segunda-feira, 31 de maio de 2010

Em Champasak com a Soviet

Aproveitei o fim de semana prolongado para conhecer uma zona do Laos de que muito tinha ouvido falar – a província da Champasak.

Situa-se no Sul do país numa zona já de influência khmer, o facto nota-se não só pelo magnífico santuário de Wat Phu, mas muito também nas caras dos locais com os olhos bem mais arredondados e abertos do que os laocianos do Norte especialmente os da fronteira com a China. Para além dessa nota-se também a influência vietnamita fundamentalmente no sector agrícola e industrial.

A nossa guia chamava-se Soviet uma lembrança para nós de que estávamos na República Popular e Democrática do Laos, país dominado pelo Partido Popular e Revolucionário do Laos, um dos poucos bastiões comunistas que ainda resistem no Mundo.

O Laos é um país de grande dimensão mas com pouca população (menos de 6,5 milhões) e onde coexiste a par com o comunismo o budismo theravada.

O Laos é aquilo que em linguagem de diplomacia internacional se chma um LDC (Less Developed Country) ainda dependendo fortemente da ajuda internacional. Tem um PIB per capita de cerca de 900 US$, e a maioria dos projectos industriais são feitos através de investimentos dos países vizinhos, Tailândia e Vietname, sempre com o apoio da burocracia comunista que os licencia. Os projectos infraestructurantes de índole governamental, acabam por nascer daqueles apoios ao desenvolvimento por parte da comunidade internacional. A União Europeia tem um tratamento preferencial para o Laos não taxando as suas exportações através do programa conhecido com EBA (Everything But Arms), que permite a LDCs exportarem o que produzem sem barreiras fiscais desde que não seja armas ou material bélico.

A instauração de um estado comunista nasce na sequência da guerra do Vietname e foi fortemente apoiada pela então União Soviética. A Soviet acabou por ter esse nome como homenagem que o seu pai fez àqueles que "ajudavam o nosso país no passado", assim pensou o homem de Champasak província de onde ela é natural.

Esta província é dominada pelo Mekong que a corta de Norte a Sul no seu caminho para o delta no Vietname.

O mae nam Khong, como se diz em tailandês, tem tantas caras que é impressionante. Já o vi em Chiang Rai, Luan Prabang, Vientiane, Nakhon Pathon, Mukdahan, Ubon e agora em Champasak e nunca deixa de me encantar mas é aqui que ele apresenta para mim a maior variedade de facetas.

Desde o "Niágara" do Laos, aos rápidos como num canyon, ao silêncio de um espelho, ás quatro mil ilhas erraticamente plantadas, aos golfinhos que por ali se divertem, tudo existe neste rio e nesta província que a Soviet nos mostrou. Todo este longo vale do Mekong é bordejado por belas montanhas e por uma excepcional vegetação atestando a sua enorme pureza.

A natureza atinge o seu esplendor em quase todos os pontos de um passeio por estradas, onde de vez em quando há uma portagem para engrossar os cofres dos burocratas de Vientiane, por caminhos "impossíveis", de barco, de canoa e por fim a pé pois ali já não pisa pneu. Até numa antiga linha de comboio instalada pelos colonialistas franceses e posteriormente desactivada se circulou.

A capital da província é Pakse a segunda maior cidade do país com uma população estimada de 70.000 pessoas para um total de cerca de meio milhão no total da província. É acessível principalmente via a fronteira com a Tailândia em Chong Mek e no Sul via a fronteira com o Camboja mas a 400 quilómetros de Phnom Penh. Daí pode também transitar-se para o Vietname em direcção à cidade Ho Chi Min, antiga Saigão.

Felizmente para o visitante Champasak ainda é pouco conhecida e pouco explorada turisticamente. Daí vem uma característica fundamental - a força da natureza em toda a plenitude que nem as foices e martelos, presentes na bandeira do Partido e omnipresentes, conseguem destruir.

A Soviet tem como todas as laocianas o cabelo comprido e um sorriso muito feminino pois segundo reza a cartilha comunista uma mulher não pode ter o cabelo curto para se não confundir com um homem. Para além disso tem uma simpatia que nos encantou. Um pequeno aviso: se não se conseguir falar tailandês, língua bastante semelhante ao lao, é difícil a comunicação.

Sem comentários: