segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os Camisas Vermelhas


Mudam os tempos mudam as cores. O ano passado esta fotografia era amarela



Este fim de semana estava agendado uma manifestação da UDD, os camisas vermelhas, por oposição aos "amarelos" do PAD.

Até aqui, e desde a tomada de posse do Governo a UDD tem andado um pouco à deriva por falta clara de objectivos, falta de liderança e falta de fundos.

O PAD tinha um objectivo claro e mobilizador fácil de muita gente. Acabar com Thaksin e as suas marionetas. Thaksin conseguiu que metade do povo o adorasse e a outra metade o odiasse o que torna fácil organizar um movimento com o objectivo claro de ir contra ele. Por outro lado o PAD vinha-se organizando desde Fevereiro de 2006 e tinha (ou ainda tem) uma direcção múltipla e disciplinada através do comando do General Chamlom e dispondo das capacidades de orador e mobilizador de Sondhi L, um homem habituado aos palcos da televisão e a falar às massas. Depois de alguma hesitação no início de 2008, o PAD garantiu os fundos necessários para iniciar em Maio aquilo que chamaram, por muitas vezes, a batalha final e que culminou com a queda do último governo aliado a Thaksin em 2 de Dezembro desse mesmo ano.

O PAD tinha uma guarda avançada, os "Guardas do PAD", bem pagos, bem treinados e equipados, e distribuía a todos aqueles que vinham para as manifestações comida e bebida para além de animação (tudo o que o actual MNE Kasit, disse ser "muito bom") e os meios necessários para continuar a luta.

A UDD está (ou estava) incipiente a não dispõe em primeiro lugar de um objectivo claro que una as pessoas, não dispõe de uma liderança forte e disciplinada, nem dos fundos para criar a sua guarda capaz de controlar e dirigir os manifestantes de acordo com os objectivos pontuais, mas está a crescer.

Este fim de semana a UDD deu aquilo que poderá ter sido o primeiro passo para se tornar no novo PAD se o governo não tomar medidas que assegurem o controlar da situação. Por outro lado parece ser mais claro que por detrás da UDD está a nascer algo que será, ou não, decisivo nos próximos anos neste país, um verdadeiro Partido com clara noção ideológica e com um objectivo claro de poder diferente do actual.

Durante todo o Sábado os "camisas vermelhas" juntaram-se primeiro em Sanan Luang, em frente ao templo de Wat Phra Kaew, onde normalmente se organizam, e daí marcharam, ordeiramente, mas determinados até Government House onde colocaram, na porta principal, mas já dentro do complexo apesar dos 5.000 polícias e uma força especial do exército estar presente, aquilo que é o aviso deles com as condições que querem ver satisfeitas.

Serem incriminados os lideres do PAD
Demissão do MNE Kasit Piromya
Dissolução do Parlamento e convocação de eleições


Falaram também no retorno à Constituição de 1997 mas esse pedido não foi passado ao papel até porque o Governo não tem competência para tal.

No comunicado afixado em Government House dava-se 15 dias ao governo para actuar, passado o qual regressariam para ocupar o complexo tal qual fez o PAD e com alguma "legitimidade" que lhes será dada pela impunidade que os lideres do PAD continuam a gozar depois de terem trazido o caos económico ao país de acordo com o relatório do Banco da Tailândia.

Os números dos manifestantes são, como sempre contraditórios, mas o que parece mais credível é o de entre 20 e 30 mil manifestantes de acordo com fontes da comunicação social e da Polícia.

É indiscutível um sinal de força, visto não terem sido detectado o facto de os organizadores terem pago viagens da província para quem quisesse vir e parece que veio quem veio por vontade própria. Não foi notado nenhum movimento especial ou de combóios ou de camionetas da província para Bangkok com manifestantes.

Há entretanto relatos interessantes sobre algumas das pessoas que estiveram presentes e de algumas alianças que se vão formando nos bastidores o que são o sinal de que algo mais profundo está em andamento para futuras lutas.

Duas das altas figuras presentes relatavam que não estão ali por Thkasin, mas para lutar por uma ideologia que acreditam, "uma nova ideologia" como afirmou Jaran Ditta-apichai, um respeitado ex Comissário dos Direitos Humanos.


''Being pro-Thaksin doesn't mean people are puppets of Thaksin, or are being paid by Thaksin. The movement is beyond Thaksin, it's a movement for democracy and a better future.''

Este é só um exemplo mas a associação de outras figuras, importantes em certos combates, à manifestação de ontem traz-lhe um sabor especial e tal será por certo objecto de muitas especulações nos próximos tempos.

A UDD está a ganhar forma e conteúdo e poderá ser uma real ameaça para o governo se este não for capaz de levar por diante as reformas necessárias para criar no país um clima de abertura e transparência que Abhisit tem vindo a proclamar desde que assumiu o poder em 17 de Dezembro passado.

Falando em abertura e transparência na semana passada convidava um dos mais activos jornalistas estrangeiro a trabalhar na Tailândia há muitos anos, profundo conhecedor da realidade do país, fluente em tailandês, falado e escrito, para que tomássemos um copo para falar-mos um pouco. A resposta foi clara: "na situação actual não é bom ser visto comigo", dizia o jornalista.

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