Tenho passado os últimos dias em reuniões com Deputados dos vários partidos com assento parlamentar.
Pretende saber-se o que pensam do actual momento político, da possível data para futuras eleições, da visão que têm sobre os acontecimentos de Abril e Maio que causaram tantas percas em vidas humanas e em bens, enfim tentar obter um pouco a direcção política do país.
Para além dos grandes partidos, Pheu Thai e Democratas, também falei com os partidos mais pequenos que começam a mostrar ser os verdadeiros detentores do poder.
A primeira sensação que temos quando falamos com estes Deputados é que estamos num sistema político totalmente diferente daquilo que nos habituámos no ocidente. Nem um só fala em questões que se poderão designar como programáticas.
Educação, saúde, direitos humanos, ambiente, fiscalidade, justiça, etc. Ninguém fala de qualquer destes temas e quando eles são mencionados por mim quase que obtenho um sorriso do outro lado da mesa. Na realidade os votos aqui não se ganham com o anúncio de políticas em benefício das populações. Compram-se com dinheiro.
Uma coisa toda tem em comum. Todos falam de Thaksin. Para uns é a inspiração para outros o demónio mas não há um só que não mencione o "homem". Todos reconhecem ser ele ainda uma das figuras principais e incontornáveis da cena política no país. Os Democratas são mesmo assim aqueles que se mostram mais indiferentes e que gostariam mesmo de ver Abhisit a ignorar por completo Thaksin. Esses mesmos criticam os ministros deste Governo que, no entender deles, não fazem mais nada do que "dar corda" em permanência ao fugitivo ex PM:
Outra coisa de notar é que na generalidade quase todos os Deputados com que falei estiveram nalgum ponto da sua vida ligados com Thaksin, ou trabalhando com ele directamente ou em partidos ou movimentos por onde ele andou.
Tirando este ponto comum e o também desinteresse por aquilo que serão, no nosso entender os problemas que uma população normalmente enfrenta, podem dividir-se as preocupações dos nossos interlocutores em dois campos.
Do lado da oposição o pensamento está neste momento em como encontrar as estratégias que possam atingir os Democratas e permitam ao Pheu Thai sobreviver. As acusações sobre a actuação de Abhisit e Suthep durante a repressão da manifestação vermelha parecem ser neste momento a tábua à qual o partido se vai agarrar à falta de melhor alternativa pela positiva.
O Pheu Thai, apesar de ser o maior partido dos representados no Parlamento está neste momento com um verdadeiro problema de sobrevivência pois falta-lhes objectivo susceptível de ser cumprido. Continuar a batalhar no regresso de Thaksin parece ser uma utopia e não é o elemento mobilizador das "massas vermelhas". Thaksin existe mais na cabeça dos políticos do que no coração do povo que dizem ser o seu.
Pude constatar em várias passagens pelo "seu" território, Norte e Nordeste, que o que mais vai neste momento na cabeça do povo inculto, como lhes chama o PAD, são outras questões que começam a vir cada vez mais à superfície e que têm a ver com o tratamento desigual que sentem. "Enquanto os de Bangkok choram a perca dum centro comercial nós choramos a perca dos nossos irmãos", dizia uma mulher de Khon Kaen ainda recentemente. Várias pessoas com quem falei dizem compreender muito bem o que aconteceu em Bangkok e quem esteve nas linhas da retaguarda a comandar a supressão do acampamento vermelho mas acrescentam que, se bem que entendam quem foi, não compreendem porquê!
Voltando aos partidos e perguntando a todos qual era a interpretação deles dos acontecimentos de Abril/Maio, só o Pheu Thai, e pela razão que mencionei, abordavam a questão todos os outros falaram da reconciliação e da acalmia que era necessária para que o país pudesse ir a votos. Do mesmo modo nenhum dos partidos da coligação se preocupou com a possibilidade de ser ou não feito um inquérito independente ao que aconteceu. Houve um que, quando lhe perguntei se num tal inquérito ficasse provado haver, um só que fosse, general responsável por qualquer incidente, afirmou que isso nunca seria publicado.
Enquanto o Pheu Thai se vê em sério risco de desaparecer e se fragmentar em pequenos partidos todos os outros só pensam em eleições e qual o melhor momento para as levar a cabo. Tenho para mim que o Pheu Thai virá a dissolver-se em vários partidos de acordo com as diferentes facções que aí estão representadas. Isto e todo o processo do desenvolvimento do um conjunto de outros pequenos partidos, ao mesmo tempo que os Democratas perderão terreno, durará cerca de 4/5 anos e irá reordenar o sistema partidário no país e outros novos agrupamentos emergirão como os dominantes.
