sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ainda o Golpe

Vem hoje no The Nation in artigo de opinião do seu sub-director acaerca do “Golpe”.

Infelizmente para o país, para os seus habitantes, para a sua economia e para o mercado mobiliário, não se fala de outra coisa: há golpe não há golpe, e qualquer facto menos normal logo cria ansiedades quer nas pessoas quer nos mercados e na reputação externa do país.

Ontem à noite Abhisit saíu do país para participar na cimeira de Davos e dizia um Deputado, do seu Partido, penso que como piada, que já não deveria poder regressar. Engraçado é que no meio de todos estes rumores e contra rumores aquele que parece mais calmo ainda é o próprio Abhisit e a sua limitada “entourage”, Korn e Panitan. Compreende-se: são homens limpos, não têm conflitos de interesses e se perderem o lugar irão continuar a sua vida de cabeça erguida.

É certo que Abhisit não consegue ser o líder que o país necessitaria mas diga-se em abono da verdade quem o conseguiria ser com tantos e tão poderosos e ocultos poderes a puxarem as cordas para cá e para lá?

Voltando ao tema do Golpe: ontem pela milionésima vez Anupong veio dizer que não há golpe e hoje a UDD vai fazer uma manifestação em frente do Quartel General do Exército pedindo o desmentido do numero dois, Genaral Prayuth, de que ele tem tudo preparado para avançar (Prayuth é o provável sucessor de Anupong em Setembro mas bastante mais conservador que este e fortemente apoioado desde os seus tempos de fiel servidor da Rainha).

No artigo que referi no início Thanong fazia eco de todos os “sinais” que têm acontecido ultimamente e a sua possível interpretação.

Os movimentos de tropas. Não só o caso dos tanques alguns dias atrás na capital mas o reforço da 11ª unidade, sediada na grande Bangkok, com equipamento proveniente de unidades da província. O aparecimento do General Prem em uniforme militar após 4 anos sem o vestir, dizendo ele que era um sinal para mostrar às tropas que “estamos prontos”. Os repetidos e continuados movimentos de apoio ao General Anupong que vão acontecendo “espontâneamente” em várias unidades ao longo do país. O discurso do Rei aos Juízes elevando o seu moral e fazendo-os senhores do cumprimento do seu dever de defender o país.

Todos estes sinais são comparáveis com os de 2006 que antecederam o golpe de 19 de Setembro. Prem, a última vez que foi visto com uniforme, visitou as várias unidades de comando, onde aconteciam manifestações de lealdade ao Rei, para incentivar os militares a defenderem a monarquia, presumivelmente em perigo devido ao demasiado poder de Thaksin. O discurso do Rei em Maio de 2006 aos Juízes, em tudo semelhante ao desta semana. Os permanentes desmentidos do General Sonthi Boonyaratglin, o “Anupong” da altura, que acabou de conduzir os militares a fazer o golpe.

Anupong e Sonthi Boonyaratglin

Na realidade tudo parece semelhante mas talvez não o seja.

Há que entender quem fica favorecido com um Golpe? Naquela altura, 2006, eram os ammat (termo utilizado para definir a classe dominante) que se veriam livres de Thaksin, que concentrava em si demasiado poder ameaçando o poder que sempre tinha estado concentrado noutras instituições. Agora quem perderia seria exactamente os mesmos ammat o que não faz grande sentido.

Um golpe agora só poderia beneficiar Thaksin, já que o caos lhe é favorável. Fazer ver ao povo que o regime saído do golpe de 2006 não é a solução para o país e que ele a é, será um dos principais objectivos de Thaksin.

Deste modo só um golpe pró-Thaksin poderia acontecer. Contudo quem tem as armas é o exército regular aquele que está do lado dos ammat e é comandado por Anupong que, como já referi anteriormente, quer chegar a 30 de Setembro, data da sua reforma, “limpo” e capaz de começar uma nova vida, provavelmente na política, sem ser incomodado com acções contra alguma acto ou documento onde tenha posto a sua assinatura. Para ele a estabilidade, mesmo no presente limbo de permanentes indefinições, é a melhor opção.

Ele sabe, como os mais esclarecidos, que o país vive, desde há quase uma década, num período de transicção e que golpes não são a solução. Há comportamentos na sociedade que levarão muito tempo a transformar-se e isso faz parte de um logo e evolutivo processo que não pode ser conseguido por qualquer varinha mágica nem que ela seja uma arma ou um tanque.

Toda a presente instabilidade vivida na instituição militar, a granada atirada ou não contra o Quartel General, a corrupção à volta dos detectores de bombas, os rumores sobre divisões, os violantos e continuados ataques do General Katthyia, mostram que nem tudo vai bem mas é Anupong quem está no comando e como dizia Thanong no seu artigo hoje Abhisit já não manda. O jogo de poder mudou-se para outro tabuleiro.

Para nos descansar ainda mais os três mais importantes videntes da Tailândia, presenças sempre vitais na vida política e económica do país, vieram dizer que em Fevereiro e em Março não há golpe

Vamos todos então aproveitar a gozar descontraídamente o fim de semana que se avizinha.

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