quinta-feira, 24 de março de 2011

Demissão de Sócrates

Numa mais que anunciada e muitos dirão atrasada decisão o PM português entregou a sua "resignação" ao PR ontem ao final do dia depois de ter perdido no Parlamento o voto que lhe daria mais uns tempos em São Bento.

O Parlamento acabou por dizer Não ao PEC IV. O PSD desta vez, contrariamente ao que tinha feito antes (abstenção), votou contra o que foi o suficiente para que mais uma medida de austeridade levasse a que ao fim de seis anos o PM apresentasse a sua demissão do cargo.

Cabe agora ao PR consultar os partidos com assento parlamentar e todas as forças que entender por bem, e decidir. Poderá decidir por solicitar ao partido mais votado, o do demissionário PM Sócrates, para apresentar outro governo, pode solicitar a outro partido que se "aventure" a constituir governo ou pode, sendo esta a mais provável decisão, depois de consultar o Conselho de Estado convocar novas eleições legislativas que se realizarão num prazo de até 55 dias após a sua convocação.

O plano de austeridade ontem apresentado era o PEC IV, ou seja tinha três irmãos anteriores, três planos que se mostraram incapazes de resolver o que quer que seja e só mantiveram a nau a flutuar num mar muito revolto.

As medidas têm sido pouco criativas e assentam sempre em duas vertentes. O corte de custos públicos e o aumento da receita fiscal. Qualquer das medidas tem o seu limite e caricaturava-se há dias em todos os jornais mostrando que o PEC IV era a forma de os contribuintes irem entregar a última coisa que lhes restava ou seja a roupa que vestiam.

A capacidade dos portugueses encontrarem mais fundos nos bolsos está esgotada e pedir mais aos mesmos nada adianta a não ser manter essa nau desgovernada a flutuar por mais um tempo, cada vez mais escasso.

Em Julho do ano passado este mesmo governo que ontem "se rendeu" tinha apresentado um plano de austeridade anunciado quer pelo PM quer pelo Ministro das Finanças como a correcção necessária para os desajustes da economia portuguesa.

Esse acto mostrou a total incompetência do executivo Ou por um lado não sabia qual era a realidade financeira do país, o que é grave pois está na sua mão conhecer as contas do estado, ou por outro lado estava a mentir ao povo português levando-o a entender que aprovando aquele plano se entraria num novo capítulo de ajustes orçamentais e estruturais da economia.

Enganado Portugal lá teve de aceitar um segundo e um terceiro plano sempre com as mesmas medidas cada vez mais rigorosas mas sempre socorrendo-se dos bolsos rotos e esvaziados dos contribuintes.

A economia mundial já tinha passado pelo seu pior momento do último choque quando Sócrates apresentou ao país o seu PEC I salvador da crise que afectava o país o que lhe oferece menos desculpas.

Portugal vive sobre a espada de uma intervenção do FMI como se isso fosse uma desgraça que levaria o país para o fundo de uma escuridão de onde não sairia.

Na nossa casa não se deseja haver outros a impor regras mas quando não somos capazes, e há que lembrar que os portugueses reelegeram o actual demissionário PM recentemente, devemos aceitar isso de cara limpa e olhando para a frente e há no Mundo exemplos de sobra de países que ainda há pouco estavam nessa situação e que agora brilham (Indonésia e Argentina são dois exemplos). O facto de estarmos na zona Euro retira-nos alguma margem de manobra mas o mesmo se passou com a Grécia e a Irlanda e o facto de terem sido ajudados não lhes retirou capacidade de futuro.

O que nos tirará essa capacidade será a nossa inabilidade, se assim continuarmos, para construir o país.

Falta-nos uma noção de país, de pátria e uma capacidade de projectar vitórias. Não somos capazes de dar as mãos em seguir em frente. Só causas fúteis como a Selecção de futebol é que nos consegue aglutinar e mesmo assim teve de ser um brasileiro, Scolarai, a dar esse empurrão.

Há uma anedota que corre na net que mostra isso bem. Pergunta um português a outro. "Como é possível que um povo como o nosso descendente dos grandes conquistadores do Mundo chegue tão baixo?" E o outro responde: "Estás enganado nós somos descendentes daqueles que ficaram não dos que partiram à conquista do Mundo".

A apresentação de demissão de Sócrates, que muito provavelmente será aceite pelo PR, coloca contudo mais incertezas do que certezas.

Qual vai ser a solução possível? Quem é o líder que neste momento é capaz de galvanizar os portugueses para o futuro? Quem terá a coragem de apresentar ideias inovadoras que consigam colocar o país a olhar para a frente e não para os pés? Vem esse líder que de partido? E se as eleições continuarem a mostrar a enorme insuficiência de mentes capazes de fazer aquilo que atrás descrevo?

Confesso que tenho grande dificuldade em vislumbrar neste momento quem, será capaz de semelhante tarefa e tenho um terrível medo quando de alguma forma considero Sócrates como um dos melhores políticos actualmente em Portugal, pelo menos visíveis à superfície.

Sou voluntarista por natureza e tento pensar que há no espectro partidário português pessoas capazes da tarefa que se lhes vai pedir, mas acabo por ser pouco convicto neste meu sonho que quero que seja uma realidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois eu acho bem que o fmi entre. Ficaremos a saber muita coisa até agora desconhecida, desde tachos a comissões, empregos para boys, "fundações" privadas feitas com dinheiro público, gastos com telemóveis, carros,e tc. Já devia ter entrado logo após o 25 de Abril, impedindo uma roubalheira de 37 anos!!!!
Pedro serra
Lisboa