sábado, 29 de maio de 2010
Silom
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Saldanha Sanches
Zé Luis: começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria. Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:
”Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A Força dos teus sonhos é tão forte,
Que tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias”.
Assim foi.
No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.
Entraste pela morte dentro de olhos abertos. O mundo que habitavas era rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.
Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente brilhava uma estrela de tristeza. Quando te deixava ao fim do dia na cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.
Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas. Não suportavas facilidades. Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.
Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem:
para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao serviço médico público.
Vivi com emoção diária o carinho com que te cuidaram.
Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e para o Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família que nunca te deixou.
Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor
Albuquerque, cada um à sua maneira.
Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada do dia 14 de Maio.
Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e conversávamos.
Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te homenagearam – a quem deixo a tua eterna gratidão.
Tenham a coragem de continuar.
[16.05.2010 - Maria José Morgado]
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Ainda Yala
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Terrorismo?
A acção de separatistas muçulmanos no Sul do país, fundamentalmente desde 2004, já causou mais de 4.000 mortos entre a população civil e as forças da ordem aí estacionadas que são um total de cerca de 120.000 entre soldados, polícias e rangers fundamentalemente de uma força patrocinada por SM a Rainha.
Apesar de todo este aparato militarizado o conflito mantêm-se activo e os incidentes, mais ou menos sangrentos, acontecem com uma regularidade impressionante.
Pattani, Narathiwat e Yala são as três províncias mais afectadas e nelas vigora em parmanência a Lei Marcial garantindo a actividade das forças aí estacionadas contra os grupos teroristas que operam na região.
Interessante que os governos tailandeses nunca apelidaram os activistas muçulmanos a actuarem no Sul, sabendo-se que muitos dos jovens são formados em Madrassas no Paquistão, de terroristas. O presente governo, utiliza agora essa mesma palavra quando se refere aos elementos da UDD envolvidos nos sangrentos incidentes de Bangkok.
Vários entre eles, incluíndo o fugitivo ex PM Thaksin, foram acusados formalmente de terroristas, e contra eles emitidos os mandados de captura nisso baseados.
Deverá concluir-se que o movimento separatista no Sul do país não é operado por teroristas, ou então que existem dois entendimentos diferentes para o qualificativo dependente dos interesses que são atingidos.
The Nation
Depois desfilam as fotografias de 16 procurados e mais três nomes sem fotografia.
Pretende por certo ser uma informação para o público mas prima pelo mau gosto.
Dos 19, 7 estão detidos pela polícia 11 não se conhece o paradeiro e 1 morto. Estão actualmente detidos, como pertencentes á liderança da UDD, de acordo com a lista fornecida pela polícia, um conjunto de 21 indivíduos dos quais só 5 se encontram na lista produzida pelo The Nation.
Para além desta confusão é extrememente desagradável e um péssimo serviço de comunicação ver a cara do Major-General Khattiya Sawasdipol, aka, Seh Deang, como procurado pela polícia, como se todos não o tivessem visto a toda a largura da primeira página do mesmo jornal após ter sido abatido por uma bala que nunca se saberá de onde veio.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Bangkok Acorda
O Governado da cidade fez um trabalho excelente colocando milhares de trabalhadores, bem coordenados, em acção que práticamente em três dias limparam a cidade de grande partes das marcas deixadas por dois meses de ocupação da UDD e das manchas negras dos incêncios do dia 19.
Os prédios que foram afectados mostram ainda as suas entranhas, como o Central World, à direita na fotografia mas a vida regressa á normalidade pouco a pouco.
Contudo o governo estendeu o Recolher Obrigatório até ao dia 28, Sexta-feira, passando agora a ser da meia-noite até às 4 da manhã,
A único facto ainda pouco normal que vi hoje, para além da fachada do Central World bem negra, for a existência de patrulhas militares armadas deslocando-se em motociclos, o que me pareceu invulgar e perigoso pois a possibilidade de um acidente é sempre grande. Recorde-se que morrem no país, em média, 38 pessoas por dia, só em desastres com motorizadas.
