
Aqui em Bangkok a situação em pouco ou nada mudou e continua em vigor o Estado de Emergência, qual vara de condão utilizada para se continuar a proceder á "limpeza" das cores encarnadas no país. E também assim vai acontecendo.
As questões políticas mais prementes dizem contudo respeito ao foro do partido e da coligação no poder pois continuam a não ter sossego apesar dos sucessos contra a oposição. Muitas vezes se ouve dizer que os piores inimigos são aqueles que temos dentro de casa, ou seja os nossos amigos.
Ontem Suthep, o inefável Vice do governo Abhisit, disse na conferência do Partido Democrata realizada em Phuket, que estava vivendo o tempo mais difícil da sua já longa carreira de 30 anos na política, acabando por afirmar que as instituições e o sistema democrático na Tailândia estavam em risco e que uma guerra civil era possível. Esta expressão, que continua a sustentar a existência do Estado de Emergência, deve ter sido bem traduzida visto ser repetida em vários meios de comunicação sempre mencionando aquela "possibilidade", da qual, pessoalmente, não partilho.
É um facto que as acções posteriores a 19 de Maio que têm tido como objectivo acabar com a oposição e com o "thaksinismo", missão na qual o governo do General Surayud saído do golpe de estado de 2006 falhou ao permitir o regresso dos "clones" de Thaksin ao poder, criam um clima de grande animosidade nos apoiantes da causa vermelha mas esta está, ainda, enfraquecida e desorganizada. Segundo um dos líderes de uma das facções, a viver há mais de um ano no exílio, Jakrapob Penkair, a coordenação da luta dos camisas vermelhas faz-se agora do exterior o que ainda tornará mais difícil a sua condução.

Enquanto estive lá fora, em Portugal, as pessoas perguntavam-me repetidamente sobre a situação no país e mostravam não compreender várias coisas. Primeiro porque é que as manifestações tinham demorado tanto tempo e segundo porque é que ninguém tinha intervindo com uma palavra de sensatez. Eram no essencial as duas perguntas que me eram feitas por quem está habituado a que as pessoas por um lado acatem a orden e a lei e portanto uma manifestação nunca pode atingir as proporções do que aqui acontece (recorde-se por exemplo que os "amarelos" ocuparam a sede do governo durante 192 dias ou seja quase 7 meses) e quando a situação começa a descarrilar existe no sistema constitucional alguém com o poder de mediação e de isenção capaz de falar para todo o país independentemente das posições de quem ouve.
O facto é que aqui na Tailândia nem o primeiro é verdade já que a permissividade, o "mai pen rai" e o facilitismo levam a que situações como as que se têm vivido nos últimos dois anos sejam "aceitáveis" e, nem o segundo, com o extremar e radicalizar de posições, torna possível encontrar alguém neutro capaz de mediar e a chefia da Nação, o Rei, não é por tradição e prática, envolvido em questões tidas por serem políticas e partidárias.
O grande desafio que se coloca no curto prazo a este Governo é o da aprovação do orçamento pois existe o risco verdadeiro de não vir a ser aprovado no Parlamento já que os Ministros não devem votar visto isso ser considerado uma questão de conflito de interesses. Esta tem sido a prática de sempre no Parlamento tailandês mas o facto de este fim-de-semana no congresso do partido ter havido um apelo ao voto dos Ministros mostra a dificuldade actual do executivo. A oposição acusa já o governo de estar a tentar aliciar alguns Deputados, que não fazem parte de coligação, com promessas de benefícios vários incluindo grossas verbas monetárias.

No caso da polícia, que passou um ano inteiro com uma chefia interina, facto inédito na história da corporação, visto o candidato apresentado duas vezes por Abhisit ter sido derrotado, as mesmas questões poderão vir a colocar-se de novo mas de forma menos evidente do que no ano passado.
Igualmente este mês de Agosto irá marcar, no dia 26, o 90º aniversário do general Prem, Presidente do Conselho Privado do Rei, que recorde-se continua internado no hospital desde 19 de Setembro de 2009. O General é uma figura incontornável na cena política do país pelo seu historial, carisma, facto de ser militar e pertencer ao restrito circulo próximo de Rama IX, e apesar de fazer 90 anos continua a mostrar uma forma física notável e a ser sempre uma referência aquilo que possa dizer ou mesmo o seu silêncio.
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