quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Procisssão ainda vai no Adro

Para todos os que acreditam numa vitória sem obstáculos do PM Abhisit recomendo a leitura deste artigo de opinião publicado hoje no Bangkok Post por Wassana Nanuam, a principal especialista em questões militares neste país.

Já há dois dias que tinha escrito que quando Abhisit avançou com o "roadmap" para a reconciliação, como é conhecido o plano do PM, o fez depois de na reunião de Domingo que se seguiu ao conselho de ministros, os militares se terem recusado, uma vez mais, a executarem as suas ordens para ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes de Rajaprasong.

Os comandos militares, incluíndo o Ministro da Defesa Prawit, embora possam ter algumas divergências de opinião, sabem bem que avançar sobre a multidão não é uma solução para o país. Anupong vem repetindo isso mesmo há quase três anos e a última vez que o fez em directo foi no dia 12 de Abril.

Uma operação que desaloje a UDD, e faço lembrar aos que têm dificuldade em utilizar este nome que ele é o oficialmente usado em todos os documentos do Minsitério dos Negócios Estrangeiros, é uma operação fácil que foi muitas vezes foi ensaiada. Com mais ou menos perdas de vida ela faz-se e os vermelhos são desalojados. Mas o que é que se passará no "dia seguinte"?

Como vai ser o país no dia a seguir a essa operação? Qual é a solução que o Governo teria para esse evento? Ao que levaria a, ainda maior, divisão nas famílias, nas empresas, nas escolas em todo o país?

São estas algumas das perguntas, para além de algumas preocupações, que os militares sempre têm tido na cabeça.

A presente crise chegou a um ponto tal em que não haveria mais a possibilidade de haver vencedores. Nem Abhisit, nem a UDD e muito menos o país. Todos perderam e quem pode acabar por ganhar serão os militares pela sua capacidade de forçar uma trégua e uma solução no quadro político, apesar das feridas sofridas como a morte do Coronel Romklao, que marcou definitivamente e profundamente o sector e o palácio. Uma corporação como o exército não vê partir um dos seus filhos predilectos sem grande dôr e isso foi um factor determinante.

A crise na socieade é por demasiado complexa para que alguém possa sair vitorioso de uma batalha que está muito longe do fim.

Isso viu-se à poucos momentos na intervista que o PM deu, esta manhã, á imprensa estrangeira através da estação estatal NBT onde era notória a sua intranquilidade e a dificuldade em rsponder ás perguntas. Abhisit nunca saiu do discurso pré estudado, tal como em Portugal se acusava Alvaro Cunhal de usar uma cassete para nunca fugir aos seus dogmas e ao script.

Ontem um amigo meu, conhecido professor de ciência política de uma das principais universidades de Bangkok telefonou-me e dizia-me "Khun Nuno, isto ainda está longe de estar acabado". Tem razão mas pelo menos eu acredito que vamos ter tréguas por algum tempo.

Contudo as feridas na sociedade são tão profundas que não há medicamento que as possa sarar neste momento. Ainda ontem isso ficou demonstrado á saciedade numa reunião em que participei no Senado. Das bocas dos vários Senadores que conosco estiveram durante 2 horas, saiu ódio e amor, desprezo e compreensão, "amareladas" e "vermelhadas", frases cegas e outras cheias de visão numa demonstração das dificuldades que se colocam a esta sociedade.

O PAD, o movimento também radical dos amarelos, já veio dizer, através do seu porta-voz, que o plano de Abhisit é uma forma para encontrar uma saída para Abhisit e para a UDD mas que não resolve os problemas do país.

Como muitos, talvez a maioria que consegue ver sem ser usando óculos alheios, tenho esperança, até porque este país está cansado e necessita de repouso, de que a trégua que por certo se vai seguir ajudará a desanuviar tensões mas não se iludam os crentes.

A procissão ainda vai no adro.

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