sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Mensagem do Rei


O Rei Rama IX, embora continue hospitalizado por medida de precaução, falou ontem aos tailandeses, como costuma fazer no início do ano para, numa mensagem simples, lhes lembrar, e talvez a todos os que o ouvirem e entenderem, que fazer bem aos outros, pensar nos outros antes de pensarmos em nós é um bem que fazemos a nós próprios e ao colectivo.

สวัสดี ปี ใหม่ ou seja Bom Ano Novo para todos.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Santika - Um Ano Depois













Um ano passou sobre o incêndio no Santika que tantos danos pessoais e materiais causou e nada aconteceu.

Ninguém foi constituído arguido, não se conhece nenhum desenvolvimento das investigações mas as vítimas que fez continuam a sofrer como é o caso de Kanchan, uma jovem de 27 anos que desde esse fatídico dia se encontra num quarto esterilizado de um hospital, sofreu já inúmeras operações, e muitas outras se perfilam no horizonte, e fundmantalmente perdeu a vivacidade dos seus dias, não quer ver nenhum dos seus antigos amigos e vive afastada de um mundo que tanto a acolhia, ou de Pirawat, de 35 anos cuja mãe tem de dormir com ela no hospital devido ás tendências suícidas que demonstra face à incapacidade de suportar o horror que é agora a sua cara e a sua vida.

Estas são somente duas das muitas vítimas de um crime do qual ninguém é acusado nem feito responsável isto mesmo depois de ter havido uma investigação levada a cargo pelo governo que dava claros indícios de qum seriam os responsáveis por uma discoteca funcionar sem autorização e sem nenhumas das medidas de segurança exigidas.

Na voz corrente do povo sabe-se muito bem quem está por detrás daquele "inferno" mas o sistema judiciário é inepto na condução das investigações e na consequente apresentação de responsáveis perante a justiça.

Assim se passa com quase todos os casos em que estarão envolvidas figuras com protecção superior.

Por muito que pregue São Tomás, aka Abhisit, sem actos concretos e actuação pronta e responsável, não se chega lá.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Thai Kaem Khaeng - Tailândia Forte



Depois de ter rebentado o escândalo no Ministério da Saúde Pública, Abhisit reconheceu, em comentários feitos à imprensa, que vai agora ser mais difícil continuar com o programa de recuperação da economia devido ás suspeitas em que este já está envolvido.

O Secretário de Estado da Saúde Pública, pertencente ao Partido Bhum Jai Thai de Nevin Chidchob (BJT - sempre ele) e que é acusado no relatório recentemente trazido a lume de ter pressionado os funcionários para favorecerem a província pela qual é Deputado, vem de uma forma confirmar a acusação mas dizendo, candidamente, que não fez mais do que o seu dever como Deputado. Ou seja o Deputado Manit lobbying o Secretário de Estado Manit para que este fizesse uma distribuição que favorecesse os seus eleitores por certo antevendo a necessidade de lembrar isso ao povo aquando das próximas eleições.

Korn Chatikanavij, o Ministro das Finanças, e companheiro de sempre de Abhisit, veio dizer da necessidade de conduzir uma investigação independente em todos os Ministérios que estão envolvidos no pacote de estímulo da economia Tailândia Forte, isto depois de várias empresas de construção terem afirmado que actualmente estariam a pagar 20% do custo de cada projecto, aos políticos envolvidos, nomeadamente nos projectos em curso no Ministério dos Transportes (também do BJT).

Referem esses empresários que se não pagarem não conseguem os contractos e que o preço actual, de 20% da totalidade de cada projecto, é superior ao do que pagavam antigamente no tempo de Thaksin.

Toda esta saga da corrupção fez-me lembrar o estudo feito pela The Asia Foundation, e a que já anteriormente me referi, que, na resposta a uma pergunta sobre a corrupção apresenta um espantoso número de 94% dos tailandeses a dizerem que faz parte do funcionamento da sociedade. Igualmente, não há muito tempo, apareceu um estudo feito por uma Universidade onde se concluía que 36% dos deputados de igual forma consideravam a corrupção uma questão normal na vida pública tailandesa. Talvez por essas e por outras é que o país desceu no índice anualmente publicado relativo à corrupção no país.

Também há cerca de três meses em conversa com o Presidente do partido da oposição ele me dizia que a coligação no poder iria cair de podre devido aos casos de corrupção que iria ver a público. Note-se que o Puea Thai conhece bem os parceiros de Abhisit pois eles estavam de braço dado com o PPP no ano passado.

Abhisit e Korn são pessoas de outra geração e de outros interesses mas parecem frágeis animais no meio de um ninho de cobras, perigosas e escorregadias.

