sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Debate Parlamentar


Quarta e Quinta-feira realizou-se o debate par(a)lamentar que o PM tinha proposto como primeiro passo para se entrar num processo político de reconciliação e se encontrassem portas para sair da presente crise.

Dois dias perdidos. Dois dias em que uma parte, a Oposição, acusou a outra, o Governo, de ter usados meios desproporcionados para resolver a crise, tendo as forças militares disparado sobre os manifestantes, e em que os deputados afectos á coligação e membros do Governo se defenderam e acusaram por sua vez os vermelhos de usarem eles próprios armas.

Vídeos, fotografias, testemunhos gravados, um sem numero de provas de lado a lado para nada se avançar naquilo que era o propósito do debate. A crise política e o encontrar de saídas para o curto prazo que permitam o país voltar à normalidade. Nem mesmo se chegou a nenhuma clarificação de ter ou não havido outras vítimas para além das duas pessoas mortas em confrontos entre populares deixando assim o campo aberto para todas as especulações.


O debate acabou por ser feito mais fora do hemiciclo através das declarações contínuas de Anupong tendo o chefe militar na sua última, já esta madrugada, admitido que os militares pudessem ter disparado sobre os manifestantes mas só em casos de defesa pessoal e de acordo com as instruções de salvaguarda de bens e pessoas. Anupong tem vindo desde ontem a debitar declarações umas atrás das outras e todas elas recuando um pouco mais como já referi.

Também Prem, o chefe do Conselho Privado do Rei, pessoa que nunca intervém em questões políticas como costuma referir, afirmou que rezava para que o Anjo da Guarda do país o libertasse daqueles nacionais que têm intenções de fazer mal ao seu próprio país naquilo que o Bangkok Post titulou de "forte ataque contra Thaksin" .

O debate de alguma forma tinha sido esvaziado pelo próprio PM ao início quando solicitou a todos os partidos com assento parlamentar que apresentassem no prazo de duas semanas as suas propostas de revisão constitucional essencial, no seu entender, para que se possa equacionar um novo processo eleitoral que esclareça de alguma forma o quadro politico-partidário actual.

Recorde-se que Abhisit ainda há pouco tempo tinha recomendado ao prestigiado King Prajadipok Institute (KPI), que iniciasse um processo de revisão do sistema político, como na altura referi, um passo que era visto como uma iniciativa para ganhar tempo junto quer de vermelhos quer de amarelos. Na altura era espectável que o KPI durasse 17 meses a preparar o estudo, mas agora, e segundo as palavras de Abhisit, ficará só com o papel de recompilar e organizar as sugestões dos diferentes Partidos que deverão ser apresentadas em duas semanas. Recorde-se igualmente que no ano passado uma das bandeiras do PAD era a luta contra a tentada revisão da Constituição.

Há agora então que esperar essas duas semanas para que algo possa avançar no quadro do processo político enquanto no campo do processo da luta pelo poder continuam as escaramuças através de variados meios entre os muitos grupos em cena. Sobre este aspecto recomendo a leitura deste excelente artigo de Supalak Ganjanakhundee no The Nation.

O debate acabou empatado e numa sonolenta sessão de eu disparei, tu disparas-te.

Entretanto o PM Abhisit levantou hoje o Estado de Emergência isto depois da controvérsia sobre as declarações de um dos seus Ministros, como já referi, e do facto que de acordo com o artº 5 da lei sobre o Estado de Emergência se ter constatado que a decisão do Governo estava ferida de nulidade devido a não ter seguido os procedimentos legais. De acordo com este artigo o PM tem três dias para fazer ratificar a sua decisão mas todos se esqueceram deste facto e o Estado de Emergência esteve em vigor durante 12 dias irregularmente.~

Não é na realidade facto importante pois ele foi violado a cada 5 minutos por tudo e por todos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

As Balas contra Sondhi L


Sondhi está em franca recuperação e é possível que saia do hospital durante este fim de semana mas os ecos e as ondas de choque causados pela tentativa de assassinato ainda estão em pleno desenvolvimento.

O General Anupong, o todo poderoso comandante militar que tão bem se tinha saído dos acontecimentos durante o Songkran em Bangkok, está cada vez mais debaixo de fogo por causa do atentado e ele próprio confirmou hoje que as balas encontradas no local do atentado são provenientes da 9ª Divisão de Infantaria pertencente à 1ª Região do Exército, a mais forte do país e cujo comando se encontra perto de Bangkok em Lop Buri.

As armas usadas são armas militares mas pior do que isso as munições também. Anupong ordenou um inquérito de imediato para que se saiba como essas munições acabaram no corpo e no carro de Sondhi. Ao mesmo tempo disse logo que não será fácil encontrar claras respostas para essa investigação.

A oposição tem igualmente insistido que o Exército disparou contra as pessoas durante as manifestações em Bangkok, tendo mostrado ontem provas disso no Parlamento e a imprensa que até aqui tinha suportado a versão do Governo de que não houve vítimas a não ser as duas causadas pelos "vermelhos", começa a interrogar-se se na realidade não houve mortos devido às acções do Exército. Face a isso Anupong, num recuo de posição, afirmou que os militares dispararam contra os manifestantes "blank bullets", e dispararam para o ar balas verdadeiras. Interrogam-se os jornais hoje se não terá havido casos em que os soldados "trocaram as mãos" e dispararam ao contrário.

Ontem uma importante personagem do panorama político tailandês segredava-me que o PAD queria Anupong fora e substituído pelo General Prayuth Chan-ocha, exactamente até à muito pouco tempo o Comandante da 1ª Região.
Convém não esquecer que o atentado decorreu com o Estado de Emergência em vigor, onde é suposto haver um reforço da vigilância das ruas, e agora está confirmado, depois de todas as contradições apresentadas pela Polícia, que duas pick-up transportavam os atacantes que actuaram de cara descoberta e sem medo mostravam o arsenal de armas que utilizaram. Outro ponto também já confirmado é que as câmaras de vigilância na zona foram danificadas duas e as outras duas estavam inactivas há já bastante tempo e por isso nada registaram, ou pelo menos é isso o que se quer fazer crer.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Porta Voz

De acordo com a definição o Porta Voz é uma pessoa que fala em nome de outras ou de um grupo e foi exactamente isso que o

fez ontem no Clube dos Correspondentes Estrangeiros em Bangkok (FCCT). Nessa "conversa" com a imprensa, e para reforçar o seu papel de Porta Voz referiu que no caminho para o FCCT tinha falado com o PM Abhisit para "actualização (update) da informação".

Confesso que fiquei perplexo e descrente. Há vários dias escrevi sobre a possibilidade única que Abhisit teria de poder dar um novo rumo ao país após o bom desempenho que lhe era dado durante a crise durante o Songkran. Sempre vi em Abhisit alguém diferente do tradicional político tailandês e alguém capaz de ser o inovador de um sistema político caduco e corrupto como todos referem. Ontem fiquei desiludido para dizer somente um pouco daquilo que senti.

O Dr Buranaj, um homem formado em Harvard, foi tão claro nas afirmações que fez que faz sentir medo e dá para muito pensar. Só para dar uma ideia daquilo que foi dito um jornalista japonês presente afirmou, para espanto de todos conhecida que é a reserva dos japoneses, que a estratégia de reconciliação do Partido Democrata era semelhante á utilizada pela Junta Militar em Burma/Myanmar. O Porta Voz ficou sem voz.

Outro jornalista, desta vez um tailandês comentava que Ruranaj era como Abhisit dizendo: ainda não compreenderam que quem manda não são eles (sic).

Para completar a triste história aconselho a ler o artigo de opinião de Pravit Rojanaphruk, jornalista do The Nation e conhecido pelos seus pontos de vista anti Thaksin, que pode ser consultado aqui.

Será que os modelos de governação na China e em Singapura estão a fazer escola? Talvez os êxitos económicos destes países estejam a retirar a capacidade de crítica necessária para aqueles que, entendia eu estarem interessados em seguir diferentes vias.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Seis é Demais


Só uma pequena nota para relatar um facto que em si parece um pouco anedótico para não utilizar piores adjectivos.

Na sequência dos incidentes entre os apoiantes de Thaksin e as forças da ordem, o Governo decretou o Estado de Emergência.

