segunda-feira, 12 de abril de 2010

E Agora?

O dia de hoje é dos vermelhos. Passeiam-se por toda a cidade numa caravana de milhares de carros, camiões e motos e levem em cima de 15 pickups, caixões que pretendem mostrar os mortos que tiveram. Fala-se mesmo que em alguns dos caixões não estarão vazios.

O dia começou com intensos rumores de que o General Prayuth, o segundo homem no exército e da linha dura, estava a tentar obter a luz verde para um golpe de estado. Posteriormente o General Anupong veio dizer que os problemas políticos tinham de ser resolvidos por vias políticas tentando desfazer esses rumores "aquartelando os militares".

Na realidade não seria de estranhar a reacção de Prayuth tendo em vista o que aconteceu e a vergonha que muitos no exército estarão a viver. Tenho várias fotografias que mostram o estado em que os vermelhos deixaram o equipamento abandonado pelos militares na zona de Khao San Road. 5 APC, a sigla que denomina os pequenos tanques de guerra, 3 HUMVEE, veículos de transporte e 1 UNIMOG, isto para além de armas, escudos, bastões e outro equipamento ligeiro. Via-se na zona os vermelhos a combaterem usando eles os escudos que pertenciam quer à polícia quer aos militares. A isto há que acrescentar as imagens vistas em todo o mundo na Sexta-feira dos militares a debandarem pelos campos de arroz em Pathum Thani.

A honra do exército está manchada e é quase que seguro que terá sido dito ao governo que para a próxima vez não venha com essas ideias de avançar contra os manifestantes sem disparar logo à cabeça.

Abhisit fez uma breve aparição na Televisão para dizer que os mortos foram causados por elementos terroristas infiltrados junto dos vermelhos segundo as primeiras conclusões do inquérito em curso. O hospital onde se estão a proceder ás autópsias a 9 corpos veio dizer que tinham morrido devido a disparos de grande potencia feitos de longe. Durante o meu curso de Direito fiz tanatologia e nunca vi autópsias serem feitas e conclusões tiradas em três horas, muito menos para um caso tão sensível.

Entretanto o Puea Thai, o partido que se pode chamar o braço político do movimento vermelho, fez um apelo a todas as Missões Diplomáticas em Bangkok para que transmitam ao governo as preocupações com a situação, o que penso a maioria já teria feito ou estará em vias de fazer. Também o Puea Thai requereu a Abhisit a dissolução imediata do parlamento e a sua resignação visto, como afirmam, ele estar a prestar um péssimo serviço ao país deixando este viver na mais completa anarquia.

Na realidade não há neste momento um claro comando e não se consegue ver luz no fundo de nenhum túnel.

Os vermelhos controlam cada vez mais partes da cidade (neste momento em que escrevo estou a ouvir um dos seus altifalantes lançando slogans para o ar), passeiam-se impunemente, cortam as ruas que muito bem entendem, corria também o rumor, não confirmado ainda, embora essa mensagem me foi transmitida de várias fontes, de que tinham ido raptar o Presidente de uma empresa de telecomunicações, a CAT. Vá lá saber-se porquê? Porque lhes apeteceu e fazem o que querem sem que haja alguma força da ordem capaz de os deter.

Do lado militar existem os sentimentos que acima descrevi mas há que ter muita atenção. A possibilidade de um golpe de estado, quase que uma tradição na Tailândia, neste momento não será tão simples como em 2006 em que tudo se passou em poucos corredores oficiais e portanto quase que sem se ver o governo foi substituído por uma Junta militar. Agora o povo está na rua e depois da noite sangrenta de Sábado ainda mais enfurecido. A imposição da Lei Marcial e de recolher obrigatórios não serão eficazes a não ser na ponta da espingarda e já se viu que se assim for haverá sangue pois as pessoas não hesitam em avançar de mãos vazias e pés descalços contra os tanques.

É urgente haver um gesto político vindo de alguém capaz de ser ouvido por todos mas não consigo e ninguém com quem falei consegue descobrir no fumo essa cara.

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