Encontro-me há dois dias em Khon Kaen, a segunda maior cidade do Nordeste da Tailândia e a terceira no país.
Verdadeiro centro político e económico da bacia do Mekong, ainda que bastante distante do rio, é aqui que a Great Mekong Sub-Region tem a sua base de sustentação e trabalho no que respeita a Tailândia. Igualmente é a mais importante cidade do Economic Corridor West-East, a rede de comunicação projectada e criada com a ajuda do Asian Development Bank que pretende vir a ser o grande corredor para transportes de mercadorias entre a Baía de Bngala e o Mar da China, no Vietname.
Khon Kaen tem por outro lado uma das mais importantes Universidades do país com cerca de 40.000 alunos e 10.000 funcionários nos quais se incluiu uma grande quantidade de professores de línguas estrangeiras. Aqui chegam alunos de todos os países da região, com especial relevo para Birmânia, China, Cambodja e Vietname, que coexistem com alunos de muitas outras nacionalidades tão distantes como Gâmbia e Brasil. Interessante foi o encontro com a Presidente da associação dos estudantes nada mais nada menos que uma brasileira, ou não seja esse povo tão extrovertido em grande contraste com a tradicional timidez dos tailandeses.
Contrariamente ao que se possa entender Khon Kaen é amarela. Amarelo do Rei que não do PAD. A imagem de Sua Majestade está por todo o lado e o amarelo é profundamente usado pelas pessoas e não só às Segundas. Comparado com Bangkok, onde as cores de alguma forma desapareceram, devido ao receio que as pessoas têm de se ver associadas a movimentos políticos que não lhes interessam, o amarelo é a cor dominante.
Por outro lado a cor no coração e no sentimento das pessoas é o vermelho. Também não o vermelho da UDD mas a vermelho do seu mentor, Thaksin.
Contactei pessoas tão dispares como: o Governador, recentemente nomeado para substituir um "vermelho", um dos 111 membros excluídos da política, do TRT de Thaksin, que foi Deputado durante 26 anos e embora impedido de o ser agora continua a trabalhar na sombra, uma militante, com responsabilidades no PAD, o Director do Centro para o Desenvolvimento Social e Económico do Issan, assim é chamado o nordeste, um "Phuiyban", espécie de Presidente da Junta de Freguesia de um concelho limítrofe de Khon Kaen, o Reitor da Universidade e o Director do Centro de Estudos Internacionais, vários professores e alunos e um militante da esquerda, refugiado nas montanhas durante os anos 70 na época da caça aos comunistas.
Todos mostram uma consciência democrática muito mais evoluída do que aquilo que os "iluminados de Bangkok" pensam. Todos têm algum "desprezo" quer por vermelhos quer por amarelos e na essência a luta deles é pela sua terra, pelos valores mais próximos daquilo que é uma vida em comunidade e no fim pela pão para comer no dia a dia.
Amam, uns, e reconhecem-no, outros, o que Thaksin aqui fez, a forma como soube devolver às populações os votos que lhe deram através dos programas de desenvolvimento regional e constatam que a sua figura estará sempre na primeira linha de pensamento dos votantes. O Director da agência para o desenvolvimento, um claro apoiante do PM Abhisit, para além de dele dependente, dizia que Thaksin mostrou ao povo o que eles podiam conseguir com o voto e essa é um legado que retêm.
Também segundo esse senhor um dos grandes trabalhos a fazer tem a ver com o desenvolvimento dos recursos humanos e naturais da região. É necessário desenvolver o sistema educativo e a qualidade dos media, nomeadamente a da televisão, de modo a que as comunidades rurais, a grande maioria da população, tenha acesso a uma informação construtiva e não só baseada nas novelas que sempre passam nos horários nobres. Outra das grandes preocupações é o irrigamento das terras. Como já algumas vezes referi, em muitos pontos da Tailândia no mesmo ano existe seca e cheias não se conseguindo tirar todo o proveito e benefício que a água pode dar para um país onde a agricultura é predominante e um importante elemento contributivo para a economia da país. Mas dizia que nem 1% da verba que necessita tem e por isso se limita a elaborar um plano quinquenal sem ter no fim grande capacidade de o implementar.
Outro aspecto importante dos meus encontros foi o constatar que desde os tempos de Thaksin o Governo tem "desprezado" Khon Kaen com tão poucas vezes que aqui se v~e um seu membro, mas ao mesmo tempo as pessoas não dão grande importância a isso visto estarem mais concentrados na sua região. Não existe uma negação do ser tailandês, bem pelo contrário, não existe uma noção de desinteresse pelo país, mas existe uma forte noção de ser Issan de pertencer a este pedaço de terra, o maior no país, onde as gentes labutam a terra no dia a dia ou "oferecem" os seus filhos para o trabalho que tem de ser feito nas industrias e nos serviços no Sul e que os urbanos não querem fazer.