Esta decisão governamental é uma decisão com grandes consequências quer no plano dos direitos individuais quer no plano da segurança dos cidadãos e do Estado, e ainda no plano internacional com impacto na economia do país. Na reunião havida no passado dia 16 entre Abhisit e diplomatas de 67 países um dos tópicos que preocupou esses diplomatas e foi alvo de duas das perguntas que foram feitas era exactamente o Estado de Emergência.

Acontece que é hoje anunciado que o Governo na sua reunião do Conselho de Ministros de hoje tem de levantar o Estado de Emergência visto a reunião do Parlamento, agendada para amanhã e depois para debater a situação política, convocada, e bem, pelo Primeiro Ministro, violará o Estado de Emergência visto tratar-se de uma reunião de mais do que 5 pessoas.

De pasmar! Será que o próprio Conselho de Ministros não é ele próprio violador da lei? No final das coisas a situação de Estado de Emergência não é assim tão importante ou a própria lei está tão mal escrita que nem os órgãos de soberania se podem reunir visto violarem a lei.

Confuso, no mínimo.
Passado um dia vê-se que quem estava confuso e nos quiz confundir a todos era o membro do Governo que deu a indicação pois o Estado de Emergência não foi levantada. Ou era capaz de não estar confundido pois na realidade e de acordo com a lei a reunião é ilegal.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Bomba do Dia


Esta manhã, Manager on line, o sitio de internet do jornal The Manager, que é detido pelo grupo ASTV/Manager do qual Sondhi é o maior accionista traz um artigo, que pode e será por certo sujeito a muitas interpretações.

Para além de ser um artigo explosivo vem assinado nada mais do que pelo próprio filho de Sondhi, Jittinart.

Neste artigo Jittinart acusa quer a polícia quer o exército de estarem por detrás do atentado a seu pai e vai mais longe ao acusar as mesmas forças de terem igualmente um plano para assassinar Abhisit.

Refere que o ataque à cimeira da ASEAN em Pattaya, que acabou no cancelamento dessa importante reunião e se tornou um sério embaraço no plano internacional para a Tailândia, foi obra de uma acção concertada dos "azuis", o novo grupo liderado por Nevin Chidchob, associados ao exército à polícia e a um Ministro do próprio Governo, e não dos "vermelhos" como se quis fazer crer e mostrar ao Mundo.

As acusações continuam e refere ainda Jittinart que ambos os ataques "são parte de um plano mais vasto da elite para criar por um Estado Gestapo " (tradução literal).

Este artigo, que por certo vai criar muitos comentários, cai que nem uma bomba e só vem dar à luz vários rumores que corriam pela cidade. O que o torna ainda mais importante e contundente é quem é o autor e o local onde está publicado.

Sondhi, que aparenta verdadeiras melhoras e aparece no jornal sentado na cama não pode por certo estar alheio ao que o seu filho escreve visto serem fortes acusações.

O atentado contra Sondhi levantou por outro lado outros véus dos quais já se falava à bastante tempo sobre ligações entre um dos militares do topo da hierarquia e Nevin, sobre a linha seguida por Sondhi que o afastava do PAD e o colocava mais numa frente independente e outras impossíveis de relatar.

Mais elementos a seguir neste caso. Hoje o The Nation não traz uma só linha sobre a evolução do estado de saúde de Sondhi e só fala do nome dele para anunciar que Nevin irá dar uma conferência de imprensa para negar os factos de que o acusa o filho de Sondhi. Nessa conferência, que já aconteceu, Nevin diz que o filho de Sondhi tem demasiada imaginação. Jittinart nunca tinha sido visto ou ouvido anteriormente o que levanta ainda mais a ideia de que foi somente utilizado como um veículo de comunicação para que o seu pai dissesse aquilo que pensava.

Por outro lado o General Jongrak Jutanont que estava á frente das investigações à tentativa de assassinato ocorrida na passada Sexta-feira, foi removido do seu posto e substituído pelo seu colega general Thani Somboonsup. O comando da Polícia diz que estes movimentos aconteceram como parte de uma movimentação de pessoal mais vasta e de acordo como uma ordem assinada pelo Comandante Geral no passado Sábado.

Passaporte de Thaksin

No passado Domingo o MNE tailandês anunciou que tinha retirado a Thaksin Shinawatra o passaporte que o cidadão utilizava.

Logo após a tomada de posse o governo tinha retirado a Thaksin o passaporte diplomático, que os antigos chefes de governo têm direito, e agora retirou-lhe o passaporte ordinário como o PAD e forças próximas vinham pedindo há algum tempo.