Os Democratas são os menos interessados mas parece ser claro que quem comanda agora as etapas são os partidos menores. Dizia-me um Deputado do Bhum Jai Thai que o partido se quer manter neutral e afastado de lutas políticas de modo a que os Democratas entendam claramente que se não fazem as coisas da forma que eles querem saltam fora da coligação.
Os pequenos partidos querem alterar a Constituição de modo a alterar o mapa eleitoral para que os círculos eleitorais sezam reduzidos, à semelhança do que acontecia com a Constituição de 1997, para ser mais fácil a campanha e portanto a possibilidade de obterem mais mandados. O BJT fala em conseguir entre 60 a 80 lugares. Recorde-se que agora detêm 33.
Claro que esta alteração não é do interesse do partido de Abhisit mas como me diziam os deputados dos partidos menores "eles não têm outra hipótese".
De qualquer maneira todos estão de acordo que eleições podem esperar.
O Pheu Thai porque está em fase de desagregação e reforma. E os partidos da governação porque há que proceder à alteração da lei e porque a situação no momento ainda não é a melhor do ponto de vista financeiro, segundo ouvi.
As preocupações dos membros da coligação no poder são ver o ambiente político acalmar, embora os partidos pequenos afirmem em uníssono que isso é uma competência do governo embora não sejam tão unânimes no entendimento das políticas que aquele irá seguir para atingir esse fim de "reconciliação".
Para estes o que passou passou e agora o que interessa é preparar tudo para obter mais poder tão logo se mostre oportuno. Tudo o resto como políticas para o bem-estar das populações são problemas que o governo tem de ter em atenção, não eles. O seu objectivo é tão somente o poder.
Dizia-me esta manhã um Embaixador de um dos grandes países asiáticos, sentado ao meu lado no Conselho de Fundadores do Asian Institute of Thechnology, que a Tailândia anda à procura do modelo de sistema político partidário desde 1932, altura da mudança de um regime de monarquia absoluta para monarquia constitucional. Baseava a sua afirmação no facto de ter havido até ao momento 17 leis fundamentais numa permanente procura de uma fórmula que consiga dotar o país de um sistema político partidário funcional, eficiente e limpo. A única instituição que se manteve firme desde sempre foi a Casa Real.
Pretende saber-se o que pensam do actual momento político, da possível data para futuras eleições, da visão que têm sobre os acontecimentos de Abril e Maio que causaram tantas percas em vidas humanas e em bens, enfim tentar obter um pouco a direcção política do país.
Para além dos grandes partidos, Pheu Thai e Democratas, também falei com os partidos mais pequenos que começam a mostrar ser os verdadeiros detentores do poder.
A primeira sensação que temos quando falamos com estes Deputados é que estamos num sistema político totalmente diferente daquilo que nos habituámos no ocidente. Nem um só fala em questões que se poderão designar como programáticas.
Educação, saúde, direitos humanos, ambiente, fiscalidade, justiça, etc. Ninguém fala de qualquer destes temas e quando eles são mencionados por mim quase que obtenho um sorriso do outro lado da mesa. Na realidade os votos aqui não se ganham com o anúncio de políticas em benefício das populações. Compram-se com dinheiro.
Uma coisa toda tem em comum. Todos falam de Thaksin. Para uns é a inspiração para outros o demónio mas não há um só que não mencione o "homem". Todos reconhecem ser ele ainda uma das figuras principais e incontornáveis da cena política no país. Os Democratas são mesmo assim aqueles que se mostram mais indiferentes e que gostariam mesmo de ver Abhisit a ignorar por completo Thaksin. Esses mesmos criticam os ministros deste Governo que, no entender deles, não fazem mais nada do que "dar corda" em permanência ao fugitivo ex PM:
Outra coisa de notar é que na generalidade quase todos os Deputados com que falei estiveram nalgum ponto da sua vida ligados com Thaksin, ou trabalhando com ele directamente ou em partidos ou movimentos por onde ele andou.
Tirando este ponto comum e o também desinteresse por aquilo que serão, no nosso entender os problemas que uma população normalmente enfrenta, podem dividir-se as preocupações dos nossos interlocutores em dois campos.
Do lado da oposição o pensamento está neste momento em como encontrar as estratégias que possam atingir os Democratas e permitam ao Pheu Thai sobreviver. As acusações sobre a actuação de Abhisit e Suthep durante a repressão da manifestação vermelha parecem ser neste momento a tábua à qual o partido se vai agarrar à falta de melhor alternativa pela positiva.
