segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Novo Primeiro Ministro?

Abhisit o putativo novo PM

A Tailândia prepara-se para eleger o novo Primeiro Ministro após a decisão judicial que dissolveu o Partido no poder e dois dos seus parceiros da coligação.

Tem de ser convocada uma sessão extraordinária do Parlamento para esse efeito e para isso torna-se necessário que um terço dos Deputados a requeiram para que o Presidente solicite ao Rei a aprovação do decreto que convoque essa reunião extraordinária.

O processo estará em marcha e penso que deverá acontecer no dia 11 visto o dia 10 ser feriado nacional, marcando o dia em que o Rei Prajadhipok, Rama VII, proclamou a Constituição que marca a transição de um regime Absolutista para um regime Constitucionalista em 1932.

O fim de semana foi marcado por grandes negociações e movimentos nos bastidores desta sempre complexa teia dos Partidos políticos. Convém realçar que os Partidos na Tailândia não têm uma clara definição ideológica mas fundamentalmente servem interesses que nem sempre são os mais claros. Assim neste momento assiste-se ao passar de muitos Deputados que ainda há dias andavam a lutar em campos opostos, e por vezes de forma pouco ortodoxa, para o lado do "antigo" rival só porque há favores, dinheiros, posições que são oferecidas.

Um dos mais famosos grupos sempre negociando é a facção de Nevin Chidchob, a quem já me referi várias vezes. Parte do grupo de Deputados que controla estão neste momento do lado dos Democratas embora não se saiba bem quantos.

O líder dos Democratas, Abhisit Vejjajiva, nascido no Reino Unido e educado em Eton e Oxford, parece vir a ser o próximo PM, embora sempre tenha sido considerado alguém "demasiado puro" para a política neste país e por isso condenado a nunca ser PM.

O Secretário-Geral dos Democratas tem vindo a conduzir as negociações e afirma contar neste momento com o apoio de 250 Deputados num Parlamento que actualmente, depois das desqualificações, conta com 441. Após as eleições intercalares que se realizarão em 11 de Janeiro voltará ao seu total de 480 o que faz que 241 Deputados fazem uma maioria. Um dos jornais diários em língua thai dizia esta manhã, com a maior naturalidade, que o acordo previa um lugar no Governo por cada 5 Deputados a completar, a já conhecido pagamento que foi feito em dinheiro. Interessante que agora já não se fala em compra de votos e na necessidade de abolir o método de um homem um voto visto os eleitores serem facilmente aliciados com dinheiro. Agora que se trata da compra dos próprios Deputados, falada em toda a comunicação social e nunca desmentido, já está bem!


Um desconhecido lidera o novo (velho) Puea Thai

O Puea Thai, o novo Partido onde se acolheram os Deputados que antes estavam no defunto PPP, diz continuar a lutar e que apresentará o seu candidato nessa sessão e logo se verá quem tem mais votos. Ontem elegeram o novo lider e para surpresa de todos foi um ilustre desconhecido, Yongyuth Wichaidit, um funcionário público de carreira no sector da Justiça, quem foi escolhido. A irmã mais nova de Thaksin, Yinglak, para todos tida como a favorita para o lugar, parece não ter conseguido o apoio do "grande chefe".

Uma questão parece clara a divisão está ainda mais marcada com praticamente metade da Assembleia em cada um dos campos. Por isso há que esperar pela sessão do Parlamento para na realidade ver quem vai votar em quem. Outra questão será ver quanto tempo vai durar um Governo saído de qualquer uma coligação onde se sabe não haver nenhum elemento aglutinador a não ser o dinheiro que passa de mão em mão.

Interessante e imprevisível, como sempre por aqui acontece, é que este cenário poderá nem sequer vir a colocar-se se o actual PM interino dissolver o Parlamento e convocar eleições como os Democratas insistentemente solicitavam na semana que terminou aliás na sequência de outros pedidos como o do poderoso General Anupong. Chaowarat pode mesmo dizer que dissolve o Parlamento e convoca eleições para atender às solicitações de tão importantes pessoas.

Outro ponto a observar é como irão mudar o discurso os políticos que saltaram a barreira para defender, agora do outro lado, as ideias que tão afincadamente combatiam há escassos dias. Como às vezes vimos na política um pouco por todo o Mundo os que lutaram por uma causa e clamaram a toda a voz por uma ideia ou projecto agora vão ter de dizer exactamente o contrário e lutar pelo oposto daquilo que até ontem faziam.

O reitor da Universidade de Tammasat, uma das principais de Bangkok, já veio também a terreiro alegando da ilegitimidade de um possível Governo dos Democratas visto não nascer de um processo democrático eleitoral mas de manobras nas costas do povo quando os Deputados que eram suposto seguirem um projecto, aquele em que os eleitores votaram, vendem agora o seu voto "ao inimigo".

Como diz o The Nation neste artigo. Está confuso? Nós também!

1 comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Havia de estar aqui em Lisboa... sempre queria ver o que tinha para dizer "disto". Com apenas umas mudanças nos nomes, este texto assenta que nem uma luva ao que temos cá em casa! E depois não se admirem...!