Não tardaram a aparecer nos jornais as notícias, já há muito faladas, de que Thaksin tinha vários passaportes consigo e a evidência aí está quando é confirmado pela Nicarágua que o Presidente Daniel Ortega, na foto, tinha conferido, em Janeiro de 2009, a Thaksin a categoria de Embaixador Especial daquele país da América Central.

Bem escolhido! A Nicarágua não tem representação diplomática em Bangkok e assim não haverá nenhuma manifestação reclamando que lhe seja retirado o passaporte.

Songkran



Para quem não se lembre a semana que findou também teve a festa do Songkran, o Ano Novo tailandês a festa da água, significando purificação, tornada batalha bem molhada.

Embora este ano tivesse sido bastante ensombrada pelos acontecimentos que opuseram os apoiantes de Thaksin contra as forças militares, ainda houve tempo e espaço para o Songkran.

Ouvi dizer que enquanto numa área da cidade mais de 50.000 pessoas lutavam com violência com as forças militarizadas, provocando os distúrbios que conhecemos, em Silom, por exemplo, mais de 5.000 celebravam o Songkran.

São assim os contrastes de uma cidade com tantas pessoas como Portugal.

domingo, 19 de abril de 2009

Ainda Sondhi


Começa agora a saber-se mais sobre o atentado de que foi alvo Sondhi.

Em primeiro refira-se que ele está a recuperar bem, já anda e fala. O seu motorista está em condição crítica e a sua secretária, que também se encontrava no carro, nada sofreu. Sondhi encontra-se no oitavo andar do Chulalongkorn Hospital, muito perto de onde vivo.

Afinal Sondhi não tinha nenhuma bala alojada no crânio mas somente um fragmento que estava enterrado na pele, debaixo do crânio e foi removido verificando-se que não houve dano de maior. Contudo vai ficar em observação por mais uma semana pelo menos.

Começam entretanto a surgir alguns dados sobre o atentado.

Foi perpetrado por pessoas que se faziam transportar em motos e não numa pick-up como inicialmente tinha sido informado. Na realidade havia uma pick-up por perto mas era só um condutor que circulava no momento junto do carro de Sondhi. Atrás do carro de Sondhi vinha um outro carro com os seus guarda costas, armados, que de imediato dispararam, facto que fez com que os assassinos retirassem apressadamente e não conseguissem mais do que disparar sem muita precisão o que por certo salvou a vida de Sondhi. Também se tinha referido que as câmaras de vigilância no local tinham sido danificadas anteriormente o que não se confirma e podem ser um elemento útil para o trabalho de investigação, se assim o quiserem.

Como disse antes Sondhi era um homem de muitos inimigos e comentam, do lado do PAD, que ele sabe muito bem quem está por detrás da tentativa de assassínio mas que não fala à Polícia pois não tem confiança nos investigadores. Interessante esta afirmação vinda da parte do porta-voz do PAD. O filho de Sondhi, Jintanat, aconselhou o PAD em usar extrema cautela e não cair na trapaça montada pelos seus inimigos, não se sabendo se ele referia o campo Thaksin ou a Polícia/Militares, vistos agora como potenciais autores do atentado.

Por outro lado o Comandante da Polícia que está a liderar a investigação, General Jongrak Juthanond, disse estarem próximos de prender os suspeitos. Espera-se que como em muitos casos não sejam encontrados uns bodes-expiatórios quaisquer que sirvam para o efeito.

Basta lembrar os muitos, mesmo muitos casos, em que a Polícia "nunca" conseguiu identificar ou acusar ninguém, isto apesar de existirem provas fotográficas ou outras e onde por variadas vezes os investigadores se recusam a analisar ADN ou utilizar outros meios mais propícios de levar a conclusões claras. O mais recente é a morte de 66 pessoas no fogo no Ano Novo na discoteca Santika onde apesar do relatório da investigação feita pelo Ministério do Interior apontar factos graves aos donos, onde se encontra uma alta personalidade da Polícia, o único acusado é o líder da banda, havendo fotografias que mostram que ele não estava no palco quando o fogo começou, e o "gestor", da discoteca, que por acaso era um dos rapazes que arrumava os carros!