quinta-feira, 30 de junho de 2011

UNESCO, Phrae Viharn e Politica Externa

Cartoon no Bangkok Post de hoje


Um dos temas actuais e que tem da alguma forma criado um "novo evento" na campanha eleitoral é o facto do Ministro Suwit, líder da Delegação que em Paris junto da UNESCO discutiu os assuntos relacionados com o plano de gestão do templo de Phrae Viharn como Património da Humanidade, ter decidido abandonar a Comissão que discutia o assunto deixando o mundo perplexo por tal atitude tão ao estilo dos velhos tempos da guerra fria quando os poderes comunistas quer da China quer da União Soviética abandonavam as sessões onde sabiam que as votações lhes seriam desfavoráveis.

A Tailândia deixou assim uma má impressão na comunidade internacional mas segundo certas fontes tal facto tem ajudado os partidos envolvidos na campanha eleitoral. Bem visível hoje quando aparecem na rua cartazes do partido do Ministro Suwit a proclamar que as pessoas devem votar naqueles, como ele, que defendem a integralidade do património nacional. De igual forma os Democratas, num novo cartaz, chama a atenção para a questão do patriotismo sempre envolvida nesta contenda.

Anteontem o Conselho de Ministros decidiu estranhamente, ou não, apoiar a decisão de Suwit mas deixar a assinatura da decisão para "o próximo executivo" como afirmou o PM Abhisit.

Hun Sen, o presidente Cambojano que nunca perde a oportunidade para atacar o seu congénere tailandês, que é sabido não lhe merecer grande consideração, já que clama, como o seu "amigo" Thaksin, que Abhisit chegou ao poder pela via não democrática (como se o Camboja fosse um modelo de democracia), aconselhou Abhisit a portar-se como "um homem e assinar a saída do Comité da UNESCO já". Abhisit não conseguiu mais do que continuar a condenar Hun Sem e Thaksin como os geradores do conflito. Convém referir que em conversas que tive com altos dignitários do Pheu Thai e perguntando-lhes eu como resolveriam a questão, me foi dito que no dia seguinte á tomada de poder basta Yingluck falar com Hun Sen e tudo será resolvido. O PT tenciona criar nos 4,6 km de território em disputa uma zona denominada "Mercado da Paz" e aí estabelecendo uma mercado onde as populações dos dois países vêm transaccionar os seus produtos e atraírem com isto, de novo, o turismo quer para o templo quer para a região.

A questão do acto do governo tailandês coloca-se, para além do aproveitamento do caso em questões de política interna, como referia em privado ainda esta semana um alto funcionário do MNE tailandês, na fragilidade que vai criando em relação à posição da Tailândia nas relações externas. Quando os chefes de estado e de governo se encontram nas cimeiras internacionais querem ter confiança quando assumem compromissos uns com os outros. Como vem acontecendo as posições assumidas quer pelo PM quer pelo MNE tailandês na grande maioria das vezes não passam de declarações sem implementação no horizonte e isto tem feito com que hoje nenhum dos vizinhos da Tailândia veja o país do centro desta região como o parceiro privilegiado e mesmo o comércio dentro da região, que era sempre favorável à Tailândia está a deslocar-se para a China e para o Vietname.

No início desta década o governo de Thaksin esteve na fundação do ACMECS, um fórum com o nome dado pelos principais rios na região, fontes de grande riqueza em muitos domínios como o fornecimento de matérias primas e irrigação para as populações e energia para os estados, e nesse fórum a Tailândia dominava e conseguiu criar ali uma plataforma de diálogo que em muito ajudou a construir o seu papel como o foco principal de todas as atenções do mundo sobre a região. A ACMECS está morta e será difícil revitalizá-la pois os olhos de Camboja, Laos, Myanmar e Vietname estão neste momento mais focados a Norte nos benefícios que uma colaboração com a China (apesar das escaramuças actuais no Mar do Sul da China) lhes traz no futuro.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Domingo - 3 ou 6

Todas as seis/sete eleições que decorreram desde 1992 até à data foram sempre batalhas entre o Partido Democrata e outros partidos que se lhes opunham. Enquanto seus adversários vêm e vão o Partido Democrata, fundado há 65 anos, é o mais antigo partido no panorama político tailandês e o único que se mantêm com uma estrutura em muito semelhante com aquilo que são organizações político partidárias segundo o conceito ocidental. Contudo, nos últimos 20 anos, os democratas venceram apenas a eleição de 1992. A amarga verdade para os democrata é que o partido perdeu cinco eleições de seguida isto se não contamos a eleição de 2006 boicotada por grande número de partidos e que mais tarde foi declarada nula.

Embora o Partido Democrata tenha perdido todas as eleições desde esse long]inquo ano de1992, foi capaz de formar governo por duas vezes. A primeira em 1997, logo após a crise financeira asiática, quando o putativo primeiro-ministro general Chavalit Yongchaiyudh renunciou ao cargo que deveria assumir. Aquando o Partido Nova Aspiração procurava um candidato que o substituísse houve uma cisão e o Partido do Cidadão Tailandês (membro da coligação vencedora) transferiu o seu apoio para Chuan Leekpai do Partido Democrata.

Desta forma os Democratas asseguraram a maioria dos assentos no parlamento e Chuan foi capaz de, pela segunda vez, ser nomeado PM e formar governo. Esse incidente ficou conhecido como "O Incidente de Cobra". Os políticos desertores eram liderados pelo agora fugitivo Wattana Asavahame. Este nome foi-lhe atribuído por Samak Sundaravej, à altura líder do Partido do Cidadão Tailandês e PM em Janeiro de 2008 quando liderou o PPP (de Thaksin) à vitória nas primeiras eleições após o golpe de estado de 2006.

