sábado, 29 de maio de 2010

Silom

Numa iniciativa do Governador de Bangkok, M.R. Sukhumbhan, Silom transformaou-se numa rua piedonal que ontem fez a alegria de muitos e dos comerciantes da área tão afectados pela ocupação pelos vermelhos da zona adjacente do parque Lumpini.

Embora Silom tivesse escapado à ocupação vermelha o facto é que o medo de que eles por ali se instalassem fez com que fosse de facto ocupada pelo exército, cheia de arame farpado e de forças miliatres durante mais de um mês o que afastou todos de uma das mais tradicionais zonas de comércio da capital. Os acontecimentos sangrentos que por alí também aconteceram por várias ocasiões levaram a que a zona Silom-Saladaeng se tivesse transformado, tal como Rajaprasong, numa zona de alto perigo e inacessível.

Esta iniciativa do governo da cidade é de saudar e o facto de milhares de pessoas terem respondido positivamente com a sua presença foi um sinal muito positivo.

Silom de novo com o seu sorriso na face é um dos sinais da Bangkok pós o Maio sangrento de 2010 e uma esperança para o futuro.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Saldanha Sanches

Não me situo no mesmo quadrante político de José Luis Saldanha Sanches mas reconhecia-lhe uma característica que, a tem também sua mulher, e que no texto (abaixo) que lhe dedica e que publicou, diz: "A intolerância contra os corruptos, cobardes e oportunistas". Não posso estar mais de acordo.

Zé Luis: começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria. Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:

”Apesar das ruínas e da morte,

Onde sempre acabou cada ilusão,

A Força dos teus sonhos é tão forte,

Que tudo renasce a exaltação

E nunca as minhas mãos ficam vazias”.

Assim foi.

No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.

Entraste pela morte dentro de olhos abertos. O mundo que habitavas era rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.

Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente brilhava uma estrela de tristeza. Quando te deixava ao fim do dia na cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.

Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas. Não suportavas facilidades. Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.

Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem:

para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao serviço médico público.

Vivi com emoção diária o carinho com que te cuidaram.

Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e para o Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.

Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família que nunca te deixou.

Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor

Albuquerque, cada um à sua maneira.

Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada do dia 14 de Maio.

Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e conversávamos.

Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te homenagearam – a quem deixo a tua eterna gratidão.

Tenham a coragem de continuar.

[16.05.2010 - Maria José Morgado]


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ainda Yala

O atentado de ontem em Yala que acabou por fazer 2 mortos e 52 feridos teve um eco reduzido na comunicação social.

Só o The Nation lhe dá algum relevo.

Nos outros jornais, quer de língua inglesa quer de língua tailandesa o assunto foi relegado para páginas menores e feito um simples relato circunstancial das explosões e suas consequências.

Foi um atentado contra civis inocentes, embora se pense que o alvo era um Major do Exército que passava no local no momento mas num carro blindado o que o colocou a salvo de qualquer eventualidade.

Foi destruída a fachada de um stande de automóveis da marca Mazda, que nada tem a ver com a questão, e quer os mortos quer os feridos eram pessoas, civis e policias que se encontravam, para azar deles, no local.

As primeiras páginas dos jornais, na sua maíoria mostram hoje a fotografia de uma faustosa mansão no Montenegro, presumivelmente pertença de Thaksin, no intuito de mostrar a disparidade da sua vida de luxo e a daqueles que o suportam aqui na Tailândia, o que é uma verdade.

A campanha contra o "terrorista" ex PM parece ser mais importante do que as vidas daqueles que vão perecendo diáriamente no Sul do país.

Tudo isto tem por base a política de interesses domésticos pois inclusíve a emissão de um mandado de captura contra o fugitivo ex PM e as suas consequências em termos de uma possível prisão e extradição é um assunto que vai durar bastante tempo a tomar corpo.

Há todo um conjunto de procedimentos legais, quer aqui no país, quer junto da Interpol para que algo de concreto possa acontecer.

Basta a Tailândia lembrar-se de Rakesh Saxena que só 13 anos após ele ter sido capturado no Canadá conseguiu que fosse extraditado, ou o caso do "comerciante da morte", o russo Victor Bout, que se encontra em prisões tailandesas e o sistema judicial se recusa a extraditar para os Estados Unidos conforme pedido formal nesse sentido. Victor Bout está no topo da lista dos homens mais procurados pela Interpol por crimes contra a humanidade.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Hoje em Rajadamri.

Milhares de pessoas acorreram hoje á avenida Rajadamri, que liga Rajaprasong a Saladaeng, e anteriormente ocupada pela UDD, numa cerimónia religiosa, oferecendo comida aos, também muitos, monges, forma que os tailandeses têm de pedir perdão sobre e de purificar os maus momentos.


Terrorismo?

Como quase todos os dias acontece explodiram no Sul do país, na província de Yala, esta manhã, duas bombas de cujo incidente sairam feridas 30 pessoas e 2 morreram.

