sexta-feira, 20 de março de 2009

Moção de Censura


Ontem deu-se inicio ao debate da Moção de Censura no Parlamento e embora não seja esperado que o Governo caia o debate em si já está a provocar estragos na solidez dos Democratas e hoje os jornais de língua tailandesa, na sua grande maioria favoráveis ao governo, começam a falar da possível dissolução do Partido Democrata o que faria regressar o país a Dezembro do ano passado e aos contínuos jogos de bastidores disputando influências sobre os Deputados.

Com da primeira vez que falei da Moção referi estar a ser preparado um realinhamento do panorama dos partidos políticos referindo-me às movimentações de Nevin Chidchob e do "seu" Bhumjai Party (note-se que coloco o seu entre aspas visto Nevin estar, como Thaksin e muitos outros, embora tal não pareça, banido de direitos políticos até Maio de 2012). Acontece que agora já se fala, inclusive, da divisão do Próprio Partido Democrata em dois blocos, havendo mesmo um jornal que diz já terem sido constituídos esses dois novos Partidos, que como em Dezembro albergariam os Deputados nesta constante dança de cadeiras.

Para nós ocidentais que ligamos a pertença a um determinado partido politico com alguma convicção ideológica faz por vezes alguma confusão ver aqui os Deputados a saltarem de partido em partido sem outra razão que não seja a de manter "o tacho" totalmente alheios dos interesses dos seus constituintes. Na realidade em Portugal, que é o que melhor conheço, a situação não é tão diferente quanto possa parecer só que tem algumas subtilezas no que respeita à sua encenação. Os tailandeses são por natureza mais ingénuos (não sei se será a melhor palavra. Pode também usar-se pueris) na forma de se exprimirem e não raramente dizem abertamente coisas que nós ocidentais chamamos de pouco diplomáticas. Vá lá saber-se quem fala melhor.

O facto é que este sistema de "salto de barreira politica" não é nem nunca poderá ser um contributo para a consolidação de um poder democrático e limpo visto aqui o que está sempre em jogo é o dinheiro que se consegue obter através da posição que se garante.


Voltando à Moção e à sua discussão ela pouco acrescentou a não ser mostrar um PM calmo e sorridente de um lado e um líder da oposição Chalerm, o Capitão da Polícia com um passado nada limpo em nenhum campo e sempre com uma rudeza de modos que pouco agrada aos tailandeses. Chalerm falou durante 3 horas (!!!) mas nada de novo trouxe pois todos os pontos eram sobejamente conhecidos.

Acrescentaram aquilo que, no entender do Puea Thai, Abhisit fez, para fugir à tropa, ou seja falsificar documentos, ao qual o PM, mostrando uma fotografia sua vestido militarmente, disse ter cumprido o serviço militar. Na Tailândia funciona um sistema de bola branca bola preta em que os mancebos que tenham uma bola preta têm de cumprir o serviço durante cerca de 2 anos. Acontece que é universalmente conhecido que por 30.000 se resolve esse assunto. É tão sabido que funciona como uma taxa fixa. Abhisit não fez serviço militar mas foi professor na Academia Militar e o ex PM Surayud, o PM após o golpe de estado de 2006, passou um certificado dando-lhe equivalência por esse tempo passado como professor. Contudo este caso mancha fortemente o próprio PM.

Outro caso novo é o facto de após ter sido eleito PM, em Dezembro, Abhisit, numa clara violação de variados preceitos legais e constitucionais, ter enviado a 17 milhões de tailandeses um sms com uma mensagem pessoal de agradecimento. Não só violou a intimidade das pessoas como é acusado de as empresas de serviços telefónicos móveis terem sido isentas de pagarem o IVA naquele caso. Para agravar Abhsit, na tal ingenuideda (?) disse que não houve violação da privacidade visto o sms ter sido enviado uma só vez e as pessoas não eram obrigadas a responder podendo apagá-lo se desejasse. Pior a emenda que o soneto, diz-se em português.

Todas estas questões estão a deixar algumas manchas negras no corpo do PM mas o principal problema é o facto da doações feitas ao partido e o facto da Comissão Eleitoral já ter vindo a terreiro para dizer que existem indícios graves de violação da lei dos Partidos e que vai iniciar uma investigação. Nesta fase do debate Abhisit, com poucos argumentos, saiu a dizer, e passo a citar " a doação foi feita em 2004 quando era Presidente Adjunto do Partido e não tinha responsabilidades nas áreas financeiras. Desde que fui eleito Presidente todas as doações tem sido comunicadas à Comissão Eleitoral" , fim de citação. Completa sacudidela de água do capote. Ou por outras palavras os outros que sejam responsabilizados porque eu não tenho nada a ver com este caso.

Todo o estado-maior dos Democratas está em alerta máximo sobre a possibilidade de um veredicto futuro pela Comissão Eleitoral que implique a dissolução do partido (quase que uma moda no país), daí o terem saído para a rua os comentários de divisão no seio do partido.

Isso poderá ter alguma repercussão no voto da Moção de Censura, não o suficiente para ela ganhar, mas o mais importante é seguramente o aproveitamento que os abutres sempre fazem dos corpos em decomposição e Nevin and Friends nunca dormem.

1 comentário:

Combustões disse...

Nuno:
O que faz tanto e dedicado cidadão, ideologicamente entranhado no velho Kautsky, nas bandas do PSD e do PS? Para o partidismo e seu séquito de caudatários, aqui como em Portugal, só há uma explicação: o tacho. Há formas de intervir politicamente sem perder o amor-próprio, a independência e a honestidade intelectual. A democracia é um exercício que não devia obrigar as pessoas a integrar os clubes-arranja-lugares. Eu, democrata, nunca deles precisei.