse é segurança. É considerado um estratega nessa área, mas como já uma vez referi, um amigo meu alto funcionário no presente governo, apelida-o de Panican e considera ser ele uma das piores influências que o PM tem perto de si. Panittan é igualmente um amigo de longa data de Abhisit embora três anos mais velho.

Vem isto tudo a propósito de um comunicado que tinha em cima da minha mesa de trabalho que era uma declaração emitida pelo PM àcerca dos acontecimentos de Sábado que deixaram tanto sangue pelas ruas.

Nesse comunicado Abhisit dizia uma coisa que passo a transcrever e traduzir: "He urged that neither side blames the other as responsible for those losses but that those responsible to conduct the examinations should allow to work independently, so as to maintain the current atmosphere with lessened tension after the incidents during the day".

Em duas palavras Abhisit dizia que era momento de acalmar e que nenhuma das partes deveria "atirar pedras" à outra pois isso por certo em nada ajudaria a que se encontrassem as verdades por detrás dos sangrentos eventos de Sábado.

O PM mostrou sentido de estado, clareza de ideias, e respeito pela situação. Panittan ao afirmar que "todas as mortes eram causa da acção dos vermelhos" incluindo os próprios e que as forças de segurança cumpriram em 100% as instrucões recebidas para nunca atirarem contra a população, prestou um péssimo serviço ao seu Primeiro Ministro e ao país, ainda mais ontem quando acusou, os "convidados" de "mau comportamento".

Lamentável!

A Reunião com o Corpo Diplomático

A reunião de hoje foi uma perca de tempo, lamento dizê-lo.

O reafirmar de teorias gastas e o reconhecimento de que o Governo não tem nenhum plano.

Os protagonistas foram o Dr Panittan, e o Coronel Samsern. A apresentação foi feita pelo Permanent Secretary do Ministério dos Negócios Estrangeiros e depois cada um falou.

Primeiro Panittan e dele pode resumir-se o seguinte: Começou por lamentar as perdas de vida para a seguir afirmar que os militares seguiram a 100% as instruções que tinham e não dispararam uma bala e portanto todos os mortos, que actualmente são no número de 21 mas por certo irão subir, foram todos por acção dos vermelhos, mesmo os seus apaniguados que estariam, pasme-se, misturado com os militares quando os vermelhos dispararam!! Não estou a inventar. O Dr Panittan disse isso exactamente, e ele expressa-se em bom inglês.

Depois afirmou, uma grande verdade: que a liderança da UDD está separada e que cada líder é independente e toma decisões para o seu grupo. O Governo tem linhas de comunicação com todas as linhas mas mesmo assim é difícil o diálogo.

Disse ainda mais que o governo está disposto a falar para encontrar uma solução mas com todos os grupos, não só os vermelhos. Contudo em relação a estes disse haver uma condição que não há diálogo: a questão relacionada com a estação de televisão PTV que consideram uma questão de segurança de estado visto esta estação distorcer a verdade, segundo o governo.

Depois entrou num campo complicado pois acusou os países, apontando o dedo a "alguns entre os presentes" (estavam cerca de 80 embaixadores e representantes) que estariam a "ajudar" que essa estação pudesse ser usada contra os interesses do estado. Referiu-se depois que tinha dados de visitas ao lider que estava fora do país (referia-se por certo a Thaksin) quando tudo era planeado e depois executado e transmitido pela PTV. Foi mais além nas palavras pouco correctas em relação aos convidados o que levou dois embaixadores, um deles de uma grande potência, a abandonar abruptamente a sala. A arrogãncia e a falta de educação, não consigo ter melhor palavra para usar, foram evidentes e era o tema da conversa posteriormente.

Falou ainda de que o governo espera que com o Songkran as pessoas regressem á terra de onde vieram, se bem que a maioria é de Bangkok, o que possibilitará uma acção mais eficaz das forças da ordem, e nesse momento pediu ao Coronel Samsern que detalhasse. Houve um Embaixador que perguntou se isso seria uma nova carga (crackdown foi o termo usado) sobre os vermelhos mas mais uma vez a resposta foi de que tudo será feito de acordo com os príncipios determinados pelo Governo.

Outro aspecto importante foi a indicação de que tinha sido criada uma comissão para averiguar as causas das mortes, comissão essa que será presidida pela Polícia. Se for como as que tem investigado as bombas em Bangkok não vamos saber nada. O Embaixador do Japão, que se apresentava de gravata preta, solicitou acesso, o que foi negado, e que devolvessem à família do jornalista morto, que hoje chega a Bangkok, todos os seus haveres pessoais, incluíndo a sua câmara e gravador de vídeo.

Já o Coronel foi mais explicito dizendo que o país vive um momento complicado desde Abril do ano passado branqueando as acções do PAD. Quando um Embaixador lhe perguntou se o facto de os ocupantes do aeroporto e os manifestantes de Pattaya não terem sido acusados de nada não seria um incentivo para que os actuais não cumpram a lei, fez uma grande disertação sobre a forma como a UDD, actualmente viola a lei e apagou tudo o resto. Memórias curtas.

