sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Assim vai a Investigação

Oito meses passados sobre os acontecimentos de Abril/Maio de 2010 e continua-se na saga de "encontrar" os responsáveis pelas mortes de 92 pessoas.

Ontem o Director-Geral do Departamento de Investigações Especiais, Tharit Pengdit veio mais uma vez falar para a comunicação social para nada dizer mas as suas palavras foram todas medidas e estudadas ao milímetro.

" As mortes aconteceram no meio de confrontos o que torna difícil fazer qualquer investigação". A seguir disse que as mortes podiam ser classificadas dentro de três categorias a saber:

Mortes das quais os camisas vermelhos eram suspeitos.

Incidentes (a palavra morte foi substituída por incidentes) que implicavam agentes governamentais.

Incidentes aos quais era difícil atribuír-se causa/culpabilidade.

Em relação aos segundos acrescentou Tharit que o DSI quando falava em "agentes governamentais" não queria de modo algum implicar os militares ou as forças anti-motim da polícia!

Dos casos até agora mais avançados, 12 mortes são atribuídas a acções dos "vermelhos" e 13 outros "podem" (a palavra que utilizou) implicar "agentes responsáveis pela restauração da paz", como o caso dos mortos no templo de Pathum Wanaram que tanto chocou muitos.

Interessante de saber que o caso mais mediático, o da morte do general Khattiya, Seh Daeng, é incluído na terceira categoria quando é comummente sabido de onde partiu a bala fatal.

Assim vai a investigação cuja clarificação seria tão importante para ajudar a um clima de paz e reconciliação mas não é de estranhar que assim seja visto a grande maioria dos casos complicados (Tak Bai, Krue Se, Somchai Neelaphajit, Santika, etc, etc) nunca viram ninguém ser acusado ou quando é ou é peixe miúdo ou o acusado já fugiu antes da condenação.

Ontem mesmo o actual Secretário de Estado da Economia e secretário-geral adjunto do Partido Democrata foi condenado a 6 meses de cadeia, com pena suspensa por um ano, por um caso de difamação da polícia. O caso passou-se há oito anos atrás!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Efeitos da Política na Economia

Apesar dos problemas políticos e dos grandes danos que vêm trazendo ao país fundamentalmente desde 2008, a economia tailandesa continua florescente embora sejam visíveis perigos no horizonte de curto/médio prazo.

Em 2008 a acção dos amarelos do PAD obrigou à paralisação do governo durante mais de meio ano e terminou com a ocupação dos aeroportos da capital, durante uma semana o que foi um duro golpe para o turismo e para a confiança no país

Em 2009 os vermelhos da UDD iniciaram a sua "révanche" e em Abril tivemos os incidentes à volta da cimeira da ASEAN em Pattaya e alguns incidentes sangrentos em Bangkok que não só criaram problemas à reputação internacional do país como mostraram a volatilidade da situação, afugentando pessoas.

Em 2010 foi o culminar da acção da UDD e confrontações com forças militares com os sangrentos incidentes de Abril/Maio em que vieram a perecer 92 pessoas e foram destruídos pelo fogo mais de 30 edifícios no centro de Bangkok. A anarquia viveu durante mais de 120 dias na capital fazendo com que muitos dos sectores da economia sofressem fortemente com a situação para além de mais uma vez a reputação e credibilidade internacional do país terem caído fortemente.

Não foi só o investimento directo estrangeiro que sofreu foram as remessas de emigrantes e as visitas de turistas que diminuíram bastante neste longo período. De igual modo nas estatísticas e classificações nos vários índices preparados pelas agências das Nações Unidas e afins, a Tailândia sofreu fortes quedas o que normalmente se reflecte na economia de um país. Investidores estrangeiros procuram estabilidade de modo a que possam projectar o retorno dos seus investimentos dentro da normal previsibilidade e sem sobressaltos.

Tudo o que se passou no país neste últimos três anos apontaria para que a economia tailandesa estivesse a enfrentar substanciais problemas o que inclusive poderia afectar o seu tecido social e criar ainda mais instabilidade. Para além de tudo o que foi dito a continuada valorização do baht contra o dólar americano e o euro (este último na casa dos 23 % no ano passado) e a desvalorização do dong vietnamita, um forte concorrente no sector das exportações, seriam acrescidos obstáculos ao desenvolvimento das exportações elemento fundamental da economia tailandesa.

Contudo os números agora vindos a lume mostram o oposto:

As exportações cresceram 28.1% para quase 200 mil milhões de US$ e a projecção para este ano é de novo crescimento de cerca de 10%. Um dos números interessantes é o registado pelo sector automóvel, um pouco em crise pelo mundo, e que apesar de todos os problemas registados com a recolha de milhões de veículos especialmente no caso da Toyota, o maior produtor "tailandês", viu o número de veículos vendidos subir 45,8% em 2010.

