Escolher a personalidade ou o facto do ano é sempre um exercício delicado visto muitos ficarem de fora e muitas vezes sem razão aparente pelo que este tipo de escolhas acaba sempre por ser fundamentalmente pessoal e apresenta só uma visão.
Poder-se ia pensar que na Tailândia a figura do ano seria Abhisit, o PM que luta pele sua sobrevivência e que hoje mesmo é considerado pelos jornalistas acreditados em
Governmental House e que cobrem as suas actividades como um homem inteligente mas indeciso. Poderia ser o sempre presente Thaksin, com as suas manobras de bastidores na ânsia de regressar e recuperar o poder que o golpe de estado de 2006 lhe tirou. Poderia ser um outro qualquer político ou militar sempre tão presentes na vida diária no país. Poderia ser, com propriedade, o Rei Rama IX pela sua carreira de dedicação ao povo e pelo facto de se encontrar fragilizado tendo mesmo de se manter internado no Hospital de Siriraj desde 19 de Setembro. Poderia ser o seu filho o Príncipe Vajiralongkorn apelidado pelo Bangkok Post, num inédito artigo a 19 de Dezembro passado, “
King in Waiting”.
Do lado dos factos poderia ser o nascimento de Lin Ping, acontecimento nacional ou a continuada luta no Sul do país que já leva mais de 4.000 mortos ou ainda os já estafados movimentos da UDD e do PAD.
Contudo escolherei para acontecimento e figura do ano a luta pelo ambiente e a pessoa do advogado Srisuwan Janya que com a campanha e a liderança do movimento
Stop Global Warming Association, lançou um debate de grande impacto na sociedade tailandesa.
Map Ta Phut é um parque industrial na província de Rayong onde imperam essencialmente as indústrias petroquímicas e associadas. É uma das zonas mais poluídas do país mas para além disso é uma zona onde os índexes de qualidade de vida estão reduzidos dramaticamente. Muitos têm sido os casos de raras doenças e posteriores mortes a aparecerem nas comunidades que vivem por perto ou nos milhares de trabalhadores que dia a dia ali operam.
O desenvolvimento industrial é essencial para a economia do país mas tem sido feito num permanente atropelo das regras de segurança sanitárias e ambientais. A ganância dos empresários e dos estados, em muitos pontos do globo, tem produzido parques como o de Map Ta Phut um pouco por todo o lado e se queremos algo fazer para proteger o planeta onde vivemos e onde viverão os nossos filhos e netos é necessária acção. Não a acção dos líderes em Copenhaga, onde nada se viu de concreto, mas a acção da sociedade civil, aquela que de uma forma organizada e responsável sabe tomar em suas mãos os ideais e os projectos de futuro como é o caso do trabalho de Srisuwan.
Este advogado ousando enfrentar os poderosos
lobbies empresariais tailandeses interpôs acções nos tribunais contra um total de 76 projectos novos de investimento na zona que no seu entender não cumpriam as regras de protecção ambiental devidas e conseguiu que o tribunal lhe desse razão em 65 desses casos.
Milhares de milhões de dólares de investimento estão parados, o Banco Central diz que a não resolução dessta questão levará a uma quebra para o próximo ano de 0.5% do PIB mas mesmo assim Srisuwan conseguiu os argumentos suficientes para fazer alertar as mentes de todos para os perigos da reprodução selvagem de fábricas e refinarias sem o devido enquadramento ambiental
O poder da Sociedade Civil e das suas acções é hoje em dia inquestionável é torna-se em muitos dos casos a peça fundamental na diplomacia e na conquista de causas que de outro modo não se conseguem. Carne Ross, um antigo diplomata inglês que, entre outros locais, esteve colocado nas Nações Unidas diz, num artigo publicado na revista
Europe's World, que é chegado o tempo dos Embaixadores darem lugar á Sociedade Civil na defesa dos interesses que não são mais bilaterais ou de um só país mas da humanidade e das comunidades.
O exemplo deste advogado é bom ser lembrado quer aos “vermelhos” quer aos “ amarelos” pois ele mostrou que com uma luta correcta, argumentada, e pacífica se consegue vencer mesmo os mais poderosos como são os grandes patrões da indústria.
Merece, para mim “a medalha do ano”.