A Tailândia chora as cinzas de Bangkok e de muitas outras cidades país fora.
O impensável aconteceu.
Lutar por causas é justo, é legítimo é mesmo nobre. O que aconteceu ontem, depois da rendição dos líderes da UDD à policia, é a pura barbárie.
Manifestantes, criminosos e toda a escória dos gangs que povoam certas partes da cidade, juntaram-se como uma turba odiosa e passearam a destruição pela cidade dos anjos.
Bangkok perdeu o seu sorriso. Não porque lhe impuseram o recolher obrigatório mas porque os actos dessas hordas vindas das cavernas da civilização lho retiraram da face.
Hoje, um amigo meu que perdeu lojas no Central World, dizia: “Choro pelo meu país, não pelo que perdi pois irei reconstruir ainda melhor e com maior determinação”.
De entre os 35 edifícios postos a arder em Bangkok, alguns ainda ardem e dos outros sai o fumo e a água do choro das suas entranhas. Para além desses há um número elevado de agencias bancárias destruídas de onde foi roubado tudo o que foi possível. A razia selvagem dos criminosos à solta em Bangkok estendeu-se mesmo durante a noite apesar do recolher obrigatório. Uma joalharia foi totalmente destruída durante a noite, e o seu conteúdo roubado, com o recolher obrigatório a favorecer todos esses criminosos ousados e dispostos a afrontar as eventuais forças de segurança que pudessem encontrar pela frente.
Para além de Bangkok fogos foram ateados em muitas cidades na província desde o Norte, Nordeste e Sul do país, e várias sedes de governos regionais foram destruídas pela selvajaria da turba vermelha.
Abaixo imagens da sede do governo provincial de Ubon Ratchathani, na zona sul do Nordeste do país.
O recolher obrigatório vai manter-se em vigor pelo menos até Domingo mas passa a ser entre as 9 da noite e as 5 da manhã.
Hoje todos os bancos estão fechados e um número incomensurável de escritórios e lojas também para alem dos serviços públicos que terão “férias” até amanhã. Para alem disso há muito poucos transportes públicos.
A comunidade internacional, Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e Austrália, entre outros, já condenou a violência e os incidentes ocorridos ontem e apelam, a ambas as partes, que se abstenham do uso de qualquer tipo de violência. Neste momento a UDD não existe como organização, e todos aqueles que ainda podem andar a causar distúrbios andam à solta e portanto são ainda mais perigosos.
Há uma questão cultural que se torna fundamental mudar na Tailândia. A permanente permissividade perante a infracção. O Mai Pen Rai (não tem importância) e o Gren Jai (misto de reverência com vergonha e timidez).
Os tailandeses têm uma forma de olhar para o cumprimento da lei de uma forma muito alargada. A maioria das pessoas não entendem que devem respeitar a lei e não entende o dever de respeitabilidade cívica. Como outra dia referi uma pessoa dizia-me que “não infringia a lei”, apesar de ter uma actividade ilegal, porque pagava à policia 3.000 bath por mês. Este tipo de atitude é comum. Só alguns exemplos simples daquilo a que me refiro.
Andar de cara completamente tapada por “balaclavas“ é a forma normal usada por todos os trabalhadores na construção civil e motoristas das moto-táxis. Ontem via-se na Televisão o ataque de que foi alvo o edifício do Canal 3 da Televisão, posteriormente posto a arder. A acção era levada a cabo por não mais do que uma meia dúzia de energúmenos captados nas câmaras de vigilância mas será impossível fazer a sua identificação visto ou terem a cara tapada e/ou usarem capacetes. No vídeo essa meia dúzia de selvagens fez o que quis enquanto se via próximo um policia “olhando para o lado”.
Se observar-mos o que se passa no Sul do país e, se comparar-mos com semelhantes situações nas Filipinas e na Indonésia, vemos que os actos terroristas acontecem há mais de 7 anos, sempre com a Lei Marcial em vigor, e não há nenhum progresso positivo bem pelo contrario
Nos outros dois países a Lei acabou por prevalecer e os actos terroristas estão sob controlo ou terminados enquanto na Tailândia diariamente morrem quer civis quer militares ou policias em atentados ou incidentes permanentes.
Nos últimos dias passei através de muitos controlos de policia e de militares e em vários deles bastava passar ao lado (exactamente ao lado) sem ser sequer observado. Uma situação muito caricata observei em Saraburi onde havia na estrada (nacional 2) uma barreira feita por militares, que tinham criado duas faixas para os carros abrandarem e passarem pelo meio deles, mas do lado esquerdo tinham deixado um grande espaço livre (na própria estrada) e a maioria dos veículos passavam por ali sem se ver o menor esforço para corrigir este “buraco”. Situação semelhante experimentei em Chon Buri mesmo á entrada da auto-estrada em direcção a Bang Na onde bastava tomar o caminho na faixa lateral e entrar naquela via cerca de 50 metros à frente sem passar por nenhuma barreira.
O mesmo tipo de permissividade se passou em duas situações recentes. Aquando da ocupação do aeroporto pelo PAD e aquando da ocupação de Rajaprasong pela UDD. Em ambos os casos o movimento foi conhecido no dia anterior mas ninguém ousou criar uma barreira para que isso não acontecesse. Mai Pen Rai sempre presente na boca dos tailandeses, é uma expressão fatal em situações quando temos criminosos à solta. Também não há lugar para Gren Jai perante pessoas fora-da-lei.
Ontem num grupo discutia o que aconteceu e uma pergunta normal nestas situações é, quem ganhou com isto? Muito se falou mas só conseguimos ver que todos, sem excepção, saíram derrotados mas o grande perdedor foi o povo tailandês e o país.
Os políticos e os movimentos vêm e vão mas o pais esse é eterno.
1 comentário:
''Muito se falou mas só conseguimos ver que todos, sem excepção, saíram derrotados mas o grande perdedor foi o povo tailandês e o país.''.... Grd verdade, a ignorância é uma arma letal :(
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