sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Enterrar a cabeça na areia


A sociedade tailandesa bem tenta enfiar a cabeça na areia, como a avestruz, de forma a não ver o que se passa.

É de alguma forma a posição tomada por todos e hoje vários académicos emitiram um artigo comentário onde se falava exactamente dessa situação.

Culturalmente na Tailândia evita-se sempre as confrontações e a discussão de questões complexas e por norma, como já referi há dias, não se consegue nunca avistar uma terceira via para a solução de qualquer problema. Está-se sempre no campo do preto ou do branco, do mal ou do bem, do a favor ou contra. Uma terceira via onde se concilie aquilo que de bom existe num modelo e se ponha de parte o que de mau ele tem, não faz parte das possíveis conclusões.

Os asiáticos, tailandeses incluídos, são conciliadores por natureza, mas uma conciliação feita por inacção, alinhando pelo menor denominador e não uma conciliação conseguida após algum tempo de frutuosas discussões onde cada um foi livre e capaz de produzir os seus argumentos.

A conciliação é sempre feita de forma a que se não perca a face, ou seja de forma a que nenhuma das partes conceda em nada. Acontece que a maior parte das vezes a conciliação é somente um Sim mesmo que se queira dizer Não e posteriormente ignora-se o que se acordou.

É uma constante deste processo político a nomeação de mediadores, a apresentação de propostas de solução, a convocação do anúncio de mensagens, enfim os acordos, que não se materializam nunca. Se lermos para trás aquilo que tenho escrito ao longo destes meses vemos isso mesmo. Ainda me lembro em Setembro de o Partido no poder, o da oposição, o Líder da Câmara de Deputados e o Líder do Senado terem acordado em nomear este último como mediador no conflito. No dia seguinte por acaso encontrei me com ele e afirmou-me a sua convicção de que as partes estavam empenhadas em encontrar uma solução para a divisão no país. Aplaudia-se esta via democrática. Dois dias depois já ninguém se lembrava e nunca mais foi falada. A mesma coisa com a proposta de um referendum aprovada no Parlamento. Onde está a implementação dessa decisão? E por aí fora.

Nos últimos dias planos, propostas, anúncios têm sido feitos, uns mais formais outros somente como comentários na imprensa, mas na realidade será que se pode acreditar em algum? Eu diria que não! Estou quase como o João Pinto só vou fazer o prognóstico do que se vai passar depois de acontecer. Por certo que não vou falhar.

Ontem o MNE thailandês convocou os diplomatas para os "acalmar" e anunciar o plano do Governo.

Negociações se falharem avisos e se estes falharem intervenção das forças de segurança.

Negociações devem ser muito secretas pois nem os blogues mais underground falam delas e mesmo se assim for é um erro político pois o Governo só ganharia, num momento em que o apoio do público ao PAD está reduzido a nada, em fazer eco de que está empenhado em negociar.

Avisos! Meu Budha, como se dirá aqui, é o que há mais todos os dias. Que vamos fazer isto, aquilo, que já fez o que não fez, etc.

Intervenção das forças de segurança. Mas onde estão elas? Porque é que desde há muito não fazem o seu papel de impor a ordem e o cumprimento da lei? Quem manda nelas? O Governo ou alguém que está por detrás de alguma cortina?

Em inglês chama-se a isto tudo "wishfull thinking".

Existe contudo uma outra questão neste momento, aliás questão que é perene na cultura e política tailandesa. Quem manda nunca mostra onde está e nunca é aquele que manda.

Os do PAD dizem que quem manda é o Thaksin. Talvez! Os do outro lado que quem manda é o General Prem, Chefe do Conselho Privado do Rei. Talvez!

O facto é que uma parte manda continuamente emissários avistar-se com Shinawatra para receber conselhos que são ou não implementados e a outra nada faz sem o conselho do puu yai como se diz aqui referindo a uma pessoa mais sénior e a quem é devido respeito e direi mesmo subserviência.

Assim estamos nestas discussões filosóficas enquanto o país e a suas pessoas e economia se afundam e num momento que o mundo não esta muito capaz de ajudar.

Alguns aviões estão a operar de e para uma basa militar a 150 km ao sul de Bangkok, mas esse aeroporto não tem condições para substituir aquilo que é (era) o maior hub da aviação na Ásia. A maioria dos vos não levanta com direcção a Bangkok e os que o fazem vão para outros aeroportos no país, Chiang Mai, Phuket, Yat Hai, ou Singapura ou Kuala Lampur.

Entretanto em Phuket comenta-se com alguma piada que não há perigo de o PAD fechar o aeroporto lá, pois os adeptos na ilha do movimento foram todos para Bangkok. O facto é que está quase impossível encontrar um bilhete de Phuket para Singapura ou aeroportos na Malásia.

Acabou de ser anunciado que a Polícia iria lançar uma guerra psicológica contra o PAD. Mais uma.

Quem terá de ir ao psicólogo dentro de algum tempo é todo o país.

Sem comentários: