Cheguei hoje a Bruxelas e quando sai do avião dou de caras com dois grandes anúncios um do Banco Fortis e outro do Dexia.
O do Fortis rezava que "Live is a curve" e nunca tão certa foi a publicidade. O Fortis, que ainda não há um ano era falado como estando pronto a lançar uma OPA sobre o Millenium BCP está neste momento a ser retalhado e vendido a diferentes entidades devido à insuficiência de fundos para fazer frente às suas responsabilidades.
A crise que se instalou nos Estados Unidos e alastrou a todo o Mundo, com fortes incidências, agora na Europa, está a criar um clima de pânico difícil de ver onde e quando irá terminar. Apesar dos milhares de milhões de euros injectados nos mercados, apesar da medidas de confiança que são transmitidas aos depositantes o facto é que os mercados não cessam de cair sendo as percas hoje em dia infinitamente superiores aos triliões já injectados ou comprometidos.
O momento é diferente da crise de 1929 visto os mercados terem outra capacidade de mobilidade mas os sinais são ainda mais preocupantes dos que os desse tempo e as percas incumensoravelmente maiores.
Na Europa por outro lado o Euro continua a derrapar. A descida das taxas de juros, e o anúncio conjunto, hoje feito, pelos três bancos centrais, o Federal Reserve, o Banco de Inglaterra e o Banco Central Europeu de baixar 50 pontos as respectivas taxas de referência poderá criar agora alguma esperança de que os agentes financeiros consigam ter o necessário oxigénio para, por si mesmos e com o apoio dos seus depositantes, ainda conseguirem dar a volta por cima nesta crise.
O facto é que os contribuintes, os depositantes, no fundo os agentes silenciosos do mundo económico, estão de costas viradas com este por já não confiarem nele e querem sair, encontrar outras alternativas, como o ouro, em que tenham mais confiança. Nem as crescentes garantias dadas pela maioria dos Bancos centrais tem acalmado os afforadores.
Construimos, todos, um mundo onde o sistema financeiro tal como ele existe faz parte do nosso quotidiano, um sistema imperfeito e onde muitos, governos incluídos, se aproveitaram da euforia, do laxismo, da falta de transparência e supervisão para o tornar fictício, permissivo e viciado. O sistema vive de euforias de ilusões e baseado em poucas realidades concretas e palpaveis. A "Governance" das grandes instituiçoes financeiras mundiais a isso levou na escalada de concorrência e nos prémios absolutamente escandalosos atríbuidos a executivos fazedores de sonhos e não criadores de riqueza como deveria de ser.
Por certo todos se lembram no início deste século da crise nos mercados chamada a "
bolha dot com". Quando empresas que ainda não tinham feito nada valiam montantes imensos, onde os mercados criaram expectativas impossíveis. Todos criticaram as empresas por essa "utopia" criada e responsabilizaram os, na maioria, jovens empresários pelo acontecido. O facto é que tal não passou de um breve sopro face ao claro tufão que se passa agora, e quem foram na realidade os responsáveis por essa "bolhinha" foram os mesmos vendedores de sonhos que são os responsáveis por aquilo que agora se passa.
Como referia, ao deixar o avião dei de caras com mais dois anúncios vendendo sonhos de vida fácil e ganhos de dois Bancos que estão prestes de deixar de ter autonomia para sequer falarem por si sós.
É este o sistema que temos de repensar, recriar para legar ás novas gerações algo de que não nos acusem de mais uma vez ter destruído o futuro deles. Já que não somos capazes de cuidar do nosso ao menos que não hipotequemos os dos nosso filhos e netos.
Entretanto na Tailândia a situação acalmou um pouco mas ali também torna-se necessário legar algo de novo para o futuro. ou seremos cúmplices da destruição. Contudo aí sou só espectador. Preocupado mas espectador.
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