O "nacionalismo" Issan é uma realidade sem que isso traga qualquer carga de separatismo ou semelhante, e a imagem sempre presente de Rama IX, o Rei deles, isso bem mostra.
Uma das actuais preocupações, pelo menos para a maioria, que não para o Governador que minimizou este aspecto, é o facto de poder haver um retorno de cerca de 200.000 mil pessoas que perderam ou estarão em vias de perder os seus empregos nas fábricas de Chon Buri ou Rayong, ou nos hotéis, restaurantes e bares no Sul devido á crise económica nacional e internacional. Enquanto três pessoas me falavam daquele número o governador referia que o desemprego, devido à crise, afectava 800 pessoas. Não me esqueci de nenhum zero. Foi esse o número exacto que disse e afirmou que o governo da província está a proporcionar treino para requalificar essas pessoas.
No aspecto político vir aqui é confirmar a realidade daquilo que é o sistema partidário na Tailândia. Clubes de interesses e de negócios dominados por uma família que normalmente é a família mais rica na província e que consegue através da compra de tudo e todos colocar os seus homens nos lugares de influência. Em duas palavras é assim que funciona. Thaksin, se bem que seja um dos expoentes deste tipo de fazer política, alterou significativamente a equação quando mostrou aos habitantes das zonas rurais que caso votem num determinado projecto, o dele, conseguem obter o retorno em benefícios pare eles e para a comunidade em que vivem. Foi uma prática de aprendizagem de democracia directa que ultrapassou o velho sistema do cacique familiar para passar a ser o Partido ou ele mesmo o controleiro não de uma Província mas de toda uma região.
As próximas eleições intercalares em meados de Junho em Sakhon Nakhorn, onde consta que Nevin está a apostar forte para sair do seu "ghetto" de Buriran, vão ser um teste para entender se ele consegue ser o novo Thaksin, como penso que quer, ou se o velho ainda vai continuar a mandar. Dizia-me o Phuyaban, aquele que realmente iluminava a cara ao falar de Thaksin: ele hoje em dia não dá dinheiro ás pessoas. Já não precisa pois todos o têm no coração.
Esta é Khom Kaen a cidade amarela, capital do Issan do Norte como Ubon é a capital do Sul e Korat a do Centro.
Verdadeiro centro político e económico da bacia do Mekong, ainda que bastante distante do rio, é aqui que a Great Mekong Sub-Region tem a sua base de sustentação e trabalho no que respeita a Tailândia. Igualmente é a mais importante cidade do Economic Corridor West-East, a rede de comunicação projectada e criada com a ajuda do Asian Development Bank que pretende vir a ser o grande corredor para transportes de mercadorias entre a Baía de Bngala e o Mar da China, no Vietname.
Khon Kaen tem por outro lado uma das mais importantes Universidades do país com cerca de 40.000 alunos e 10.000 funcionários nos quais se incluiu uma grande quantidade de professores de línguas estrangeiras. Aqui chegam alunos de todos os países da região, com especial relevo para Birmânia, China, Cambodja e Vietname, que coexistem com alunos de muitas outras nacionalidades tão distantes como Gâmbia e Brasil. Interessante foi o encontro com a Presidente da associação dos estudantes nada mais nada menos que uma brasileira, ou não seja esse povo tão extrovertido em grande contraste com a tradicional timidez dos tailandeses.
Contrariamente ao que se possa entender Khon Kaen é amarela. Amarelo do Rei que não do PAD. A imagem de Sua Majestade está por todo o lado e o amarelo é profundamente usado pelas pessoas e não só às Segundas. Comparado com Bangkok, onde as cores de alguma forma desapareceram, devido ao receio que as pessoas têm de se ver associadas a movimentos políticos que não lhes interessam, o amarelo é a cor dominante.
Por outro lado a cor no coração e no sentimento das pessoas é o vermelho. Também não o vermelho da UDD mas a vermelho do seu mentor, Thaksin.
Contactei pessoas tão dispares como: o Governador, recentemente nomeado para substituir um "vermelho", um dos 111 membros excluídos da política, do TRT de Thaksin, que foi Deputado durante 26 anos e embora impedido de o ser agora continua a trabalhar na sombra, uma militante, com responsabilidades no PAD, o Director do Centro para o Desenvolvimento Social e Económico do Issan, assim é chamado o nordeste, um "Phuiyban", espécie de Presidente da Junta de Freguesia de um concelho limítrofe de Khon Kaen, o Reitor da Universidade e o Director do Centro de Estudos Internacionais, vários professores e alunos e um militante da esquerda, refugiado nas montanhas durante os anos 70 na época da caça aos comunistas.
