Os estrangeiros são por norma acusados de "nada entenderem sobre a Tailândia " e de estarem mal informados. Estes são argumentos múltiplas vezes usados pelo Governo (em comunicados oficiais) ou por forças que não gostam daquilo que ouvem ou lêem.
Na realidade entender a cultura, o pensar e o sentir dos tailandeses requer uma longa ambientação e um profundo sentido de abertura a ideias e conceitos que são por vezes "estranhos" para uma mente ocidentalizada e desse modo habituada a padrões de raciocínio bastantes diferentes.
Aquela afirmação é portanto em muitos casos bastante correcta mas, como sempre, a generalização é um pecado a não cometer.
Conheço este país, convivo com a sua gente, quer na cidade quer no campo ou em muitas outras cidades longe da enorme metrópole que é Bangkok há mais de 6 anos e mesmo assim estou a aprender diariamente e considero-me um aluno diligente pois sei bem que conhecer um povo e uma cultura por ele representada é uma longa e árdua tarefa.
Vem tudo isto a propósito de uma conferência que hoje ocorreu no Instituto de Estudos Internacionais e de Segurança da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Chulalongkorn (ISIS), com o seguinte tema: Thailand Troubles – Long Time Resident Foreigners Prespectives.
Falaram então hoje pessoas residentes na Tailândia há bastante tempo sobre os acontecimentos políticos recentes e sobre as perspectivas de futuro no que respeita a tão ansiada reconciliação nacional que permita ao país caminhar a um ritmo mais rápido que as capacidades e anseios do seu povo permite e desejam. Sala cheia para ouvir os três oradores.
O primeiro comentário que quero fazer foi dito por uma jornalista sénior tailandesa que afirmou que os oradores conheciam mais do país dela do que a grande maioria dos seus compatriotas.
Dos três oradores o primeiro foi um ex banqueiro no país, hoje Assessor do Banco da China e consultor de várias empresas na região e que vive na Tailândia há 31 anos; o segundo um ex professor, jornalista e actual Director de uma consultora que vive há 35 anos no país e o último um jovem licenciado em direito que decidiu vir para a Tailândia quando ainda não havia electricidade nas aldeias na província, onde começou a ensinar, mais tarde ingressou na Universidade de Chulalongkorn, onde se doutorou e de onde acabou por se jubilar como catedrático e vive neste país há 56 anos.
Todos com profundas raízes no país, mulheres, filhos, trabalho académico e produtivo realizado e falando tailandês como qualquer nacional.
Estava-mos assim perante um painel de tailandeses de adopção e de pessoas que dedicaram muito da sua vida a estudar fundamentalmente os aspectos sócio-económico-politicos do país tendo produzido inúmeros "papers" sobre a matéria.
A sessão foi longa, extremamente participada e ilustrativa e não irei mais do que referir algumas mensagens que deixaram.
"Actual governo mostrou ao dar três anos às comissões que criou para estudarem as necessidades do sistema politico tailandês que conduzam a uma reconciliação, que quando esteve na oposição durante 6 anos não fez o trabalho de casa e não têm uma visão daquilo que quer para o país". "O PAD e a UDD não são capazes de mostrar nada mais do que a oposição a posições que não lhes são favoráveis. Nenhum movimento tem, igualmente uma noção daquilo que podem oferecer se fossem chamados a governar"
Estas afirmações são uma clara descrição daquilo que é o sistema político-partidário que nada mais se interessa do que na distribuição de lugares e do orçamento que lhe está associado.
"Desde o final dos acontecimentos de Maio foram encerrados 210.000 sítios de internet, o que não é um bom sinal para uma desejada reconciliação".
"O sistema educacional tailandês está desenhado para uma economia baseada na exploração dos recursos naturais e oferta de mão-de-obra barata e não para uma economia baseada no valor acrescentado e inovação".
Na realidade a Tailândia tem todas as condições para poder, e dever, concorrer com os seus mais directos rivais em termos económicos elevando a qualidade da sua oferta mas com o sistema educativo a ficar cada vez mais para trás em relação àqueles concorrentes isso torna-se difícil.
