terça-feira, 31 de março de 2009

Actualização da Situação


Em primeiro lugar uma palavra de desculpa sobre estes dias sem notícias mas o tempo tem escasseado. Nem para dormir dá.

Na realidade, desde que a UDD lançou a sua ofensiva na passada Quinta-feira que muitas coisas têm acontecido á volta desta manifestação.

Ainda que não tenha tido a atitude agressiva como o PAD, que ocupou e destruíu os jardins da Government House como sabem, a UDD mantêm a sede do Governo cercada sem que possa funcionar, e lá continua, com algumas indicações de que estarão lá até que o Governo ceda naquilo que é uma reedição dos acontecimentos de 2008.

O número de pessoas que cercam o complexo é superior ao dos "amarelos" e a forma pacífica como estão a actuar está a criar alguns problemas ao Governo onde existem vozes que gostariam de ver a polícia avançar sobre os manifestantes. Esse parecer ser igualmente um dos pontos que poderia ajudar a UDD se conseguisse ter algun(s) martires. Por outro lado a UDD continua a realizar comícios em todo o país e durante este fim de semana na maioria das capitais de distrito no Centro e no Norte do país houve ajuntamentos e manifestações favoráveis ao movimento "thaksinista" criando assim não só uma onda de adesões como dando ao movimento uma extensa cobertura televisiva.

O numero de manifestantes em Bangkok não aumentou mais porque as forças militares levantaram controlos nas estradas de acesso á capital vindas do Norte, nomeadamente em Nakhon Sawan, Pichit, Saraburi e Lop Buri tentando, e conseguindo, dissuadir os manifestantes da província a juntarem-se aos da capital. Contudo estes reagruparam-se nas suas origens e o movimento ganha uma força, não nacional, pois o Sul é sempre dos Democratas, mas com uma alargada extensão.

De igual forma o movimento passou a contar com mais apoios financeiros visto desde sábado ser distribuída comida gratuita aos presentes da mesma forma que acontecia com o PAD.

Temos assim um movimento de alguma forma organizado (anote-se a calma com que os manifestantes esperam um deslize do Governo) e um movimento com mais apoios (o caso da grua que rapidamente apareceu para retirar os contentores do caminho dos manifestantes e o facto da comida passar a ser distribuída gratuitamente).

O nervosismo do Governo nota-se por várias declarações que têm vindo a público e ainda ontem o Vice-Primeiro Ministro Korsab disse, a um amigo meu, não saber quanto tempo este Governo ia durar.

Mas o mais importante de tudo isto é o facto de Thaksin Shinawatra ter feito desde Quita-feira três intervenções em vídeo conferência falando aos manifestantes, e ao país, o seu alvo, e foi tão contundente nos seus ataques a dois Conselheiros Privados do Rei. o Presidente e o Primeiro Ministro após golpe de 2006, que ultrapassou o ponto de onde não pode recuar.

O General Prem de alguma forma saiu de cena desvalorizando os comentários (acusações) de Thaksin, mas o General Surayud saiu chamuscado tendo mesmo admitido a possibilidade de se demitir, visto depois de ter negado a sua presença num jantar realizado dias antes do golpe onde se discutiu a situação no país e possíveis soluções, para posteriormente confrontado com declarações de outras pessoas presentes nesse jantar, ter de voltar a trás a dizer que efectivamente tinha estado presente mas que não se tratou de nenhum preparativo para o golpe de estado que aconteceu dias depois.

Na realidade Thaksin não disse que se discutiu o golpe nesses jantar mas disse que nessa ocasião foram traçados os cenários para sair da crise em que o país vivia e um deles era o de um golpe militar. Nesse jantar para além de Surayud estiveram os lideres de dois dos mais importantes Tribunais Supremos do país, e sabemos a importância que tiveram no período após golpe como garantes de que o que tinha sido feito pelas armas era continuado pela via "legal", e alguns militares das áreas de segurança.

Thaksin ganhou esta batalha mas ao atacar os Conselheiros atacou de forma velada a instituição e quem eles servem de tal forma que o MNE, Kasit no sábado veio dizer, e pela primeira vez ouço isto em público, que o que estava em causa era o apoio ou não a um sistema de Monarquia Constitucional como o que ele defendia e que estava disposto a discutir ideologicamente, em público, com Thaksin estas questões. Corajosa declaração. Kasit é altamente controverso e um dos alvos da UDD, mas não se lhe pode negar, a par com alguma (bastante) sobranceria, a coragem de defender os seus interesses sem se esconder atrás de ninguém.

Como dizia esta batalha foi ganha mas fez com que Thaksin entrasse num caminho que só o pode levar para a frente num tudo ou nada com um muito incerto fim. Inclusivé afirmou de que se houvesse um golpe de estado entraria no país para estar com o povo e defender a democracia. Pobre palavra todos dela usam e abusam.

A manifestação continua. as movimentações nos bastidores continuam, Abhisit, que hoje parte para Londres para a cimeira do G20 representando a ASEAN da qual a Tailândia é o actual presidente, parece continuar a viver numa nuvem que paira sobre este país sem se dar conta(?) daquilo que acontece no país real. Nevin continua a sua forte campanha quer publicitária quer de recrutamento e financiamento e os rumores de golpes e contra golpes voltaram a estar em alta em Bangkok.

Por outro lado a economia vai continuando a trazer notícias altamente alarmantes e nem os famosos 2.000 bath, que somente vão dar azo a umas estatísticas mais positivas no que respeita o consumo interno neste mês de Abril, aliviam as dores que o Ministro das Finanças vai sentindo cada vez que olha para o cofre mais vazio e lê os relatórios que lhe chegam.

Dizia-me um amigo hoje ao almoço que o seu advogado, tailandês, lhe tinha dito que só daqui a 5 anos a Tailândia poderia pensar em recomeçar a viver em paz social.

Infelizmente não deverá andar muito longe da verdade e mesmo assim é necessário que os actuais actores se reformem e apareçam outras caras e especialmente outros valores, limpeza e transparência de ideias e de métodos, para que isso aconteça.

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