A acção de separatistas muçulmanos no Sul do país, fundamentalmente desde 2004, já causou mais de 4.000 mortos entre a população civil e as forças da ordem aí estacionadas que são um total de cerca de 120.000 entre soldados, polícias e rangers fundamentalemente de uma força patrocinada por SM a Rainha.

Apesar de todo este aparato militarizado o conflito mantêm-se activo e os incidentes, mais ou menos sangrentos, acontecem com uma regularidade impressionante.

Pattani, Narathiwat e Yala são as três províncias mais afectadas e nelas vigora em parmanência a Lei Marcial garantindo a actividade das forças aí estacionadas contra os grupos teroristas que operam na região.

Interessante que os governos tailandeses nunca apelidaram os activistas muçulmanos a actuarem no Sul, sabendo-se que muitos dos jovens são formados em Madrassas no Paquistão, de terroristas. O presente governo, utiliza agora essa mesma palavra quando se refere aos elementos da UDD envolvidos nos sangrentos incidentes de Bangkok.

Vários entre eles, incluíndo o fugitivo ex PM Thaksin, foram acusados formalmente de terroristas, e contra eles emitidos os mandados de captura nisso baseados.

Deverá concluir-se que o movimento separatista no Sul do país não é operado por teroristas, ou então que existem dois entendimentos diferentes para o qualificativo dependente dos interesses que são atingidos.

The Nation

Hoje o The Nation traz na página 16A, ocupando mais de meia página, a lista das pessoas contra os quais foram emitidos pelo tribunal mandados de captura, na sequência dos acontecimentos recentes, com um título a grandes letras "WANTED".

Depois desfilam as fotografias de 16 procurados e mais três nomes sem fotografia.

Pretende por certo ser uma informação para o público mas prima pelo mau gosto.

Dos 19, 7 estão detidos pela polícia 11 não se conhece o paradeiro e 1 morto. Estão actualmente detidos, como pertencentes á liderança da UDD, de acordo com a lista fornecida pela polícia, um conjunto de 21 indivíduos dos quais só 5 se encontram na lista produzida pelo The Nation.

Para além desta confusão é extrememente desagradável e um péssimo serviço de comunicação ver a cara do Major-General Khattiya Sawasdipol, aka, Seh Deang, como procurado pela polícia, como se todos não o tivessem visto a toda a largura da primeira página do mesmo jornal após ter sido abatido por uma bala que nunca se saberá de onde veio.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bangkok Acorda

Os carros voltaram a Rajaprasong uma das artérias mais congestionadas de Bangkok.

O Governado da cidade fez um trabalho excelente colocando milhares de trabalhadores, bem coordenados, em acção que práticamente em três dias limparam a cidade de grande partes das marcas deixadas por dois meses de ocupação da UDD e das manchas negras dos incêncios do dia 19.

Os prédios que foram afectados mostram ainda as suas entranhas, como o Central World, à direita na fotografia mas a vida regressa á normalidade pouco a pouco.

Contudo o governo estendeu o Recolher Obrigatório até ao dia 28, Sexta-feira, passando agora a ser da meia-noite até às 4 da manhã,

A único facto ainda pouco normal que vi hoje, para além da fachada do Central World bem negra, for a existência de patrulhas militares armadas deslocando-se em motociclos, o que me pareceu invulgar e perigoso pois a possibilidade de um acidente é sempre grande. Recorde-se que morrem no país, em média, 38 pessoas por dia, só em desastres com motorizadas.

O que terá Mudado?

Na tarde do dia 19 de Maio, quando Bangkok começava a arder devastada pela fúria e raiva (como lhe chamou Panittan) vermelha o Canal 3 da Televisão estava no ar quando de repente foram ouvidos tiros e os jornalistas que ali trabalhavam entenderam que era altura de fugir pois também perceberam que a base do edifício estava a ser posta a arder.

Karuna Buakamsri lia as notícias nesse momento quando teve de descer apressadamente as escadas e fugir com os seus colegas pelas traseiras do edifício para o conjunto de emaranhado de ruas pequenas que se estendem entre Sukhumvit 32 e 36.

Karuna deixou nos agora, impresso no New York Times este relato dos momentos que viveu fazendo uma muito interessante comparação com o que ela própria tinha vivido 18 anos atrás.

Diz nele que nessa altura, o também sangrento Maio de 1992, teve igualmente de fugir para salvar a vida ao mesmo tempo que muitos dos seus companheiros de luta pela Democracia pereciam ás balas dos militares.

Diz ela que ness altura estavam lá na mesma luta e na mesma plataforma Jatuporn (UDD), Pipop (PAD), Jaran (UDD), Suryasai (PAD), Weng (UDD), Somsak (PAD). Igualmente Chaturon Chaisaeng e Abhisit Vejjajiva, o ex líder do Thai Rak Thai e actual representante de um thaksinismo sem Thaksin, e o actual Primeiro Ministro, ainda um jovem tal como a reporter.

Karuna acaba com duas perguntas.

