domingo, 12 de abril de 2009

A Cimeira da Pattaya


Como hoje disse Abhisit Vejjakiva, o Primeiro Ministro da Tailândia, todos perderam neste fim de semana.

O cancelamento das cimeiras da ASEAN+3 e EAS é uma tremenda derrota política para o país.

Esta cimeira era um desdobramento da cimeira realizada em Cha-Am/Hua Hin no final de Fevereiro e devido ao facto de essa cimeira não ter sido possível no momento que inicialmente estava marcada ou seja 15 de Dezembro de 2008. A China, a dias de preparar a Assembleia do Povo obrigou a desdobrar as cimeiras e que fossem agendadas para uma data posterior. Inicialmente marcadas para Phuket, o Japão opôs-se devido às preocupações de segurança. Os japoneses temiam que, à semelhança do que tinha acontecido em Dezembro, o aeroporto da ilha no Sul fosse bloqueado e tornado inoperacional e os seus Ministros e restante delegação ficassem prisioneiros em Phuket. Desse modo a diplomacia tailandesa mudou a cimeira para Pattaya, alegando que os hotéis estavam cheios, visto aí ser possível, assim se pensava, controlar melhor os movimentos dos opositores do Governo da coligação liderada pelos Democratas.

No contexto actual as cimeiras da ASEAN+3 (China. Coreia do Sul e Japão) e EAS. aqueles mais a Austrália, Índia e Nova Zelândia, eram de grande importância no ideário da ASEAN de se tornar a força dominante na região Ásia/Pacífico.

A necessidade de cancelar as cimeiras como disse é uma enorme derrota para a liderança da ASEAN e para a Tailândia como país no contexto internacional, para além de ser mais uma machadada na credibilidade que o país tinha nas relações entre nações, e tem vindo a perder desde os acontecimentos de 2008.

Os noticiários em Portugal hoje abriam com as notícias do que se passava em Pattaya e a reacção da pessoas era invariavelmente de descrença no país. É isso que estes acontecimentos reflectem nas pessoas para além das perdas políticas e diplomáticas no contexto das relações entre estados.

Acresce a isso que a já débil relação com o maior investidor no país, o Japão, vai continuar a degradar-se com o necessário efeito na economia tailandesa. Conhecendo como conheço os diplomatas japoneses sediados em Bangkok e as regras e instruções que têm, tenho a certeza de que a esta hora estarão a transmitir para Tóquio relatórios pouco favoráveis ao país.

Mas como é que tudo isto aconteceu quando este Governo é fortemente apoiado pelos militares e forças da polícia. Como acontece quando o local onde os trabalhos deveriam decorrer era um conjunto de hotéis de protecção muito fácil e por outro lado era sabido que o MNE tailandês, em conjunto com o Ministério do Interior, tinha o assunto bem preparado.

Mais uma vez se viram as deficiências de comando das forças militarizadas que já se tinham manifestado em 2008, embora nessa altura houvesse uma vontade clara de não obedecer ás decisões do Governo. Apesar da declaração do Estado de Emergência as forças da "ordem" mostram uma terrível ineficácia e inaptidão para lidar com movimentos contestatários sejam eles de que teor forem.

Acresce a isso tudo a falta de voz de comando político e a fraqueza do próprio PM que acaba por ser mais vitima do que culpado.

Para finalizar existem muitos ditados em Português e ensinamentos do budismo para explicar isto mesmo. Nós dizemos, "não faças aos outros aquilo que não queres que façam a ti", "quem semeia ventos colhe tempestades" e os budistas dizem que "se recebe sempre aquilo que se pratica, faz".

O Governo e as forças que o apoiam não conseguem (não querem) fazer justiça no caso das graves violações da ordem causadas pelo PAD durante os 193 dias em que se passearam por Bangkok e destruíram, para além da confiança dos investidores e turistas, a Government House e variados outros locais da cidade e Aeroportos.

Abhisit se quer trazer calma ao país não pode deixar de punir quem viola a lei. Por muito que as forças mais reaccionárias que o apoiam queiram tudo apagar se isso não fizer nunca mais terá sossego e nem a propalada captura/assassinato de Thaksin, fazendo-o sair de cena trará a calma que o país necessita.

É tempo de aprender que a lei tem de ser igual para todos e que ninguém, mesmo ninguém está acima dela.

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