O sector privado tailandês tem sabido viver no meio da crise política mantendo-se equidistante dos actores em confronto, apoiando à esquerda e à direita mas seguindo em frente, e apostando na pujança do mercado asiático que fundamentalmente, no caso da ASEAN, está a ter um impulso extraordinário com a entrada em vigor do ACFTA ou seja o acordo de comércio livre entre a China e os 10 estados membros da associação do sudeste asiático. O comércio entre a China e a ASEAN subiu 38% ultrapassando os 150 mil milhões de Euros no ano passado.

Claro que há sempre um senão e apesar da sociedade tailandesa conseguir ter uma distribuição de riqueza que não é alarmante no que respeita o agravar do fosso social o aumento que se regista actualmente nos preços dos bens de consumo está por um lado a obrigar o estado a abrir os cofres para tentar manter artificialmente os preços e por outro a fazer subir a inflação para níveis que se podem tornar inquietantes.

No que respeita à política do governo de manutenção dos preços de bens essenciais abaixo do seu custo de produção, a par de outras políticas tendentes a atrair os menos favorecidos como empréstimos a longo prazo e sem juros, tal está a ter dois efeitos. Por um lado há produtores que começam a largar sectores que se tornam menos lucrativos (exemplo do óleo de palma) e por outro lado o governo já teve de recorrer a um orçamento extraordinário de 2,5 mil milhões de euros para fazer face a estes custos adicionais com o consequente aumento do deficit orçamental e as implicações futuras dessa prática de políticas populistas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Amarelos e Vermelhos

A saga dos membros da Aliança dos Patriotas que se encontram detidos em Phnon Pehn continua e o PAD decidiu manifestar-se sem parar pedindo a demissão de Abhisit e de kasit o Ministro dos Estrangeiros, ele próprio um membro do PAD.

Os amarelos iniciaram a manifestação na Sexta-feira em frente à Government House e decidiram mantê-la continuadamente bloqueando a rua Pithsanulok que passa em frente do complexo do PM. De igual modo alteraram o seu pedido e já não querem que Abhisit se demita querem que ele seja corrido "por não defender os interesses do país". De acordo com os seus líderes os sete elementos da "força patriótica" não entraram no Camboja pois o terreno que estavam a pisar é terreno tailandês e Abhisit ao aceitar a sua prisão e nada fazer contra isso está a ceder perante os "invasores " cambojanos.

Entendem os elementos deste subgrupo do PAD que o Camboja ocupa ilegalmente parte do território tailandês, visto na área onde foram feitos prisioneiros estarem aquarteladas forças militares do Camboja, e o PM Abhisit ao não defender a pátria dos agressores estrangeiros está a colaborar com eles.

A causa das lutas entre os dois países cada vez tem menos adeptos e isso nota-se no facto da manifestação do PAD não contar com grande apoio (200 pessoas de acordo com a Policia) e só o facto de terem instalado barricadas impede a circulação de carros junto do complexo ministerial. De resto pouco mais de umas centenas serão os elementos aí estacionados que ontem inclusive conviviam com uma caravana vermelha que se passeava pela cidade como se vê acima. Em relação aos vermelhos, que como disse da última vez que se manifestaram a todos espantaram pela grande quantidade de pessoas que trouxeram para a rua, note-se que agora criaram novas formas de se manterem "no ar" com esses passeios dominicais onde vão mostrando as suas cores e acabaram de chegar a acordo com os comerciantes da zona de Ratchaprasong para que as futuras manifestações que ali realizarem (a zona é simbólica e tem a marca dos acontecimentos de Maio passado) sejam curtas e animadas de modo a causar a menor perturbação possível ao comércio da zona.

Na capital do Camboja no sábado passado os 5 elementos dos "patriotas" que se encontram detidos viram o tribunal negar-lhes liberdade sob fiança e dois deles (um dos quais um importante líder amarelo) irão por certo passar um mau momento devido às acusações de espionagem contra eles produzidas pelo ministério público que poderão levar ao encarceramento por longo tempo e em condições que por certo não vão ser as melhores.

O deputado e ex Vice-Ministro Panich bem como uma sua colaboradora foram libertados sob fiança mas estão impossibilitados de sair do país e têm de se apresentar ás autoridades todas as semanas até à conclusão final do processo. Estão actualmente instalados na residência do embaixador Tailandês em Phnon Penh.

Abhisit e Kasit conseguiram que os seus aliados se virassem contra eles e agora bem podem dizer a velha frase "quem necessita de inimigos quando tem amigos destes?".

Contudo é claro que esta acção é um tiro no pé do PAD visto não só o reduzido número de apoiantes que conseguem chamar para as suas manifestações como o facto de quem está em perca neste conflito serem exactamente o movimento e a sua base de apoio. As contra-manifestações de todos aqueles que vivem das relações e trocas comerciais Tailândia-Camboja, e que são muitos, e as palavras de desagrado com a actuação deles já usadas pelo chefe do exército General Prayud, são outros dois elementos que colocam o PAD e os seus mais radicais membros numa situação de perca numa altura em que pelo contrário o movimento necessitava de se reafirmar se têm algum intento de fazer valer os seus pontos de vista nas próximas eleições através da sua estrutura partidária o Partido da Nova Politica.

domingo, 16 de janeiro de 2011

José Eduardo Bettencour abandona

O Sporting sofreu mais uma humilhante derrota em Alvalade e José Eduardo Bettencourt apresentou a demissão do seu cargo de Presidente no rescaldo do jogo.