Depois detalhou todo o procedimento militar e falou longamente da questão da retirada da Thaicom dizendo que tinha sido uma retirada estratégica pois sabiam que a UDD se daria por contente com a abertura do sinal da estação e depois voltariam a Bangkok e assim a tropa podia mandar cortar o sinal outra vez. Também perguntado sobre o acordo que teria havido com a UDD de abrir o sinal e se a sua violação não seria uma questão importante por minar a confiança entre as partes, passou a palavra a Panittan que referiu que as partes não têm confiança entre si! Outra vez o espanto na paltei apois antes tinha dito estar o governo aberto ao diálogo,

Quando foi inquirido sobre o "road map", palavra usada por Abhisit, para a solução crise Panittan disse não haver própriamente um road map, mas sim três pontos focados pelo PM. A recuperação económica, mas essa estava em curso (!), a alteração da Cosntituição, assunto sempre de desacordo entre todos os partidos políticos, e o regresso à normalidade, o que se afigura pouco cedível vir a acontecer.

Conclusão a maioria dos presentes saiu de lá com a convicção de que não há um claro plano para a solução e que estará na calha uma nova acção militar contra os manifestates.

Entretanto realidades da situação. Os vermelhos ocupam agora áreas ainda maiores do que aquelas que ocupavam (de Rajaprasong até Silom), instalaram-se em Phan Fa com geradores, depósitos de água e outros bens necessários e parecem estar dispostos a por alí ficar.

Os avisos aos turistas são de não viajar para Bangkok e alguns para o país, Algumas companhias de aviação já cancelaram os seus vôos para a capital, os chineses tinham cancelado até ontem, portanto antes do que aconteceu, 100 vôos charter, etc, etc.

Onde está a solução?

domingo, 11 de abril de 2010

Outros Desenvolvimentos Hoje 11 Abril


A estação de Televisão PTV está de novo no ar. Os vermelhos foram à Thaicom e sem nenhuma resistência repuseram o sinal "no ar".

Abhisit convocou entretanto uma reunião dos líderes da coligação no Governo para discutir a situação. O Bangkok Post diz que o PM pode solicitar o apoio dos parceiros para dissolver o Parlamento.

Pelas 4 da tarde o corpo diplomático irá ter uma reunião em Cheng Wattana com o Secretário da Presidência Korbsak.

Os Estados Unidos já comentaram sobre a situação e pediram à UDD e ás forças da ordem para actuar dentro dos limites do razoável tendo em vista não fazer perigar vidas humanas, lamentando as perdas de vida que houve ontem. Também apelava a negociações entre as partes.

Um professor da Universidade de Leeds, Duncan McFargo, muito conhecido pelos seus trabalhos sobre a Tailândia, e o sudueste asiático dizia ontem ao jornal The Independent que ambas as partes mostravam grande desespero nas suas acções e que não conseguia vislumbrar uma figura independente que pudesse conduzir o país para o regresso a uma situação de acalmia e de regeneração. Na verdade com o fosso que se vai criando na sociedade torna-se cada dia mais difícil de descobrir quem pode ser essa personagem que possa ser aceite por todas as partes inseridas neste complexo conflito. Há inclusive que pensar que governo e vermelhos são somente dois elos de uma maior cadeia.

Mortos já Identificados


Esta é a lista agora fornecida com os nomes de 15 dos 19 mortos conhecidos.

1 Mr Ampon Katiyarat, 43, 2 Mr Yuttana Thongcharoenponporn, 23, 3 Mr Paison Tipkom, 37, 4 Mr Sawat Wangam, 43, 5 Mr Hiro Muramoto (cidadão japonês) 6 Mr Tawattanachai Kladsuk, 36, 7 Mr Thotsachai Mekngamfa, 44, 8 Mr Charoon Charnmaen, 46, 9 Mr Wasant Puthong, 39, 10 Mr Tawil Pomsantia, 43, 11 Mr Kanueng Chatteh 12 Soldado Patapon Puriwatprapan 13 Soldado Anupong Muangrampan 14 Soldado Singha (apelido desconhecido) 15 Sargento Chamnien (apelido desconhecido).

A UDD anunciou a realização de uma cerimónia em memória dos seus 14 apoiantes mortos pelas 5 da tarde em Phan Fa.


Sábado Negro

Com permissão de Nick Nostiz era esta imagem que eu gostaria de passar como mensagem hoje depois do Sábado Negro, 10 de Abril, que deixou marcas que ficarão na história do país.

De acordo com os dados do Governador de Bangkok morreram 18 pessoas e ficaram feridas 678 dos quais 230 serão soldados. Outros números atiram os feridos para perto de 1.000.

O momento é de silêncio mesmo nas zonas vermelhas onde normalmente havia sempre quem subisse aos palcos montados falando para manter os manifestantes animados e música.

As televisões continuam a prestar um mau serviço e só um canal de cabo, e portanto não acessível à maioria dos tailandeses, a TPBS, transmite e relata o que aconteceu.

Existem soldados que estão reféns dos vermelhos. Fala-se em dois grupos, um de 8 e outro de 20, mas não há a clara noção do número.

Espera-se que governo e UDD falem na sequência do contacto ontem feito por Korbsak.

Novo número oficial: 19 mortos e 807 feridos.