"Na guerra das políticas económicas Thaksin ganhou pois ele introduziu melhorias. O governo actual limitou-se a manter ou mesmo expandir os benefícios anteriores mas como isso já não constitui novidade os louros vão para o fugitivo ex PM"
É uma constatação interessante. Embora as políticas sejam as mesmas ou estejam inclusive melhoradas os beneficiários não sentem que haja nada de novo e este governo consequentemente não beneficia do facto.
Muito se falou sobre as mudanças na sociedade e as exigências vindas da vida rural. Neste particular foi também analisada a transformação que se registará nos próximos 20 anos no país pelo facto da população rural estar envelhecida e o facto de o sector agrícola já contar só para cerca de 10% do PIB. O que foi contudo mais falado foi a grande transformação da consciência das gentes no campo. Dantes a noção de direitos, regalias, exigências estava arredada de todo do pensar nas aldeias, hoje tal facto não se verifica e há uma cada vez maior "urbanização" do pensar colectivo rural.
O terceiro orador disse que quando começou a viver numa aldeia no Nordeste e estava a ensinar entendeu uma vez fazer uma comparação com uma situação que se vivia e o conflito no canal do Suez. No fim dizia um aldeão para outro: "O que é que isto tem a ver com o arroz?" Também, e na sua ingenuidade de recem licenciado em direito, ao ver os abusos que eram cometidos sobre as pessoas logo lhe ocorreu que elas deveriam accionar os perpetradores de tais abusos. Tal facto era tão alheio ao dia a dia das pessoas que não só não tinham posses para tal como a hierarquização da sociedade nunca tal permitiria. Como se diz em bom português – "come a cala-te"! A situação actual é diferente. Existe uma consciência e noção daquilo que se pede e há claras ideias quanto aquilo que se quer ver no futuro. As mentes estão alertas e o espírito comunitário fortemente desenvolvido.
No sítio do ISIS podem os interessados encontrar mais informação já que a sessão ter muito, mesmo muito, mais para contar do que as simples notas que tomei.
Em conclusão nem todos os estrangeiros são estúpidos, mal informados ou incapazes de entender a Tailândia como muitas vozes apregoam e por vezes uma visão de fora é algo que também se deve ouvir. Aliás saber ouvir é a melhor maneira para aprender.
Na realidade entender a cultura, o pensar e o sentir dos tailandeses requer uma longa ambientação e um profundo sentido de abertura a ideias e conceitos que são por vezes "estranhos" para uma mente ocidentalizada e desse modo habituada a padrões de raciocínio bastantes diferentes.
Aquela afirmação é portanto em muitos casos bastante correcta mas, como sempre, a generalização é um pecado a não cometer.
Conheço este país, convivo com a sua gente, quer na cidade quer no campo ou em muitas outras cidades longe da enorme metrópole que é Bangkok há mais de 6 anos e mesmo assim estou a aprender diariamente e considero-me um aluno diligente pois sei bem que conhecer um povo e uma cultura por ele representada é uma longa e árdua tarefa.
Vem tudo isto a propósito de uma conferência que hoje ocorreu no Instituto de Estudos Internacionais e de Segurança da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Chulalongkorn (ISIS), com o seguinte tema: Thailand Troubles – Long Time Resident Foreigners Prespectives.
Falaram então hoje pessoas residentes na Tailândia há bastante tempo sobre os acontecimentos políticos recentes e sobre as perspectivas de futuro no que respeita a tão ansiada reconciliação nacional que permita ao país caminhar a um ritmo mais rápido que as capacidades e anseios do seu povo permite e desejam. Sala cheia para ouvir os três oradores.
O primeiro comentário que quero fazer foi dito por uma jornalista sénior tailandesa que afirmou que os oradores conheciam mais do país dela do que a grande maioria dos seus compatriotas.
Dos três oradores o primeiro foi um ex banqueiro no país, hoje Assessor do Banco da China e consultor de várias empresas na região e que vive na Tailândia há 31 anos; o segundo um ex professor, jornalista e actual Director de uma consultora que vive há 35 anos no país e o último um jovem licenciado em direito que decidiu vir para a Tailândia quando ainda não havia electricidade nas aldeias na província, onde começou a ensinar, mais tarde ingressou na Universidade de Chulalongkorn, onde se doutorou e de onde acabou por se jubilar como catedrático e vive neste país há 56 anos.