Oito anos na Vice-Presidência do clube, alguns dos quais na companhia de JEB e quase 63 anos de sócio, impedem-me de não me manifestar perante a situação.

Tenho por JEB amizade e respeito pessoais. É uma pessoa de bem, um sportinguista nato de coração generoso mas faltou-lhe liderança à frente do clube.

Desde cedo deixou que a estrutura e sobretudo os “abutres” (não gosto muito de adjectivar pessoas mas neste caso faço-o) que voam sempre sobre os clubes de futebol tomassem conta da nau e as consequências foram visíveis.

O futebol é um sector da industria de entretenimento muito especial e que movimenta muitos interesses sendo o principal os holofotes que sempre estão sobre os actores. A maioria diz detestar a atenção que a comunicação social dá ao mais pequeno acontecimento, mas não é capaz de resistir em aparecer numa boa capa especialmente quando esta o adula.

O futebol carece de uma forte liderança, unipessoal pois se assim não for não é liderança é um pseudo comando cedendo à esquerda e á direita e portanto não seguindo em frente. Como referi conheci com alguma profundidade o meio do futebol e a grande diferença que existe entre o FC do Porto e os seus dois grandes rivais é que naquele clube sabe-se quem manda. Ninguém tem dúvidas e nessa questão não entram empresários de futebol nem promotores publicitários, muito ao contrario do que acontece nos clubes de Lisboa.

As ditaduras, assim se pode chamar ao que me refiro, são pouco do meu agrado mas no futebol têm a enorme vantagem de não permitir intrusões alheias nem dúvidas sobre a liderança.

Ao grosso dos actores do futebol não se pode pedir, até pela sua proveniência social (e não escondamos as coisas – ainda me lembro do Cristiano Ronaldo com 16 anos que nem falar sabia) e formação, repito, não se pode pedir que actuem num ambiente de liberdade/responsabilidade que seria decerto mais produtivo.

José Mourinho costuma dizer que prefere jogadores inteligentes do que jogadores com grande talento e ele diz isso pois é mais simples para ele fazer entender os seus pontos de vista de uma forma concertada junto daqueles que têm capacidades de assimilação superiores.

Quem se aproveita deste ambiente são os “apoiantes, conselheiros e outros” dos actores e todas essas opiniões “avisadas” nada acrescentam ao bom funcionamento de uma equipa de futebol que necessita essencialmente de conhecer o “dono” e saber com muita clareza o dia seguinte.

Nada disso aconteceu durante a gestão de JEB. Os problemas de uma estrutura complexa, muito ao estilo empresarial mas não atenta aos recursos humanos de que dispunha, muito cedo começaram a vir ao de cima e JEB começou a isolar-se criando uma barreira entre ele e os que tinham opiniões diversas (e que no seu entender estavam contra ele) o que levou à demissão de Rita Figueira, Miguel Ribeiro Telles, entre outros.

O dia em que JEB, o Presidente, veio a público chamar de terroristas aos sócios, mostrou-me o seu isolamento. Um Presidente nunca diz isso. Um Presidente “manda” dizer, um Presidente tem os seus apoiantes que dizem isso e outras coisas mas não pode descer tão baixo. Como o JEB eu também sou fundamentalmente um “adepto do peito” do clube mas o Presidente tem de deixar por momentos esse título de adepto pois tem de ter uma postura que não se conforma com o grito que se dá no momento em que o golo acontece, o impropério que se lança quando algo não core como gostamos, etc.

A recente contratação do José Couceiro, outro sportinguista sem dúvida e sem mácula, veio mais uma vez mostrar a incapacidade de JEB lidar com o universo complexo que é uma estrutura e um clube de futebol.

Que eu saiba JC não entrou para substituir ninguém, ninguém se demitiu para que ele entrasse, então porque é que só após tanto tempo foi notada a necessidade de um Director-Geral que afinal é mas é Administrador e que de início manda num dos administradores que por sua vez manda em JC.

A confusão com esta nomeação, que nada irá acrescentar ao clube a não ser mais um cadáver para outro armário, mostra a falta de ruma da estrutura do clube.

Agora virá outro Presidente mas a estrutura, as portas abertas aos adeptos, aos empresários, aos patrocinadores e aos jornalistas continuam escancaradas e portanto sem ser possível fazer uma remodelação completa (extremamente dispendiosa no momento em que a dívida é assustadora) em nada irá mudar o futuro próximo do clube com muita, mesmo muita pena minha.

Até à entrada do JEB o clube estava a trilhar os primeiros passos para poder criar uma organização com algum potencial de futuro. Os resultados desportivos eram razoáveis. Agora voltámos para trás e vai ser muito difícil encontrar o rumo.

A JEB nunca lhe faltou o empenho, que sempre foi muito, mas faltou-lhe o engenho.