sábado, 22 de maio de 2010

Reconciliação


Num tom pouco habitual Abhisit, o PM educado em Oxford, dirigiu-se ontem ao país falando e apelando à reconciliação e à reconstrução da nação tailandesa.

Normalmente Abhisit fala num tom académico e é muitas vezes acusado de falar de uma forma que o povo simples não compreende o que ele diz. Esse é uma das tradicionais acusações de que é alvo e que ilustram a distância entre o PM e o povo especialmente o da província que também povoa grande parte de Bangkok.

Ontem foi diferente. Abhisit falou com emoção, com o coração e de uma forma que penso a maioria dos tailandeses conseguiu entender.

Falou fundamentalmente da necessiade de restabelecer a unidade da nação tailandesa.

"Caros concidadãos (a famosa frase pii nong prachachong) vivemos todos na mesma casa, casa essa que foi danificada. É altura de nos ajudar-mos mútuamente". Referiu também que mais importante do que reconstruir o que foi destruido, o que será feita com mais ou menos esforço, é sarar as feridas abertas no seio da sociedade.

Abhisit prometeu um inquérito independente a todos os acontecimentos dos últimos dois meses que deixaram mais de 80 pessoas sem vida e milhares feridos. Esse vai ser um ponto crucial para que as suas palavras possam ganhar credibilidade.

Como muitas vezes já aqui referi a independência das investigações termina sempre no momento em que se descobre qualquer evidência que alguém com poder (ou dinheiro que é quase a mesma coisa) possa estar envolvido. Mesmo em casos sem índole política relembre-se o incêndio no Santika que na noite de fim de ano de 2008 que tirou a vida a tantas pessoas e cuja investigação nada encontra. De índole política e mais recente, Abril de 2009, a tentativa de assassinato de Sondhi L., o líder do PAD. Uma semana depois a polícia dizia já ter provas e que os acusados seriam presos muito em breve. Já toda a gente esqueceu.

Se Abhisit tiver a força e a capacidade de enfrentar todos esses poderes e apresentar uma equipa independente que faça o total levantamento, em tempo útil, de todas as provas que existem (e são muitas) mostrando a irregular actuação de ambas as partes e daí chamar à responsabilidade quem esteve mal, tenha ele ou ela o nome que tiver, Abhisit mostrará que o país pode contar com ele e por certo pode assegurar o seu futuro político que agora está profundamente manchado.

A tarefa é imensa, conhecendo-se como funcionam as influências e os tabus neste país, mas é necessária e o momento é o ideal para isso.

O país pode lavar a cara com as suas próprias lágrimas.

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