Todos com profundas raízes no país, mulheres, filhos, trabalho académico e produtivo realizado e falando tailandês como qualquer nacional.
Estava-mos assim perante um painel de tailandeses de adopção e de pessoas que dedicaram muito da sua vida a estudar fundamentalmente os aspectos sócio-económico-politicos do país tendo produzido inúmeros "papers" sobre a matéria.
A sessão foi longa, extremamente participada e ilustrativa e não irei mais do que referir algumas mensagens que deixaram.
"Actual governo mostrou ao dar três anos às comissões que criou para estudarem as necessidades do sistema politico tailandês que conduzam a uma reconciliação, que quando esteve na oposição durante 6 anos não fez o trabalho de casa e não têm uma visão daquilo que quer para o país". "O PAD e a UDD não são capazes de mostrar nada mais do que a oposição a posições que não lhes são favoráveis. Nenhum movimento tem, igualmente uma noção daquilo que podem oferecer se fossem chamados a governar"
Estas afirmações são uma clara descrição daquilo que é o sistema político-partidário que nada mais se interessa do que na distribuição de lugares e do orçamento que lhe está associado.
"Desde o final dos acontecimentos de Maio foram encerrados 210.000 sítios de internet, o que não é um bom sinal para uma desejada reconciliação".
"O sistema educacional tailandês está desenhado para uma economia baseada na exploração dos recursos naturais e oferta de mão-de-obra barata e não para uma economia baseada no valor acrescentado e inovação".
Na realidade a Tailândia tem todas as condições para poder, e dever, concorrer com os seus mais directos rivais em termos económicos elevando a qualidade da sua oferta mas com o sistema educativo a ficar cada vez mais para trás em relação àqueles concorrentes isso torna-se difícil.
"Na guerra das políticas económicas Thaksin ganhou pois ele introduziu melhorias. O governo actual limitou-se a manter ou mesmo expandir os benefícios anteriores mas como isso já não constitui novidade os louros vão para o fugitivo ex PM"
É uma constatação interessante. Embora as políticas sejam as mesmas ou estejam inclusive melhoradas os beneficiários não sentem que haja nada de novo e este governo consequentemente não beneficia do facto.
Muito se falou sobre as mudanças na sociedade e as exigências vindas da vida rural. Neste particular foi também analisada a transformação que se registará nos próximos 20 anos no país pelo facto da população rural estar envelhecida e o facto de o sector agrícola já contar só para cerca de 10% do PIB. O que foi contudo mais falado foi a grande transformação da consciência das gentes no campo. Dantes a noção de direitos, regalias, exigências estava arredada de todo do pensar nas aldeias, hoje tal facto não se verifica e há uma cada vez maior "urbanização" do pensar colectivo rural.
O terceiro orador disse que quando começou a viver numa aldeia no Nordeste e estava a ensinar entendeu uma vez fazer uma comparação com uma situação que se vivia e o conflito no canal do Suez. No fim dizia um aldeão para outro: "O que é que isto tem a ver com o arroz?" Também, e na sua ingenuidade de recem licenciado em direito, ao ver os abusos que eram cometidos sobre as pessoas logo lhe ocorreu que elas deveriam accionar os perpetradores de tais abusos. Tal facto era tão alheio ao dia a dia das pessoas que não só não tinham posses para tal como a hierarquização da sociedade nunca tal permitiria. Como se diz em bom português – "come a cala-te"! A situação actual é diferente. Existe uma consciência e noção daquilo que se pede e há claras ideias quanto aquilo que se quer ver no futuro. As mentes estão alertas e o espírito comunitário fortemente desenvolvido.
No sítio do ISIS podem os interessados encontrar mais informação já que a sessão ter muito, mesmo muito, mais para contar do que as simples notas que tomei.
Em conclusão nem todos os estrangeiros são estúpidos, mal informados ou incapazes de entender a Tailândia como muitas vozes apregoam e por vezes uma visão de fora é algo que também se deve ouvir. Aliás saber ouvir é a melhor maneira para aprender.
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