O Pheu Thai, apesar de ser o maior partido dos representados no Parlamento está neste momento com um verdadeiro problema de sobrevivência pois falta-lhes objectivo susceptível de ser cumprido. Continuar a batalhar no regresso de Thaksin parece ser uma utopia e não é o elemento mobilizador das "massas vermelhas". Thaksin existe mais na cabeça dos políticos do que no coração do povo que dizem ser o seu.
Pude constatar em várias passagens pelo "seu" território, Norte e Nordeste, que o que mais vai neste momento na cabeça do povo inculto, como lhes chama o PAD, são outras questões que começam a vir cada vez mais à superfície e que têm a ver com o tratamento desigual que sentem. "Enquanto os de Bangkok choram a perca dum centro comercial nós choramos a perca dos nossos irmãos", dizia uma mulher de Khon Kaen ainda recentemente. Várias pessoas com quem falei dizem compreender muito bem o que aconteceu em Bangkok e quem esteve nas linhas da retaguarda a comandar a supressão do acampamento vermelho mas acrescentam que, se bem que entendam quem foi, não compreendem porquê!
Voltando aos partidos e perguntando a todos qual era a interpretação deles dos acontecimentos de Abril/Maio, só o Pheu Thai, e pela razão que mencionei, abordavam a questão todos os outros falaram da reconciliação e da acalmia que era necessária para que o país pudesse ir a votos. Do mesmo modo nenhum dos partidos da coligação se preocupou com a possibilidade de ser ou não feito um inquérito independente ao que aconteceu. Houve um que, quando lhe perguntei se num tal inquérito ficasse provado haver, um só que fosse, general responsável por qualquer incidente, afirmou que isso nunca seria publicado.
Enquanto o Pheu Thai se vê em sério risco de desaparecer e se fragmentar em pequenos partidos todos os outros só pensam em eleições e qual o melhor momento para as levar a cabo. Tenho para mim que o Pheu Thai virá a dissolver-se em vários partidos de acordo com as diferentes facções que aí estão representadas. Isto e todo o processo do desenvolvimento do um conjunto de outros pequenos partidos, ao mesmo tempo que os Democratas perderão terreno, durará cerca de 4/5 anos e irá reordenar o sistema partidário no país e outros novos agrupamentos emergirão como os dominantes.
Os Democratas são os menos interessados mas parece ser claro que quem comanda agora as etapas são os partidos menores. Dizia-me um Deputado do Bhum Jai Thai que o partido se quer manter neutral e afastado de lutas políticas de modo a que os Democratas entendam claramente que se não fazem as coisas da forma que eles querem saltam fora da coligação.
Os pequenos partidos querem alterar a Constituição de modo a alterar o mapa eleitoral para que os círculos eleitorais sezam reduzidos, à semelhança do que acontecia com a Constituição de 1997, para ser mais fácil a campanha e portanto a possibilidade de obterem mais mandados. O BJT fala em conseguir entre 60 a 80 lugares. Recorde-se que agora detêm 33.
Claro que esta alteração não é do interesse do partido de Abhisit mas como me diziam os deputados dos partidos menores "eles não têm outra hipótese".
De qualquer maneira todos estão de acordo que eleições podem esperar.
O Pheu Thai porque está em fase de desagregação e reforma. E os partidos da governação porque há que proceder à alteração da lei e porque a situação no momento ainda não é a melhor do ponto de vista financeiro, segundo ouvi.
As preocupações dos membros da coligação no poder são ver o ambiente político acalmar, embora os partidos pequenos afirmem em uníssono que isso é uma competência do governo embora não sejam tão unânimes no entendimento das políticas que aquele irá seguir para atingir esse fim de "reconciliação".
Para estes o que passou passou e agora o que interessa é preparar tudo para obter mais poder tão logo se mostre oportuno. Tudo o resto como políticas para o bem-estar das populações são problemas que o governo tem de ter em atenção, não eles. O seu objectivo é tão somente o poder.
Dizia-me esta manhã um Embaixador de um dos grandes países asiáticos, sentado ao meu lado no Conselho de Fundadores do Asian Institute of Thechnology, que a Tailândia anda à procura do modelo de sistema político partidário desde 1932, altura da mudança de um regime de monarquia absoluta para monarquia constitucional. Baseava a sua afirmação no facto de ter havido até ao momento 17 leis fundamentais numa permanente procura de uma fórmula que consiga dotar o país de um sistema político partidário funcional, eficiente e limpo. A única instituição que se manteve firme desde sempre foi a Casa Real.
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