O que aconteceu? Alguém pode explicar-me?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Thitinan sobre Abhisit

Num artigo de opinião o Professor Thitinan Pongsudhirak analisa a presente situação depois dos acontecimentos que qualifica como os mais sanngrentos da história moderna tailandesa.

Thitinan é um dos mais activos académicos da universidade tailandesa, e na sua qualidade de Director do Centro de Estudos Estratégicos de Chulalongkorn (ISIS) tem sido capaz de produzir aí um forum de debate dos grandes temas da sociedade tailandesa.

Feroz crítico de Thaksin viveu maus momentos na Universidade na altura do domínio thaksinista. Thitinan e Abhisit fazem parte de uma mesma geração de académicos tailandeses, de idades muito semelhante, formados em Londres e com uma visão do mundo muito próxima. Thitinan nunca aderiu a nenhum partido mas não teve problemas em apoiar Abhisit embora tivesse sido critico da forma como o actual PM chegou ao poder, preferindo, como muitos, ver os Democratas no poder através de um novo processo eleitoral.

Com o desenrolar do mandado do actual PM veio a perder a crença na sua capacidade para operar a mudança que entende ser necessária no país já que punha esperanças em ver Abhisit como o seu autor. O ISIS várias vezes recebeu debates abertos sobre a evolução do panorama políitico partidário no país e Thitinan começou a ser considerada uma pessoa incómoda para o regime do qual ele era uma peça fundamental. Actualmente está na Califórnia na Universidade de Stanford no centro de estudos humanísticos como professor convidado.

Do artigo, do qual aconselho a leitura, retiro algumas linhas em tradução minha.

"Depois dos acontecimentos sangrentos de Abril 2009, Abhisit propos um plano de reconciliação e de reformas, incluíndo a da Constituição. Nada aconteceu e a divisão na sociedade agravou-se contribuindo para os acontecimentos recentes".

"Para os vermelhos nada mudou. Causaram tumultos em 2009 voltaram a causá-los em 2010 mas as queixas mantêm-se e não foram atendidas".

Faz um apelo à investigação independente de tudo o que aconteceu e termina com um forte apelo para que Abhisit, resigne ("deve considerar fazer um sacrifício pessoal de modo a permitir a outros que ponham em prática...").

A questão da investigação independente aos actos de Abril 2010 vai ser um tema de debate para os próximos tempos mas vai produzir nada. De acordo com a legislação sob a qual os actos aconteceram, a Lei de Segurança Interna, os militares e as forças policiais têm total imunidade. O único que pode ser incriminado pode ser o próprio Abhisit, na sua qualidade de Chefe do Governo. Será demasiado ingénuo pensar que irá empossar uma comissão, ainda por nomear, que poderia vir a ser o seu próprio coveiro.

Uma série de entidades internacionais está neste momento a coligir dados sobre o que se passou recentemente e muito em breve virão á luz outros relatórios para além do recentemente produzido pela Human Rights Watch.

domingo, 23 de maio de 2010

Recomeçar

Thanya Plaza. Ontem povoada com os carros de combate que foram usados no derrube das posições da UDD na zona de Saladaeng.


Thanya Plaza hoje ao fim do dia. O recomeçar de uma ciclo novo.

A pouco e pouco a cidade vai retomando o seu rosto habitual. Já se vêm menos soldados e polícias nas ruas, já há menos barreiras de controlos e até o próprio Recolher Obrigatório foi alterado, embora se mantenha pelo menos até Terça-feira, para entre as 23 horas e as 4 da manhã.

As pricipais vias de comunicação daquilo que era chamada a Zona Vermelha, não por causa da cor das camisas mas por ser a zona interdita, dererão estar operacionais ao ínicio da madrugada de Segunda-feira e nalgumas já se circula.

O comércio todavia continua na sua maioria encerrado.

Amanhã tenderá a ser um dia quase que normal com a abertura dos ecritórios, missões diplomáticas (os EEUU só abrem na Terça), comércio dando o tom e o perfume à cidade ainda enegrecida em algumas zonas devido aos fogos que queimaram a cara de Bangkok na Quarta-feira.

Há manchas na cidade que vão levar muitos meses a desaparecer como o Central World, o Centre One, a Companhia de Electricidade em Bon Kai, e outros edifícios que foram severamente danificados.

Gostei hoje de ler a frase dita pelo Ministro das Finanças, Korn, que disse que ninguém ganhou, nem mesmo o governo, com o que aconteceu.

Não gostei de ouvir o Primeiro-Ministro dizer que seria aberto um inquérito aos incidentes no templo Pathumwanaram, onde perecereram um número ainda pouco claro de pessoas no fatídico dia 19, pois na Sexta-feira à tarde, como relatei, já tinha dito que iria ser feito um inquérito, rigoroso e independente, a todos os incidentes occoridos nos últimos dois meses.

É fundamental que seja feito um apurar claro, independente e capaz de acusar os reais responsáveis, sejam eles quem forem e estejam em que posição estiverem, caso contrário vai voltar tudo ás águas mornas que só conduzirão a novos incidentes, com o potencial de serem ainda mais violentos, se tal é possível, no futuro.