sexta-feira, 20 de junho de 2008

Adeus


Acabou pra Portugal o Euro 2008. Não da maneira que todos queríamos mas no futebol a única coisa que conta é quantas vezes a maldita da bola passa aquele risco branco e se afunda nas redes como um peixe apanhado. O ontem isso não aconteceu na baliza certa, para nós.

Tudo o resto é conversa, discussão, argumentos.

Pelo facto de ter na minha cabeça milhares de jogos de futebol, de ter passado largos anos no dirigismo desportivo permito-me elaborar um pouco sobre a Nossa Selecção, da qual, diga-se já me sinto orgulhoso.

Portugal tem um estilo de jogo que acaba sempre por falhar contra equipas mecanizadas como a Alemã ( parabéns pela eficácia). A nossa defesa, desde há muitos anos que é suave. Pouco dotada do ponto de vista físico e pouco agressiva, talvez porque quando o é, acaba fazendo falta, uma das constantes imprecisões dos nosso jogadores.

Ontem a selecção jogou bem. Não excepcionalmente mas bem. Teve, em geral o controlo do jogo, mais posse de bola, mais remates, oportunidades de golo suficientes para ganhar, mas falhou.

Normalmente costuma-se criticar o Ricardo, mas parece-me injusto visto que os erros são do conjunto da defesa. No primeiro golo os dois jogadores na lateral direita são facilmente ultrapassados por falta de capacidade atlética e Paulo Ferreira deixa que Schweisteiger seja mais rápido do que ele. No segundo golo três, nem mais nem menos, jogadores alemães aparecem sozinhos na cara do guarda redes porque a nossa defesa foi lenta nas marcaçoes. No terceiro, se bem que o Paulo Ferreira é empurrado por Ballack, o facto é que ele deixa que este chegue á bola e não tem arcaboiço físico para suportar o encosto.

O nosso meio campo sofreu um importante revés com a saída de Moutinho. É um jogador que, mais do que Meireles, é capaz de empurrar a equipa para a frente e é muito mais rápido do que este o que queria maiores dificuldades na marcação e propicia a abertura de mais espaços. Contudo sentiu-se uma melhoria desde o Mundial pois os espaços frontais de onde sofremos três golos na Alemanha, não existiram e poucos foram os remates dessa área.

Falando de rapidez, esta continua a ser uma das grandes pecados da nossa selecção. A equipa no seu conjunto não é rápida e se bem que é tecnicamente melhor do que a maioria, se não se consegue introduzir velocidade na técnica, hoje em dia, esta para pouco serve. Veja-se a diferença entre o Ronaldo e o Nani, obrigados pela forma como o Manchester joga, e por certo pela metodologia do treino a jogar em velocidade e o Simão. Este mesmo quando joga em velocidade parece estar parado em comparação com os outros. os espaços são tão pequenos e escassos no futebol moderno que é fundamental não os desperdiçar quando eles aparecem é quando se é mais rápido do que o oponente, seja isto em luta directa seja no ocupar dos espaços vazios.

O mesmo se passa com a colocação do Nuno Gomes como ponta de lança fixo na área. Torna-se ineficaz e improdutivo especialmente frente a uma defesa, rígida e povoada como a alemã. Por vezes seria melhor que eles não tivessem ninguém para marcar o que implicaria que teriam de se movimentar em procura do adversário e da bola criando assim espaços para o adversário.

Como se viu a equipa alemã quando atacava, fazia-o sempre na vertical, perdendo pouco tempo para chegar á área contraria, com jogadores vindos de trás nesses movimentos verticalizados. A bola era passada sem olhar pois sabiam perfeitamente a movimentação da equipa. Estava tudo automatizado, quando ao contrário a equipa portuguesa dependia da criatividade no momento de um ou outro jogador o que implicava a paragem nos movimentos. Era comum ver Deco, parar, virar-se para a direita, depois para a esquerda e só depois fazer o passe. Isto não é um defeito é uma característica mas jogar assim implica uma solidez defensiva que nós não demonstramos.

É este o nosso futebol, são estas a s características dos nossos jogadores mas temos de olhar para trás e ver o que este conjunto de jogadores já atingiu e o que ainda podem fazer pois na sua maioria irão estar na selecção por muitos anos.

Parabéns a todos porque apesar da decepção o merecem.

Já agora uma palavra sobre Scolari. Nunca fui um grande adepto dele mas tenho-lhe imenso respeito pela obra que fez. Nunca um treinador em Portugal conseguiu ser consistente e, em três provas consecutivas, deixar o nome de Portugal bem vincado nos palcos onde isso interessa. Que importa a sua teimosia, as vezes que entendemos que ele lia mal os jogos, as vezes em que discordamos das escolhas, dos métodos, tudo isso é pouco relevante quando, como disse no inicio, o que conta em futebol é o resultado e os que ele conseguiu ficam para a história do futebol português.

Que venha outro seleccionador com a coragem e a capacidade de liderança que ele demonstrou nestes quase cinco anos á frente da Nossa Selecção.


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