O Sporting sofreu mais uma humilhante derrota em Alvalade e José Eduardo Bettencourt apresentou a demissão do seu cargo de Presidente no rescaldo do jogo.
Oito anos na Vice-Presidência do clube, alguns dos quais na companhia de JEB e quase 63 anos de sócio, impedem-me de não me manifestar perante a situação.
Desde cedo deixou que a estrutura e sobretudo os “abutres” (não gosto muito de adjectivar pessoas mas neste caso faço-o) que voam sempre sobre os clubes de futebol tomassem conta da nau e as consequências foram visíveis.
O futebol é um sector da industria de entretenimento muito especial e que movimenta muitos interesses sendo o principal os holofotes que sempre estão sobre os actores. A maioria diz detestar a atenção que a comunicação social dá ao mais pequeno acontecimento, mas não é capaz de resistir em aparecer numa boa capa especialmente quando esta o adula.
O futebol carece de uma forte liderança, unipessoal pois se assim não for não é liderança é um pseudo comando cedendo à esquerda e á direita e portanto não seguindo em frente. Como referi conheci com alguma profundidade o meio do futebol e a grande diferença que existe entre o FC do Porto e os seus dois grandes rivais é que naquele clube sabe-se quem manda. Ninguém tem dúvidas e nessa questão não entram empresários de futebol nem promotores publicitários, muito ao contrario do que acontece nos clubes de Lisboa.
As ditaduras, assim se pode chamar ao que me refiro, são pouco do meu agrado mas no futebol têm a enorme vantagem de não permitir intrusões alheias nem dúvidas sobre a liderança.
Ao grosso dos actores do futebol não se pode pedir, até pela sua proveniência social (e não escondamos as coisas – ainda me lembro do Cristiano Ronaldo com 16 anos que nem falar sabia) e formação, repito, não se pode pedir que actuem num ambiente de liberdade/responsabilidade que seria decerto mais produtivo.
José Mourinho costuma dizer que prefere jogadores inteligentes do que jogadores com grande talento e ele diz isso pois é mais simples para ele fazer entender os seus pontos de vista de uma forma concertada junto daqueles que têm capacidades de assimilação superiores.
Quem se aproveita deste ambiente são os “apoiantes, conselheiros e outros” dos actores e todas essas opiniões “avisadas” nada acrescentam ao bom funcionamento de uma equipa de futebol que necessita essencialmente de conhecer o “dono” e saber com muita clareza o dia seguinte.
Nada disso aconteceu durante a gestão de JEB. Os problemas de uma estrutura complexa, muito ao estilo empresarial mas não atenta aos recursos humanos de que dispunha, muito cedo começaram a vir ao de cima e JEB começou a isolar-se criando uma barreira entre ele e os que tinham opiniões diversas (e que no seu entender estavam contra ele) o que levou à demissão de Rita Figueira, Miguel Ribeiro Telles, entre outros.
O dia em que JEB, o Presidente, veio a público chamar de terroristas aos sócios, mostrou-me o seu isolamento. Um Presidente nunca diz isso. Um Presidente “manda” dizer, um Presidente tem os seus apoiantes que dizem isso e outras coisas mas não pode descer tão baixo. Como o JEB eu também sou fundamentalmente um “adepto do peito” do clube mas o Presidente tem de deixar por momentos esse título de adepto pois tem de ter uma postura que não se conforma com o grito que se dá no momento em que o golo acontece, o impropério que se lança quando algo não core como gostamos, etc.
A recente contratação do José Couceiro, outro sportinguista sem dúvida e sem mácula, veio mais uma vez mostrar a incapacidade de JEB lidar com o universo complexo que é uma estrutura e um clube de futebol.
Que eu saiba JC não entrou para substituir ninguém, ninguém se demitiu para que ele entrasse, então porque é que só após tanto tempo foi notada a necessidade de um Director-Geral que afinal é mas é Administrador e que de início manda num dos administradores que por sua vez manda em JC.
A confusão com esta nomeação, que nada irá acrescentar ao clube a não ser mais um cadáver para outro armário, mostra a falta de ruma da estrutura do clube.
Agora virá outro Presidente mas a estrutura, as portas abertas aos adeptos, aos empresários, aos patrocinadores e aos jornalistas continuam escancaradas e portanto sem ser possível fazer uma remodelação completa (extremamente dispendiosa no momento em que a dívida é assustadora) em nada irá mudar o futuro próximo do clube com muita, mesmo muita pena minha.
Até à entrada do JEB o clube estava a trilhar os primeiros passos para poder criar uma organização com algum potencial de futuro. Os resultados desportivos eram razoáveis. Agora voltámos para trás e vai ser muito difícil encontrar o rumo.
A JEB nunca lhe faltou o empenho, que sempre foi muito, mas faltou-lhe o engenho.
2 comentários:
E porque gostei da brilhante peça que escreveu,onde exprime os seus sentimentos e amor clubista ao Sporting Clube de Portugal vou transcreve-la, para o htt://maquiavelencias.blogspot.com
Hoje pela manhã vi e ouvi a declaração (breves palavras) do presidente.
José Martins (Com muita simpatia pelo Sporting, desde os verdes anos)
Obrigado
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