Mais uma luta para Abhisit que por certo vai passar a noite de fim de ano a pedir que o tirem dali mas sabendo ao mesmo tempo que desistir é uma derrota para ele e para o país.

A Personagem do Ano



Escolher a personalidade ou o facto do ano é sempre um exercício delicado visto muitos ficarem de fora e muitas vezes sem razão aparente pelo que este tipo de escolhas acaba sempre por ser fundamentalmente pessoal e apresenta só uma visão.

Poder-se ia pensar que na Tailândia a figura do ano seria Abhisit, o PM que luta pele sua sobrevivência e que hoje mesmo é considerado pelos jornalistas acreditados em Governmental House e que cobrem as suas actividades como um homem inteligente mas indeciso. Poderia ser o sempre presente Thaksin, com as suas manobras de bastidores na ânsia de regressar e recuperar o poder que o golpe de estado de 2006 lhe tirou. Poderia ser um outro qualquer político ou militar sempre tão presentes na vida diária no país. Poderia ser, com propriedade, o Rei Rama IX pela sua carreira de dedicação ao povo e pelo facto de se encontrar fragilizado tendo mesmo de se manter internado no Hospital de Siriraj desde 19 de Setembro. Poderia ser o seu filho o Príncipe Vajiralongkorn apelidado pelo Bangkok Post, num inédito artigo a 19 de Dezembro passado, “King in Waiting”.

Do lado dos factos poderia ser o nascimento de Lin Ping, acontecimento nacional ou a continuada luta no Sul do país que já leva mais de 4.000 mortos ou ainda os já estafados movimentos da UDD e do PAD.

Contudo escolherei para acontecimento e figura do ano a luta pelo ambiente e a pessoa do advogado Srisuwan Janya que com a campanha e a liderança do movimento Stop Global Warming Association, lançou um debate de grande impacto na sociedade tailandesa.

Map Ta Phut é um parque industrial na província de Rayong onde imperam essencialmente as indústrias petroquímicas e associadas. É uma das zonas mais poluídas do país mas para além disso é uma zona onde os índexes de qualidade de vida estão reduzidos dramaticamente. Muitos têm sido os casos de raras doenças e posteriores mortes a aparecerem nas comunidades que vivem por perto ou nos milhares de trabalhadores que dia a dia ali operam.

O desenvolvimento industrial é essencial para a economia do país mas tem sido feito num permanente atropelo das regras de segurança sanitárias e ambientais. A ganância dos empresários e dos estados, em muitos pontos do globo, tem produzido parques como o de Map Ta Phut um pouco por todo o lado e se queremos algo fazer para proteger o planeta onde vivemos e onde viverão os nossos filhos e netos é necessária acção. Não a acção dos líderes em Copenhaga, onde nada se viu de concreto, mas a acção da sociedade civil, aquela que de uma forma organizada e responsável sabe tomar em suas mãos os ideais e os projectos de futuro como é o caso do trabalho de Srisuwan.

Este advogado ousando enfrentar os poderosos lobbies empresariais tailandeses interpôs acções nos tribunais contra um total de 76 projectos novos de investimento na zona que no seu entender não cumpriam as regras de protecção ambiental devidas e conseguiu que o tribunal lhe desse razão em 65 desses casos.

Milhares de milhões de dólares de investimento estão parados, o Banco Central diz que a não resolução dessta questão levará a uma quebra para o próximo ano de 0.5% do PIB mas mesmo assim Srisuwan conseguiu os argumentos suficientes para fazer alertar as mentes de todos para os perigos da reprodução selvagem de fábricas e refinarias sem o devido enquadramento ambiental

O poder da Sociedade Civil e das suas acções é hoje em dia inquestionável é torna-se em muitos dos casos a peça fundamental na diplomacia e na conquista de causas que de outro modo não se conseguem. Carne Ross, um antigo diplomata inglês que, entre outros locais, esteve colocado nas Nações Unidas diz, num artigo publicado na revista Europe's World, que é chegado o tempo dos Embaixadores darem lugar á Sociedade Civil na defesa dos interesses que não são mais bilaterais ou de um só país mas da humanidade e das comunidades.

O exemplo deste advogado é bom ser lembrado quer aos “vermelhos” quer aos “ amarelos” pois ele mostrou que com uma luta correcta, argumentada, e pacífica se consegue vencer mesmo os mais poderosos como são os grandes patrões da indústria.

Merece, para mim “a medalha do ano”.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Demissão

Numa atitude pouco comum o Ministro da Saúde Pública, Witthaya Kaewparadai, apresentará a sua demissão do Governo, numa carta a enviar ao PM amanhã, na sequência de ter sido considerado negligente na sua actuação num caso de possível corrupção no seu ministério.