O que terá Mudado?
Karuna Buakamsri lia as notícias nesse momento quando teve de descer apressadamente as escadas e fugir com os seus colegas pelas traseiras do edifício para o conjunto de emaranhado de ruas pequenas que se estendem entre Sukhumvit 32 e 36.
Karuna deixou nos agora, impresso no New York Times este relato dos momentos que viveu fazendo uma muito interessante comparação com o que ela própria tinha vivido 18 anos atrás.
Diz nele que nessa altura, o também sangrento Maio de 1992, teve igualmente de fugir para salvar a vida ao mesmo tempo que muitos dos seus companheiros de luta pela Democracia pereciam ás balas dos militares.
Diz ela que ness altura estavam lá na mesma luta e na mesma plataforma Jatuporn (UDD), Pipop (PAD), Jaran (UDD), Suryasai (PAD), Weng (UDD), Somsak (PAD). Igualmente Chaturon Chaisaeng e Abhisit Vejjajiva, o ex líder do Thai Rak Thai e actual representante de um thaksinismo sem Thaksin, e o actual Primeiro Ministro, ainda um jovem tal como a reporter.
Karuna acaba com duas perguntas.
O que aconteceu? Alguém pode explicar-me?
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Thitinan sobre Abhisit
Thitinan é um dos mais activos académicos da universidade tailandesa, e na sua qualidade de Director do Centro de Estudos Estratégicos de Chulalongkorn (ISIS) tem sido capaz de produzir aí um forum de debate dos grandes temas da sociedade tailandesa.
Feroz crítico de Thaksin viveu maus momentos na Universidade na altura do domínio thaksinista. Thitinan e Abhisit fazem parte de uma mesma geração de académicos tailandeses, de idades muito semelhante, formados em Londres e com uma visão do mundo muito próxima. Thitinan nunca aderiu a nenhum partido mas não teve problemas em apoiar Abhisit embora tivesse sido critico da forma como o actual PM chegou ao poder, preferindo, como muitos, ver os Democratas no poder através de um novo processo eleitoral.
Com o desenrolar do mandado do actual PM veio a perder a crença na sua capacidade para operar a mudança que entende ser necessária no país já que punha esperanças em ver Abhisit como o seu autor. O ISIS várias vezes recebeu debates abertos sobre a evolução do panorama políitico partidário no país e Thitinan começou a ser considerada uma pessoa incómoda para o regime do qual ele era uma peça fundamental. Actualmente está na Califórnia na Universidade de Stanford no centro de estudos humanísticos como professor convidado.
Do artigo, do qual aconselho a leitura, retiro algumas linhas em tradução minha.
"Depois dos acontecimentos sangrentos de Abril 2009, Abhisit propos um plano de reconciliação e de reformas, incluíndo a da Constituição. Nada aconteceu e a divisão na sociedade agravou-se contribuindo para os acontecimentos recentes".
"Para os vermelhos nada mudou. Causaram tumultos em 2009 voltaram a causá-los em 2010 mas as queixas mantêm-se e não foram atendidas".
Faz um apelo à investigação independente de tudo o que aconteceu e termina com um forte apelo para que Abhisit, resigne ("deve considerar fazer um sacrifício pessoal de modo a permitir a outros que ponham em prática...").
A questão da investigação independente aos actos de Abril 2010 vai ser um tema de debate para os próximos tempos mas vai produzir nada. De acordo com a legislação sob a qual os actos aconteceram, a Lei de Segurança Interna, os militares e as forças policiais têm total imunidade. O único que pode ser incriminado pode ser o próprio Abhisit, na sua qualidade de Chefe do Governo. Será demasiado ingénuo pensar que irá empossar uma comissão, ainda por nomear, que poderia vir a ser o seu próprio coveiro.
Uma série de entidades internacionais está neste momento a coligir dados sobre o que se passou recentemente e muito em breve virão á luz outros relatórios para além do recentemente produzido pela Human Rights Watch.