terça-feira, 24 de junho de 2008

Khao Phra Viharn


Quando há cerca de duas semanas visitei o templo de Khao Phra Viharn nao pensava quanto ele viria a ser hoje em dia um dos pontos fundamentais da luta politica na Tailândia.

O Governo tailandês assinou recentemente, conjuntamente com o Governo do Cambodja, o pedido para que o templo fosse incluído na lista do Património da Humanidade e tal facto é visto como uma cedência, inadmissível, do território e da soberania. Para além disso invoca-se que o Governo Tailandês agiu ilegalmente visto que deveria ter passado tal acto pelo Parlamento já que só este ter competência para Assinar Tratados Internacionais. Contudo outros advogam, e penso que com razão, que tal não seria necessário visto nao haver alterações para o país decorrentes de tal facto.

O território do Templo está "atribuído", desde 1962, pelo Tribunal Internacional de Justiça, e tal aceite pela Tailândia, como pertencente ao Cambodja. A questão está em cerca de menos de 5 km2 adjacentes ao Templo que continuam a ser disputados pelos dois países. Na resolução de 1962 este especto não foi considerado e no acordo agora assinado de igual modo nada é mencionado. Afirmam os apoiantes da "causa nacionalista" que a assinatura irá enfraquecer a capacidade do Governo deste pais em futuras negociações sobre os ditos terrenos.

O absurdo da situação é que, em teoria, tudo é Tailândia, excepto o Templo em si mesmo, e agora clama-se que os vendedores de "souvenir" na entrada do Templo devem sair pois estão a ocupar ilegalmente território tailandês.

O PAD desde que iniciou esta campanha, a 25 de Maio, não tinha nenhuma bandeira com fortes conotações emocionais como há dois anos atrás quando Thaksin vendeu o seu império á holding estatal de Singapura, e por isso foram lestos a pedir a cabeça de tudo e todos por causa desta questão e a levantarem-na bem alta como a nova bandeira da união do grupo.

Têm contado com a preciosa ajuda do Senado (note-se que 50% dos Senadores são não eleitos e foram escolhidos pelos mesmos que fizeram o golpe de 2006) que de uma forma um pouco invulgar atacou o Governo neste questão. Igualmente de altas instâncias vieram palavras sobre a necessidade da sociedade civil saber defender o território nacional inflamando os manifestantes.

Como se sabe nada há melhor do que um pouco de patriotismo para que as multidões se excedam nos seus calores em defesa daquilo que é apresentado como uma violação desse dever sagrado de cada um. A defesa da Pátria.

Um grupo de académicos veio já a lume tentando explicar os perigos que decorrem destes excessos de patriotismo oportunista mas o debate está lançado e as mentes incendiadas por uma questão de "perigoso atentado á soberania". E lembre-se que o Cambodja e a Tailândia são, para alem de vizinhos, países "irmãos" na ASEAN.
Para já o Governo de Phnom Pehn encerrou o Templo no sequência de manifestações que ocorreram, também, na estrada de acesso a este.

A irracionalidade impera e há pouca noção de bom senso quando um dos mais importantes órgãos da soberania fala de forma tão pouco esclarecida como está sendo feito actualmente.



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