O Ministro, membro do Partido Democrata, disse aceitar a sua responsabilidade política no caso que, após o inquérito levado a efeito, mostrou haver 30 membros do seu ministério envolvidos num esquema fraudolento de compras de productos e equipamentos no âmbito do plano de estímulo da economia conhecido como Thai Khem Kaeng (Tailãndia Forte).

As acusações são essecialmente de empolamento de preços de equipamentos: aparelhos de monitorização cardiológica de 3,5 para 9,2 milhões de bath; equipamento de fluoroscopia digital de 8 para 15 milhões de bath: ventoinhas ultravioletas de 40 para 80 mil bath cada; máquinas de rádioterapia de 19,2 para 27 milhões de bath, etc.

A conduta do Secretário de Estado é também criticada no relatório final, e em termos mais fortes do que o Ministro visto se identificar que pressionou os funcionários para que fosse favorecida a província pela qual foi eleito. Contudo não é conhecida nenhuma reacção deste que terá sido o primeiro a ter conhecimento da decisão do seu Ministro.

Coincidência?


Wassana Nanuam, a jornalista do Bangkok Post que cobre os assuntos militares escreve hoje um interessante artigo sobre a visita dos altos quadros militar a Si São Theves, a casa do General Prem Tisunalonda, Presidente do Conselho Privado do Rei.

Prem apareceu vestido em uniforme militar. A última vez que foi visto assim vestido foi em Agosto de 2006, um mês antes do golpe que derrubou Thaksin, e quando se empenhou numa série de visitas a unidades militares incentivando os oficiais a cumprirem o seu dever de defender o Rei e a monarquia.

Ontem Prem também incentivou os militares ao mesmo dever e recomendou como um “must read” o artigo publicado no Naew Na por Chirmsak Phinthong, conhecido activista do PAD, que tem por título e conteúdo o facto de, segundo o autor, o país estar à beira de uma guerra civil.

Ontem também Prem foi às escolas do exército sedeadas em Bangkok onde falou aos cadetes sobre os seus deveres e a monarquia.

Prem fez ainda questão de salientar e referir como um exemplo a seguir o trabalho do General Prayuth Chan-ocha, o número dois do exército, "em defesa da monarquia", uma forma aparente de "lhe passar a mão pelo pêlo" quando são conhecidas as divergências deste com o General Piroon Paewpolsong, o número três, e homem muito próximo de Prem. Diz-se que Piroon foi colocado no comando geral do exército para evitar a sucessão de Prayuth após a retirada de Anupong já que Piroon é um ano mais velho.

Parece um remake de 2006 e dos momentos que antecederam o golpe de 19 de Setembro.

Creio bem que o velho General, Prem tem actualmente 89 anos, desta vez está enganado. Não se pode sempre ver a vida pelo passado. Aqueles, como ele, que recusam olhar para a frente, enganam-se muitas vezes nos seus julgamentos.

Só falta agora Anupong vir uma vez mais dizer que não há golpe.

Penso desnecessário pois os tailandeses estão fartos destes tipos de jogos e cada vez mais têm a consciência daquilo que necessitam fazer para assegurar o seu futuro e o do seu país.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O General

Anupong recebendo o testemunho de Sondhi


Todos os anos em Setembro são feitas as mudanças nos comandos das forças militares e da Polícia. Nesta última, como se sabe, a devida transição ainda está por acontecer por causa da luta travada entre poderosas forças na superstrutura ás quais Abhisit não consegue dar uma resposta.

Assim no próximo dia 30 de Setembro de 2010 o General Anupong Paochinda, comandante do exército, cessará funções devido ao facto de atingir o limite de idade ou seja fazer 60 anos no decorrer do próximo ano.

Anupong durante o ano de 2008 foi um dos principais intervenientes da vida política aparecendo quase que diariamente nos meios de comunicação social por tudo e por nada. Era sempre a opinião dele que contava e por centenas de vezes veio dizer que os militares não fariam um golpe de estado. Curiosamente ele próprio tentou um golpe de estado sui-generis quando em finais de Outubro de 2008 apareceu no canal de televisão controlado pelos militares, numa espécie de conferencia de imprensa, acompanhado de todos os outros altos comandos militares e militarizados, e afirmou que o primeiro-ministro, Somchai Wongsawat se deveria demitir.

Durante quase todo o ano de 2009 Anupong manteve-se muito mais contido aparecendo poucas vezes nos media e fazendo poucas afirmações. Fontes próximas do General dizem que ele tem tentado manter-se afastado dos grupos políticos rivais e mesmo das forças políticas ou de poder que puxam os diversos cordéis na sociedade, mantendo-se confinado a gerir as forças armadas e a preparar a sua sucessão. As nomeações que fez para os diversos comandos durante o ano de 2009 são disso um sinal.

Preparar a sucessão significa também preparar o futuro. Anupong faz 60 anos o que lhe deixa ainda muita energia disponível para aventuras que queira prosseguir após o dia 1 de Outubro próximo.

Vem isto a propósito de afirmações suas referentes ao ano 2010 vindas hoje a público.

Para além de pela enésima vez ter dito que não haverá um golpe de estado em 2010, vem fazer um conjunto de afirmações de carácter político que prenunciam algo daquilo que deverá estar a tactear para o seu futuro.

Assim refere o General: “ É o dever de todos os tailandeses salvaguardar a pátria e ninguém deverá permitir que o combate político fuja aos princípios democráticos”. “Os campos opostos, distinguidos por diferentes cores, devem suspender a sua luta e deixar o processo político decorrer em normalidade”. “ Planos em qualquer dos campos para aniquilar o outro só leva ao aniquilamento da nação”. “Estou confiante que a maioria dos tailandeses é capaz de entender estas questões. O país é como um barco onde todos navegamos e nada se ganha, nem a Democracia, se o barco se afundar”

Estas afirmações vindas de um militar, que tem estado a preparar a sua passagem à reforma e tem estado calado, só podem trazer “água no bico” e serem o prenúncio da entrada de Anupong Paochinda na vida política depois de reformado aliás como já fez o seu antecessor e líder do golpe de estado de 2006, Sonthi Boonyaratglin, que é agora o Presidente do partido Matuphum.

Deportação

Afastado dos olhos de todos, incluída a comunicação social que foi proibida de relatar (nem um simples artigo de opinião aparece nos jornais), começa, segundo se crê hoje, a deportação de cerca de 4.371 Lao Hmong detidos no campo de refugiados de Huay Nam Khao na província de Petchabun no nordeste tailandês.

Para tal estão mobilizados 4.500 militares, polícias e forças especiais do Ministério do Interior para conduzir a deportação e criar uma zona de cerca de 10 quilómetros em redor do campo onde o acesso é bloqueado a agentes das Nações Unidas, diplomatas e jornalistas.

A luta dos Hmong, uma minoria no Laos, vem desde 1946 quando este grupo étnico comandado por Touby Lyfoung libertou o Rei do Laos que tinha sido destituído pela força pelo Príncipe Souphanouvang e seus irmãos. A luta dos Hmong desde essa altura tem sido uma luta contra o regime comunista que dirige o Laos, ora apoiada pelos franceses ora mais tarde, aquando da guerra do Vietname, pelos americanos. Nessa altura as forças comunistas do Pathet Lao apoiavam os combatentes comunistas do país vizinho e eram apoiadas pelo regime Soviético.

Ao longo dos anos centenas de milhares de Hmong perseguidos pelos comunistas refugiaram-se nas montanhas do país ou na Tailândia, o país de retaguarda das forças americanas na região. Durante a investida comunista no sudoeste asiático a Tailândia foi fortemente apoiada pelas forças americanas de forma a poder servir de tampão à expansão soviético-chinesa de Khruschev/Brezhnev e Mao Zedong.

Os Estados Unidos têm sido desde sempre um país de acolhimento de muitos refugiados Hmong mas, e apesar de continuar a manter uma muito próxima relação com o governo tailandês, vê-se impotente para travar a deportação que como disse estará já em curso.

Durante a visita feita pelo antigo PM Samak ao Laos foi assinado o acordo de repatriação dos refugiados tendo sido acordado que tal se faria até ao final do ano de 2009. Abhisit, embora fortemente pressionado pelos parceiros, especialmente os Americanos e os Europeus, para além das Nações Unidas, manteve o acordo e recusa falar sobre os refugiados passando a “batata quente” sempre para os militares.

Posso acrescentar que cada vez que uma das missões diplomáticas em Bangkok levanta o assunto junto de entidades governamentais e resposta é sempre o silêncio total e absoluto.

A questão coloca-se no quadro dos Direitos Humanos já que a deportação é feita contra a vontade dos refugiados e é sabido que as forças políticas e militares no Laos não são propriamente amigáveis a tratar estas questões. No fundo os Hmong foram e são inimigos de um regime comunista que, embora tenha uma face simpática para o exterior, não se compadece com opositores ou com aqueles que entendem por bem criticá-lo.

O Governo tailandês está assim a prestar um péssimo serviço à causa da protecção dos Direitos Humanos e esta sua atitude vai ter por certo repercussão nas relações com o mundo, ainda para mais quando tudo faz para ocultar o que está acontecendo.

A organização da Nações Unidas para os Refugiados já reclamou veementemente contra a situação e, apesar de ter sido bloqueado o seu acesso ao local, mostra-se disponível para, a qualquer momento, enviar observadores para acompanhar o processo.

Uma nota bem negativa para o governo de Abhisit.