quinta-feira, 25 de março de 2010

Thaksin

Amanhã Thaksin e os membros da sua família condenados na decisão do Tribunal para Detentores de Cargos Políticos do passado dia 26, apresentarão recurso da sentença.

Esta instância só permite apresentar recurso caso os condenados mostrarem ter obtido provas adicionais que podem fazer reverter a direcção da sentença. O recurso sobre o mérito ou sobre os fundamentos da sentença não é admitido visto tratar-se de um tribunal especial.

De qualquer modo o "clã" Shinawatra deve entender ter encontrado evidências adicionais e irá apresentar amanhã os seus recursos. O prazo termina no Domingo 28.

Posto isto o Tribunal decidirá sobre se aceita ou não o recurso e no caso de o (s) aceitar irá proceder à sua apreciação e decisão sobre a matéria.

Terminada toda esta tramitação a sentença transitará em julgado e iniciar-se-á o processo de execução da sentença que implicará a atribuição ao estado dos bens confiscados e retorno aos arguidos dos bens libertados. A partir dessa altura poderão iniciar-se, igualmente, todo o tipo de processos criminais e civis julgados necessários em funções de certidões extraídas da sentença e ou do processo inicial.

Como já uma vez referi o processo de colocar os pregos no caixão de Thaksin será então iniciado.

O fugitivo ex PM tem estado silencioso desde o seu regresso ao Dubai e o facto deve-se a que as autoridades dos Emiratos o alertaram para a obrigação de não utilizar o território para lançar actividades políticas contra um estado com o qual os Emiratos mantêm relações diplomáticas. Os cantos no mundo onde se pode esconder e daí manter a pressão sobre os seus apoiantes vão se reduzindo e isso será porventura mais evidente se Thaksin vier a ser condenado em qualquer acção criminal na sequência da condenação do passado dia 26.

Recorde-se que após três anos e meio de ter sido removido do poder pelo golpe de estado de 2006, Thaksin ainda não foi condenado por nenhuma actividade criminal e a única condenação, transitada em julgado, é por conflito de interesses. Este é uma das razões porque a comunidade internacional, e todos os juristas, ficam confundidos quando o Ministro Kasit, continuadamente fala em requerer a extradição do ex PM. Declarações politiqueiras só feitas para consumo interno mas profundamente enganosas. Porque é que nunca se pergunta porque é que a Tailândia não extradita o negociante de armas Victor Bount, em prisão preventiva na cadeia de Klong Prem, quando ele é acusado de crimes pelos Estados Unidos e existe um pedido de extradição emitido pelas competentes autoridades?

Thaksin vai a partir do momento do trânsito em julgado da sentença passar por certo um mau bocado. Até agora tem podido "divertir-se", jogando quer golfe quer à politica, mas os tempos que se aproximam prometem ser mais complexos. Thaksin deveria saber bem e ter a clara consciência de que a única solução que tem é (ou era pois já me parece tarde), ter pedido perdão, aceitar o veredicto da primeira sentença, ir passar uns dias á cadeia, pois por certo seria-lhe concedida liberdade condicional, e participar no processo da mudança política, se assim entendesse, sem ambições de poder.

Thaksin não é nem pode ser parte da solução para as divisões no país. A sua postura a partir do momento em que decidiu ter um caminho contrário quer á prática quer á cultura da sociedade traçou-lhe o destino.

A cultura budista assenta muito em dois conceitos quando se lida com práticas erradas. "Forgive and Forget", ou seja pede desculpa que serás perdoado ou que esqueceremos os teus maus actos.

Thaksin, com a sua teimosia que o levou sempre a nunca ouvir ninguém – tenho um amigo pessoal que trabalhava diariamente com ele e tal confirma – e o convencimento de que o seu poder lhe permitia tudo, foi o seu próprio coveiro. Agora como disse só falta pregar os pregos no caixão.

Ontem ouvi um dos mais influentes membros do governo ter uma visão clara daquilo que é a UDD. Dizia o Ministro: são actualmente três grupos – os thaksinistas, os comunistas e os verdadeiros democratas.

É um facto que assim se passa na UDD e assim normalmente se passa em todos os movimentos frentistas. Até agora quem tem tido a condução dos acontecimentos são os Democratas e aqueles que querem fazer as mudanças pacificamente e de uma forma evolutiva.

É urgente que o governo saiba estender a mão a estes que os liberte dos radicais que os cercam e encontre a (s) plataforma (s) de trabalho para delinear o futuro.

Infelizmente as palavras que ouvi desse Ministro, não são as mais encorajadoras já que quer fazer exactamente o que disse mas através de métodos que se querem ver abolidos, no fim através dos mesmos meios de que acusam a UDD e que têm servido para retirar legitimidade aos actos eleitorais.

Abhisit que é um homem de outros círculos e que sabe aquilo que não se deve fazer, tem a palavra.

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