segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Golpe

Ontem, como já referi, o Bangkok Post fazia uma alargada análise dos quatro anos que se passaram sobre o Golpe de Estado que depôs o governo de Thaksin Shinawatra e concluía que o país ainda estava a calcular os prejuízos causados para a economia e para a democracia.

Interessante ver que passados estes quatro anos a generalidade da comunicação social, incluindo a mais próxima do regime, como o citado periódico e outros, não se coíbem em apontar o dedo aos erros que foram cometidos, não com o golpe em si mas com as acções levadas a cabo na sua sequencia e que ao contrário do propósito anunciado de devolver a democracia ao país ainda criou maiores fricções e divisões como se vem constatando ao longo destes anos de marés amarelas e vermelhas.

Na realidade o golpe de 2006 tinha por objectivo terminar com o regime corrupto e autoritário de Thaksin e restabelecer um regime com respeito pelos direitos democráticos dos cidadãos mas falhou completamente.

Ao fim deste quatro anos Thaksin não foi acusado em mais nada do que abuso de poder e conflito de interesses, quando havia mais do que matéria para o condenar a largos anos atrás das grades e, como no caso vertente em que ele anda fugido, ter matéria legal suficiente para iniciar um processo de extradição. Repare-se que neste último aspecto nunca foi apresentado a nenhum país ou à Interpol, um pedido de extradição, ao contrário de amiúde referido por altas personagens do poder, porque na realidade tal é impossível com as condenações de que Thaksin foi alvo.

O golpe de estado produziu uma Constituição que deveria ser o novo mapa para dinamizar a vida democratica no país mas tem sido o oposto e um terreno de constantes discussões e causador de divisões. Recorde-se que Abhisit anda há mais de um ano a anunciar intenções de rever o texto fundamental, aliás como está escrito no seu programa de governo, mas tal têm-se mostrado impossível e parece a historia do cobertor pequeno demais para tapar os pés e a cabeça. Puxa de um lado há gritos e vice-versa.


O governo actual que era pressuposto ser o governo capaz de impor ordem e o respeito pela lei de modo a que o país evoluísse no sentindo de um maior respeito pelas normas tem tido enormes dificuldades em poder fazer valer os seus pontos de vista e o seu programa.

Veja-se três casos muito recentes onde se mostra que o poder é fluído e existe uma noção de incerteza em tudo. Na realidade existem mais do que um poder.

O caso do traficante de armas russo Viktor Bout. Em Agosto o Supremo Tribunal condenou-o a ser extraditado, tendo mesmo os EEUU enviado um avião para o levar. O caso está de novo envolto em mistérios e ninguém sabe o que é que vai acontecer nem se a sentença vai ou não ser executada.

O caso com a Árábia Saudita: a promoção para um posto no comando superior na Polícia de um general acusado, com julgamento marcado para Novembro, de crime de abducção de um saudita, relevante testemunha no caso do roubo e desaparecimento de um diamante da casa reinante saudita. Os diplomatas sauditas na capital declararam-se estupefactos com o caso, já se reuniram com o MNE Kasit, com Suthep e com o próprio Abhisit sobre o caso mas continuam a dizer que ainda não receberam nenhuma explicação formal sobre o caso e ameaçam fechar a representação na capital. A Arábia Saudita é uma importante fonte de turismo, especialmente no campo da saúde, e também uma fonte importante de receitas de remessas de tailandeses a trabalhar no médio oriente.


O terceiro caso é o da atribuição das licenças móveis de 3ª geração. O processo iniciou-se, apresentaram-se companhias a concurso (a primeira derrota foi não ter aparecido nenhuma companhia estrangeira apesar dos enormes esforços levados a cabo pelo Ministério da Economia), foram aceites os actuais três operadores móveis, fizeram os respectivos depósitos no valor de centenas de milhões de Euros, e quase ao soar do gongo vem o Tribunal Administrativo parar o concurso declarando que a entidade reguladora não tem competência para o realizar. Note-se que a constituição desta entidade vem de 1997 e até agora não foi possível haver consensos sobre a sua constituição fundamentalmente pela pressão feita junto das entidades competentes por parte dos militares que querem continuar a ter o controlo sobre todo o sector de radiodifusão nacional. Abhisit ontem na televisão tentava explicar esta questão mas sem o conseguir.

O poder é actualmente tão fluído e tão volátil que o país muda de direcção com um levíssimo sopro.

Os únicos que ganharam desde 2006 foram as instituições militares. O orçamento do Ministério da Defesa aumentou de 85 para 154 mil milhões de baht comparando o ano fiscal de 2006 e o de 2010 e passará para 170 mil milhões, ou seja o dobro, no próximo orçamento que entra em vigor no dia 1 de Outubro de 2010.

Mais de 100% em quatro anos é obra mas há que notar que a Tailândia é o país no mundo que tem mais oficiais de patente de general em comparação com o número de efectivos nas forças armadas. Actualmente, só no exército há 1.100 oficiais generais!

1 comentário:

Anónimo disse...

Os brasileiros dizem:

"Tanto general para tão pouco magala."

Este é sistema feudal... de trás dele imensos interesses.

Não há nada a fazer e se não há promoções há GOLPE e ponto final.

A força das armas são assim...


Observer da Conchichina