A "Cobra" está ligada ao imaginário popular em referência às cobras nos arrozais: "a cobra trai o agricultor mordendo-o de morte". Samak, na altura, comparou-se a si mesmo como um "agricultor" e Wattana com a "cobra".

A segunda vez que os democratas conseguiram virar o jogo e voltar a ser poder, tal como em 1997 sem serem o maior partido no parlamento, foi em 2008 quando a facção de Newin Chidchob (a nova cobra) saltou de bancada ajudando à formação do presente governo, hoje em dia abertamente dito por quase todos, inclusive por membros da presente coligação como o Chart Thai Pattana, que tal aconteceu por pressão dos militares.

A questão no próximo Domingo é saber se os Democratas vão para a sexta derrota consecutiva ou para a terceira formação de um governo sem serem o maior partido no parlamento já que todas as sondagens mostram de forma unânime esse sentido. A própria mudança de rumo da campanha dos Democratas, para uma posição de oposição, dá isso a entender.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Irina Bokova - UNESCO

O Ministro dos Recursos naturais da Tailândia, Suwit Khunkitti, que chefiou a delegação tailandesa nas negociações em Paris, junto da Convenção sobre o Património da Humanidade, da UNESCO, acusou a Directora-Geral daquela agência das Nações Unidas de ter mostrado falta de respeito pelo PM da Tailândia por se ter recusado a atender chamadas telefónicas que este lhe fez.

Presumo que se a delegação tailandesa tivesse sido conduzida pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, facto que seria normal visto o que estava em discussão ser um assunto diplomático e não uma tecnicidade como a Tailândia tentou fazer entender, o protocolo teria sido respeitado e o Senhor PM da Tailândia nunca teria tentado contactar com a Senhora Directora-Geral da UNESCO num momento em que estava em discussão um assunto entre a Tailândia e o Camboja sobre o templo de Praeh Viharn. Todo e qualquer mal entendido causado por uma conversa bilateral poderia ser explorado politicamente por qualquer das partes.

Bem esteve Irina Bokova.

Eleições Antecipadas

Domingo passado estive todo o dia analisando, no campo, o que se passava com as eleições antecipadas.

Como já expliquei os tailandeses têm duas possibilidades para antecipar o dia em que irão votar.

No caso de não poderem comparecer no dia marcado para as eleições, 3 de Julho podem votar no seu círculo no dia 26 (Domingo passado). Igualmente se não puderem deslocar-se ao seu círculo eleitoral no dia marcado par as eleições podem votar antecipadamente noutro local, normalmente o local de residência.

É este o caso de muitos que saem das suas terras da província, sobretudo do Nordeste e Norte do país para procurar trabalho na zona de Bangkok e províncias vizinhas onde estão instaladas as principais unidades industriais do país.

O processo decorreu com bastante transparência no que respeita o acto em si e de acordo com especialistas com que contactei suficientemente bem organizado.

Houve contudo um pormenor onde o dia correu menos bem.

Tomemos Bangkok por exemplo. Dos eleitores registados para votar por antecipação no próprio circulo eleitoral 90% compareceram no Domingo e cumpriram o seu dever cívico.

Dos eleitores que votaram por antecipação em virtude de não se poderem deslocar ao seu círculo eleitoral de origem somente 55,6% votaram nesse dia.

A diferença é grande e atribuída a vários factores ligados, fundamentalmente, a uma má comunicação entre a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e os votantes.

Em 2007, as últimas eleições, as eleições antecipadas foram feitas em dois dias e sem registo prévio. Desta vez foi utilizado um só dia com registo prévio mas aconteceu que mais pessoas compareceram para votar. Em muitos casos os engarrafamentos de trânsito eram tão grandes que as pessoas ou desistiram de votar ou aconteceu como alguns relatam que desde que chegaram perto da assembleia de voto até ao acto de votar decorreram 5 horas. Outro facto foi a CNE ter mudado os locais das assembleias de voto ou ter feito divisões sem que tivesse disso informado correctamente os eleitores. Por fim em muitos casos, e disso fui testemunha, as pessoas não encontravam os seus nomes nos cadernos eleitorais.

Tudo isto fez com que nalgumas assembleias o número de não votantes ter sido superior a 50% quando na realidade as pessoas ali se deslocaram com a intenção de fazer a sua escolha.

O próprio PM Abhisit se manifestou desagradado com a situação, que no final por certo joga a seu favor visto a maioria dos leitores que não votaram são das províncias que menos votam Democrata, e solicitou á CNE que fizesse algo para remediar a situação tendo obtido uma resposta negativa do presidente da CNE dizendo que não era possível agora solucionar a questão.

A P-Net, uma associação de ONG's paga pela CNE para ajudar no processo eleitoral, de igual modo relatou este facto à CNE mostrado os elementos que são conhecidos mas em vão. Está aberta a porta a suspeições sobre a condução da votação que, como atrás disse, de um ponto de vista processual parece muito correcta e transparente.

Note-se que só em Bangkok estavam registados para votarem antecipadamente 1.079.923 pessoas das quais mais de 800.000 são votos da província e desses cerca de 87% provenientes dos bastiões da oposição. Desses 44,4% não puderam votar, e como disse falamos só de Bangkok.

Espera-se que no próximo Domingo a votação corra melhor e que as pessoas possam deslocar-se facilmente ás assembleias e que consigam encontrar os seus nomes nos cadernos eleitorais para levar por diante o processo sem mais sobressaltos.