Todos mostram uma consciência democrática muito mais evoluída do que aquilo que os "iluminados de Bangkok" pensam. Todos têm algum "desprezo" quer por vermelhos quer por amarelos e na essência a luta deles é pela sua terra, pelos valores mais próximos daquilo que é uma vida em comunidade e no fim pela pão para comer no dia a dia.
Amam, uns, e reconhecem-no, outros, o que Thaksin aqui fez, a forma como soube devolver às populações os votos que lhe deram através dos programas de desenvolvimento regional e constatam que a sua figura estará sempre na primeira linha de pensamento dos votantes. O Director da agência para o desenvolvimento, um claro apoiante do PM Abhisit, para além de dele dependente, dizia que Thaksin mostrou ao povo o que eles podiam conseguir com o voto e essa é um legado que retêm.
Também segundo esse senhor um dos grandes trabalhos a fazer tem a ver com o desenvolvimento dos recursos humanos e naturais da região. É necessário desenvolver o sistema educativo e a qualidade dos media, nomeadamente a da televisão, de modo a que as comunidades rurais, a grande maioria da população, tenha acesso a uma informação construtiva e não só baseada nas novelas que sempre passam nos horários nobres. Outra das grandes preocupações é o irrigamento das terras. Como já algumas vezes referi, em muitos pontos da Tailândia no mesmo ano existe seca e cheias não se conseguindo tirar todo o proveito e benefício que a água pode dar para um país onde a agricultura é predominante e um importante elemento contributivo para a economia da país. Mas dizia que nem 1% da verba que necessita tem e por isso se limita a elaborar um plano quinquenal sem ter no fim grande capacidade de o implementar.
Outro aspecto importante dos meus encontros foi o constatar que desde os tempos de Thaksin o Governo tem "desprezado" Khon Kaen com tão poucas vezes que aqui se v~e um seu membro, mas ao mesmo tempo as pessoas não dão grande importância a isso visto estarem mais concentrados na sua região. Não existe uma negação do ser tailandês, bem pelo contrário, não existe uma noção de desinteresse pelo país, mas existe uma forte noção de ser Issan de pertencer a este pedaço de terra, o maior no país, onde as gentes labutam a terra no dia a dia ou "oferecem" os seus filhos para o trabalho que tem de ser feito nas industrias e nos serviços no Sul e que os urbanos não querem fazer.
O "nacionalismo" Issan é uma realidade sem que isso traga qualquer carga de separatismo ou semelhante, e a imagem sempre presente de Rama IX, o Rei deles, isso bem mostra.
Uma das actuais preocupações, pelo menos para a maioria, que não para o Governador que minimizou este aspecto, é o facto de poder haver um retorno de cerca de 200.000 mil pessoas que perderam ou estarão em vias de perder os seus empregos nas fábricas de Chon Buri ou Rayong, ou nos hotéis, restaurantes e bares no Sul devido á crise económica nacional e internacional. Enquanto três pessoas me falavam daquele número o governador referia que o desemprego, devido à crise, afectava 800 pessoas. Não me esqueci de nenhum zero. Foi esse o número exacto que disse e afirmou que o governo da província está a proporcionar treino para requalificar essas pessoas.
No aspecto político vir aqui é confirmar a realidade daquilo que é o sistema partidário na Tailândia. Clubes de interesses e de negócios dominados por uma família que normalmente é a família mais rica na província e que consegue através da compra de tudo e todos colocar os seus homens nos lugares de influência. Em duas palavras é assim que funciona. Thaksin, se bem que seja um dos expoentes deste tipo de fazer política, alterou significativamente a equação quando mostrou aos habitantes das zonas rurais que caso votem num determinado projecto, o dele, conseguem obter o retorno em benefícios pare eles e para a comunidade em que vivem. Foi uma prática de aprendizagem de democracia directa que ultrapassou o velho sistema do cacique familiar para passar a ser o Partido ou ele mesmo o controleiro não de uma Província mas de toda uma região.
As próximas eleições intercalares em meados de Junho em Sakhon Nakhorn, onde consta que Nevin está a apostar forte para sair do seu "ghetto" de Buriran, vão ser um teste para entender se ele consegue ser o novo Thaksin, como penso que quer, ou se o velho ainda vai continuar a mandar. Dizia-me o Phuyaban, aquele que realmente iluminava a cara ao falar de Thaksin: ele hoje em dia não dá dinheiro ás pessoas. Já não precisa pois todos o têm no coração.
Esta é Khom Kaen a cidade amarela, capital do Issan do Norte como Ubon é a capital do Sul e Korat a do Centro.
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